Blog de terezamalcher_17966

O livro tem o pulsar do coração

segunda-feira, 07 de agosto de 2023

O leitor, quando mergulhado numa história, deixa seus olhos deslizarem sobre o texto, sendo capaz de perceber os personagens em seus sentimentos, palavras e ações, contextualizadas em cenas, ricas em circunstâncias a serem por ele captadas e refletidas. 

Mas como é possível, a literatura atrair a criança e o jovem, competindo com um universo de situações por eles vividas? 

O leitor, quando mergulhado numa história, deixa seus olhos deslizarem sobre o texto, sendo capaz de perceber os personagens em seus sentimentos, palavras e ações, contextualizadas em cenas, ricas em circunstâncias a serem por ele captadas e refletidas. 

Mas como é possível, a literatura atrair a criança e o jovem, competindo com um universo de situações por eles vividas? 

Muitos fatores podem ser indicados, porém a linguagem é o mais relevante e complexo. Sendo o escritor, um contador de histórias por excelência e tendo uma imaginação generosa, está diante de um grande desafio: comunicar-se com a criança e o jovem. Ao entrar em contato com sua voz narrativa, vai aprendendo a usar as palavras, construir as frases, fazer a história desencadear de modo contínuo e claro, capaz de transmitir ao leitor o seu pensamento e o seu modo de dizê-lo. Jamais escreve para si; escreve para o outro. Para o grande “Outro”. Seus textos nunca ficarão guardados em gavetas ou esquecidos na última prateleira de estantes, serão degustados e absorvidos por aqueles leitores que estão chegando a um mundo a ser descoberto, a um lugar desafiador, onde terão que viver e interagir. 

O texto literário, ao promover a comunicação entre pessoas de culturas e gerações diferentes, atravessa o tempo e percorre espaços sem perder a riqueza narrativa e constrói, com maestria, as possibilidades de conversar com o leitor sobre a história que se propõe a contar e o respectivo tema que vai abordar. 

Quem será o meu leitor, o que quero dizer a ele e como fazê-lo? São perguntas que exigem respostas responsáveis uma vez que seu texto permanecerá vivo no leitor, cujas ideias transmitidas através de palavras irão pulsar como um coração naquele que lê, quiçá por toda uma vida.      

O livro é uma casa que precisa ser aconchegante à criança e ao jovem, onde eles encontrarão no universo ficcional o que vivem na realidade. É o mundo do faz de conta que apoia a criança e o jovem em suas experiências existenciais. É como o canto do rouxinol que anuncia a primavera e propaga a longas distâncias a esperança de algo melhor. Quanto mais barulho o mundo fizer, mais alto ele cantará. 

O texto infantojuvenil não é despretensioso. Cada palavra quer tocar a pessoa do leitor, enquanto sujeito sujeitado, enquanto indivíduo único. Como ser vivo que deseja uma vida digna.

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Literatura infantojuvenil invade a Academia Friburguense de Letras

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Sim, senhor!, por ser um lugar que cultiva histórias, os ares da Literatura Infantojuvenil invadem a Academia Friburguense de Letras através do Ciclo de Palestras, “Os Desafios da Literatura Infantojuvenil”. 

Sim, senhor!, por ser um lugar que cultiva histórias, os ares da Literatura Infantojuvenil invadem a Academia Friburguense de Letras através do Ciclo de Palestras, “Os Desafios da Literatura Infantojuvenil”. 

Várias ideias permearam o planejamento da atividade, que incluiu profissionais de diferentes áreas envolvidas nos processos de fazer e na utilização do livro de literatura, a começar pela sua importância na formação do leitor, enquanto pessoa e cidadão. Através do envolvimento com o enredo e o encantamento com o mundo ficcional, a criança e o jovem vão se identificando com os personagens e relacionando os fatos por eles experimentados durante a leitura com as próprias situações existenciais. Ao virarem as páginas do livro e mergulharem nas histórias, a literatura se torna uma possibilidade de o autor conversar com o leitor sobre a vida com plenitude por meio de uma comunicação baseada no respeito e nas possíveis descobertas que o leitor possa vir a fazer. Na percepção de que a leitura não materializa apenas ideias, mas poetiza a vida em todas as suas formas. 

