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A leitura, os manuais de instrução e a literatura

segunda-feira, 10 de junho de 2024

A literatura tem pano de sobra, aliás sobra tecido para todas as mangas dos mais diferentes tipos e tamanhos. Nesses dias, ao me deparar com um manual extenso, refleti sobre as diferenças entre os manuais de instrução, que têm por finalidade ensinar ao usuário a operar um equipamento e a literatura, que é a arte de usar as palavras ao recriar a realidade através da visão do autor da obra na produção textual de prosa e poesia. 

A literatura tem pano de sobra, aliás sobra tecido para todas as mangas dos mais diferentes tipos e tamanhos. Nesses dias, ao me deparar com um manual extenso, refleti sobre as diferenças entre os manuais de instrução, que têm por finalidade ensinar ao usuário a operar um equipamento e a literatura, que é a arte de usar as palavras ao recriar a realidade através da visão do autor da obra na produção textual de prosa e poesia. 

Os manuais de instrução e a literatura são apresentados através de textos, ou seja, usam a palavra como matéria prima. Os primeiros fazem uso da linguagem objetiva com sentido denotativo, ou seja, a palavra é empregada em seu sentido próprio e preciso. Já o texto literário emprega uma linguagem subjetiva e um sentido conotativo através do qual o leitor tem a possibilidade de interpretar e imaginar, indo além do sentido real das palavras. 

“A leitura é, provavelmente, uma maneira de estar em outro lugar.”

                                                                                 José Saramago

O mais interessante é que as palavras usadas nos manuais podem ser as mesmas empregadas nas obras literárias. Até me arrisco a supor que existe uma magia nos processos de escrita, que até hoje ninguém decifrou. 

De que substância és feito,

Que milhões de sombras te envolvem?”

                                                           William Shakespeare, Soneto 53

Quando caminhamos por um bosque vamos admirando as árvores e a beleza da natureza, escutando os passarinhos e o barulho do vento até chegarmos na fonte, onde vamos matar a sede, saboreando a água fresca. Nesse passeio, o leitor busca prazer ao debruçar seus olhos sobre um texto literário. Lendo, torna-se uma pessoa melhor. Usa seu tempo livre tendo contado com ideias e modos de viver de outra pessoa, até porque o autor, acima de tudo, é tão humano quanto ele. Além do que vive ou viveu em contextos culturais diferentes dos do leitor.

Em caso de falta d’água, o leitor percorre um caminho certeiro que o leva à fonte, onde terá a certeza de encher seus recipientes de água potável para levá-los para casa. Ao ver-se diante de uma máquina desconhecida, o leitor se detém em cada item do texto, geralmente numerado, e busca compreendê-lo tendo em vista o mais eficiente uso do equipamento.

“Não há problema que a leitura não possa solucionar.”

                                                                       Charles Bukowski

O que há de comum entre a literatura e os manuais de instrução é que todos foram criados para serem lidos.  

Ora pois sim, cada leitor elege seu estilo de leitura. Há quem não goste ler manuais de instrução e há quem não sinta prazer de ler textos literários. Porém não há leitores certos e errados. E, sim, há leitores versáteis, que reconhecem o valor de cada texto e sabem lê-lo com desenvoltura. 

Aí reside a importância do desenvolvimento do hábito de leitura. A leitura, sem sombra de dúvidas, é uma habilidade cognitiva complexa posto que exige atenção, estabelecimento de semelhanças e diferenças, compreensão de significantes e significados, análise, crítica e interpretação. O que requer do aprendiz tempo e dedicação. Porém o ponto de partida é o leitor saber encontrar prazer, interesse e motivação durante a leitura.

“Leitura, antes de mais nada, é estímulo, é exemplo” 

                                                                                  Ruth Rocha

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A literatura acolhe o leitor infantil em situações de desastres naturais

segunda-feira, 03 de junho de 2024

Ao acompanhar as notícias sobre as inundações do Rio Grande do Sul através das imagens, relatos e notícias, não parei de pensar em como a literatura infantil pode oferecer apoio às crianças que estão sofrendo as trágicas consequências.

Ao acompanhar as notícias sobre as inundações do Rio Grande do Sul através das imagens, relatos e notícias, não parei de pensar em como a literatura infantil pode oferecer apoio às crianças que estão sofrendo as trágicas consequências.

