Blog de terezamalcher_17966

Espelho, espelho meu, me diga quem sou

segunda-feira, 15 de abril de 2024

O espelho é uma lâmina que reflete imagens iluminadas que são colocadas à sua frente. É uma tecnologia que vem da antiguidade, especialmente do Egito e da Grécia, sendo aperfeiçoado em meados do século XVII pelo químico alemão, Justus Von Liebig, e pelos artesãos de Veneza. Hoje, tem utilidade funcional no dia a dia, além de decorativo e ter se tornado objeto imprescindível nos ambientes. Todos têm, no mínimo, um espelho em casa ou no lugar onde trabalham e frequentam.

O espelho é uma lâmina que reflete imagens iluminadas que são colocadas à sua frente. É uma tecnologia que vem da antiguidade, especialmente do Egito e da Grécia, sendo aperfeiçoado em meados do século XVII pelo químico alemão, Justus Von Liebig, e pelos artesãos de Veneza. Hoje, tem utilidade funcional no dia a dia, além de decorativo e ter se tornado objeto imprescindível nos ambientes. Todos têm, no mínimo, um espelho em casa ou no lugar onde trabalham e frequentam.

É a representação visual mais fidedigna da realidade, tanto quanto a fotografia. Simples assim. Ele reflete a imagem em si, mostra o que se espera ver e o que não se quer perceber. É surpreendente, desafiador e, ao mesmo tempo, assustador. 

  No espelho há enigmas. Quem está diante dele é confrontado e seduzido, sente-se tomado pela imagem refletida que revela quem está ali. Diante do espelho a pessoa se vê sem disfarces. Muitas vezes, pode se tornar difícil abrir os olhos diante do espelho, posto que ficamos em evidência e nos manifestamos, até num simples piscar de olhos e mover dos braços.

A questão mais penosa não está no espelho, mas em quem está diante dele e alimenta uma visão distorcida de si, uma vez que a percepção é irreal, como o magro que se vê gordo.

Quem nunca conversou diante do espelho, numa fala solitária ou num teste de como vamos nos apresentar ou falar?

Diversas vezes, escrevi sobre o espelho. No conto, “O beijo das Catarinas”, publicado na coletânea “Juntas e Diversas”, a personagem lida com o envelhecimento ao ver uma mulher de cabelos grisalhos na rua e, ao chegar em casa, notar no espelho uma pequena ruga tentando se estabelecer perto dos seus lábios. Já no romance juvenil, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, Rebeca Luíza, a protagonista, percebe no espelho as transformações do seu corpo no início do adolescer. Ela sabe que irá se ver no futuro e indaga como será.

Lendo o livro “A última festa”, de Lucy Foley, a personagem Miranda, diante do espelho, reflete sobre sua vida. São pensamentos fortes e dolorosos. 

De repente, eu me perguntei: o espelho tem voz? E quem se dispõe a escutá-la? A voz dele traduz a verdade inquestionável, nua e crua. Ninguém se esconde quando está diante do espelho! Ao refletir os olhos, a pessoa consegue ver sua alma, seus afetos e a autoestima. O ver-se pode não ter fim. Provavelmente o gostar-se pode começar com uma espiada no espelho quando temos a oportunidade de nos adentrar e perceber horizontes. Não vale a pena recusar o que vemos diante dessa lâmina refletora.  

O espelho tem faces, de destruidor a salvador, pode se tornar um bom confidente ou um grande inimigo. 

Espelho, espelho meu, me diga quem sou!

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O arrependimento e a escova de dentes

segunda-feira, 08 de abril de 2024

O modo como construímos a vida é decorrente das decisões que tomamos. Decidimos desde o momento em que acordamos e colocamos os pés no chão, se o direito ou o esquerdo, até deitarmos a cabeça no travesseiro à noite. Não damos um passo sem decidir, dado que somos seres de juízo com autoridade sobre nós mesmos. Essa é uma consciência que vamos construindo ao longo da vida, desde quando aprendemos a expressar o sim e o não. Simples assim?

