Quando escrevi a coluna sobre os escritores cegos, na qual me referi ao escritor argentino Jorge Luis Borges (1899 – 1986), uma vontade inquieta de conhecer sua obra tomou conta de mim. Busquei o livro de contos, “O Aleph”, considerado uma das maiores obras literárias do Ocidente. Recorrendo a uma literatura fantástica, o livro, publicado em 1949, tem a grandiosidade e a complexidade literária esculpida por um gênio. Com uma cultura universal admirável, Borges está no rol dos autores mais importantes do século XX.
Quando escrevi a coluna sobre os escritores cegos, na qual me referi ao escritor argentino Jorge Luis Borges (1899 – 1986), uma vontade inquieta de conhecer sua obra tomou conta de mim. Busquei o livro de contos, “O Aleph”, considerado uma das maiores obras literárias do Ocidente. Recorrendo a uma literatura fantástica, o livro, publicado em 1949, tem a grandiosidade e a complexidade literária esculpida por um gênio. Com uma cultura universal admirável, Borges está no rol dos autores mais importantes do século XX.
Ele adentra no âmago dos personagens e dos fatos de modo a fazer com que o leitor perceba e sinta a história, cheia de peripécias, contrastes e embates, com plenitude. Com maestria, retrata o movimento dos fatos e dos personagens, motivando a reflexão sobre diferentes pontos de vista, na medida em que realça as incertezas, as incongruências, os embates, os ciclos da vida e da natureza em suas narrativas.
Para compreender os textos, tive que relê-los algumas vezes. Quando conseguia interpretá-los, eu me maravilhava, preenchia os hiatos da minha vida com as ideias expostas, mesmo que extravagantes, e abria outras fendas dado que suas ideias tinham o poder de enfraquecer algumas convicções. Cada frase me oferecia um campo aberto para a análise de questões importantes, que todos nós precisamos fazer para ter ciência das coisas. Quem é o herói? Quem é o traidor? Será o herói o maior traidor da história?
Diante de Borges, meu olhar é inocente, apequenado e infantil!
Em o conto “O Aleph”, o personagem tem o privilégio de se defrontar com o espaço cósmico, um lugar onde estão todos os lugares, vistos de todos os ângulos, através de um ponto de dois ou três centímetros, situado no 19º. degrau de uma escada, no porão de uma casa velha. O espaço, como a lâmina do espelho, mostrava infinitas coisas e que lhe permitia ver claramente todos os pontos do universo, como o mar, as multidões, a rua Soles com as mesmas lajotas de 30 anos atrás, um câncer no peito, cavalos, jardins-de-inverno, todas as formigas, cartas obscenas, as vísceras e o rosto do personagem. E muito mais.
Naquele instante, clarividente e imaginário, quase louco, o personagem tomava conhecimento do mundo exterior e interior por inteiro. Um momento implacável que lhe permitiu o mais profundo encontro com a natureza de todas as coisas. Inclusive com a dele próprio.
Quem pode ver o Aleph?
Estará numa pedra? No teto? Na tampa de uma caneta?
Será um privilégio, uma aptidão ou uma vontade de encontrar o Aleph e adentrá-lo sem cerimônia. Só quem está vivo pode vivenciar tal momento sublime e de interação plena, de reconstrução da identidade individual, tornando-a integrada e integral, a parte mais e menos significativa de um todo maior.
Em 2023, a pessoa, depois de se deparar com o Aleph, quem será e como viverá o ano?
“Quero acrescentar duas observações: uma, sobre a natureza do Aleph; outra sobre o nome dele. Como se sabe, essa é a primeira letra do alfabeto da língua sagrada. Sua aplicação ao centro da minha história não parece casual. Para a cabala, a letra significa o Em Soph, a iluminada e pura divindade; também se disse que tem a forma de um homem que aponta para o céu e para a terra, indicando que o mundo inferior é espelho e o mapa do superior; para Mengenlehre, é o símbolo dos números transfinitos, em que o todo não é maior do que uma das partes.” (Jorge Luis Borges)
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