O leitor infantil merece o nosso maior respeito. Ao construir textos para crianças, é nossa obrigação ter a ciência de que estamos escrevendo para um ser humano individual em processo de transformação, com inteireza afetiva característica de sua idade, inserido em contextos naturais, familiares, sociais, econômicos e culturais. As crianças possuem capacidade para interagir e sentem as consequências dos acontecimentos à sua volta, porém ainda com limitações cognitivas para compreender os fatos. 

As chuvas que inundaram o Rio Grande do Sul trouxeram destruição de parte do Estado e causaram imensa tragédia com mortos, feridos e desabrigados, com adultos e crianças que perderam familiares e moradias, além dos animais que ficaram desamparados ou sucumbiram.    

Como a literatura pode oferecer acolhimento às crianças vitimadas por desastres naturais e às que assistiram aos fatos de modo distanciado? 

A literatura infantil guarda o universo de histórias construídas com arte, riqueza de ideias e cuidados com a elaboração de uma linguagem possível de ser compreendida pelo leitor, que é uma pessoa com sensibilidade aflorada, mergulhada em uma realidade desconstruída que pode lhe cobrar maturidade imediata, como o ocorrido com crianças no Rio Grande do Sul. 

O texto literário possui vida pulsante, seja na empatia que o escritor tem pela humanidade e na responsabilidade que suas palavras irão colaborar para o viver de crianças, acolhendo-as em diferentes circunstâncias, inclusive nas mais difíceis. A literatura pulsa nos traços dos ilustradores que recontam histórias através de imagens. Pulsa nas mãos dos editores que produzem o livro e no leitor que decodifica cada palavra do texto, ao refletir sobre as mensagens e os fatos contados nas histórias. 

Neste momento, o leitor brasileiro infantil está vivendo ou assistindo a uma tragédia e, a cada instante, se depara com circunstâncias diversas e aniquilantes. É uma criança que sente necessidade de buscar respostas, compreender a natureza dos fatos, observar a ação do homem sobre o ambiente. Que lida com uma interminável quantidade de informações, muitas ainda indecifráveis. 

O grande valor da literatura que aborda desastres naturais está na esperança contida na capacidade de superação dos personagens. Além do que, ao ler, a criança conversa com o outro a respeito, quer seja adulto ou outro leitor. Também fala a respeito da sua experiência, reflete sobre as situações. Imagina. Tem contato com heróis. Enfim, o livro colabora para o reconhecimento do valor da vida e dos cuidados para com a natureza. 

Deixo, a seguir, uma sugestão de leitura: “Sagatrissuinorana”, de João Luiz Guimarães, ilustrado por Nelson Cruz e publicado pela Ôzé Editora, ganhador do prêmio Jabuti de melhor livro infantil em 2021. A história reconta a fábula dos Três Porquinhos, tendo como pano de fundo o rompimento das barragens em Minas Gerais. 

“O recato da terra chega quase sem aviso. E o que era história viva, urdida no sem-tempo da fábula, vira história morta, soterrada pela notícia. Às vezes, o homem pode ser o lobo do lobo.” (texto que faz parte da quarta capa do livro)

Também uma solicitação: vamos doar livros infantis e juvenis às escolas do Rio Grande do Sul.

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Nova Friburgo acolhe trovadores nos seus jardins

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Nova Friburgo, sim senhor!, é o Berço dos modernos Jogos Florais no Brasil, expressão literária que caminha mundo afora há centenas e centenas de anos. Inicialmente, cantigas poéticas surgiram pelos lugares da Itália e Península Ibérica quando os trovadores, poetas e menestréis, iam, errantes, em cortes, feudos e burgos declamando o amor, propagando ideias e satirizando os fatos da vida. Além de ser uma forma de memorizar mensagens e levar diversão, as trovas eram uma expressão literária relevante da época. 

Nova Friburgo, sim senhor!, é o Berço dos modernos Jogos Florais no Brasil, expressão literária que caminha mundo afora há centenas e centenas de anos. Inicialmente, cantigas poéticas surgiram pelos lugares da Itália e Península Ibérica quando os trovadores, poetas e menestréis, iam, errantes, em cortes, feudos e burgos declamando o amor, propagando ideias e satirizando os fatos da vida. Além de ser uma forma de memorizar mensagens e levar diversão, as trovas eram uma expressão literária relevante da época. 

