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Medo: suas cores e tamanhos

segunda-feira, 09 de outubro de 2023

O que vai acontecer depois?!

Que barulho forte é este?!

Tem alguém aí?!

Há medos de todos os tamanhos, dos mais bobos aos mais profundos. Há os que emergem de fatos e outros criados pela imaginação. Ainda há aqueles que guardamos debaixo do travesseiro como bons inimigos e os que jogamos fora na primeira lixeira. Que seja de multidão, aranha ou de ficar sozinho, o medo é uma reação emocional diante de uma situação ameaçadora. 

Ora pois sim, quem não os tem?

O que vai acontecer depois?!

Que barulho forte é este?!

Tem alguém aí?!

Há medos de todos os tamanhos, dos mais bobos aos mais profundos. Há os que emergem de fatos e outros criados pela imaginação. Ainda há aqueles que guardamos debaixo do travesseiro como bons inimigos e os que jogamos fora na primeira lixeira. Que seja de multidão, aranha ou de ficar sozinho, o medo é uma reação emocional diante de uma situação ameaçadora. 

Ora pois sim, quem não os tem?

Fui presenteada por Maria Clara Cavalcanti, escritora e contadora de histórias, especialista em Leitura e em Literatura Infantil e Juvenil, com o livro “Passos no Porão”, editado pela Escrita Fina. Foi um presente que me fez adentrar os bosques do medo, repleto de raízes espinhosas e intermináveis, arejado por inseguranças e ameaças que invadem as emoções das crianças, adultos e velhos. É um bosque em que penetramos devagar, pé ante pé, com olhos arregalados e respiração forte. 

“Passos no Porão” conta a história de um menino que escuta barulhos nas noites de mau tempo e corre para a cama do pai. Com o passar dos dias o medo vai sendo dissipado até porque o estranho som era de uma janela que batia com o vento no porão da casa.  A beleza do conto está na relação do pai com o filho que busca abrigo e proteção nos braços paternos. 

O medo nos acompanha quando crescemos, amadurecemos e envelhecemos. Faz parte da vida! É um sentimento que arranha e fere nossos momentos, enquanto emoção que ninguém gosta de ter, mas, em algumas circunstâncias, chega a ser necessário e benéfico. Podemos dizer que surge como um estado de alerta a ameaças físicas, morais ou psicológicas. A pessoa, especialmente a criança, ao sentir-se indefesa, o medo pode ganhar maiores proporções, como na história de Maria Clara Cavalcanti, que fez com que um menino saísse da sua cama e corresse para os braços do pai, braços que os protegeram do barulho e sustentaram seu amadurecimento.

O texto também nos chama a atenção para o desconhecimento da circunstância estranha e ameaçadora, uma vez que o não saber como reagir é o que mais assusta. Muitas vezes a intensidade do medo pode não ser compatível com o tamanho da causa.

Meus filhos, quando pequenos, tinham medo do escuro. Certa vez, fiquei com eles no quarto antes de dormirem à noite apagando e acendendo a luz. Quando a acendia pedia para que eles observassem o quarto. Depois, ao apagar, fazia o mesmo e perguntava se havia algo diferente. Fiz isso algumas noites. Eles não tiveram mais medo de dormir no escuro, contudo não deixaram de ter outros.

Penso que o medo nos modifica, fazendo-nos desenvolver capacidades para enfrentá-lo, alerta-nos para o perigo e torna nossos olhos atentos ao que nos rodeia.

Vou confessar e não contem para ninguém, por favor. Tenho medo de barata! Arc... Até hoje, aos setenta anos, não consegui retirá-lo da minha bagagem. Será que vou carregá-lo ainda por muito tempo? 

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Ouça-me

segunda-feira, 02 de outubro de 2023

A canção “Hear me now”, composta pelos artistas brasileiros Zeeba, Bruno Martini e Alok, lançada em 2016, é um sucesso musical da atualidade em todo o mundo. Sua letra, composta em inglês, tem uma mensagem profunda, que nos motiva a refletir sobre como temos buscado realizar nossos sonhos. Emerge daquele momento em que alguém nos toca e aponta caminhos para construirmos o futuro. O futuro sempre nos espera, como se estivesse à espreita para nos oferecer o que fazemos por merecer. O amanhã é resultado dessa relação de causa e consequência para com a qual, muitas vezes, não ficamos atentos.