Como vivemos num mundo complexo e mutante, o leitor infantojuvenil pode ser até comparado à Alice no País da Maravilhas que vai conhecendo e interpretando o mundo ao seu redor, algumas vezes observado através de frestas, tal qual o buraco da fechadura. Apesar de ser interagente, o leitor, seja infantil ou juvenil, ainda não consegue discernir sobre a realidade com clareza e objetividade. A leitura lhe proporciona outros modos de ver os diversos âmbitos do ambiente familiar, social, cultural, econômico e histórico, ampliando sua visão de mundo e de ser vivente em processo de evolução.

Mas como o autor tem condições de tocar seu leitor infantil? O fazer para despertar o seu interesse a ponto de criar condições para que seu texto seja lido por inteiro? Até mesmo relido. São perguntas delicadas que requerem respostas amplas sobre a linguagem. Por isso a literatura é a arte da palavra, na medida em que tem a delicadeza de empregar a expressão capaz de motivá-lo a continuar a ler, a refletir e a verbalizar o pensamento. É a arte que vai além da técnica e do bom senso. É a arte construída pelo amor à vida.

A ilustração auxilia o leitor a ultrapassar as dificuldades e a aridez inerente a todo e qualquer texto, tornando a leitura prazerosa e oferecendo outros modos de interpretar a história. Através das imagens, cores e formas, ele tem a oportunidade de visualizar os cenários, os personagens e o desenrolar da trama. Inclusive, tem como perceber as sutilezas das mensagens nas entrelinhas do texto. 

O livro, ao acolher um texto, oferece possibilidades ao contador de histórias para reproduzi-la verbalmente, utilizando os mais variados recursos criativos a fim de atrair a atenção do ouvinte, para trazê-lo ao universo da ficção e tratá-lo como o principal espectador do espetáculo que realiza.

A literatura é uma rica fonte de devaneio. Além de ser a base que sustenta outras artes, como o teatro e o cinema, possibilita o fantasiar. E a criança e o jovem precisam adentrar os bosques imaginários para ter condições de lidar com os desafios da própria existência, muitas vezes cruéis e difíceis de serem compreendidos.

O livro de literatura para crianças e jovens não contém uma historinha, muito menos é um monte de páginas enfeixadas. É uma obra comprometida com seu leitor, que conta uma história significativa e traz a inteligência criativa do autor em cada frase. É um objeto perturbador por excelência que tem força para transformar cada leitor de forma especial. 

Lendo, a criança e o jovem vão se curando da cegueira existencial e abrindo as asas para a liberdade de ser e de fazer.

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Nunca nos esquecemos dos nomes com sobrenomes!

segunda-feira, 24 de julho de 2023

A literatura é um bom local para guardar lembranças e torná-las vívidas. Se as palavras falam de situações fugazes, podem nos trazer o que vivemos em carruagens. O tempo passa, mas as memórias ficam. É o que vou fazer agora, vou trazer a esta coluna, através de um relato, algumas lembranças das minhas amigas de colégio, já que eram tantas que não caberiam num daqueles livros de capa dura do tamanho de almanaque. 

A literatura é um bom local para guardar lembranças e torná-las vívidas. Se as palavras falam de situações fugazes, podem nos trazer o que vivemos em carruagens. O tempo passa, mas as memórias ficam. É o que vou fazer agora, vou trazer a esta coluna, através de um relato, algumas lembranças das minhas amigas de colégio, já que eram tantas que não caberiam num daqueles livros de capa dura do tamanho de almanaque. 

Ainda escuto suas vozes nas conversas que se perdiam depois daquele portão imenso do Colégio Sacré-Coeur da Marie, na rua Tonelero, 56, Copacabana, Rio de Janeiro. As recordações rodeiam a terrível professora das aulas de História, passeiam pelas saias plissadas que tentávamos encurtar, enrolando o cós. Enfim, detalham os acontecimentos que marcaram os nove anos em que nos sentávamos nas cadeiras das salas dos cursos Primário, Admissão e Ginasial. As relações colegiais eram preenchidas e desenhadas pelos modos de ser de cada uma e nunca foram por nós esquecidas. Apesar das diferenças individuais, íamos descobrindo afinidades e interesses em comum, como os jogos de vôlei, as brincadeiras durante os recreios, as festas, principalmente quando começamos a usar sapato com dois dedos de salto alto. Até hoje, cinquenta anos depois, ainda estamos unidas e trocamos mensagens diariamente. Que bonito! 