Considerados como um dos eventos culturais mais antigos do mundo, eram realizados como competições literárias em homenagem à Flora, deusa dos jardins e da poesia. A primeira edição dos Jogos Florais em Nova Friburgo, realizada em 1960 e tendo como tema “Amor”, foi organizada pelos trovadores Luiz Otávio e JG de Araújo Jorge, tendo recebido em torno de 2.000 trovas do Brasil e do exterior.

Posto que sim, Nova Friburgo é uma cidade literária por excelência. A arte das palavras brota no imaginário do friburguense como água pura de nascente no meio das pedras. Não é por menos que aqui tenha romancistas, poetas, contistas, cronistas e trovadores. Talvez a beleza das suas matas, o cheiro da natureza e o barulho das águas inspirem os artistas a untar seus pensamentos com criatividade e sensibilidade. 

Ninguém pode esquecer ou desvalorizar os predicados artísticos de Nova Friburgo, muitas vezes mesclados com a vida urbana, cheia de movimentos e feitos. A meu ver as trovas poderiam brilhar nas esquinas da cidade, curvas da estrada ou até mesmo nos sacos de pão. Ah, como é bom saborear um pão francês quentinho e ler uma trova, que seja de amor ou de humor.

Hábeis poetas, os trovadores compõem suas trovas em quatro versos e em redondilha maior, ou seja, em sete sílabas em uma única estrofe, com rima e sentido completo. Eles sabem buscar as exatas palavras que despertam bons sentimentos, roubam risos e direcionam o olhar para outros vieses. A trova habita no coração dos poetas que possuem a capacidade para resumir ideias, esperanças e sentimentos; para dar graça aos momentos do quotidiano. São aqueles que sabem entrelaçar pensamentos e palavras com clareza e objetividade, conquistando a beleza poética em cada verso. É resultado de uma experiência cognitiva ágil, de modo que a percepção da realidade pelo poeta esteja sob a influência da composição trovadora, da imaginação fértil e da construção de sentidos. 

No dia 18 de julho é comemorado o Dia do Trovador em todo território nacional. A data homenageia Luiz Otávio, fundador e perpétuo presidente da União Brasileira de Trovadores. 

No último final de semana, foi realizado o LXV Jogos Florais de Nova Friburgo, mais uma edição conquistada com amor e dedicação, que contou com a participação de trovadores da região, de outros estados brasileiros e cidades do Rio de Janeiro, como também dos trovadores da AFRIDEV (Associação de Integração dos Deficientes Visuais). Foi um evento grandioso, acalorado e cheio de alegria. 

                                              “Há tanto CALOR humano

                                                  Em nossos jogos florais

                                           Que esse encontro, ano após ano                                       

                                                 Nos envolve mais e mais”

                                                                                         (Nádia Huguenin, Nova Friburgo, 2.000)

 

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As montanhas brindaram Nova Friburgo no seu aniversário

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Nova Friburgo tem flores...

Céu azul, clima gostoso...

Tem cultura, seus valores

E um progresso virtuoso!

                                             

Nova Friburgo tem flores...

Céu azul, clima gostoso...

Tem cultura, seus valores

E um progresso virtuoso!

                                             

O dia 16 de maio de 2024 chegou em Nova Friburgo cheio de brilho, tornando suas cores mais resplandecentes. A alegria das montanhas movimentou as árvores que acenavam ao povo da cidade e faziam um coro com os ventos vindos do mar. Aves piavam nos galhos, cachorros latiam nas casas, cavalos relinchavam nos pastos, micos e maritacas faziam arruaça nos pinheiros. Foi um dia de festa em que a cidade comemorou 206 anos de vida, um belo tempo feito de amor, esperança e labor.

Moradores desfilavam pela Avenida Alberto Braune, enquanto crianças corriam pelas calçadas. Os friburguenses relembravam o passado das pessoas que participaram da construção da cidade vindas de diferentes lugares do mundo, do Oriente ao Ocidente, que atravessaram rios e oceanos, subiram montanhas em tropas de mulas, fincaram raízes e se puseram a trabalhar nas terras altas e frias da Serra do Mar. Um lugar coberto pelo verde da Mata Atlântica que abrigou os índios, seus primeiros habitantes. De início, a região era uma vasta e densa floresta.