A canção “Hear me now”, composta pelos artistas brasileiros Zeeba, Bruno Martini e Alok, lançada em 2016, é um sucesso musical da atualidade em todo o mundo. Sua letra, composta em inglês, tem uma mensagem profunda, que nos motiva a refletir sobre como temos buscado realizar nossos sonhos. Emerge daquele momento em que alguém nos toca e aponta caminhos para construirmos o futuro. O futuro sempre nos espera, como se estivesse à espreita para nos oferecer o que fazemos por merecer. O amanhã é resultado dessa relação de causa e consequência para com a qual, muitas vezes, não ficamos atentos. Nem ligamos, para dizer a verdade. Ora pois, podemos contar com a sorte do destino?

A letra é um diálogo entre pai e filho. Sua composição foi uma forma de Zeeba exaltar e agradecer a relação com seu pai, que se preocupou com o futuro dele, não o deixando desistir da carreira musical. De fato, a letra é mais mensageira do que poética, cuja riqueza está no esforço de um pai em se fazer ouvir. “Ouça-me” é um grito do amor paternal e sensibiliza a quem a escuta, principalmente quem vivenciou situação parecida. Lembrei das tantas vezes que minha mãe, irmã, uma amiga e até mesmo filhos me disseram algo com firmeza. E das incontáveis outras que não dei atenção e percebi o meu equívoco tempos depois. Alguns erros margearam minha vida e me fizeram trilhar caminhos que poderiam ter sido evitados. O olhar do outro vai sempre além do nosso; tem pontos de vista mais aguçados. Quando alguém se coloca diante de nós na posição de “ouça-me” é bom escutar e refletir. É uma voz que possui inteligência e percepção diferentes da nossa. Escutar é um modo de nos deixarmos abraçar e sermos amados.

Deixo, agora, a letra com vocês como um gesto de amor a quem me lê. Sugiro, ao meu amigo leitor, que leia a coluna escutando “Hear me now”.

OUÇA-ME AGORA

Se você me ouvir agora

Se você me ouvir agora

Sei que vai ficar mais forte

Quando você ficar mais velho, oh

Só não encolha os ombros

Quando você ficar mais velho, oh

As coisas não são fáceis

Então apenas acredite em mim agora

Todos os seus medos irão desaparecer

Se você me ouvir agora

Se você me ouvir agora

Deixe as desculpas de lado

Fale alto a sua opinião agora

Não deixe escapar

Você nem sempre tem razão agora

As coisas não são fáceis

Então apenas acredite em mim agora

Não aprenda do jeito fácil

Apenas me deixe mostrar como

Todas as luzes irão guiar o caminho

Se você me ouvir agora

Todos os seus medos irão desaparecer

Se você me ouvir agora

Se você me ouvir agora 

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Os mágicos das histórias

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Poderão ser os escritores de livros infantis os Ministros das histórias? E por que não? A criança gosta de ler e entrar com desprendimento no mundo da fantasia. Entrando no universo do faz-de-conta, ela vai conhecendo e compreendendo o mundo em que vive.

Poderão ser os escritores de livros infantis os Ministros das histórias? E por que não? A criança gosta de ler e entrar com desprendimento no mundo da fantasia. Entrando no universo do faz-de-conta, ela vai conhecendo e compreendendo o mundo em que vive.

A criança ao abrir o livro e folhear suas páginas tem à sua frente um universo lúdico, quando vai conhecendo a realidade concreta na qual está inserida, mergulhando em cada história. Não se pode apresentar a vida com seriedade a quem tem pouco tempo de existência e percebe o ambiente com olhos curiosos, decodificando o dia a dia, as circunstâncias que a cercam e as pessoas com quem convive. O livro de literatura tem a magia de falar dos fatos em tom lúdico e colorido. Por que a criança não pode encontrar o que vive nos livros de modo colorido, engraçado e sutil?

A vida não poupa o infante da dor, da falta e da maldade. Nada limita a vida de tocar a criança, que é tão humana quanto o adulto, sensível quanto o velho, tão atenta quanto ao do animal na mata. Por que não mostrar as adversidades através dos contos, fábulas, poesias e histórias em quadrinhos?