Éramos 120 alunas, agrupadas em 4 turmas e seguíamos ano a ano a escolaridade. Aprendemos línguas, matemática e geografia, dentre outras disciplinas que compunham uma grade de ensino variada. E, acima de tudo, aprendemos a ser pessoas dignas. Sob rígida disciplina e alvo dos olhares das freiras, por vezes severos, conseguíamos ser bagunceiras. E, hoje, constatamos, em nossos encontros, que éramos felizes, apesar das agruras que aquele colégio religioso nos trouxe. A rigidez que vivenciamos não nos tirou pedaços, mas nos preparou para a vida. 

Algumas, infelizmente, já se foram, e sempre registramos a ausência delas de modo saudoso e respeitoso.  A maioria está seguindo a vida, e temos a alegria de compartilhar os momentos que vivemos no presente. Dos nomes com sobrenomes, nunca esquecemos! E na semana em que comemoramos a semana do amigo, as lembranças colegiais me transportaram para cada canto daquele imenso colégio, cheio de escadarias e ladeiras. Temos belos registros.

É mágico! Nós, com quase setenta anos, quando estamos juntas, temos a impressão de que o tempo não passou, que ainda somos meninas, com a vida pela frente, cheias de vontade de viver.

É uma amizade que vai nos puxando para perto umas das outras. É eterna enquanto cada uma de nós viver. Se, porventura, alguém tem uma dificuldade ou um sofrimento sabe que o grupo SCM está pronto para acolher, sugerir e ajudar. Confesso que não me sinto só. Tenho a riqueza de guardar amigas de colégio como diamantes.

Deixo, para finalizar, um dos mais belos poemas que conheço e tem a ver com o tema da coluna.

GUARDAR

Antônio Cícero

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por

admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por

ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,

isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro

Do que um pássaro sem voos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,

por isso se declara e declama um poema:

    Para guardá-lo:    

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.

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Da voz feminina, nasce a escritora

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Estou com o livro nas mãos “Um grande dia para as escritoras”, idealizado por Giovana Madalosso, sentindo o cheiro das folhas que deslizam com o movimento dos dedos, fazendo os olhos absorverem a vibrante cor rósea misturada com a coral. Deixando-me inebriar ao admirar as 53 fotos de escritoras em várias cidades do mundo, totalizando 2.302 mulheres. As fotos foram tiradas em diferentes lugares das cidades, como praças, escadarias, anfiteatros, museus, prédios históricos, além de tantos outros usados de cenário para o registro de um momento tão feminino e grandioso.

Estou com o livro nas mãos “Um grande dia para as escritoras”, idealizado por Giovana Madalosso, sentindo o cheiro das folhas que deslizam com o movimento dos dedos, fazendo os olhos absorverem a vibrante cor rósea misturada com a coral. Deixando-me inebriar ao admirar as 53 fotos de escritoras em várias cidades do mundo, totalizando 2.302 mulheres. As fotos foram tiradas em diferentes lugares das cidades, como praças, escadarias, anfiteatros, museus, prédios históricos, além de tantos outros usados de cenário para o registro de um momento tão feminino e grandioso. Aqui em Nova Friburgo, as escritoras foram cuidadosamente lideradas por Márcia Lobosco, nossa Produtora Cultural na área de literatura. Tirada por Osvaldo Enoc, a foto recebeu o acolhimento da Escadaria do Antigo Fórum, na Praça Presidente Getúlio Vargas, onde pisamos os degraus com determinação, tomadas pelo sentimento de orgulho.

Estou lendo os textos escritos pelos organizadores e autoras que participaram das fotos, curtindo a maciez do papel e absorvendo o cheiro do livro. O livro tem um perfume especial que me remete à criatividade, vitória e vozes. “Um grande dia para as escritoras” traz o som da mulher: sua fala e desejos, seu nascimento, sua morte. A mulher aprende a viajar pelos dias com resiliência, abrindo suas asas a cada passo e construindo paulatinamente a vontade de ir além. De ser mulher com inteireza, de jamais ser rasgada.

