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Saber perder o tempo e achá-lo com outras cores e formas

terça-feira, 11 de julho de 2023

Os amantes usam o tempo para sentirem o prazer de gostar de estar com o outro e, às vezes, são momentos tão agradáveis que parecem eternos. Cecília Meireles, certa vez, poetou “Eu canto porque o instante existe e aminha vida está completa.” A sensação de bem-estar nos invade com ternura, como um véu que nos faz sentir embevecimento por aquilo que estamos fazendo.

Os amantes usam o tempo para sentirem o prazer de gostar de estar com o outro e, às vezes, são momentos tão agradáveis que parecem eternos. Cecília Meireles, certa vez, poetou “Eu canto porque o instante existe e aminha vida está completa.” A sensação de bem-estar nos invade com ternura, como um véu que nos faz sentir embevecimento por aquilo que estamos fazendo. É possível que nos traga a sensação de que a vida em torno deixa de existir e o mundo de se movimentar.  O prazer é o presente que se faz presente como um presente que nos ofertamos ou que nos é oferecido com bondade e sem parcimônias. Há, por certo, uma magia que nos sopra suavidades.

Sócrates, condenado à morte por ser acusado de corromper a juventude e com poucos dias de vida, pediu a um professor que lhe ensinasse a tocar flauta. Ante o espanto do músico, ele argumentou que queria aprender o instrumento apenas para ter o prazer de tocá-lo, de dar serenidade e alegria ao seu espírito naqueles momentos finais.

Quem é amante da leitura encontra a delicada satisfação em mergulhar num texto do seu gosto, que seja um jornal, carta ou um conto despretensioso. Ler é um modo de configurar o tempo com a apreensão de ideias, utilizando a energia que emana fluida do corpo e da mente, bem diferente daquela carregada de responsabilidades e prazos, que tão bem conhecemos no dia a dia. 

Ler é um hábito de inserir a leitura nos momentos em que o olhar vagueia no céu entre as nuvens e dança com o tiquetaquear do relógio. Eu me relaxo antes de dormir lendo trechos de um livro a mim disponível na cabeceira e, mesmo cansada e pestanejando, avanço alguns trechos na história. É um momento noveleiro em que o livro acaba sendo absorvido em capítulos, além de ser um modo erudito de chamar os sonhos e as fantasias que habitam meu sono. Confesso que não é incomum sonhar com o que li. Chego até a visualizar os personagens e cenários, desejar estar entre as linhas à espera de novos acontecimentos, tomada por um suspense transitório e não comprometido com os da vida real.

A leitura prazerosa tem um jeito amistoso de nos abraçar que nos faz pausar, não deixando de ser um passaporte para relaxar as pernas e sossegar as preocupações diárias. Além de tudo, um leitor com mais idade sempre dá exemplo aos mais jovens. Inclusive a formação do hábito de ler é alimentado pelo exemplo, uma influência silenciosa e eficaz. 

Durante o tempo dedicado ao prazer, só há vantagens em compartilhar a leitura com outras atividades. E, cá para nós, perder o tempo e achá-lo com outras cores e formas não é melhor do que coçar o dedão do pé?  

 

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Louvor à Literatura Infantojuvenil

quarta-feira, 05 de julho de 2023

A Literatura Infantojuvenil não é, de modo algum, uma historinha para criancinhas. É um texto sério, escrito com para pessoas que estão chegando a este mundo conturbado, cheio de guerras e brincadeiras, fantasia e realidades múltiplas. 

A Literatura Infantojuvenil não é, de modo algum, uma historinha para criancinhas. É um texto sério, escrito com para pessoas que estão chegando a este mundo conturbado, cheio de guerras e brincadeiras, fantasia e realidades múltiplas. 

Vou usar minhas palavras para conceituar a literatura porque vou expressar o que sinto quando escrevo para crianças e jovens. Literatura é o fazer arte através da palavra, é resultado da produção intencional de um texto elaborado com beleza, harmonia e criatividade; é a conjugação de talentos individuais desenvolvidos por meio de esforços e técnica, direcionados à elaboração de narrativas em vários estilos, que expõem fatos, ideias, sentimentos e, até mesmo, estudos e pesquisas.

Faço questão de louvar a literatura sempre que tenho contato com a palavra expressa com maestria, delicadeza e força. Não é uma expressão desajeitada e, se assim o for, será feita com parâmetros. O texto bem elaborado debuta e faz sua estreia diante dos olhos de um leitor que o degusta frase por frase, cuja leitura vai lhe revelando ideias e despertando vontades, que vai se sensibilizando a ponto de se modificar como pessoa. Quando alguém começa a ler um livro abre as portas para o mundo de um modo; quando acaba, não precisa de maçanetas para abri-las. A literatura faz metamorfoses, enquanto resultado de experiências significativas que estimulam reflexões. A leitura é uma experiência que tem poder mágico sobre qualquer ser humano, seja criança ou adulto. 