Com orgulho, Nova Friburgo festejou seu aniversário com as portas abertas. Acenou com reconhecimento e respeito aos antepassados pelos esforços empreendidos. Salve os indígenas, africanos, portugueses, suíços, alemães, italianos, espanhóis, libaneses, japoneses, húngaros e austríacos! Salve os brasileiros! Foram povos que desenharam a cidade com força e suor, queijos e chocolates, comidas típicas e artesanato, fábricas e edificações, hotéis e clubes de futebol, danças e cantos.

Desde sempre Nova Friburgo acorda cedo para trabalhar. É também um lugar festeiro e acolhedor a quem aqui chega para sentir o cheiro da natureza, degustando boa comida, vinhos e cervejas ao som das matas ainda preservadas e das águas que correm sobre seu solo. É um lugar habitado por pessoas corajosas, capazes de enfrentar as intempéries da natureza.

Suas montanhas relembravam o passado cheio de conquistas e lembranças saudosas, como a da Maria Fumaça que cantava “Café com pão! Café com pão! Café com pão!”, enquanto subia e descia a montanha carregada de alimentos, correspondências e encomendas, levando e trazendo moradores, vendedores e turistas, transportando pessoas que precisavam das matas friburguenses para curar seus males. 

Quando o sol se pôs e a lua clareou o céu, as montanhas viraram trovadoras e começaram a declamar suas trovas.

    Amor à primeira vista                                     Os povos foram chegando,

                   Friburgo tem qualidade                                  ficaram aqui raízes

                  E quando chega... o turista                             e a cidade alegrando

        Sai morrendo de saudade!                             Com as pessoas felizes!

 

Do Oriente ao Ocidente,                                      Nas terras altas e frias

  Venceram rios e mares,                                     em meio a serra do mar,

    e aqui foi chegando gente                                  a esperança abriu as vias

         que ergue na terra os seus lares                       para a terra prosperar

 

Com vasta densa floresta,                                Trazia correspondências,

   No verde da Mata Atlântica                              encomendas e alimentos...

                 Com a paisagem de festa                                Trazia até influências

Tornou-se a vila romântica                              que despertava talentos...

 

O trem subia e descia

E trazia as novidades...

E a fumaça de maria

Perfumada de saudades...

 

Esta coluna homenageia a trovadora friburguense Elisabeth Souza Cruz.

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O amor materno

segunda-feira, 13 de maio de 2024

O amor de mãe para filhos — sequência eterna de uma geração a outra — alimenta amor através do tempo, fazendo com que esse afeto engrandeça o sentimento da humanidade. Segundo Cora Coralina, declara em seus versos: “a mulher tem o tom divino de ser mãe”

O amor de mãe para filhos — sequência eterna de uma geração a outra — alimenta amor através do tempo, fazendo com que esse afeto engrandeça o sentimento da humanidade. Segundo Cora Coralina, declara em seus versos: “a mulher tem o tom divino de ser mãe”

Cada dia que passa, tenho mais certeza de que o amor materno que recebemos é fundamental para que nos relacionemos com as pessoas durante a vida, além da inteligência e da criatividade. A mãe oferece ao filho a primeira oportunidade de amar, enquanto estima especial e individual. Toda mãe possui um modo particular de acolher sua criança, que percebe e sente esse abrigo de uma forma única. Estão no âmago dessa relação as bases do inconsciente que passam a respaldar a construção da história de vida de ambos, em elos que vão se entrelaçando de momento a momento, como relações de causa e efeito. 

Mãe e filhos se retroalimentam e se modificam. A mulher não é a mesma depois que tem cada um dos seus filhos, como também estes trazem as características da mãe, que se presentificam na maneira de ser ao longo de suas vidas. É uma relação intrínseca, tão íntima que a criança oferece seu afeto à mãe, mesmo que de maneira silenciosa, capaz de fazer o que for possível para tê-la a seu lado, posto que a mãe é percebida como fonte de vida e alegria. Muito mais do que uma forma de buscar o aconchego uterino, é um gesto de agradecimento por existir. 

Saint-Exupéry idealizou o Pequeno Príncipe quando viajava de trem para a Rússia e viu uma criança adormecida no colo da sua mãe. Ele guardou a imagem na memória e, tempos depois, quando exilado nos Estados Unidos, a desenhou. Foi uma imagem tão forte que, inicialmente, transcendeu suas palavras. E, somente em profundo estado de tristeza em decorrência da Segunda Guerra Mundial, escreveu num dos mais sensíveis textos literários do século passado. Ou seja, o afeto emanado da imagem não o deixou sucumbir.