Ainda estamos aprendendo a falar, a dizer nossas palavras, únicas e universais. Somos as mais puras testemunhas do fazer da vida no ventre. Temos seios que produzem alimento nutritivo. Somos as coletivas que se precipitam sobre o papel com caneta em punho e começam a narrar a beleza que a vida faz e desfaz. Escrevemos para sentir o gozo de ver nossa voz escrita, soletrada e sublinhada.

É um júbilo me ver na escadaria do Antigo Fórum ao lado de tantas amigas. A literatura une as pessoas. As histórias tocam nossas almas e temos a vontade de sentir, uma ao lado da outra, o trajeto das palavras, de perceber a sua força e dormir ao som de suas letras. De sonhar para desejar e realizar. Se vogais ou consoantes, se maiúsculas ou minúsculas, elas agasalham os vazios do nosso próprio olhar. É tão bom descobrir o que elas preenchem, como uma peça de um quebra-cabeça que precisa ser encaixada. No meu há peças desencaixadas, misturadas e caídas no chão. Mas tenho peças coloridas, delineadas e reluzentes, já acertadas no tabuleiro.

As fotos no livro nos contagiam, nos fazem resistir à fragilidade do suposto sexo frágil. A escrita não nos deixa calar. Pelo contrário, à cada frase exalamos os perigos da sobrevivência feminina. Penso que compor um livro é mais do que chegar a algum lugar para vislumbrar horizontes. É realizar o propósito de ver uma criança correndo sobre a linha que delineia o possível  e o desejável.  

A mulher escritora não tem idade. 

A mulher nasce escritora e morre se assim o quiser.

A escritora traz a beleza de ser mulher.

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Saber perder o tempo e achá-lo com outras cores e formas

terça-feira, 11 de julho de 2023

Os amantes usam o tempo para sentirem o prazer de gostar de estar com o outro e, às vezes, são momentos tão agradáveis que parecem eternos. Cecília Meireles, certa vez, poetou “Eu canto porque o instante existe e aminha vida está completa.” A sensação de bem-estar nos invade com ternura, como um véu que nos faz sentir embevecimento por aquilo que estamos fazendo.

Os amantes usam o tempo para sentirem o prazer de gostar de estar com o outro e, às vezes, são momentos tão agradáveis que parecem eternos. Cecília Meireles, certa vez, poetou “Eu canto porque o instante existe e aminha vida está completa.” A sensação de bem-estar nos invade com ternura, como um véu que nos faz sentir embevecimento por aquilo que estamos fazendo. É possível que nos traga a sensação de que a vida em torno deixa de existir e o mundo de se movimentar.  O prazer é o presente que se faz presente como um presente que nos ofertamos ou que nos é oferecido com bondade e sem parcimônias. Há, por certo, uma magia que nos sopra suavidades.

Sócrates, condenado à morte por ser acusado de corromper a juventude e com poucos dias de vida, pediu a um professor que lhe ensinasse a tocar flauta. Ante o espanto do músico, ele argumentou que queria aprender o instrumento apenas para ter o prazer de tocá-lo, de dar serenidade e alegria ao seu espírito naqueles momentos finais.

Quem é amante da leitura encontra a delicada satisfação em mergulhar num texto do seu gosto, que seja um jornal, carta ou um conto despretensioso. Ler é um modo de configurar o tempo com a apreensão de ideias, utilizando a energia que emana fluida do corpo e da mente, bem diferente daquela carregada de responsabilidades e prazos, que tão bem conhecemos no dia a dia. 

Ler é um hábito de inserir a leitura nos momentos em que o olhar vagueia no céu entre as nuvens e dança com o tiquetaquear do relógio. Eu me relaxo antes de dormir lendo trechos de um livro a mim disponível na cabeceira e, mesmo cansada e pestanejando, avanço alguns trechos na história. É um momento noveleiro em que o livro acaba sendo absorvido em capítulos, além de ser um modo erudito de chamar os sonhos e as fantasias que habitam meu sono. Confesso que não é incomum sonhar com o que li. Chego até a visualizar os personagens e cenários, desejar estar entre as linhas à espera de novos acontecimentos, tomada por um suspense transitório e não comprometido com os da vida real.