O escritor, ao se vestir com a roupa de mágico, assume o lugar daquela pessoa responsável pela administração de atribuições, como buscar ideias genuínas no imaginário, escrevê-las em estilos literários, participar ou promover a edição dos textos que escreveu em livros, conversar com leitores, dentre tantas outras. O escritor tem de observar o leitor infantil em sua cultura, faixa etária, centros de interesses para ter maior sensibilidade e inteligência a fim de usar as palavras e elaborar frases. Acima de tudo, sabedoria para construir os textos com ternura e alegria. É preciso aprender a brincar de inventar histórias. A passar pelos portais “Era uma vez...”, “Naquele tempo...” “Certa vez...” para adentrar no próprio imaginário e dar-se o direito de criar enredos com os mais incríveis personagens, como a fábula de João e Maria, recontada pelos irmãos Grimm, ou a busca pelo Mágico de OZ, de Frank Baum. Ou ainda nas aventuras e desventuras de um Livro Maluco e uma Caneta sem Tinta (meu livro em parceira com Márcio Paschoal), no intuito de superar o medo de ser criativo e buscar novas histórias.

Nós, adultos, guardamos a criança que um dia fomos e nossa pessoa é consequência de tudo o que vivemos na infância e do modo como experimentamos as circunstâncias. Inclusive ela é viva em nossos pensamentos e sentimentos. Sempre bom lembrar que é na infância que aprendemos a rir e a chorar.

O escritor, o inventor de histórias, precisa tornar vívida a sua criança, dando cor e movimento às palavras que emprega nos textos, fazendo sapecar suas ideias, sem medo de imaginá-las.

Aliás, o grande desafio ao escritor é libertar-se dos seus grilhões limitantes e permitir-se transitar com desenvoltura em suas fantasias e torná-las verossímeis em suas criações literárias.

O escritor é um mágico sem cartola, um bruxo feito de papel, lápis e borracha.

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Quando acabo de escrever... não é fim de papo!

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Hoje vou falar do que acontece comigo quando acabo de escrever. Cada vez que termino um texto, tenho uma sensação diferente, que vem sempre acompanhada de uma exclamação. Acabei! Todavia não é fim de papo, pelo contrário, é início de outro, pois já começo a pensar no próximo. Confesso que gostaria de ganhar flores, mas não tenho hábito de me presentear com buquês coloridos. É a gostosa sensação de dever cumprido e meu corpo parece se relaxar por inteiro. Flutuar. Talvez seja decorrente da satisfação de ter conseguido externar ideias que estavam guardadas, quiçá fazia tempo.

Hoje vou falar do que acontece comigo quando acabo de escrever. Cada vez que termino um texto, tenho uma sensação diferente, que vem sempre acompanhada de uma exclamação. Acabei! Todavia não é fim de papo, pelo contrário, é início de outro, pois já começo a pensar no próximo. Confesso que gostaria de ganhar flores, mas não tenho hábito de me presentear com buquês coloridos. É a gostosa sensação de dever cumprido e meu corpo parece se relaxar por inteiro. Flutuar. Talvez seja decorrente da satisfação de ter conseguido externar ideias que estavam guardadas, quiçá fazia tempo. Meu inconsciente se releva nas palavras, mesmo sem querer, e chegam a me causar espanto vez em quando. Aliás, escrever é uma eficiente terapia; todos meus nós e tropeços saem visíveis nas frases ou escondidos nas entrelinhas. Às vezes, sinto que alguma coisa a mais está presente, principalmente quando abro os canais de percepção extrassensorial que geralmente acontece quando penso, pesquiso e escrevo. Coisas que vêm do universo, do além, não sei de onde, que me fazem ter a impressão de que não estou só. São, ao mesmo tempo, acolhedoras e assustadoras.

Volta e meia, quando coloco o ponto final, me pergunto se sou um canal através do qual entidades se comunicam com meus leitores, posto que a escrita tem o poder de fazer com que cada texto seja uma fonte de ideias. É uma força que me faz deslizar sobre a tela do computador, já que nunca escrevo usando lápis e papel. É algo que me faz ir além da inércia que vem no ar que respiro e entra no sangue que corre nas minhas veias. É como uma vontade de fazer parte. Ao escrever percebo novos sentidos que oferecem um tom suave à minha vida e não me deixam desafinar.