Os filhos escolhem ou desenham os mais belos presentes para suas mães como uma maneira de expressar seus sentimentos. O amor mantém a grandeza do compartilhamento. Tem vivacidade. Guarda os versos dos poetas, tal qual “Mãe”, de Carlos Drumont de Andrade.

Mãe! São três pequenas letras apenas

As desse nome bendito:

Três letrinhas, nada mais...

E nelas cabem o infinito

E palavra tão pequena

— confessam mesmo os ateus —

É do tamanho do céu

É apenas menor que Deus

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Parabéns, Casa de Salusse!

segunda-feira, 06 de maio de 2024

Quando a Academia Friburguense de Letras comemorou 71 anos de existência, eu apresentei este discurso a todos os presentes na comemoração do seu aniversário. Hoje, senti vontade de trazê-lo a esta coluna, como uma forma de beijar a sua linda história.

 

“Na sexta-feira, dia 22 de junho de 2018, você faz 71 anos, e queremos lhe abraçar, por tanto nos acolher e fazer por nós. A cada dia, seus ares nos impulsionam a fazer mais, a aproximar pessoas que gostam de guardar palavras e de realizar a cultura literária nesta nossa cidade.

Parabéns, Casa de Salusse!

Quando a Academia Friburguense de Letras comemorou 71 anos de existência, eu apresentei este discurso a todos os presentes na comemoração do seu aniversário. Hoje, senti vontade de trazê-lo a esta coluna, como uma forma de beijar a sua linda história.

 

“Na sexta-feira, dia 22 de junho de 2018, você faz 71 anos, e queremos lhe abraçar, por tanto nos acolher e fazer por nós. A cada dia, seus ares nos impulsionam a fazer mais, a aproximar pessoas que gostam de guardar palavras e de realizar a cultura literária nesta nossa cidade.

Parabéns, Casa de Salusse!

Você nos coloca diante de mais de um ano ativo com tarefas importantes a realizar, como o Congresso Nacional das Academias de Letras, o 5º. Concurso Literário Nacional Júlio Salusse, a posse de novos jovens acadêmicos para o Anexo Jovem e a de acadêmicos veteranos, os cursos e as palestras. Além de todas os afazeres que uma Academia de Letras movimentada tem.

Parabéns, Casa de Salusse!

Temos que abraçar nossos antecessores porque, hoje, tudo o que há e o que acontece entre suas paredes é fruto do trabalho e dos esforços daqueles se dedicaram à causa literária em Nova Friburgo e que construíram uma Casa para guardar os escritores e os amantes das letras da região.

Parabéns, Casa de Salusse!

Por estar viva em 25.915 dias. Suas portas e janelas hoje estão mais abertas do que nunca, pronta a acolher seus acadêmicos, seus amigos, o Clube de Leitura, o Coral, os professores e os estudiosos das letras, da teologia, da história, da psicologia, da filosofia e das artes, além dos acadêmicos de outras cidades do Brasil. Daqui, emana o pensar e o debate sobre questões relevantes à existência humana, a alegria do conviver, o compartilhamento de ideias e decisões.

Parabéns, Casa de Salusse!

Por não guardar preconceitos e ideias fechadas, aqui, há liberdade de pensamento, de expressão e de respeito às diferenças. Quem entra pela sua porta e sobe suas escadas vê o sorriso de pessoas que estão dispostas a interagir com amigos, humanamente semelhantes.

Parabéns, Casa de Salusse!

Tenho orgulho em participar desta Academia serena e sincera. Aqui, buscamos a paz em todos os momentos, mesmo nos de discórdia, o que é natural num ambiente democrático. Somos um grupo integrado, eclético e objetivo. Buscamos a praticidade e a agilidade. Já fizemos grandes conquistas nesse sentido e pretendemos melhorar cada vez mais.

Parabéns, Casa de Salusse!

Nós amamos você.   

 

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Um gentil aceno à Daniela Santi

segunda-feira, 29 de abril de 2024

As pessoas partem desta vida e deixam saudosas memórias. Suas histórias são marcadas por fatos por elas construídos, que podem se transformar em ensinamentos que vão enriquecer os modos de ser e fazer das pessoas de um ou de todos os lugares, que vão ser transmitidos dia a dia e, possivelmente, passados de geração em geração. 