O modo como construímos a vida é decorrente das decisões que tomamos. Decidimos desde o momento em que acordamos e colocamos os pés no chão, se o direito ou o esquerdo, até deitarmos a cabeça no travesseiro à noite. Não damos um passo sem decidir, dado que somos seres de juízo com autoridade sobre nós mesmos. Essa é uma consciência que vamos construindo ao longo da vida, desde quando aprendemos a expressar o sim e o não. Simples assim? De certo que não.  Se, por um lado, o medo de errar influencia a decisão que pretendemos tomar e no modo como fazê-la, principalmente quando o arrependimento pincela as sensações, por outro, as decisões impulsivas podem nos criar verdadeiras emboscadas. Aprender a tomar decisões é a maior e mais longa escola que podemos cursar.

Estou lendo o livro “A Biblioteca da Meia-Noite”, do romancista e jornalista inglês Matt Haig. Uma história de ficção fantástica em que a protagonista, uma mulher de 35 anos depressiva e com pensamentos suicidas, abandona vários projetos que ela mesma criou. A cada dia a impressão de fracasso e inutilidade vai crescendo em suas sensações, até que pensa em dar um fim à sua existência quando seu gato morre atropelado porque ela havia deixado a porta aberta. Naquele estágio de dúvida entre a vida e a morte, vê-se numa biblioteca, onde há livros que contam histórias sobre as opções que abandonara e de como seriam realizadas. 

É um livro impactante posto que a leitura nos faz refletir sobre as decisões que tomamos. De repente seguimos um rumo e abandonamos outro. Sabemos o que nos aconteceu em consequência do que decidimos, mas desconhecemos o que teria acontecido se houvesse outra opção. Em “A Biblioteca da Meia-Noite”, a personagem vai relembrando o que não viveu. A cada desistência é tomada de arrependimentos, como ter deixado a natação. Então, recebendo a atenção de uma bibliotecária, vai percorrendo os desafiadores caminhos que poderia ter percorrido, o que poderia ter conquistado ou perdido, os embates que teria de enfrentar, as felicidades e tristezas. Os encontros e desencontros.

Tenho o hábito de imaginar que o que não vivi teria sido melhor face às dificuldades que enfrento em decorrência de uma decisão que tomei. É uma fantasia e tanto habitar no Jardim do Éden!

O pensamento budista engrandece as relações de causa e efeito. Tudo o que fazemos gera consequências, às vezes quase infinitas, por assim dizer. O acaso existe, não há quem duvide. Entretanto, uma decisão leva a outra e a outra e assim por diante. A inteligência é fundamental na construção do nosso destino. Contudo, meu amigo leitor, a intuição não pode ser negligenciada, enquanto capacidade de pressentir ou prever uma situação futura, sem o conhecimento da causa e do efeito com maior profundidade.

Uma decisão bem tomada acarreta consequências desejáveis. Mas as impensadas e mal avaliadas podem problematizar a vida. Aliás, decidimos para evitar problemas ou resolvê-los. 

Por que escovamos os dentes? 

Um arrependimento pode se arrastar por um bom tempo, talvez pela vida inteira. É como uma condenação que nos sentencia ao pesar. Há situações em que podemos voltar atrás e decidir novamente, mas outras, infelizmente não.

Por outro lado, o arrependimento é uma forma da gente aprender com o erro. É aí que está o pulo do gato. O bom jogador guarda o erro como a carta de virada do jogo e sabe usar a criatividade em cada jogada. 

 Ah, ia esquecendo de lembrar que a escova de dentes macia não fere as gengivas.

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Saborosas lembranças da Páscoa

segunda-feira, 01 de abril de 2024

Ontem, domingo de Páscoa, foi um dia em que boas lembranças me rondaram, como se fizessem uma ciranda de situações. O tempo passa rápido, mas, por sorte, nos deixa recordações. Ontem não quis me tocar com tristezas porque sempre existem, posto que em todos os momentos há hiatos, ausências e discrepâncias. Todavia, no domingo de Páscoa, fiz questão de me apegar ao aconchego da felicidade. E, por que não?!

Ontem, domingo de Páscoa, foi um dia em que boas lembranças me rondaram, como se fizessem uma ciranda de situações. O tempo passa rápido, mas, por sorte, nos deixa recordações. Ontem não quis me tocar com tristezas porque sempre existem, posto que em todos os momentos há hiatos, ausências e discrepâncias. Todavia, no domingo de Páscoa, fiz questão de me apegar ao aconchego da felicidade. E, por que não?!