O escritor infantojuvenil tem a intenção de tocar as crianças e os jovens que sobrevivem ao mundo e aprende a andar descalço sobre terrenos lúdicos para perceber os universos ficcionais que gostariam de conhecer, é ser capaz de sair do próprio lugar, muitas vezes confortável, e visitar brincadeiras, lugares onde o faz de conta é lei soberana. É ter a capacidade de perceber o que os olhos infantis e juvenis expressam. É nascer ao mesmo tempo em que cada criança nasce e morrer sempre que um choro sofrido de um jovem atravessa o horizonte.

Quem começa escrever um texto infantil não pode ter medo do leão que invade sua sala com fome; nem se surpreender com o voo de cavalos alados que migram para encontrar amigos do outro lado do mundo; muito menos não querer encontrar gigantes que andam pelos bosques, contando histórias e falando de lendas assustadores

É aquele sujeito, que não bem se aceita como sujeitado, que gosta de visitar os jardins encantados da ficção, conhecer o sítio mágico de Monteiro Lobato, ler o O Pequeno Príncipe, guardar miudezas na Bolsa Amarela, cantar com João e Maria, e ser um dos sete anões. 

É um escritor que compreende a importância dos heróis imaginários para aqueles que não os têm na realidade. Que sabe falar da ausência e da saudade com a elegância da garça e os cuidados do anjo, que fala dos medos porque os sente de vários modos e momentos.

Quem escreve para crianças e jovens ama as pessoas, tem esperanças e guarda com todo o respeito a criança que um dia já foi.

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Poderá ser Nova Friburgo considerada uma Cidade Literária?

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Gostaria de começar a coluna afirmando que Nova Friburgo é uma Cidade Literária pelo seu potencial inspirador, natureza e história. Mesmo possuindo uma produção literária considerável, além de acolher a Academia Friburguense de Letras e a União Brasileira de Trovadores, ainda um longo caminho precisa ser percorrido para ser assim considerada. Essas cidades atraem amantes de livros, têm uma vida literária produtiva, possuem editoras, livrarias e lojas que vendem livros usados, promovem festas e feiras literárias, atraem leitores, escritores e bibliógrafos.

Gostaria de começar a coluna afirmando que Nova Friburgo é uma Cidade Literária pelo seu potencial inspirador, natureza e história. Mesmo possuindo uma produção literária considerável, além de acolher a Academia Friburguense de Letras e a União Brasileira de Trovadores, ainda um longo caminho precisa ser percorrido para ser assim considerada. Essas cidades atraem amantes de livros, têm uma vida literária produtiva, possuem editoras, livrarias e lojas que vendem livros usados, promovem festas e feiras literárias, atraem leitores, escritores e bibliógrafos.

As Cidades Literárias possuem selos de qualidade da UNESCO e estão espalhadas mundo afora por destacarem a literatura como ponto estratégico do seu desenvolvimento cultural, social e econômico. Realizam projetos literários inovadores de produção e intercâmbio entre escritores. Podemos citar Óbidos (Portugal), Edimburgo (Escócia), Milão (Itália) Slemani (Iraque), Quebec (Canadá), Montevidéu (Uruguai), Melbourne (Austrália), Dublin (Irlanda), dentre outras em todos os continentes. No Brasil, há centros de produção e difusão da literatura, como Paraty e Porto Alegre, porém ainda não conquistaram o selo.  

Em princípio, toda a cidade tem potencial para ser literária uma vez que a literatura é o meio pelo qual os escritores, através de diferentes estilos, expressam suas emoções e expectativas, eternizam a cultura e a história do lugar, recordam o passado e vislumbram o futuro. É a arte da palavra que vai brotando com o viver, através de um diálogo intenso e profundo entre alguém que escreve com alguém que lê. O escritor faz-se presente através das suas palavras, mostrando seu modo de pensar e sentir em todo tempo e lugar; tem imortalidade.

Uma Cidade Literária, ao preservar o acervo de livros, tem cuidados especiais com os escritores que sobre seu solo passaram ou viveram, além de apoiar a produção dos atuais. Nova Friburgo tem tradição de acolher artistas da palavra como Machado de Assis, J.G. de Araújo Jorge, Casimiro de Abreu. No entanto, hoje precisa oferecer subsídios aos atuais, através da implementação de medidas políticas e econômicas a fim de apoiar os criadores de obras literárias e a criação de uma nova literatura, posto que necessitam de recursos materiais para evoluir como artistas da palavra e construir obras de qualidade. 