A leitura prazerosa tem um jeito amistoso de nos abraçar que nos faz pausar, não deixando de ser um passaporte para relaxar as pernas e sossegar as preocupações diárias. Além de tudo, um leitor com mais idade sempre dá exemplo aos mais jovens. Inclusive a formação do hábito de ler é alimentado pelo exemplo, uma influência silenciosa e eficaz. 

Durante o tempo dedicado ao prazer, só há vantagens em compartilhar a leitura com outras atividades. E, cá para nós, perder o tempo e achá-lo com outras cores e formas não é melhor do que coçar o dedão do pé?  

 

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Louvor à Literatura Infantojuvenil

quarta-feira, 05 de julho de 2023

A Literatura Infantojuvenil não é, de modo algum, uma historinha para criancinhas. É um texto sério, escrito com para pessoas que estão chegando a este mundo conturbado, cheio de guerras e brincadeiras, fantasia e realidades múltiplas. 

A Literatura Infantojuvenil não é, de modo algum, uma historinha para criancinhas. É um texto sério, escrito com para pessoas que estão chegando a este mundo conturbado, cheio de guerras e brincadeiras, fantasia e realidades múltiplas. 

Vou usar minhas palavras para conceituar a literatura porque vou expressar o que sinto quando escrevo para crianças e jovens. Literatura é o fazer arte através da palavra, é resultado da produção intencional de um texto elaborado com beleza, harmonia e criatividade; é a conjugação de talentos individuais desenvolvidos por meio de esforços e técnica, direcionados à elaboração de narrativas em vários estilos, que expõem fatos, ideias, sentimentos e, até mesmo, estudos e pesquisas.

Faço questão de louvar a literatura sempre que tenho contato com a palavra expressa com maestria, delicadeza e força. Não é uma expressão desajeitada e, se assim o for, será feita com parâmetros. O texto bem elaborado debuta e faz sua estreia diante dos olhos de um leitor que o degusta frase por frase, cuja leitura vai lhe revelando ideias e despertando vontades, que vai se sensibilizando a ponto de se modificar como pessoa. Quando alguém começa a ler um livro abre as portas para o mundo de um modo; quando acaba, não precisa de maçanetas para abri-las. A literatura faz metamorfoses, enquanto resultado de experiências significativas que estimulam reflexões. A leitura é uma experiência que tem poder mágico sobre qualquer ser humano, seja criança ou adulto. 

O escritor infantojuvenil tem a intenção de tocar as crianças e os jovens que sobrevivem ao mundo e aprende a andar descalço sobre terrenos lúdicos para perceber os universos ficcionais que gostariam de conhecer, é ser capaz de sair do próprio lugar, muitas vezes confortável, e visitar brincadeiras, lugares onde o faz de conta é lei soberana. É ter a capacidade de perceber o que os olhos infantis e juvenis expressam. É nascer ao mesmo tempo em que cada criança nasce e morrer sempre que um choro sofrido de um jovem atravessa o horizonte.

Quem começa escrever um texto infantil não pode ter medo do leão que invade sua sala com fome; nem se surpreender com o voo de cavalos alados que migram para encontrar amigos do outro lado do mundo; muito menos não querer encontrar gigantes que andam pelos bosques, contando histórias e falando de lendas assustadores

É aquele sujeito, que não bem se aceita como sujeitado, que gosta de visitar os jardins encantados da ficção, conhecer o sítio mágico de Monteiro Lobato, ler o O Pequeno Príncipe, guardar miudezas na Bolsa Amarela, cantar com João e Maria, e ser um dos sete anões. 

É um escritor que compreende a importância dos heróis imaginários para aqueles que não os têm na realidade. Que sabe falar da ausência e da saudade com a elegância da garça e os cuidados do anjo, que fala dos medos porque os sente de vários modos e momentos.

Quem escreve para crianças e jovens ama as pessoas, tem esperanças e guarda com todo o respeito a criança que um dia já foi.

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Poderá ser Nova Friburgo considerada uma Cidade Literária?