Como o passado tocou em minhas faces desde que acordei, vou trazê-lo em pequenos flashes a esta coluna, como se oferecesse aos leitores uma aragem alegre. Quando recordamos coisas boas e falamos delas, levamos a quem nos escuta a prazerosa sensação que nos invade. 

Certa vez, participei de uma coletânea de contos de memória e receitas, na qual, depois de apresentar a receita, escrevi sobre uma lembrança especial que guardo com carinho. Quando pequena, minha avó Vera fazia balas de coco, e eu a ajudava a esticar a massa. Enquanto nós a puxávamos e a encolhíamos, ela contava histórias da sua infância em Conservatória, no estado do Rio de Janeiro, lugarejo perto de Vassouras. Foram momentos afetivos em que nossa relação era enriquecida pelo sabor das balas que derretiam na boca. Ah, nunca mais comi tão gostosas. 

Na Páscoa, como em tantos outros dias do ano, ela fazia um bolo de frutas cristalizadas que ninguém conseguiu fazer depois que ela viajou para o universo para brilhar como estrela. Cada neto tinha uma torta; a de chocolate era do Tuca e a de morango, minha. Na casa da dona Vera sempre tinha um quitute que ela fazia para se tomar com café ou chá no meio da tarde. Vovó trouxe para a vida adulta os hábitos da meninice na fazenda em Conservatória, onde a numerosa família se reunia para o sagrado lanche da tarde. Costume que, infelizmente, vem se perdendo com o tempo. Hoje, o que restam são as xícaras, os bules, os pratos expostos em cristaleiras como relíquias quase intocadas. 

Depois me lembro dos ovos de Páscoa que escondia nos canteiros do jardim para meus filhos quando pequenos. Na verdade, era uma competição entre os dois e os amigos que estavam com eles; sempre tinha uma criança junto para compartilhar o desafio de achar os melhores, inclusive antes do meu cachorro, Zeus, encontrar. Ainda de pijama e com os pés descalços na grama, eles iam, agachados, procurando-os entre as plantas, raízes e pedras. Também não posso me esquecer dos ovos que eram trocados entre nós, os adultos, quando não fazíamos de forma diferente das crianças: alguns eram devorados, enquanto outros estocados na geladeira, ou mesmo nos armários de roupa, para serem saboreados ao longo da semana.

E as canjicas da Sexta-Feira Santa? Hum... Leite de coco, canjica, leite condensado, paçoca no café da manhã e no lanche. Mas o melhor nunca foi saboreá-las, mas compartilhá-las, conversando em família, colocando os papos em dia, fazendo recordações. E a pesagem na balança depois da comilança? Sempre aumentava diante dos nossos olhos assustados na segunda-feira, mas com brilho de felicidade. 

Nesta vida, passei por tantos bons momentos pascoalinos. Certamente, outros virão. Muitos. Assim espero que seja para todos.

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Entre jornais, músicas e livros, o que escolher?

segunda-feira, 25 de março de 2024

Os livros nos fazem ter contato com as ideias, inclusive com as mais corriqueiras, que nas mãos de mestres tornam-se textos de qualidade literária, que nos incitam a pensar sobre situações pelas quais passamos e nem notamos. Em cada situação, por mais banal, há um universo de circunstâncias que não deve ficar invisíveis, entretanto fica escamoteado nos meandros das situações. Os escritores experientes sabem pinçar as menores espigas de milho, porém de delicioso sabor.  

O leitor comumente se depara com a pergunta: o que ler agora? 

Os livros nos fazem ter contato com as ideias, inclusive com as mais corriqueiras, que nas mãos de mestres tornam-se textos de qualidade literária, que nos incitam a pensar sobre situações pelas quais passamos e nem notamos. Em cada situação, por mais banal, há um universo de circunstâncias que não deve ficar invisíveis, entretanto fica escamoteado nos meandros das situações. Os escritores experientes sabem pinçar as menores espigas de milho, porém de delicioso sabor.  

O leitor comumente se depara com a pergunta: o que ler agora? 

Há opções. Diante de tantas, há dúvidas entre livros, revistas e jornais. E mais outra de pano de fundo: qual estilo musical pode acompanhar a alimentação da mente e do espírito durante a leitura? A música conforta o leitor, tornando o momento mais agradável. A leitura, acima de qualquer argumento com relação aos seus benefícios ao leitor, tem de ser prazerosa e instigante ao proporcionar a aquisição do saber. Diante de um texto, sempre é possível aprender algo.  