São Cidades que ampliam a relação entre a população com livros, atividades e outros formatos de ações literárias. Constantemente abrem possibilidades para o turismo cultural dado que a literatura também atrai a produção de atividades artísticas afins.   

Além do mais, realizam atividades que fomentam a leitura e a formação de leitores. Não resta dúvida que as escolas que investem em suas bibliotecas e atividades multivariadas de leitura possuem papel fundamental para o desenvolvimento do hábito e do gosto de ler. Entretanto a escola precisa do respaldo de atividades literárias realizadas na comunidade, como feiras, saraus, concursos e festivais literários para atingir seus objetivos.

Para finalizar, aqui deixo mais uma semente para corroborar com a escolha da população pela construção da Biblioteca Internacional Machado de Assis (BIMA) no espaço vazio da Praça do Suspiro. 

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Literatura, música e religiosidade

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Há dias que começam com o espetáculo divino e outros que iniciam como todos, mesmo que acordemos com uma proposta do fazer diário diferente! 

Hoje, ao amanhecer, a Ave-Maria de Franz Schubert invadiu minha casa, meu dia. Minha vida. Senti-me enlevada, como se absorvesse a energia da música e da oração. Foi um sentimento oceânico que me trouxe paz, fazendo-me perceber a eternidade e a totalidade de vida. 

Há dias que começam com o espetáculo divino e outros que iniciam como todos, mesmo que acordemos com uma proposta do fazer diário diferente! 

Hoje, ao amanhecer, a Ave-Maria de Franz Schubert invadiu minha casa, meu dia. Minha vida. Senti-me enlevada, como se absorvesse a energia da música e da oração. Foi um sentimento oceânico que me trouxe paz, fazendo-me perceber a eternidade e a totalidade de vida. 

Quisera eu ter acordado todos os dias embevecida pela força da espiritualidade, presente na minha alma, mas oculta nas tarefas cotidianas. Se eu tivesse acordado sempre assim teria vivenciado meus dias com maior intensidade e coragem para desbastar as dificuldades, inclusive as que eu mesma criei, possivelmente por não ter aberto meu ser para Maria, a divindade feminina, intuitiva, sábia e sensível. A música de Schubert me faz emergir esse potencial que fica adormecido, porém com disposição para despertar e agir. 

Salve Maria! 

Nosso mestre poeta, Fernando Pessoa, na mais imensa e pura simplicidade, reescreveu a Ave-Maria, deixando transparecer em seus versos a grandeza da oração, enquanto força que alicerça a capacidade para vencer a inércia, dando-nos inteligência, disposição e movimento.

 

À minha mãe

Bendita sois vós, Maria,

Entre as mulheres da terra

E voss’alma só encerra

Doce imagem d’alegria.

 

Mais radiante do que a luz

E bendito, oh Santa Mãe

É o fruto que provém

Do vosso ventre, Jesus!

 

Ditosa Santa Maria,

Vós que sois a mãe de Deus

E que morais lá nos céus

Orai por nós cada dia.

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A mais comum das histórias de amor

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Hoje vou me antecipar ao Dia dos Namorados porque senti vontade de me soltar e escrever o que brota em meu pensamento. Os namorados gostam de dançar, então vou bailar e misturar alguns ingredientes literários como lembranças, sonhos e poesias. 

Hoje vou me antecipar ao Dia dos Namorados porque senti vontade de me soltar e escrever o que brota em meu pensamento. Os namorados gostam de dançar, então vou bailar e misturar alguns ingredientes literários como lembranças, sonhos e poesias. 

Vou começar por um dos momentos mais nobres que vivenciei na vida: a despedida dos meus avós. Com quase setenta anos de casados, vovô já acamado, estendeu a mão direita para vovó, abraçando a dela com os dedos trêmulos. Os dois se olharam fixamente, até ele dizer que a amou a vida inteira. As palavras dela foram ditas através de um sorriso triste. No dia seguinte, vovô foi para o hospital e não voltou mais. Eles tiveram a mais comum das histórias de amor, começando por um namoro breve, seguido por um longo casamento, que gerou três filhos, seis netos e onze bisnetos.

A mais comum das histórias de amor pode estar dentre as mais belas, que sempre começa pelo enamoramento; um olhar tímido, o toque das mãos, seguido pelo forte desejo de aproximação. Meu filho, quando tinha seis anos, se apaixonou por uma menina da idade e do tamanho dele. Os dois, banguelas, estavam sem os dentes da frente, mas viviam cheios de risos e não havia ninguém mais belo. Foi um namoro que durou um bom tempo, até ela se mudar. Beto a guardou com carinho e dela nunca se esqueceu.

