A atualidade dos clássicos da literatura

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 18 de março de 2025

Já fiz alguns passeios literários interessantes. Alguns deles sobrevoaram Shakespeare, poeta e dramaturgo que viveu nos séculos XVI e XVII, considerado o maior escritor do idioma inglês e relevante dramaturgo da humanidade. Certa vez li sua obra “Trabalhos de amor perdidos”, pensando em trazê-lo para o presente através de uma apresentação teatral. Eis que me deparei com uma situação atual em que um grupo de rapazes precisa estudar para prestar uma prova ou concurso e vai para um lugar tranquilo, uma casa de campo, por exemplo. Porém, na casa vizinha está um grupo de moças lindas que faz questão de chamar a atenção dos jovens. E o estudo...

Em outro passeio, junto com as amigas do Clube de Leitura, visitei Flaubert, autor francês que viveu no século XIX, que escreveu a belíssima obra “Madame Bovary”. A história aborda a insatisfação feminina, sentimento que emerge, hoje, em cada canto da cidade. Ao visitar Dostoiévski, escritor, jornalista e filósofo russo que viveu no século XIX, considerado um dos maiores pensadores e romancistas da história, em algumas de suas obras, como “Crime e Castigo”, “Noites Brancas” e, atualmente, “O Idiota”, passei a compreender com mais profundidade a essência humana em várias situações atuais em toda sua bondade e coragem, crueldade e astúcia, persistência e resiliência.  Inclusive “Crime e Castigo” é uma história tão densa e forte, que inspirou Wood Allen a escrever o roteiro do filme “Match Point”. Como também “Noites Brancas” inspirou o roteiro do filme “Amantes”, lançado em 2008, interpretado por Joaquim Phoenix e Gwyneth Paltrow.

Quando conheci “Ulisses” de James Joyce, inspirado na “Odisseia”, um dos principais poemas épicos da Grécia Antiga, atribuídos à Homero, escrita no século VIII a.C., que narra o retorno de Odisseu para ilha de Ítaca, sua casa e pátria, depois de vencer a Guerra de Troia, para reencontrar sua esposa, filho e cão, vislumbrei o quotidiano do personagem, descrito detalhadamente, através do qual expõe a experiência humana no decorrer de um dia em uma grande cidade, onde milhares de leitores habitam.

As obras se tornam clássicas porque os autores descrevem com minúcias os personagens, suas histórias, modos de ser e agir, a cultura na qual estão inseridos, seus sonhos e medos, seus ganhos e perdas. São escritores que vão além do olhar raso e da simples observação. Para eles, as mais comuns das situações quotidianas nos oferecem vários outros prismas para refletir e nos trazem questões muitas vezes imperceptíveis a nós, meros viventes e sobreviventes.

Ao lê-los, em cada uma das suas frases, ficamos impactados e aprendemos com a história, que, consequentemente, espelha de alguma forma a do próprio autor. Além da leitura oferecer momentos prazerosos, conseguimos ver o mundo e a nós mesmos com o pensamento mais amplo. Surfamos de tal modo na liberdade de perceber os fatos que nos sentimos instigados a indagar o que estamos fazendo com a nossa vida ou como podemos vivê-la com mais coerência. Ou, melhor ainda, concluir que caminhar com sapatos feitos de folha de bananeira pode nos trazer belos momentos de felicidade.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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