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Gostaria de começar a coluna afirmando que Nova Friburgo é uma Cidade Literária pelo seu potencial inspirador, natureza e história. Mesmo possuindo uma produção literária considerável, além de acolher a Academia Friburguense de Letras e a União Brasileira de Trovadores, ainda um longo caminho precisa ser percorrido para ser assim considerada. Essas cidades atraem amantes de livros, têm uma vida literária produtiva, possuem editoras, livrarias e lojas que vendem livros usados, promovem festas e feiras literárias, atraem leitores, escritores e bibliógrafos.

Gostaria de começar a coluna afirmando que Nova Friburgo é uma Cidade Literária pelo seu potencial inspirador, natureza e história. Mesmo possuindo uma produção literária considerável, além de acolher a Academia Friburguense de Letras e a União Brasileira de Trovadores, ainda um longo caminho precisa ser percorrido para ser assim considerada. Essas cidades atraem amantes de livros, têm uma vida literária produtiva, possuem editoras, livrarias e lojas que vendem livros usados, promovem festas e feiras literárias, atraem leitores, escritores e bibliógrafos.

As Cidades Literárias possuem selos de qualidade da UNESCO e estão espalhadas mundo afora por destacarem a literatura como ponto estratégico do seu desenvolvimento cultural, social e econômico. Realizam projetos literários inovadores de produção e intercâmbio entre escritores. Podemos citar Óbidos (Portugal), Edimburgo (Escócia), Milão (Itália) Slemani (Iraque), Quebec (Canadá), Montevidéu (Uruguai), Melbourne (Austrália), Dublin (Irlanda), dentre outras em todos os continentes. No Brasil, há centros de produção e difusão da literatura, como Paraty e Porto Alegre, porém ainda não conquistaram o selo.  

Em princípio, toda a cidade tem potencial para ser literária uma vez que a literatura é o meio pelo qual os escritores, através de diferentes estilos, expressam suas emoções e expectativas, eternizam a cultura e a história do lugar, recordam o passado e vislumbram o futuro. É a arte da palavra que vai brotando com o viver, através de um diálogo intenso e profundo entre alguém que escreve com alguém que lê. O escritor faz-se presente através das suas palavras, mostrando seu modo de pensar e sentir em todo tempo e lugar; tem imortalidade.

Uma Cidade Literária, ao preservar o acervo de livros, tem cuidados especiais com os escritores que sobre seu solo passaram ou viveram, além de apoiar a produção dos atuais. Nova Friburgo tem tradição de acolher artistas da palavra como Machado de Assis, J.G. de Araújo Jorge, Casimiro de Abreu. No entanto, hoje precisa oferecer subsídios aos atuais, através da implementação de medidas políticas e econômicas a fim de apoiar os criadores de obras literárias e a criação de uma nova literatura, posto que necessitam de recursos materiais para evoluir como artistas da palavra e construir obras de qualidade. 

São Cidades que ampliam a relação entre a população com livros, atividades e outros formatos de ações literárias. Constantemente abrem possibilidades para o turismo cultural dado que a literatura também atrai a produção de atividades artísticas afins.   

Além do mais, realizam atividades que fomentam a leitura e a formação de leitores. Não resta dúvida que as escolas que investem em suas bibliotecas e atividades multivariadas de leitura possuem papel fundamental para o desenvolvimento do hábito e do gosto de ler. Entretanto a escola precisa do respaldo de atividades literárias realizadas na comunidade, como feiras, saraus, concursos e festivais literários para atingir seus objetivos.

Para finalizar, aqui deixo mais uma semente para corroborar com a escolha da população pela construção da Biblioteca Internacional Machado de Assis (BIMA) no espaço vazio da Praça do Suspiro. 

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Literatura, música e religiosidade

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Há dias que começam com o espetáculo divino e outros que iniciam como todos, mesmo que acordemos com uma proposta do fazer diário diferente! 

Hoje, ao amanhecer, a Ave-Maria de Franz Schubert invadiu minha casa, meu dia. Minha vida. Senti-me enlevada, como se absorvesse a energia da música e da oração. Foi um sentimento oceânico que me trouxe paz, fazendo-me perceber a eternidade e a totalidade de vida. 