Quem se esquece do primeiro namorado? Ou do primeiro beijo? São lembranças que marcam e ficam dentro de nós. Acredito que são esses os  momentos que fazem com que um namoro prossiga, torne-se uma união mais duradoura e gere frutos carnudos.

Como é bom a gente escolher roupa bonita, passar perfume e ajeitar o cabelo para encontrar o namorado. Caminhar com as mãos dadas, tomar um sorvete e, então, conversar a perder a hora, rir, admirar, fazer planos e amar. Quem já não dançou e foi junto do companheiro até a varanda para ver a estrela mais brilhante no céu? Os namorados vivem tantos momentos simples, cheios de significados e afetos, como o dar das mãos em uma despedida, tal qual meus avós fizeram.

O namoro é divino. Às vezes chego a guardar a vontade de fazer com que todos os dias sejam como os de namoro, cheios de gentilezas, cuidados para agradar o outro e modos jeitosos de falar. Quem namora sabe como ninguém dizer o não com mansidão e ter outros gestos e atitudes que devemos guardar em altares de cristais para que a rotina, devastadora, não os danifique.

Saber amar é uma sabedoria que vai sendo conquistada com os embates, alegrias e as tristezas. É aprender a colocar água no feijão na dose certa, mexer a panela com paciência e desligar o fogo no exato momento. Além de tudo, conhecer a pessoa que temos nos braços.  

Para finalizar, deixo a poesia “Poemas para o Dia dos Namorados” de Carlos Drummond de Andrade

“O Dia dos Namorados

Para mim é todo dia.

Não tenho dias marcados

Para te amar noite e dia.

 

O dia 12 de junho,

Como qualquer outro, diz

(e disso dou testemunho)

Que contigo sou feliz.

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Estar comigo é um momento de gentilezas

segunda-feira, 05 de junho de 2023

Tenho tido uma experiência saudável nas sessões de yoga tanto com o corpo, que está mais harmônico, quanto com o emocional, mais ágil. Não sei se são os adjetivos certos que podem resumir o meu estado efetivo de inteireza. Enfim...

Esta experiência me remete ao livro infantojuvenil que escrevi, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, em que a protagonista, Rebeca Luíza, tem um profundo encontro com suas emoções, sensações e percepções. Ao final da narrativa, ela conclui que não é mais menina; é adolescente, começando a ser mulher.

Tenho tido uma experiência saudável nas sessões de yoga tanto com o corpo, que está mais harmônico, quanto com o emocional, mais ágil. Não sei se são os adjetivos certos que podem resumir o meu estado efetivo de inteireza. Enfim...

Esta experiência me remete ao livro infantojuvenil que escrevi, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, em que a protagonista, Rebeca Luíza, tem um profundo encontro com suas emoções, sensações e percepções. Ao final da narrativa, ela conclui que não é mais menina; é adolescente, começando a ser mulher.

Nas sessões de yoga, a mestra Joana nos faz observar a nossa mais íntima instância através de uma jornada silenciosa e generosa. Os alongamentos são arrojados e nos desafiam, o relaxamento é meditativo e nos resgatam.   

Rebeca Luíza, diante do espelho, pergunta-se: “se a minha imagem no espelho fosse uma pessoa, nós seríamos amigas?”. Nos momentos de relaxamento e meditação, Joana nos pede gentileza para que nos adentremos, proporcionando-nos o aprendizado de nos sentirmos com delicadeza. Certa vez, tive a impressão de que estava entrando num interessante lugar desconhecido. Caminhava com tímidos passos alados e, com os olhos fechados, me via acordada, sem devaneios rebeldes e desejos delirantes. Depois de me ver diante de uma imensidão vívida, retornei mansamente ao quotidiano, querendo me dar as mãos num gesto parceiro, o que me permitiu olhar para outras margens. 

Assim, ao final das sessões de yoga, durante a meditação, não mais do que breves instantes, consigo tocar na pessoa que sou com ternura. É como se abrisse uma caixa de presente envolta em papel de seda e encontrasse possibilidades que estão escamoteadas e suscitam arremates. É uma reflexão que também me convida a encontrar alternativas que ainda preciso despertar. É um breve tempo que me faz constatar que não quero desperdiçar oportunidades de ser quem de fato sou. 