Quando a literatura me enlaçou, eu me descobri aprendendo a fazer arte com palavras. Ufa, que delicado, longo e complexo caminho! Mas, aí, talvez para superar a preguiça essencial, provavelmente uma força maior e desconhecida venha me sustentar. Amparar para melhor dizer. Escrevendo, deixo de ser etérea.

Mas também é uma alegria dar um ponto final pela sensação de que meus propósitos foram cumpridos. Além do quê, fico feliz em saber que meu texto foi lido.

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A poesia salva!

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O nome de Nova Friburgo significa cidade livre, e o poeta precisa de liberdade para observar a vida e inspirar-se. Aqui, a poesia paira sobre a cidade; sempre e em algum lugar há alguém reverenciando poesia, a relíquia que retira a venda dos olhos através de palavras cuidadas.

O nome de Nova Friburgo significa cidade livre, e o poeta precisa de liberdade para observar a vida e inspirar-se. Aqui, a poesia paira sobre a cidade; sempre e em algum lugar há alguém reverenciando poesia, a relíquia que retira a venda dos olhos através de palavras cuidadas.

Ferreira Goulart, certa vez, disse que a poesia nasce do espanto. Da realidade, que se desnuda repentinamente, causando no poeta um sentimento que o toca no mais profundo de si, fazendo com que as palavras, não mais do que pedaços de emoções, cheguem tortas ao seu imaginário. Porém, tornam-se perfeitas quando as coloca num poema.

Quem, em algum momento da vida, já não tentou fazer um poema?

Quem tem a vida pela frente, que seja um dia apenas, não se espanta? 

Ah, o vivente precisa de poesia!

Então, pus-me a buscá-las.

 

Segue o teu destino...

Rega as tuas plantas;

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.

                  Fernando Pessoa

 

Ah, o destino, será que somos nós quem o construímos ou são as Moiras que tecem o fio da vida? Acredito que somos nós. Dia a dia, cultivamos nossos canteiros.

Por sermos humanos e sobreviventes, precisamos esticar um pouco o olhar para reconhecê-los e encompridar os braços para fertilizá-los, num longo e sofrido aprendizado. Talvez esse seja o aprendizado mais importante que precisamos ter, que não está nos bancos escolares e universitários. Que precisa começar cedo para que se entranhe em nossas vísceras, a ponto de se tornar parte de nós, como um coração pulsante. 

Certamente, um aprendiz atrasado terá menos agilidade para identificar os canteiros alheios.

É preciso descobrir o que nos pertence e o que não faz parte de nós. Certamente é uma difícil descoberta, até porque as solicitações e influências externas são muitas. Extremas. É celular, é internet, são os apelos da moda, os mitos irresistíveis, confundindo os valores com os desvalores. Misturando o meu eu com o do outro. Com o mundo. Enfim, os versos de Fernando Pessoa chamam a atenção para isso.

Prosseguindo a pesquisa de poesias, me deparei com outra pérola. Camões.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soia.

 

Se, no século XVI, a mudança fazia parte da vida, que versos Camões escreveria se estivesse aqui e agora, entre nós? Estamos no centro das mudanças, o que é hoje, já não é amanhã. E as nossas plantas e rosas?! O quão difícil é para nós, e, principalmente para o jovem, proteger nossos canteiros do vendaval de transformações. Todos os dias surgem novidades. Vivemos no jardim das surpresas. Que nos torna repartidos. Bífidos

Ah, Camões e Pessoa são jovens. Não envelheceram. A poesia os salvou, não os deixou perdidos no tempo. No anonimato. Seus canteiros ainda são fertilizantes para os nossos. Fizeram rosas e plantas com raízes fortes. Tenho certeza de que existe uma infinidade de Camões e Pessoas neste mundo.

Estamos todos em processo de evolução; saber quem somos é uma etapa importante deste ir a diante.  Ser livre para sentir o perfume dos nossos alecrins.

Ah, a poesia pode nos acordar de um longo sono letárgico.

