As oficinas literárias sempre nos oferecem temas para escrever. Nesta semana, Pablo, um amigo de oficina de escrita literária, me deu um motivo para elaborar minha coluna semanal. Mais um. Há poucas semanas, ele havia me enviado o texto “O Poeta e o Fantasiar”, de Freud, escrito em 1908. Ao ler, fiquei instigada em escrever a respeito e elaborei o texto “Beijo de Cetim”.
As oficinas literárias sempre nos oferecem temas para escrever. Nesta semana, Pablo, um amigo de oficina de escrita literária, me deu um motivo para elaborar minha coluna semanal. Mais um. Há poucas semanas, ele havia me enviado o texto “O Poeta e o Fantasiar”, de Freud, escrito em 1908. Ao ler, fiquei instigada em escrever a respeito e elaborei o texto “Beijo de Cetim”.
Nesta semana, ele falou a respeito da dor da perda. E, mais uma vez, fiquei tocada pelo tema. Os sentimentos que envolvem a situação de perda, sejam por causa de decisões, viagem, morte, entre tantos, são fortes. Tomam conta dos dias seguintes, invadem pensamentos e nos atingem em cheio. As emoções que preenchem a parte perdida não são próprias de um grupo social, nem de uma cultura, que cria vários ritos para externá-las. Este sentir é universal. A dor nos atravessa da mesma forma em qualquer tempo e lugar.
A perda faz parte da vida e, consequentemente, a tristeza é o sentimento que se segue. Temos que lidar com ela para recompor a parte de nós que perdemos. Músicos, escritores, pintores e demais artistas buscam a arte como meio de extravasar a dor sofrida. Talvez pelo fato de sermos incompletos, precisamos de algo a mais que nos dê a sensação de completude. Até um animal cumpre essa função e, quando o perdemos, a dor nos veste de diversas formas. Geralmente, o dono busca um outro animal para suprir a sensação da ausência.
A folha de papel em branco é terapêutica e está sempre disponível a qualquer um, do padeiro ao maestro. Eric Clapton compôs “Tears in Heaven”, uma das mais belas músicas do século passado, depois de perder seu filho de quatro anos em 1991. Ah, como os poetas falam desta dolorosa sensação de privação, criando versos! Alguns cronistas citam a importância da perda nos processos de amadurecimento, uma vez que permitem que a pessoa aprenda a olhar de modo diferente para o viver. Uma vida sem perdas não é real.
Soneto de Separação
Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso de branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
A dor, decorrente da perda, é capaz de semear possibilidades, de transformar modos de sonhar e de realizar. Neste sentido, a saudade tem como iluminar o amanhã, uma vez que na ausência há um grito ao novo. A dor da perda não pode ser eterna. Tem que conter a energia, mesmo que através de flashes, da esperança. A poeta, Frida Khalo, faz emergir da sua dor palavras que resgatam a força de viver. “Bebia para afogar as mágoas, mas as malditas aprenderam a nadar”.
Deixo, para finalizar, Fernando Pessoa que tão bem exprime o recomeçar.
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje já é outro dia
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