Lacan chama atenção para o “Tu és!”, ou seja, a afirmação que permeia as circunstâncias para que tenhamos determinadas características. Contudo, muitas vezes, atendendo à essa determinação, deixamos de ser o que somos. “Tu és!” tem a função de transformar modos de ser a partir do olhar do outro ou do grande Outro, o todo maior que nos rodeia.

O corpo, a mente e o espírito devem bailar a valsa da vida de modo a fertilizar a tríade: pensamento, palavra e ação. A yoga, tanto na meditação, como nas mais difíceis posições de alongamento, nos desperta para o destino que temos pela frente a construir.

 

“(...) Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim.”

Clarice Linspector 

Um sopro de Vida, editora Rocco, 1999                  

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A Nona Sinfonia: da literatura à música

segunda-feira, 29 de maio de 2023

A Nona sinfonia de Ludwig Van Beethoven (1770-1827) guarda silêncios. Somente quem é tocado pelos caminhos entre a literatura e a música pode interpretá-los. O silêncio guarda palavras, afetos e tem a profundeza dos sentidos. Contudo só é escutado por quem está pronto a torná-lo o melhor aliado. 

A Nona sinfonia de Ludwig Van Beethoven (1770-1827) guarda silêncios. Somente quem é tocado pelos caminhos entre a literatura e a música pode interpretá-los. O silêncio guarda palavras, afetos e tem a profundeza dos sentidos. Contudo só é escutado por quem está pronto a torná-lo o melhor aliado. 

Beto, meu filho, quando tinha uns oito ou nove anos, ficou encantado com a obra de Beethoven. Ele colocava o disco na vitrola, na época de vinil, e ficava escutando em silêncio. Tão envolvido ficou que estudou piano dois ou três anos e, depois, tornou-se um amante de música tendo uma coleção de CDs imensa e de muito bom gosto.

Meu professor de literatura e amigo, Márcio Paschoal, me presenteou com um vídeo feito na Plaça de San Roc, em Sabadell, província de Barcelona, onde músicos, em silêncio, foram se chegando ao centro da Plaça e começaram a dar os primeiros acordes da Nona Sinfonia. Então, uma orquestra, acompanhada de um coral, fizeram explodir a beleza literária e musical num final de tarde de serena paz.

Mas o que me traz aqui com esse tema é que a Nona Sinfonia, “Ode à Alegria”, finalizada em 1824, especialmente o quarto movimento, uma das mais conhecidas músicas do repertório ocidental e a mais arrojada composição de Beethoven, foi o fato de ter sido inspirada na poesia de um amigo, Friedrich Schiller, escrita em 1785, também intitulada “Ode à Alegria”. Quando terminou de compô-la, 30 anos depois de ter feito as primeiras tentativas de musicar o poema, Beethoven estava surdo. Ele foi um músico poeta. Em processo de evolução da surdez, utilizou-se dos sons musicais, dia a dia guardados na memória, para musicar palavras poéticas cheias de idealismo e irmandade, sentimentos partilhados por ambos. Por assim serem fortalecidos, os versos estiveram vívidos num dos mais belos processos criativos durante 10.800 dias aproximadamente.  

Para Beethoven, o silêncio da surdez tinha o encantamento do enlevo. O silêncio do meu filho procurava captar o sofrimento do compositor e a vontade de entender a sua genialidade, capaz de fazer uma orquestra produzir uma música divina com os ouvidos silenciados. 

A música e a poesia são irmãs de talento, imaginação e empenho. A poesia de Schiller e a música de Beethoven compõem um hino à alegria, que abraça o melhor do ser humano. Constitui-se em uma mensagem sem desigualdades e diferenças raciais, sociais e políticas. Foram compostas em épocas conflituosas, nos períodos em que a Revolução Francesa, as guerras napoleônicas e as repressões impostas pelo congresso de Viena abafavam a paz e a solidariedade.  

 

Ode à Alegria

                                        Friedich Schillet

 

Ó amigos, mudemos de tom!

Entoemos algo mais prazeroso e mais alegre!

Alegria, formosa centelha divina,

Filha do Elysium,

Ébrios de fogo, entramos em teu santuário celeste!

 

Tua magia volta a unir

O que o costume rigorosamente dividiu.

Todos os homens se irmanam, ali onde repousam tuas doces asas.

 

Quem já conseguiu o maior tesouro de ser o amigo de 

um amigo, quem já conquistou uma mulher amada, rejubile-se conosco!

 

Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,

uma única em todo mundo.

Mas aquele que não conseguiu isso, que fique chorando 

Fora desta irmandade!

 

Todos os seres bebem da mesma água no seio da natureza.

Todos bons, todos maus, seguem seus caminhos de rosas.