Tive pouco contato com Daniela Santi, entretanto foram momentos significativos, que me deixaram registros de ideias motivadoras do fazer literário, seja em que estilo for. 

As pessoas partem desta vida e deixam saudosas memórias. Suas histórias são marcadas por fatos por elas construídos, que podem se transformar em ensinamentos que vão enriquecer os modos de ser e fazer das pessoas de um ou de todos os lugares, que vão ser transmitidos dia a dia e, possivelmente, passados de geração em geração. 

Tive pouco contato com Daniela Santi, entretanto foram momentos significativos, que me deixaram registros de ideias motivadoras do fazer literário, seja em que estilo for. 

Formada em Artes Cênicas, Daniela dedicou sua vida ao teatro. Foi dramaturga, diretora e professora, além de realizar atividades importantes na cultura friburguense. Foi também poeta, o que não poderia deixar de ser pela sua sensibilidade artística. O último trabalho dela, como autora do texto infantil e diretora, foi “As aventuras de Rajado e Branquinha - Rádio PRK9”, apresentado em março deste ano, no Teatro Municipal Laércio Rangel Ventura, em Nova Friburgo. Suas montagens sempre foram cuidadosas e belas, coloridas e alegres. Transmitiam em cada cena seu amor pelas artes cênicas.

Quando conversei com Daniela sua voz tinha amadurecida sonoridade.  Foi um longo e agradável bate-papo sobre teatro, até porque eu tinha experiência como dramaturga (construção e adaptação de texto) e produtora. Falamos sobre os desafios da encenação e suas quase insuperáveis dificuldades. 

Sua trajetória foi marcada por esforços em conquistar o sonho de ver no palco sua criação, de ensinar sua arte, transformar seu pensamento em literatura através da dramaturgia e da poesia. Há tantos heróis entre nós movidos pelo amor à arte que sempre encontram uma forma de compartilhar com tantos outros que sustentam ideais afins.

Daniela foi e deixou em mim a sua voz, que me faz buscar projetos deixados nas gavetas, onde reúno meus melhores guardados. Por certo, deixou um legado artístico aos que pretendem encontrar na arte a alegria de realizar projetos culturais, apesar de todos os desafios e dificuldades. 

Salve, Daniela, você partiu iluminada. As estrelas estão convidando você para entrar na ciranda criativa do universo!

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A Aula Magna de Roseana Murray

segunda-feira, 22 de abril de 2024

O acidente sofrido pela escritora Roseana Murray, ocasionado pelo ataque quase fatal de três cachorros, tocou a alma de todos, que com ela se sensibilizaram e solidarizaram. A notícia nos deixou em estado de perplexidade pela crueldade com que o destino a surpreendeu. 

O acidente sofrido pela escritora Roseana Murray, ocasionado pelo ataque quase fatal de três cachorros, tocou a alma de todos, que com ela se sensibilizaram e solidarizaram. A notícia nos deixou em estado de perplexidade pela crueldade com que o destino a surpreendeu. 

A vida de Roseana foi iluminada pela luz verde que acende nos momentos mais sombrios e dolorosos em que alguém se encontra em profundo estado de sofrimento. Ela, com o amor pela vida transbordando em suas feridas, decidiu superar o trauma e retornar à vida, assumindo o desafio de se readaptar às condições físicas comprometidas pela amputação do braço, perda da orelha e ferimentos generalizados. Ela nos é um exemplo de coragem e determinação.

Eu, no meu silêncio cheio de espantos, fiquei me perguntando por que uma pessoa admiravelmente poeta, que criou um trabalho literário e generoso junto ao público infantojuvenil, professores, escritores e demais leitores, que construiu uma história de vida digna, poderia ser submetida a um sofrimento tão terrível?

Será que somente através dessa tragédia ela teria condições de ir além dos seus admiradores e expor ao mundo a sua beleza e força interior? Seu grande desafio, agora, é aprender a escrever poemas com a mão esquerda! Posto que sim, ela demonstra ter imenso respeito pela sua obra e consideração pelos seus leitores, mostra que sua vontade de retornar à vida tem a honra dos heróis e a nobreza dos humildes. 