Há dias que começam com o espetáculo divino e outros que iniciam como todos, mesmo que acordemos com uma proposta do fazer diário diferente! 

Hoje, ao amanhecer, a Ave-Maria de Franz Schubert invadiu minha casa, meu dia. Minha vida. Senti-me enlevada, como se absorvesse a energia da música e da oração. Foi um sentimento oceânico que me trouxe paz, fazendo-me perceber a eternidade e a totalidade de vida. 

Quisera eu ter acordado todos os dias embevecida pela força da espiritualidade, presente na minha alma, mas oculta nas tarefas cotidianas. Se eu tivesse acordado sempre assim teria vivenciado meus dias com maior intensidade e coragem para desbastar as dificuldades, inclusive as que eu mesma criei, possivelmente por não ter aberto meu ser para Maria, a divindade feminina, intuitiva, sábia e sensível. A música de Schubert me faz emergir esse potencial que fica adormecido, porém com disposição para despertar e agir. 

Salve Maria! 

Nosso mestre poeta, Fernando Pessoa, na mais imensa e pura simplicidade, reescreveu a Ave-Maria, deixando transparecer em seus versos a grandeza da oração, enquanto força que alicerça a capacidade para vencer a inércia, dando-nos inteligência, disposição e movimento.

 

À minha mãe

Bendita sois vós, Maria,

Entre as mulheres da terra

E voss’alma só encerra

Doce imagem d’alegria.

 

Mais radiante do que a luz

E bendito, oh Santa Mãe

É o fruto que provém

Do vosso ventre, Jesus!

 

Ditosa Santa Maria,

Vós que sois a mãe de Deus

E que morais lá nos céus

Orai por nós cada dia.

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A mais comum das histórias de amor

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Hoje vou me antecipar ao Dia dos Namorados porque senti vontade de me soltar e escrever o que brota em meu pensamento. Os namorados gostam de dançar, então vou bailar e misturar alguns ingredientes literários como lembranças, sonhos e poesias. 

Hoje vou me antecipar ao Dia dos Namorados porque senti vontade de me soltar e escrever o que brota em meu pensamento. Os namorados gostam de dançar, então vou bailar e misturar alguns ingredientes literários como lembranças, sonhos e poesias. 

Vou começar por um dos momentos mais nobres que vivenciei na vida: a despedida dos meus avós. Com quase setenta anos de casados, vovô já acamado, estendeu a mão direita para vovó, abraçando a dela com os dedos trêmulos. Os dois se olharam fixamente, até ele dizer que a amou a vida inteira. As palavras dela foram ditas através de um sorriso triste. No dia seguinte, vovô foi para o hospital e não voltou mais. Eles tiveram a mais comum das histórias de amor, começando por um namoro breve, seguido por um longo casamento, que gerou três filhos, seis netos e onze bisnetos.

A mais comum das histórias de amor pode estar dentre as mais belas, que sempre começa pelo enamoramento; um olhar tímido, o toque das mãos, seguido pelo forte desejo de aproximação. Meu filho, quando tinha seis anos, se apaixonou por uma menina da idade e do tamanho dele. Os dois, banguelas, estavam sem os dentes da frente, mas viviam cheios de risos e não havia ninguém mais belo. Foi um namoro que durou um bom tempo, até ela se mudar. Beto a guardou com carinho e dela nunca se esqueceu.

Quem se esquece do primeiro namorado? Ou do primeiro beijo? São lembranças que marcam e ficam dentro de nós. Acredito que são esses os  momentos que fazem com que um namoro prossiga, torne-se uma união mais duradoura e gere frutos carnudos.

Como é bom a gente escolher roupa bonita, passar perfume e ajeitar o cabelo para encontrar o namorado. Caminhar com as mãos dadas, tomar um sorvete e, então, conversar a perder a hora, rir, admirar, fazer planos e amar. Quem já não dançou e foi junto do companheiro até a varanda para ver a estrela mais brilhante no céu? Os namorados vivem tantos momentos simples, cheios de significados e afetos, como o dar das mãos em uma despedida, tal qual meus avós fizeram.