 

A alegria nos deu beijos e vinhos e um amigo leal até a morte;

Deu força para a vida aos mais humildes -

E ao querubim, a contemplação diante de Deus!

 

Voem alegre como teus sóis

Através do esplêndido espaço celeste expressem,

Irmãos, teus caminhos, alegres como heróis para a vitória.

 

Abracem-se, milhões de irmãos!

Que este beijo envolva o mundo inteiro!

Irmãos, sobre o firmamento estrelado habita um Pai amoroso.

 

Fraquejais, milhões de criaturas?

Não pressentíeis, mundo, o seu Criador?

Busquem-no além do firmamento celeste,

acima das estrelas, onde Ele mora!

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Nova Friburgo, um suspiro na realidade

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Seria um final de semana diferente. Dois dias para rever a cidade onde nascera, comemorar o aniversário de setenta anos do amigo de infância e recordar os tempos de juventude quando se perdia pelas ruas de Nova Friburgo. 

Seria um final de semana diferente. Dois dias para rever a cidade onde nascera, comemorar o aniversário de setenta anos do amigo de infância e recordar os tempos de juventude quando se perdia pelas ruas de Nova Friburgo. 

O sábado amanheceu querendo chover. Ele saiu com o guarda-chuva nas mãos e chegou na rodoviária Novo Rio com um vento fino, soprando pingos de chuva. Foi o primeiro a entrar no ônibus e sentou-se na janela numa das últimas fileiras. Em pouco tempo, os lugares já estavam ocupados, menos o do lado dele. Foi um alívio pensar que poderia esticar as pernas para o lado e dormir um pouco. Entretanto, uma moça alta entrou no corredor e foi direto para aquele lugar vago. Pelo menos uma passageira assim. Ela, com displicência, ajeitou os cabelos morenos que desciam pelos ombros e um leve perfume de alfazema tomou conta do ambiente que o fez respirar fundo, principalmente quando viu as pernas de pele lisa serem cruzadas. Fechou os olhos para não deixar que se pronunciassem. Assim que o ônibus pegou a estrada, ela colocou o fone de ouvido e mergulhou num desligamento infinito. Para não invadir a privacidade da jovem, deixou seu olhar se perder na paisagem, levando seu pensamento para as festas do Clube Xadrez, os bailes de carnaval do Country Club e desfiles das escolas de samba na Alberto Braune quando, na mesma idade que daquela jovem, experimentava a liberdade de ser homem e se movimentar pela vida. Foi o tempo das surpresas e descobertas. Entre a passageira e ele havia cinquenta anos de distância e uma vida enfrentada. Realizada. Suas palavras emotivas transbordavam o dicionário. Amar sempre lhe fora uma palavra atraente, mesmo quando ganhava sonoridade irônica. A solidariedade delineara seu pensamento durante anos, mesmo quando ele não passava de um coringa que preenchia lacunas dos amigos que precisavam cobrir os vazios da solidão. Ele, amante da vida, tendo vivido com intensidade do amanhecer ao entardecer, renovando as células ao longo dos anos e resgatando a juventude, suspirava com o olhar perdido nas matas verdes da Serra da Boa Vista, que lhe sorriam.  Estar ali era um suspiro na realidade. Enquanto o ônibus balançava nas curvas ia revendo suas amigas, companheiras de segredos e solidárias nas suas dores. Como amante, ele as acolhia com rosas vermelhas sob lençóis de linho branco. Ele as ouvia sorrindo, acalmando e amparando com esperança as lágrimas que lhes molhavam os dedos dos pés. Enquanto o ônibus subia a serra, percorria o passado numa boa viagem, que umedeceu seus olhos e fez com que os sabores das frutas cítricas tomassem conta do seu paladar que ameaçava enjoar. Durante a maturidade, fora um louva-deus que pousou sobre a vida e perdera-se nas cores das florestas que adentrara. Passou seus dias se sustentando em cordas bambas, sem ter camas elásticas para sustentar-se a cada voo que dava no ar.

Quando o ônibus estacionou na Rodoviária Sul, em Nova Friburgo, seus olhos estavam fechados e molhados. Entre pestanas, ele ainda viu a moça, apressada, saltar e desaparecer no meio de tantos outros passageiros.

***

O relógio teve que despertar três vezes para que ela não perdesse a hora. Precisava dormir! Descansar dos livros, do trabalho e das relações mal resolvidas. Acordava para um final de semana chuvoso e que definitivamente gostaria de ter junto ao avô.