Com uma vida dedicada à educação e à literatura, Roseana pode perceber que a existência humana tem autoridade sobre todos os eventos a que uma pessoa possa estar envolvida ou submetida. O apreço por si se sobrepõe aos infortúnios do destino, quando a decisão corajosa de continuar a viver possui plenitude. Quem tem amor-próprio conhece as imperfeições da existência e sabe fazer a resiliência nascer e renascer a cada instante.

Deixar-se derrubar pelos infortúnios é a pior fraqueza que se possa ter na medida em que a pessoa vai deixando de se orgulhar de quem é, dos feitos que realizou e ainda tem condições de realizar. Roseana se mostrou como uma grande mestra, suas palavras podem compor o discurso inaugural a quem se aventura a trilhar os tortuosos caminhos da vida.

Quando alguém admira seus passos, percebe as riquezas que foi construindo dia após dia, tem a crença engrandecida de que é capaz de superar as dificuldades. Que, na verdade, são circunstâncias que precisam ser ultrapassadas através de um extenso aprendizado.

Afinal, não estamos todos sentados nos bancos da universidade da vida?

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Espelho, espelho meu, me diga quem sou

segunda-feira, 15 de abril de 2024

O espelho é uma lâmina que reflete imagens iluminadas que são colocadas à sua frente. É uma tecnologia que vem da antiguidade, especialmente do Egito e da Grécia, sendo aperfeiçoado em meados do século XVII pelo químico alemão, Justus Von Liebig, e pelos artesãos de Veneza. Hoje, tem utilidade funcional no dia a dia, além de decorativo e ter se tornado objeto imprescindível nos ambientes. Todos têm, no mínimo, um espelho em casa ou no lugar onde trabalham e frequentam.

O espelho é uma lâmina que reflete imagens iluminadas que são colocadas à sua frente. É uma tecnologia que vem da antiguidade, especialmente do Egito e da Grécia, sendo aperfeiçoado em meados do século XVII pelo químico alemão, Justus Von Liebig, e pelos artesãos de Veneza. Hoje, tem utilidade funcional no dia a dia, além de decorativo e ter se tornado objeto imprescindível nos ambientes. Todos têm, no mínimo, um espelho em casa ou no lugar onde trabalham e frequentam.

É a representação visual mais fidedigna da realidade, tanto quanto a fotografia. Simples assim. Ele reflete a imagem em si, mostra o que se espera ver e o que não se quer perceber. É surpreendente, desafiador e, ao mesmo tempo, assustador. 

  No espelho há enigmas. Quem está diante dele é confrontado e seduzido, sente-se tomado pela imagem refletida que revela quem está ali. Diante do espelho a pessoa se vê sem disfarces. Muitas vezes, pode se tornar difícil abrir os olhos diante do espelho, posto que ficamos em evidência e nos manifestamos, até num simples piscar de olhos e mover dos braços.

A questão mais penosa não está no espelho, mas em quem está diante dele e alimenta uma visão distorcida de si, uma vez que a percepção é irreal, como o magro que se vê gordo.

Quem nunca conversou diante do espelho, numa fala solitária ou num teste de como vamos nos apresentar ou falar?

Diversas vezes, escrevi sobre o espelho. No conto, “O beijo das Catarinas”, publicado na coletânea “Juntas e Diversas”, a personagem lida com o envelhecimento ao ver uma mulher de cabelos grisalhos na rua e, ao chegar em casa, notar no espelho uma pequena ruga tentando se estabelecer perto dos seus lábios. Já no romance juvenil, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, Rebeca Luíza, a protagonista, percebe no espelho as transformações do seu corpo no início do adolescer. Ela sabe que irá se ver no futuro e indaga como será.

Lendo o livro “A última festa”, de Lucy Foley, a personagem Miranda, diante do espelho, reflete sobre sua vida. São pensamentos fortes e dolorosos. 

De repente, eu me perguntei: o espelho tem voz? E quem se dispõe a escutá-la? A voz dele traduz a verdade inquestionável, nua e crua. Ninguém se esconde quando está diante do espelho! Ao refletir os olhos, a pessoa consegue ver sua alma, seus afetos e a autoestima. O ver-se pode não ter fim. Provavelmente o gostar-se pode começar com uma espiada no espelho quando temos a oportunidade de nos adentrar e perceber horizontes. Não vale a pena recusar o que vemos diante dessa lâmina refletora.  