O namoro é divino. Às vezes chego a guardar a vontade de fazer com que todos os dias sejam como os de namoro, cheios de gentilezas, cuidados para agradar o outro e modos jeitosos de falar. Quem namora sabe como ninguém dizer o não com mansidão e ter outros gestos e atitudes que devemos guardar em altares de cristais para que a rotina, devastadora, não os danifique.

Saber amar é uma sabedoria que vai sendo conquistada com os embates, alegrias e as tristezas. É aprender a colocar água no feijão na dose certa, mexer a panela com paciência e desligar o fogo no exato momento. Além de tudo, conhecer a pessoa que temos nos braços.  

Para finalizar, deixo a poesia “Poemas para o Dia dos Namorados” de Carlos Drummond de Andrade

“O Dia dos Namorados

Para mim é todo dia.

Não tenho dias marcados

Para te amar noite e dia.

 

O dia 12 de junho,

Como qualquer outro, diz

(e disso dou testemunho)

Que contigo sou feliz.

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Estar comigo é um momento de gentilezas

segunda-feira, 05 de junho de 2023

Tenho tido uma experiência saudável nas sessões de yoga tanto com o corpo, que está mais harmônico, quanto com o emocional, mais ágil. Não sei se são os adjetivos certos que podem resumir o meu estado efetivo de inteireza. Enfim...

Esta experiência me remete ao livro infantojuvenil que escrevi, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, em que a protagonista, Rebeca Luíza, tem um profundo encontro com suas emoções, sensações e percepções. Ao final da narrativa, ela conclui que não é mais menina; é adolescente, começando a ser mulher.

Tenho tido uma experiência saudável nas sessões de yoga tanto com o corpo, que está mais harmônico, quanto com o emocional, mais ágil. Não sei se são os adjetivos certos que podem resumir o meu estado efetivo de inteireza. Enfim...

Esta experiência me remete ao livro infantojuvenil que escrevi, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, em que a protagonista, Rebeca Luíza, tem um profundo encontro com suas emoções, sensações e percepções. Ao final da narrativa, ela conclui que não é mais menina; é adolescente, começando a ser mulher.

Nas sessões de yoga, a mestra Joana nos faz observar a nossa mais íntima instância através de uma jornada silenciosa e generosa. Os alongamentos são arrojados e nos desafiam, o relaxamento é meditativo e nos resgatam.   

Rebeca Luíza, diante do espelho, pergunta-se: “se a minha imagem no espelho fosse uma pessoa, nós seríamos amigas?”. Nos momentos de relaxamento e meditação, Joana nos pede gentileza para que nos adentremos, proporcionando-nos o aprendizado de nos sentirmos com delicadeza. Certa vez, tive a impressão de que estava entrando num interessante lugar desconhecido. Caminhava com tímidos passos alados e, com os olhos fechados, me via acordada, sem devaneios rebeldes e desejos delirantes. Depois de me ver diante de uma imensidão vívida, retornei mansamente ao quotidiano, querendo me dar as mãos num gesto parceiro, o que me permitiu olhar para outras margens. 

Assim, ao final das sessões de yoga, durante a meditação, não mais do que breves instantes, consigo tocar na pessoa que sou com ternura. É como se abrisse uma caixa de presente envolta em papel de seda e encontrasse possibilidades que estão escamoteadas e suscitam arremates. É uma reflexão que também me convida a encontrar alternativas que ainda preciso despertar. É um breve tempo que me faz constatar que não quero desperdiçar oportunidades de ser quem de fato sou. 

Lacan chama atenção para o “Tu és!”, ou seja, a afirmação que permeia as circunstâncias para que tenhamos determinadas características. Contudo, muitas vezes, atendendo à essa determinação, deixamos de ser o que somos. “Tu és!” tem a função de transformar modos de ser a partir do olhar do outro ou do grande Outro, o todo maior que nos rodeia.

O corpo, a mente e o espírito devem bailar a valsa da vida de modo a fertilizar a tríade: pensamento, palavra e ação. A yoga, tanto na meditação, como nas mais difíceis posições de alongamento, nos desperta para o destino que temos pela frente a construir.

 

“(...) Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim.”

Clarice Linspector 

Um sopro de Vida, editora Rocco, 1999                  

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