Chegou com a porta do ônibus fechando e sentou-se ao lado de um senhor que se ajeitou com sorriso nos olhos. Colocou o fone de ouvido. De olhos fechados, poderia pensar melhor na vida e compreender as contradições do dia a dia. Será que consigo ter paz na cidade do Rio de Janeiro? Aqui parece que o mundo tem a bunda virada ao avesso! Cercada de embates acirrados, estava aprendendo a viver. Meus avós e eu... tínhamos uma vida tão legal em Nova Friburgo... recordava dos passeios nas montanhas, piqueniques em cachoeiras e viagens da região serrana às praias. Vovó se foi. Cresci e tive que vir para o Rio de Janeiro. Ainda não me situei. Escutando música e sentindo o balanço do ônibus, lembrou-se da voz aveludada dos avós, das tantas vezes que eles a deixavam na rodoviária e acenavam para se despedir. Daquelas mãos envelhecidas que a acolhiam por inteiro e daqueles ombros nos quais encostava a cabeça. O cheiro da mata da Serra da Boa Vista lhe deu um nó apertado na garganta. Estava cansada dos silêncios da cidade grande e da correria das ruas. Sentia vontade de voltar para casa e deitar a cabeça no travesseiro de menina. Sentiu-se suspirosa. Ainda não conseguia usar a liberdade de ser mulher e movimentar-se vida afora; estava confusa com as descobertas. Entre um lamento e outro, num rápido olhar, viu que o passageiro ao lado era um homem muito mais velho. Ah, se tivesse minha idade, seria um cara interessante... Deveria ter sido bonito... Quem sabe? Quem sabe... Estava sem palavras e tinha uma vida de baixa sonoridade. Viu-se diante de incógnitas.  A figura masculina do avô delineou seu pensamento, chegando a concluir que ela ainda não conseguia preencher seus vazios. Observou as mãos enrugadas, finas e elegantes do passageiro. Fechou os olhos e lembrou-se das mãos masculinas que conheceu. Gostava de mãos. As mãos acolhiam e impulsionavam. Fez, então, do velho passageiro alguém que a impulsionasse à vida. As cores explodiram em seu pensamento, suscitando novos sonhos. Adormecida, sentiu-se bela e com alma quieta, tinha que aprender a fazer a vida explodir em cada entardecer, para, no dia seguinte, amanhecer renovada. Suas jovens células precisavam ser reavivadas para que pudesse resgatar a juventude que se perdia a cada momento. Sou mais velha do que ele!? Suspirou fundo com o olhar perdido nas matas verdes da Serra da Boa Vista. Aquele velho homem desconhecido tinha algo que transmitia entusiasmo pela vida. Emanava calor. Juventude. O balanço do ônibus nas curvas a fez rever seus poucos sonhos de travesseiro. Sentia falta dos amigos que deixara em Friburgo. Queria alguém que escutasse suas dores urbanas, que pudesse ouvi-la sorrindo e amparasse com esperança suas lágrimas que molhavam os dedos dos pés. Ainda precisava viver anos para ser desprendida e audaciosa a fim de despertar vontades diferentes. Sua vida era uma realidade cheia de suspiros. Durante o tempo em que o ônibus subia a serra, ela tentava percorrer o futuro numa agitada viagem. Aquele estado de espírito umedeceu suas mãos e fez com que o sabor amargo tomasse conta do seu paladar, já bem enjoado. Adentrava a maturidade como um touro que se esbarrava na vida e sem coragem para atravessar florestas. Não queria passar a vida se sustentando em cordas bambas e sem ter camas elásticas para sustentá-la a cada voo que desse no ar.

Quando o ônibus estacionou na Rodoviária Sul, seus olhos estavam zonzos. Levantou-se e adentrou Nova Friburgo.

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Eis a questão...

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Em quanto tempo aprendemos a ler e a escrever? 

Eu me refiro ao binômio leitura e escrita, duas habilidades complexas e intrinsecamente relacionadas. Quem domina a leitura consegue escrever um relatório, uma carta, um bilhete ou coisa assim. Já quem domina a escrita é capaz de abrir asas sobre o papel e criar uma infinidade de textos uma vez que foi humanizado e aperfeiçoado pela leitura. É um ser falante e dono do próprio discurso ao escrever o que pensa e o que quer, mesmo que se apresente travestido pelas palavras de outros por pura diversão. 

Em quanto tempo aprendemos a ler e a escrever? 

Eu me refiro ao binômio leitura e escrita, duas habilidades complexas e intrinsecamente relacionadas. Quem domina a leitura consegue escrever um relatório, uma carta, um bilhete ou coisa assim. Já quem domina a escrita é capaz de abrir asas sobre o papel e criar uma infinidade de textos uma vez que foi humanizado e aperfeiçoado pela leitura. É um ser falante e dono do próprio discurso ao escrever o que pensa e o que quer, mesmo que se apresente travestido pelas palavras de outros por pura diversão. 