Jornais e revistas mostram a vida com rapidez. Entretanto cada reportagem, além de oferecer informações sobre a atualidade, apresenta elementos ao escritor para desenvolver um conto, romance ou poesia. Possui material rico para inspirá-lo.  As notícias são feitas por pessoas que possuem histórias de vida, além do que os fatos estão inseridos em um contexto presente, com passado e futuro. Já me disseram que bons lugares para o escritor se inspirar podem ser são pontos de ônibus, bancos de praça e delegacias.

Não basta percorrer os olhos pelas páginas dos periódicos. De acordo com os centros de interesse de cada leitor, a leitura pode ser enriquecida com outras e, aí, tem-se uma melhor noção da atualidade na qual estamos inseridos e somos agentes do acontecer. 

Por outro lado, mesmo no mundo ficcional, que, por verossimilhança, se espelha na realidade concreta, as histórias contadas em romances e contos, são construídas a partir de fatos que, por sua vez, poderiam ser motivos para a elaboração de notícias e matérias jornalísticas. 

Cada texto literário pode influenciar outros, inclusive de estilos diferentes. Tudo por conta da magia das palavras! As mesmas palavras podem ser utilizadas na produção textual de contos, poesias, reportagens, pesquisas científicas, romances e crônicas. As palavras têm vida. Por isso o conteúdo da leitura se movimenta no leitor, belisca-o, convida-o a imaginar, conforta-o. 

E, acima de tudo, em cada leitura o leitor pode se encontrar com os sábios, os magos e os espíritos iluminados.

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A parte mais íntima e ínfima do quarto

segunda-feira, 18 de março de 2024

Nunca havia percebido que sou a parte mais íntima e ínfima do meu quarto. É interessante a pessoa se ver assim, posto que é empurrada do altar soberano, em que é o ponto de partida de tudo. Marcel Proust, em “Em busca do tempo perdido” me dá as mãos e me conduz à minha cama para que eu possa me ver desta maneira, misturada.

Nunca havia percebido que sou a parte mais íntima e ínfima do meu quarto. É interessante a pessoa se ver assim, posto que é empurrada do altar soberano, em que é o ponto de partida de tudo. Marcel Proust, em “Em busca do tempo perdido” me dá as mãos e me conduz à minha cama para que eu possa me ver desta maneira, misturada.

Quem duvida que a noite tem mistérios? Nem gosto de pensar a respeito. O quarto silencioso, escuro ou à meia luz, faz com que minhas histórias de vida, temores e prazeres, ideias e divagações se misturem com os objetos e móveis. Todos meus. É o mais generoso momento de pertencimento. Talvez seja essa sensação que mais me assusta uma vez que nela possa encontrar fatos secretos e clandestinos. 

O cheiro dos tapetes, da cama, da mesinha de cabeceira, das roupas penduradas e dobradas no armário, dos meus trecos e cacarecos, objetos dispostos em diferentes locais, organizados ou não, se confundem com os dos meus pensamentos, agitos e dos medos. Meu quarto e eu temos um perfume de gente viva.    

O relógio tiquetaqueia suavemente os segundos, som que se aproxima e toca o barulho da minha respiração. O quarto tem minha voz noturna. O meu canto de sereia. 

Durante a vigília, o contorno e a sombra dos móveis enfeitam os espaços vazios, invisivelmente preenchidos com o meu eu de agora e com o de antes e de um ontem remoto. São imagens imaginadas que dançam a valsa das estrelas. Sou, pouco a pouco, cercada de lembranças que chamam o sono e os sonhos.

Entre as paredes do quarto, eu e tudo o que lá existe parece que giram num caleidoscópio. Sou uma das figuras que se faz e desfaz, e ganha uma enormidade de formas e cores; nunca se evidencia.

Da mesma forma que o calor do meu corpo aquece a cama e tudo que está presente, é também aquecido pelos objetos e móveis. O quarto é um lugar sagrado e não pode ser violado por ninguém. É onde me sinto plenamente e me reconheço. No meu quarto o mundo exterior é um redor, é longínquo e tem de sê-lo. É nessa intimidade que me preparo para enfrentá-lo. Dentro do meu quarto não há batalhas; só pensamentos e sensações. Lá, a rainha de Sabá, soberana do mais poderoso reino, me inspira. Mas no exterior dele, posto que sim, a inabalável serva de Naamã me ilumina. 