O espelho tem faces, de destruidor a salvador, pode se tornar um bom confidente ou um grande inimigo. 

Espelho, espelho meu, me diga quem sou!

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O arrependimento e a escova de dentes

segunda-feira, 08 de abril de 2024

O modo como construímos a vida é decorrente das decisões que tomamos. Decidimos desde o momento em que acordamos e colocamos os pés no chão, se o direito ou o esquerdo, até deitarmos a cabeça no travesseiro à noite. Não damos um passo sem decidir, dado que somos seres de juízo com autoridade sobre nós mesmos. Essa é uma consciência que vamos construindo ao longo da vida, desde quando aprendemos a expressar o sim e o não. Simples assim?

O modo como construímos a vida é decorrente das decisões que tomamos. Decidimos desde o momento em que acordamos e colocamos os pés no chão, se o direito ou o esquerdo, até deitarmos a cabeça no travesseiro à noite. Não damos um passo sem decidir, dado que somos seres de juízo com autoridade sobre nós mesmos. Essa é uma consciência que vamos construindo ao longo da vida, desde quando aprendemos a expressar o sim e o não. Simples assim? De certo que não.  Se, por um lado, o medo de errar influencia a decisão que pretendemos tomar e no modo como fazê-la, principalmente quando o arrependimento pincela as sensações, por outro, as decisões impulsivas podem nos criar verdadeiras emboscadas. Aprender a tomar decisões é a maior e mais longa escola que podemos cursar.

Estou lendo o livro “A Biblioteca da Meia-Noite”, do romancista e jornalista inglês Matt Haig. Uma história de ficção fantástica em que a protagonista, uma mulher de 35 anos depressiva e com pensamentos suicidas, abandona vários projetos que ela mesma criou. A cada dia a impressão de fracasso e inutilidade vai crescendo em suas sensações, até que pensa em dar um fim à sua existência quando seu gato morre atropelado porque ela havia deixado a porta aberta. Naquele estágio de dúvida entre a vida e a morte, vê-se numa biblioteca, onde há livros que contam histórias sobre as opções que abandonara e de como seriam realizadas. 

É um livro impactante posto que a leitura nos faz refletir sobre as decisões que tomamos. De repente seguimos um rumo e abandonamos outro. Sabemos o que nos aconteceu em consequência do que decidimos, mas desconhecemos o que teria acontecido se houvesse outra opção. Em “A Biblioteca da Meia-Noite”, a personagem vai relembrando o que não viveu. A cada desistência é tomada de arrependimentos, como ter deixado a natação. Então, recebendo a atenção de uma bibliotecária, vai percorrendo os desafiadores caminhos que poderia ter percorrido, o que poderia ter conquistado ou perdido, os embates que teria de enfrentar, as felicidades e tristezas. Os encontros e desencontros.

Tenho o hábito de imaginar que o que não vivi teria sido melhor face às dificuldades que enfrento em decorrência de uma decisão que tomei. É uma fantasia e tanto habitar no Jardim do Éden!

O pensamento budista engrandece as relações de causa e efeito. Tudo o que fazemos gera consequências, às vezes quase infinitas, por assim dizer. O acaso existe, não há quem duvide. Entretanto, uma decisão leva a outra e a outra e assim por diante. A inteligência é fundamental na construção do nosso destino. Contudo, meu amigo leitor, a intuição não pode ser negligenciada, enquanto capacidade de pressentir ou prever uma situação futura, sem o conhecimento da causa e do efeito com maior profundidade.

Uma decisão bem tomada acarreta consequências desejáveis. Mas as impensadas e mal avaliadas podem problematizar a vida. Aliás, decidimos para evitar problemas ou resolvê-los. 

Por que escovamos os dentes? 

Um arrependimento pode se arrastar por um bom tempo, talvez pela vida inteira. É como uma condenação que nos sentencia ao pesar. Há situações em que podemos voltar atrás e decidir novamente, mas outras, infelizmente não.

Por outro lado, o arrependimento é uma forma da gente aprender com o erro. É aí que está o pulo do gato. O bom jogador guarda o erro como a carta de virada do jogo e sabe usar a criatividade em cada jogada. 

 Ah, ia esquecendo de lembrar que a escova de dentes macia não fere as gengivas.

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