Caso alguém responda que passou a vida inteira aprendendo tais habilidades não vou achar exagero. Claro que não! Eu me incluo discretamente na figura desse entrevistado. A cada livro que leio me vejo diante de um aprendizado de palavras e ideias posto que nenhum livro reproduz outro. Durante a leitura vou ampliando as possibilidades de captar os sentimentos do autor e os sentidos que ele dá à própria vida. Além do mais, que seja conto, romance ou crônica, até mesmo textos técnicos ou científicos, cada texto mostra as vozes da época em que foi escrito. A leitura me traz ideias que vou desvendando tal como minhas pernas fazem quando adentram um caminho novo. Ler é poder interpretar o pousar das borboletas em todas as horas e lugares. 

O leitor não nasce antes ou depois do seu tempo. É um viajante que adentra gentilmente no passado, no presente e no futuro; seu coração pulsa com o vento que emerge do fundo de cada tempo em que a obra literária está situada. Ele busca argumentos para compreender os seus mais variados sentimentos e desejos. E, assim, querendo entender-se, ele começa a escrever diários, histórias e reviravoltas. Torna-se alguém fecundo, capaz de brindar o leitor com palavras saborosas, amargas ou vespertinas. Ele aprende a fazer literatura em tachos de fé. 

Vou considerar herói aquele que se dedica ao ofício de ensinar a escrita a aspirante de qualquer idade visto que é uma tarefa repetitiva e caminha lentamente, acompanhando os incertos passos daqueles que vão e voltam. É um mestre que nasce no desbravamento, capaz de fazer com que o aprendiz supere sua insana estupidez a cada tentativa de ser escritor. É um professor amado por não ser comparável a qualquer sonhador. Não é um fazedor de escritores, mas de agentes que gostam de fazer as ideias circularem mundo afora.

E, de novo, pergunto com a mais terna sofreguidão: em quanto tempo aprendemos a ler e a escrever?

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Fomos bordadas e bordamos pessoas

segunda-feira, 08 de maio de 2023

Nada mais é literário do que a relação entre mãe e filhos, que pode ganhar diferentes contornos ao longo da vida, seja na presença ou na ausência. Outro dia, estava em um breve momento de meditação quando, repentinamente, me vi dentro da barriga da minha mãe. Eu me senti apertada e cheguei até a fazer movimentos com as mãos e com os pés como se empurrasse paredes. Contei para ela 69 anos depois de estar em seu útero. Mamãe exclamou com os olhos brilhando: “Como você pulava!” Rimos e ficamos num acolhimento sorridente. 

Nada mais é literário do que a relação entre mãe e filhos, que pode ganhar diferentes contornos ao longo da vida, seja na presença ou na ausência. Outro dia, estava em um breve momento de meditação quando, repentinamente, me vi dentro da barriga da minha mãe. Eu me senti apertada e cheguei até a fazer movimentos com as mãos e com os pés como se empurrasse paredes. Contei para ela 69 anos depois de estar em seu útero. Mamãe exclamou com os olhos brilhando: “Como você pulava!” Rimos e ficamos num acolhimento sorridente. 

Somos consequência dessa relação que começa no tempo uterino. Tantas circunstâncias nos tecem, tal qual os fios de linha que as bordadeiras usam. Fomos bordadas e bordamos pessoas.

Isabel Allende nos mostra a beleza do seu bordado durante os meses em que passou ao lado da filha, Paula, no leito de morte, ao escrever a história da sua vida como mulher, filha, esposa e mãe com a esperança de que, um dia, ela se recuperasse e lesse suas páginas. Infelizmente, Paula não resistiu à Porfiria. Apesar da sua imensa tristeza, Isabel Allende nos deixou uma obra prima.

Li o livro faz tempo. O que me emocionou foi a leveza com que narrou a sua trajetória de vida, mesclada com a dor ante a situação terminal da filha. Eu também perdi meu filho e conheço esse sentimento. É visceral. Tão transcendental quanto é abraçar minha filha e acolhê-la nos meus braços. Mesmo com 42 anos, ela ainda é a minha menina que dizia cheia de vaidade: “Sou mocinha!”. Tanto quanto sou para minha mãe.  São elos que não se partem. São eternos.

Tudo na vida está interrelacionado com a capacidade de amar que vai sendo tecida dia a dia. Porém a percepção do olhar da mãe, seja através da presença real ou das lembranças, é decisiva para o modo como tomamos decisões, agimos e construímos o destino.

Salve o abençoado Dia das Mães!

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