P.S: A serva de Naamâ era uma cativa israelita que servia na casa de um comandante sírio. Afastada da sua terra natal, ela teve conduta exemplar e sábia, deixando lições que podemos aplicar em nossas vidas com relação à fidelidade, humildade e generosidade.

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Vez em quando, a mulher precisa dar-se um beijo e escutar uma poesia

segunda-feira, 11 de março de 2024

Ao ler as primeiras páginas de “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, ele descreve o beijar-se. Aí, penso em nós, as mulheres. Vez em quando, em estado de solitude, um pequeno tempo em que possamos nos abraçar e beijar as nossas mãos com ternura e simplicidade, com a consciência da plenitude que temos em cada parte dos nossos corpos, almas, ideias e afetos. E escutar uma poesia para nos inspirarmos a ser uma melhor mulher para nós. 

“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher

Sou minha mãe e minha filha, minha irmã e minha menina

Ao ler as primeiras páginas de “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, ele descreve o beijar-se. Aí, penso em nós, as mulheres. Vez em quando, em estado de solitude, um pequeno tempo em que possamos nos abraçar e beijar as nossas mãos com ternura e simplicidade, com a consciência da plenitude que temos em cada parte dos nossos corpos, almas, ideias e afetos. E escutar uma poesia para nos inspirarmos a ser uma melhor mulher para nós. 

“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher

Sou minha mãe e minha filha, minha irmã e minha menina

Mas sou minha, só minha e não de quem quiser.”

                                                        Renato Russo

E a gente vai, assim, dia afora, atrás da vida, gerando e gestando tudo ao nosso redor. Somos mães e amantes. Somos tais quais os passarinhos que cuidam dos seus ninhos. Somos árvores frutíferas.

Mas, vez em quando, precisamos desse instante para nos sentirmos, tempo indispensável para nossa renovação e regozijo. São poucos minutos de nobreza quando nossas mãos leves e fortes, tocam com delicadeza o rosto, fazendo acalmar os pensamentos. Silenciosas, fazem aflorar a sensibilidade feminina. Esse momento tem aroma doce que trilha os caminhos da serenidade. 

Ah, como a mulher se desacostuma com a calmaria!

Nossas mãos nos dizem palavras relaxantes, fazendo os olhos se fecharem e irem de encontro ao imaginário com liberdade. Nossos pés, descalços, brincam com os dedos, nossas pernas relaxam e nosso tronco vai se descontraindo até sentirmos o brilho da estrela. São minutos que levam nossa trajetória de vida para o universo, onde suas forças protetoras irão nos energizar.

Comemoramos o Dia da Mulher em março. Espero que nós, encontremos a melhor criatividade para fazer cada dia acontecer. 

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A Academia Friburguense de Letras é uma instituição isenta de tendências religiosas, políticas e raciais

segunda-feira, 04 de março de 2024

A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do Rio de Janeiro (Decradi) indiciou, no dia 29 de fevereiro, a presidente da Academia Friburguense de Letras, Maria Janaína Botelho Corrêa, pela prática de crime de intolerância religiosa e preconceito contra judeus. 

Neste momento, faz-se importante ressaltar que a Academia Friburguense de Letras não compactua com as postagens feitas pela acadêmica Maria Janaína Botelho Corrêa, redigidas por motivos exclusivamente pessoais e não institucionais. 

A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do Rio de Janeiro (Decradi) indiciou, no dia 29 de fevereiro, a presidente da Academia Friburguense de Letras, Maria Janaína Botelho Corrêa, pela prática de crime de intolerância religiosa e preconceito contra judeus. 

Neste momento, faz-se importante ressaltar que a Academia Friburguense de Letras não compactua com as postagens feitas pela acadêmica Maria Janaína Botelho Corrêa, redigidas por motivos exclusivamente pessoais e não institucionais. 