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Os tesouros que existem nas histórias

terça-feira, 05 de setembro de 2023

Encontramos preciosidades quando abrimos um livro de literatura, seja em prosa ou poesia, e mergulhamos em suas páginas. Aliás, toda história nos ensina algo porque o autor e o leitor são aprendizes por essência. Vou falar de uma autora brasileira que admiro, Lygia Bojunga, e da sua obra “Paisagem”, publicada em 2006, pela Casa Lygia Bojunga.

Encontramos preciosidades quando abrimos um livro de literatura, seja em prosa ou poesia, e mergulhamos em suas páginas. Aliás, toda história nos ensina algo porque o autor e o leitor são aprendizes por essência. Vou falar de uma autora brasileira que admiro, Lygia Bojunga, e da sua obra “Paisagem”, publicada em 2006, pela Casa Lygia Bojunga.

Além de uma escrita leve, nós, os leitores, vamos interpretando a história, captando suas ideias e intenções que pretendem abordar a relação entre o autor com seu leitor. O livro conta a história da autora com Lourenço, seu Leitor. Fantástico, não?

O tesouro dessa obra é a conversa entre a autora com alguém que a lê.  Por certo, o leitor conhece o autor de sua preferência e estabelece com ele um contato afetivo e, por vezes, profundo. Já o escritor repousa sua alma na história de tal forma que toca a alma do leitor. Contudo é uma interação de pessoas que se conhecem apenas através da literatura, estabelecem uma relação intensa a ponto do leitor e o autor interagirem ao longo do tempo. Inclusive, depois que o autor morre, ele continua vivo para seus leitores, fazendo-se emergir das páginas dos seus livros. Em cada história que cria, o autor coloca sua essência na escolha das palavras, na idealização dos personagens, na construção do texto, seja em que estilo literário for.

Em “Paisagem”, Lygia, inicialmente, imagina como seu Leitor poderia ser e decide conhecê-lo. Viaja, o procura e o encontra. Ao ler o livro, me lembrei da relação com meus leitores ao visitar as escolas que adotaram meus livros. Os leitores gostam de sentir a presença do autor do livro que leram para perceberem que eles existem, que são pessoas como eles: de carne e osso. Gostam de escutar a voz e conhecer a sua história de vida e, principalmente, de saber da construção do enredo e dos personagens com os quais se identificaram.

É um relacionamento mágico de modo que o autor passa a existir em função das suas histórias e, consequentemente, dos seus leitores. E o leitor recebe influências significativas na construção do seu destino.

Assim sou com relação a Saint-Exupéry. O “O Pequeno Príncipe” mora dentro de mim e influencia meu modo de ver as coisas da vida e de escrever.  

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Hoje as crianças vivem a infância com plenitude?

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A Academia Friburguense de Letras está realizando um Ciclo de Palestras on-line, via Zoom, “Os desafios da Literatura Infantojuvenil” e temas diversos estão sendo apresentados durante as palestras. Ontem, Anna Cláudia Ramos, escritora e Mestre em Literatura, abordou a importância do brincar e do ler durante a infância. Brincar. Sim, brincar. Passear pelo universo do “Faz de Conta” com passos criativos, em que a criança recria suas fantasias e os personagens das histórias que conhece. 

A Academia Friburguense de Letras está realizando um Ciclo de Palestras on-line, via Zoom, “Os desafios da Literatura Infantojuvenil” e temas diversos estão sendo apresentados durante as palestras. Ontem, Anna Cláudia Ramos, escritora e Mestre em Literatura, abordou a importância do brincar e do ler durante a infância. Brincar. Sim, brincar. Passear pelo universo do “Faz de Conta” com passos criativos, em que a criança recria suas fantasias e os personagens das histórias que conhece. 

Através do brincar, a criança revive sua realidade, externa seus sentimentos e escuta sua voz. Conhece-se. Sente-se. Apreende melhor o ambiente em que vive, reexperimenta a cultura familiar, comunitária e social à sua maneira. Percebe-se, de modo lúdico, como sujeito, sujeitado, como pessoa afetiva e como indivíduo com características próprias. A cada brincadeira, vai amadurecendo a percepção de si, do outro e do mundo. Quando brinca, a criança se transforma em um animal, que seja gato, papagaio, peixe ou leão. Que seja idoso, adulto e, até mesmo em outra criança. De qualquer forma é a pessoa dela inteira que está ali, construindo sua personalidade, experimentando modos de ser e de fazer diferentes, sendo ela mesma ou não.  