A AFL, a Casa de Salusse, estabelece em seu estatuto, artigo 2, que é uma instituição sem qualquer discriminação racial, política e religiosa, cujo objetivo é valorizar a língua e a literatura nacionais; promover a produção literária e sociocultural, bem como contribuir para a preservação de sua memória histórica.

Desde sua fundação, em 22 de junho de 1947, a Academia Friburguense de Letras é uma Casa que cuida da cultura literária da região de Nova Friburgo e manteve, desde sempre, o debate sobre questões relevantes da existência humana, ao acolher professores, escritores e artistas, além dos estudiosos das letras, teologia, história, filosofia, psicologia, dentre outras áreas do conhecimento.

Em 76 anos de existência, a AFL nunca parou de realizar atividades culturais, educativas e literárias, como palestras, lançamento de livros, oficinas literárias para alunos, professores e escritores, concursos literários e saraus. Seus membros multiplicam a presença da Casa de Salusse em atividades diversas, como a produção de textos para jornais revistas e sites, participação de eventos culturais de Nova Friburgo e de outras cidades. O ano de 2023 foi um tempo frutífero, pois além de ter recebido novos acadêmicos como membros, homenageou entidades expressivas da cidade, resgatou a Memória Política de Nova Friburgo, promoveu ciclos de palestras, concurso literário Infantojuvenil com alunos da Rede Municipal de Ensino, as Oficinas: Microcontos e Ler, Criar e Contar.

Evidencio, por fim, que a Academia Friburguense de Letras está isenta de qualquer postagem, pronunciamento ou declaração feita por um dos seus membros e que venham a ferir seus princípios.

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A literatura salva!

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A literatura salva quando o leitor absorve a leitura e, tempos afora, dias e anos, fica ruminando e fazendo colares de pensamentos. É um processo que decorre da identidade que ele tem com o texto, que vai sendo construída durante a leitura. É uma relação íntima, quase secreta, entre autor e leitor. Segredos e sussurros? Sim. A leitura é um ato solitário e exclusivo. Aquele que tem o livro nas mãos sente as palavras, sempre silenciosas e audaciosas, penetrarem em seu âmago, interpreta-as e, assim, seu olhar capta novas imagens e nuances do acontecer. 

A literatura salva quando o leitor absorve a leitura e, tempos afora, dias e anos, fica ruminando e fazendo colares de pensamentos. É um processo que decorre da identidade que ele tem com o texto, que vai sendo construída durante a leitura. É uma relação íntima, quase secreta, entre autor e leitor. Segredos e sussurros? Sim. A leitura é um ato solitário e exclusivo. Aquele que tem o livro nas mãos sente as palavras, sempre silenciosas e audaciosas, penetrarem em seu âmago, interpreta-as e, assim, seu olhar capta novas imagens e nuances do acontecer. 

A voz da literatura tem vida real e imaginada. Desenha-a em imagens feitas de frases ou versos em toda sua rudeza e delicadeza. Os estilos literários têm maestria para abordar temas sensíveis de modo que na poesia, no romance, no ensaio ou na crônica o escritor faz suas expressões com intenções pré-definidas para modificar os modos de ser e existir do leitor. O autor é inquieto. Posto que sim. Escreve porque tem insatisfações e querências. Seus desassossegos vão ao encontro aos do leitor, que também quer se modificar, conquistar e fazer com que suas ideias abram novos caminhos. A vida é um espetáculo de cadências. Autores e leitores dançam a valsa dos lobos antes do amanhecer, no auge da madrugada.

Ainda estou lendo “A vida que ninguém que vê” de Eliane Brum, um livro de narrativas que mostra a vida de pessoas que vivem ao nosso lado, mas que não são percebidas. Que me reporta à obra de Richard Bach, “Fernão Capelo Gaivota”, ou ao do médico e psicanalista francês, Jacques-Marie Lacan, ou ainda ao “I Ching, o livro das mutações”. Que me reporta a vários autores literários, filósofos e pensadores, que falam sobre a existência de seres, com seus decorrentes e intensos processos de transformação. 

Somos mutantes!

A partir das características herdadas, das condições socioeconômicas, das experiências diárias e, segundo Lacan, da determinação “TU ÉS”, em que o outro (pessoas próximas) e o grande Outro (como a comunidade, a mídia e a moda) faz a todos nós, vamos nos edificando como pessoas. Por sorte, somos inconformados e borbulhantes. Queremos mais. Ir além. Ser de modo diferente. Melhorar. Estar leve e liberto ao morrer.   