E, diante das telas dos tablets e celulares, que oportunidades a criança tem para se construir? Com um objeto frio nas mãos, que pode ser ligado e desligado a qualquer momento, deixa de experimentar a concretude dos fatos ao interagir com outra criança, vivenciar divergências, competir, estabelecer relações de amizade. Como fazê-lo se não tem o outro, criança como tal, para dialogar, discordar, cantar, gritar?  Gostar e desgostar?

A literatura infantil, ao fazer parte do universo infantil, enriquece a experiência lúdica. A história de Pinóquio mostra que a criança pode construir seus próprios brinquedos e a estimula para entrar no mundo fantástico do “Faz de Conta”, quando Gepeto dá vida a um boneco feito de madeira para ser usada como lenha. Outro fato que posso apontar é que a história aborda a relação afetiva entre gerações, na medida em que Gepeto, já velho, cria um boneco que o trata como um filho e preenche seus vazios. Além de tudo, a história conta as travessuras de um boneco de madeira, exaltando-o como um aprendiz da vida. Outro personagem interessante é o Grilo Falante que representa a consciência do boneco do menino, o superego, a instância responsável entre o eu e o ambiente circundante.

Além do mais, os personagens são fontes de inspiração para a criança encená-los nas brincadeiras e nos teatros que produzem. E, cá para nós, é gostoso imitar personagens e reproduzir suas falas!

A leitura de histórias possibilita o contato do leitor infantojuvenil com sua língua, amplia seu vocabulário e mostra o emprego dos fatos gramaticais, sintáticos e ortográficos. 

Para finalizar, quero fazer uma referência à Convenção dos Direitos da Criança, elaborada pela Assembleia Geral da ONU, em 1989, que promove, protege, e assegura o exercício pleno de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais para todo o indivíduo com menos de 18 anos de idade. Indiferente à raça, cor, sexo, origem, religião, classe econômica ou deficiência física.

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As histórias nos ajudam a lidar com a morte e a segurar a vida pelo rabo

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

“Quando olhares para o céu de noite, eu estarei habitante numa delas e estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por teres me conhecido”

Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe

 

“Quando olhares para o céu de noite, eu estarei habitante numa delas e estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por teres me conhecido”

Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe

 

As pessoas têm restrições para falar da morte e dificuldades para lidar com os momentos finais daquelas com quem convivemos. Certa vez, fui visitar o pai de uma amiga que estava internado em um asilo e, tão logo cheguei, no saguão de entrada, vi fotos de internos, já bem velhos, acamados e impossibilitados de se locomoverem de modo independente. Alguns visitantes, como eu, demonstravam um triste espanto. Repentinamente passou uma enfermeira e chamou a atenção de todos para o fato de que eles tinham passado pela vida e, naquele momento em que a fotografia fora tirada, estavam findando. Cumpriram o ciclo da existência. As palavras contundentes daquela mulher me foram educativas e reforçaram o que sempre soube e neguei: a morte fará parte da minha vida.

Nascimento e morte são os exatos momentos em que sofremos as maiores transmutações. Na natureza, a cada dia, vivenciamos o amanhecer e o anoitecer. Como é belo ir ao Arpoador, no Rio de janeiro, para assistir ao pôr do sol, principalmente no verão quando as pessoas chegam a bater palmas quando o sol desaparece atrás da Pedra da Gávea. Diferentemente na vida individual, o findar é doloroso, mesmo para os familiares e amigos daqueles que viveram com plenitude.

A questão da morte vai além do fato biológico e descortina a amplitude dos sentimentos inerentes à ausência, ao desaparecer de alguém com quem temos relações de afeto. O lidar com sentimentos que cercam o quarto que fica vazio, o animal que perde o dono, a mãe que nunca mais verá o filho são desoladores. Um abraço, um consolo, um olhar que acalente é sempre sustentador. Um livro também o é.

Está em minhas mãos o livro de contos da Flávia Savary, “É de morte!” Segundo a autora, “é um livro sobre a vida” em que o leitor se depara com os “desdobramentos e ecos que a morte produz nas personagens”. Os contos narram situações em que a morte é o tema central e podem ser lidos por jovens e adultos.

Uma questão me inquieta. Ao escrever este texto uma inquietante dúvida me invade: estou diante da vida ou da morte? Questão nunca resolvida e que me é desafiadora.

Eis a questão apresentada por Shakespeare: o eterno dilema do ser ou não ser ou não ser. E, aqui, ao escrever a coluna me parece a metáfora da interminável dúvida: viver ou morrer?

Pois bem, parei de escrever e fui fritar uma omelete para o jantar. Fui à cozinha tentando decidir se pararia de ser escritora e me tornaria cozinheira. Se gostaria de continuar a viver ou morrer. Com a cabeça enrolada e a vontade de comer a omelete crescendo, acho que naturalmente me transmutei de escritora a cozinheira e decidi viver. Não matei a escritora, se bem que na cabeça estivessem fumegando grandes dúvidas existenciais. A escritora mereceria descansar. E aí surgiu a cozinheira, mestre em quebrar ovos e fazer omeletes de todos as maneiras.  Renasceu a cozinheira pela decisão de jantar e saborear uma omelete recheada com frango, acompanhada de salada e suco de laranja com limão. Se a cozinheira quisesse morrer, certamente iria fazer uma fritada de ovos mexidos, mas não uma omelete gorda, bonita de se ver e comer. Como a escritora está adormecida, a palavra omelete danou a ser repetida. Ich!

Flávia Savary tem razão. Pensar na morte é tomar a consciência de que a vida é para ser vivida.

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O livro tem o pulsar do coração

segunda-feira, 07 de agosto de 2023

O leitor, quando mergulhado numa história, deixa seus olhos deslizarem sobre o texto, sendo capaz de perceber os personagens em seus sentimentos, palavras e ações, contextualizadas em cenas, ricas em circunstâncias a serem por ele captadas e refletidas. 

Mas como é possível, a literatura atrair a criança e o jovem, competindo com um universo de situações por eles vividas? 

O leitor, quando mergulhado numa história, deixa seus olhos deslizarem sobre o texto, sendo capaz de perceber os personagens em seus sentimentos, palavras e ações, contextualizadas em cenas, ricas em circunstâncias a serem por ele captadas e refletidas. 

Mas como é possível, a literatura atrair a criança e o jovem, competindo com um universo de situações por eles vividas? 

Muitos fatores podem ser indicados, porém a linguagem é o mais relevante e complexo. Sendo o escritor, um contador de histórias por excelência e tendo uma imaginação generosa, está diante de um grande desafio: comunicar-se com a criança e o jovem. Ao entrar em contato com sua voz narrativa, vai aprendendo a usar as palavras, construir as frases, fazer a história desencadear de modo contínuo e claro, capaz de transmitir ao leitor o seu pensamento e o seu modo de dizê-lo. Jamais escreve para si; escreve para o outro. Para o grande “Outro”. Seus textos nunca ficarão guardados em gavetas ou esquecidos na última prateleira de estantes, serão degustados e absorvidos por aqueles leitores que estão chegando a um mundo a ser descoberto, a um lugar desafiador, onde terão que viver e interagir. 

O texto literário, ao promover a comunicação entre pessoas de culturas e gerações diferentes, atravessa o tempo e percorre espaços sem perder a riqueza narrativa e constrói, com maestria, as possibilidades de conversar com o leitor sobre a história que se propõe a contar e o respectivo tema que vai abordar. 

Quem será o meu leitor, o que quero dizer a ele e como fazê-lo? São perguntas que exigem respostas responsáveis uma vez que seu texto permanecerá vivo no leitor, cujas ideias transmitidas através de palavras irão pulsar como um coração naquele que lê, quiçá por toda uma vida.      

O livro é uma casa que precisa ser aconchegante à criança e ao jovem, onde eles encontrarão no universo ficcional o que vivem na realidade. É o mundo do faz de conta que apoia a criança e o jovem em suas experiências existenciais. É como o canto do rouxinol que anuncia a primavera e propaga a longas distâncias a esperança de algo melhor. Quanto mais barulho o mundo fizer, mais alto ele cantará. 