A vida tem crueldades! Apresenta obstáculos, intransponíveis muitas vezes, especialmente para os invisíveis, devido à precariedade das condições de vida a que estão submetidos. A magia da vontade determinada, a resiliência inteligente e criativa, o amadurecimento do espírito, a agilidade da mente e a força do corpo nos possibilitam transformar o nosso status quo. O fundo do poço nos suga, mas a luz do fim do túnel nunca se apaga, inclusive para os cegos. Contudo Há que faz questão de não a ver. 

As impossibilidades são preponderantes. Entretanto temos capacidades que nos possibilitam investir na realização de propósitos. Os modos de ser, fazer e estar são transformados pelos esforços que acontecem na luta diária de uma vida. Podem ser em vão? Acredito que não. Em todas as batalhas há vitórias e derrotas. Não há magias e gratuidades, mas trabalho e mais trabalho.

Salve Fernão Capelo Gaivota!

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Os heróis invisíveis

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Certa vez, numa conversa informal, falávamos de pessoas importantes que eram divulgadas nas mídias, expostas em fotos e reverenciadas. Repentinamente, perguntaram por que as pessoas do povo — aquelas que pertenciam à vida da comunidade e que passavam sem serem notadas — não mereceriam o mesmo tratamento. Não houve resposta significativa. Possivelmente todos, como eu, ficamos com a questão entalada nos pensamentos e sem uma conclusão. Volta e meia, tempos depois e até hoje, a pergunta me rodeia, beija e belisca.

Certa vez, numa conversa informal, falávamos de pessoas importantes que eram divulgadas nas mídias, expostas em fotos e reverenciadas. Repentinamente, perguntaram por que as pessoas do povo — aquelas que pertenciam à vida da comunidade e que passavam sem serem notadas — não mereceriam o mesmo tratamento. Não houve resposta significativa. Possivelmente todos, como eu, ficamos com a questão entalada nos pensamentos e sem uma conclusão. Volta e meia, tempos depois e até hoje, a pergunta me rodeia, beija e belisca. Durante o carnaval, após terminar de ler um livro, comecei a procurar uma nova leitura e resolvi buscar um de contos (faz tempo que não leio um). Aquela pergunta que guardei acendeu as luzes do título “A vida que ninguém vê”, de Eliane Brum, disponível no e-book, fazendo-o brilhar diante dos meus olhos. “Eita, será que nessas páginas vou encontrar uma resposta que me faça repousá-la num lugar de destaque nas minhas questões existenciais”.

Posto que sim! De certa forma, sempre tive uma resposta banal, daquelas achadas nos bancos das praças, que reduzia a questão ao fato de que as pessoas simples do povo, no quotidiano batido e corrido, não compunham uma notícia capaz de atrair a atenção de outros. Ora, meu amigo, cada indivíduo não faz a vida do lugar acontecer de um jeito próprio? As cidades têm identidades e são construídas diariamente pelos modos de viver dos seus cidadãos. Todos os dias o quotidiano nasce, brota como ramas no chão dos lares, das ruas ou nas paredes das padarias. Não é preciso sair procurando as pessoas do povo calçadas afora. Todos fazem emanar através dos seus corpos, trejeitos, fazeres e palavras os seus talentos, ideias e suas excentricidades. A vida é fantástica para quem tem os olhos capazes de vê-la nos mínimos detalhes.

Contudo nosso olhar é direcionado, não é livre de princípios, sentimentos, aspirações. Não tem a amplitude do descompromisso e toda a repetição de paisagem, como um açougueiro encostado na porta da loja, não passa de uma mesmice. Mas ele tem muito a nos contar desde o momento em que acordou até aquele instante sereno de intervalo do trabalho. Seus sonhos, seus medos, amores. Cada um tem suas revelações.

Em “A vida que ninguém vê”, Eliane descreve com magnífica sensibilidade os mais insignificantes detalhes da vida, minúcias facilmente despercebidas. Ela percorreu o Brasil e achou diamantes esquecidos, portadores de histórias densas, sofridas e heroicas, como a professora que percebeu o andarilho que se dizia chamar Israel e sustentou-o em sua transformação, do carregador de mala do aeroporto que construiu uma família com seu trabalho e do pedinte de rua com deficiência física. Não deixou de expor o sofrimento dos animais dos Jardins Zoológicos, tão admirados e fontes de diversão de tanta gente.