O texto infantojuvenil não é despretensioso. Cada palavra quer tocar a pessoa do leitor, enquanto sujeito sujeitado, enquanto indivíduo único. Como ser vivo que deseja uma vida digna.

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Literatura infantojuvenil invade a Academia Friburguense de Letras

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Sim, senhor!, por ser um lugar que cultiva histórias, os ares da Literatura Infantojuvenil invadem a Academia Friburguense de Letras através do Ciclo de Palestras, “Os Desafios da Literatura Infantojuvenil”. 

Sim, senhor!, por ser um lugar que cultiva histórias, os ares da Literatura Infantojuvenil invadem a Academia Friburguense de Letras através do Ciclo de Palestras, “Os Desafios da Literatura Infantojuvenil”. 

Várias ideias permearam o planejamento da atividade, que incluiu profissionais de diferentes áreas envolvidas nos processos de fazer e na utilização do livro de literatura, a começar pela sua importância na formação do leitor, enquanto pessoa e cidadão. Através do envolvimento com o enredo e o encantamento com o mundo ficcional, a criança e o jovem vão se identificando com os personagens e relacionando os fatos por eles experimentados durante a leitura com as próprias situações existenciais. Ao virarem as páginas do livro e mergulharem nas histórias, a literatura se torna uma possibilidade de o autor conversar com o leitor sobre a vida com plenitude por meio de uma comunicação baseada no respeito e nas possíveis descobertas que o leitor possa vir a fazer. Na percepção de que a leitura não materializa apenas ideias, mas poetiza a vida em todas as suas formas. 

Como vivemos num mundo complexo e mutante, o leitor infantojuvenil pode ser até comparado à Alice no País da Maravilhas que vai conhecendo e interpretando o mundo ao seu redor, algumas vezes observado através de frestas, tal qual o buraco da fechadura. Apesar de ser interagente, o leitor, seja infantil ou juvenil, ainda não consegue discernir sobre a realidade com clareza e objetividade. A leitura lhe proporciona outros modos de ver os diversos âmbitos do ambiente familiar, social, cultural, econômico e histórico, ampliando sua visão de mundo e de ser vivente em processo de evolução.

Mas como o autor tem condições de tocar seu leitor infantil? O fazer para despertar o seu interesse a ponto de criar condições para que seu texto seja lido por inteiro? Até mesmo relido. São perguntas delicadas que requerem respostas amplas sobre a linguagem. Por isso a literatura é a arte da palavra, na medida em que tem a delicadeza de empregar a expressão capaz de motivá-lo a continuar a ler, a refletir e a verbalizar o pensamento. É a arte que vai além da técnica e do bom senso. É a arte construída pelo amor à vida.

A ilustração auxilia o leitor a ultrapassar as dificuldades e a aridez inerente a todo e qualquer texto, tornando a leitura prazerosa e oferecendo outros modos de interpretar a história. Através das imagens, cores e formas, ele tem a oportunidade de visualizar os cenários, os personagens e o desenrolar da trama. Inclusive, tem como perceber as sutilezas das mensagens nas entrelinhas do texto. 

O livro, ao acolher um texto, oferece possibilidades ao contador de histórias para reproduzi-la verbalmente, utilizando os mais variados recursos criativos a fim de atrair a atenção do ouvinte, para trazê-lo ao universo da ficção e tratá-lo como o principal espectador do espetáculo que realiza.

A literatura é uma rica fonte de devaneio. Além de ser a base que sustenta outras artes, como o teatro e o cinema, possibilita o fantasiar. E a criança e o jovem precisam adentrar os bosques imaginários para ter condições de lidar com os desafios da própria existência, muitas vezes cruéis e difíceis de serem compreendidos.

O livro de literatura para crianças e jovens não contém uma historinha, muito menos é um monte de páginas enfeixadas. É uma obra comprometida com seu leitor, que conta uma história significativa e traz a inteligência criativa do autor em cada frase. É um objeto perturbador por excelência que tem força para transformar cada leitor de forma especial. 

Lendo, a criança e o jovem vão se curando da cegueira existencial e abrindo as asas para a liberdade de ser e de fazer.

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