Enfim, a vida invisível transborda nesse livro e os capítulos descortinam heróis. A minha pergunta achou um camarote no meu olhar quando o guardador, aquele que sempre me acena, se aproximou de mim, tomou conta da minha atenção, do meu respeito e admiração. 

Renasci. Mais uma vez. A literatura salva!

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“Bandeira Branca”, o lírio-da-paz do carnaval

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Eita!, estamos em pleno carnaval. Dias de festas e folias. Alegria, música e agitação dos pés à cabeça. Antes de escrever a coluna resolvi passear pelas músicas carnavalescas que brindam os blocos de ruas, os bailes nos clubes e casas que comemoram esse importante festejo popular. 

Eita!, estamos em pleno carnaval. Dias de festas e folias. Alegria, música e agitação dos pés à cabeça. Antes de escrever a coluna resolvi passear pelas músicas carnavalescas que brindam os blocos de ruas, os bailes nos clubes e casas que comemoram esse importante festejo popular. 

As músicas carnavalescas tradicionais são cantigas, compostas com poesias que tocam a vida do povo com humor e filosofia, cujos versos são narrativas que descrevem situações da vida diária. Uma cantiga que puxou minha atenção como um imã foi “Bandeira Branca”. Esta marcha-rancho, composta por Max Nunes e Laércio Alves, fez tamanho sucesso nos anos 70 que atravessou gerações e permaneceu viva na memória popular. 

Com presença marcante nos carnavais atuais, “Bandeira Branca” foi inspirada na tradição do carnaval. Primeiramente era usada para fazer marcações nas escolas de samba. Posteriormente, para mostrar aos sambistas rivais que ninguém queria briga, uma vez que, nos primórdios do samba de rua, as vias públicas eram tomadas por grupos rivais e violentos que se enfrentavam e acabavam com a festa. A música, inspirada no ideal da paz, foi grande sucesso na voz de Dalva de Oliveira, a Rainha da Voz, que, por sua vez, vivia uma relação conflituosa com o companheiro, Herivelto Martins.

Por que “Bandeira Branca” me tocou? 

Quando comecei a cantar e a dançar a música, me veio a vontade de viver num lugar de paz, num mundo de entendimentos e conversas. Que sonho dourado! O amadurecimento nos faz entender que a vida é feita de divergências e precisamos lidar com elas com inteligência, disposição e criatividade. A ponta de lança usadas em nossas atitudes pode ser substituída por olhos carregados de bom-senso, preenchidos pela sensatez através das experiências existenciais. Não há arma mais poderosa do que o conhecimento das circunstâncias que permite uma ação inteligente e lúcida.

Bandeira branca é símbolo de paz entre povos, torcidas, exércitos, dentre tantos milhares de grupos. É um estandarte regulado pela Convenção de Genebra que garante a inviolabilidade do portador. A bandeira branca, ao mesmo tempo em que expressa um pedido de rendição, contém a solicitação de uma trégua. Hoje, ninguém quer abandonar seus ideais; nem deve. Entretanto um tempo para pensar e dialogar tem preciosidades. Numa época em que se preserva a democracia e liberdade, a bandeira branca é como o lírio-da-paz que dispersa as energias negativas, suavizando os momentos em que as tendências opostas são radicais.  

O diálogo é forma mais vigorosa de se lidar com as diferenças que carregam interesses divergentes. Certa vez, ouvi que o humor é uma forma eficiente de educar. Se o carnaval é caracterizado pela brincadeira, diversão e descompromisso, a cantiga “Bandeira Branca” provavelmente vai ficar na memória dos carnavalescos e poderá ser usada no quotidiano posteriormente. 

Deixo, então, a letra da música “Bandeira Branca” para ser cantada no carnaval e cantarolada no banheiro por quem preze a paz. Salve Mahatma Gandhi!

Bandeira branca, amor

Não posso mais

Pela saudade que invade

Eu peço paz.

(...)

Saudade, mal de amor, de amor

Saudade, dor que dói demais

Vem, meu amor

Bandeira branca, eu peço paz

 

(...)

 

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