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A lei do retorno

segunda-feira, 15 de março de 2021

O Dia Internacional da Mulher me fez pensar nas personagens femininas, figuras significativas, que foram capazes de sair das páginas dos livros e adentrar na vida quotidiana. Às vezes, eu me pergunto, por que um sujeito fictício, que nasceu no imaginário de um autor, é capaz de exercer influência marcante nas pessoas? Sem carne e osso, uma figura humana que possui apenas uma função delineada em uma determinada história, pode ser percebida como uma pessoa e convier abstratamente na vida social e cultural. Tornar-se, inclusive, modelo; um referencial.

O Dia Internacional da Mulher me fez pensar nas personagens femininas, figuras significativas, que foram capazes de sair das páginas dos livros e adentrar na vida quotidiana. Às vezes, eu me pergunto, por que um sujeito fictício, que nasceu no imaginário de um autor, é capaz de exercer influência marcante nas pessoas? Sem carne e osso, uma figura humana que possui apenas uma função delineada em uma determinada história, pode ser percebida como uma pessoa e convier abstratamente na vida social e cultural. Tornar-se, inclusive, modelo; um referencial. Qual mulher que não tem um pouco de Penélope e Sherazade? Mesmo com as transformações que vêm ocorrendo na vida sexual, estas personagens guardam a essência feminina. Qual mulher que não sabe utilizar seus poderes com agudeza e inteligência para atingir seus objetivos? E o que se pode dizer da lealdade, da paciência e da capacidade de esperar de uma mulher com relação à pessoa amada? Quem não tem uma Julieta dentro de si, capaz de lutar por um amor impossível?

Talvez por sermos pessoas incompletas, carecemos, ao longo de nossos dias, de conceitos, representações e características que nos façam ter a sensação de completude, que nos tornem mais potentes perante à vida, mais felizes diante das diversidades existenciais e da fragilidade humana. Talvez por sermos efêmeras e termos a certeza de que findamos, as personagens, em suas perfeições, nos desviam desta constatação, e nos fazem sentir um tanto mais onipotentes ante aos infortúnios. Talvez por necessitarmos de referenciais para construirmos sentidos para nossa vida, que vão se transformando a cada dia.. Ah, como precisamos deles! 

Estamos inseridos em tramas, tecendo histórias diárias, tais quais as personagens, que, na verdade nos representam. Sempre. Da mesma forma que são os personagens que compõem uma história, nós somos as protagonistas da nossa. Da mesma forma que são os autores que usam do livre arbítrio para construir suas histórias, nós nos utilizamos deste mesmo direito para fazermos a nossa. Assim, o que nos une às personagens são a liberdade e a determinação de, em todo momento, ir em frente ou colocar o ponto final. 

Então, desta forma, podemos, nós, mulheres, adentrarmos nas páginas dos livros, como Edith Piaf e Frida Kahlo. Ou melhor dizer, de qualquer forma, somos nós que inspiramos os autores a construírem as personagens. Tão belas, tão intrigantes e instigantes. A vida vai para a história, que retorna tocando e transformando vidas. Temos, assim, a lei do retorno. 

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Ah, se você me emprestasse seu sonho...

segunda-feira, 08 de março de 2021

Certa vez, imaginei entrar num quarto pequenino pela fechadura. Durante a madrugada, tão misteriosa, fui carregada por um vento que passava entre os móveis do quarto, querendo se aproximar daquele homem, ainda jovem, de cabelos encaracolados e rosto sereno. E belo. Que parecia estar tendo um sono enfeitado por coloridos sonhos. A curiosidade balançou minha alma, quando uma surpreendente vontade de desvendar seus sonhos tomou conta de mim, uma admiradora da sua obra. Eu me perguntava baixinho para não o acordar: quais são as imagens que dançam por trás dos olhos de um inglês?

Certa vez, imaginei entrar num quarto pequenino pela fechadura. Durante a madrugada, tão misteriosa, fui carregada por um vento que passava entre os móveis do quarto, querendo se aproximar daquele homem, ainda jovem, de cabelos encaracolados e rosto sereno. E belo. Que parecia estar tendo um sono enfeitado por coloridos sonhos. A curiosidade balançou minha alma, quando uma surpreendente vontade de desvendar seus sonhos tomou conta de mim, uma admiradora da sua obra. Eu me perguntava baixinho para não o acordar: quais são as imagens que dançam por trás dos olhos de um inglês? o que se passa pela imaginação de um professor de matemática? Eu sabia que suas ideias fantásticas iriam tornar perenes, ocupando importantes espaços nas estantes das casas e livrarias das cidades, nas bibliotecas dos bairros, nas universidades e escolas, nas empresas de todo o planeta para provocar reflexões nos funcionários. Ele teve tamanha sutilidade e inteligência ao escrever que suas frases guardam enigmas, e curiosos vão passar anos e anos tentando desvendá-las. Seus sonhos mágicos se transformarão em textos cheios de simbolismos, mostrando personagens que se aventuram no País das Maravilhas, cheios de inusitadas situações. Cento e cinquenta anos depois de publicada, sua obra vai pertencer ao universo dos clássicos e suas brincadeiras vão continuar a ser graciosas às crianças, já tão acostumadas à modernidade cibernética. Mas os adultos para entendê-las, vão precisar interpretar seus significados. Há quem possa explicá-las? Mesmo estando adormecido num tempo passado do século XIX e com jeito de criança, ele e seus personagens vão conquistar a imortalidade com uma criativa trama que sempre terá atualidade. Sua obra foi inspirada por uma linda menina, Alice Pleasance Lidell, que o motivou a criar histórias feitas de palavras simples para desafiar a psicanálise, a política e a religiosidade. E encantar as crianças. Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Caroll, continua a dormir serenamente na madrugada, num quarto minúsculo, enquanto eu era tomada por um espírito inquieto e investigativo. Até que, repentinamente, um coelho apressado surgiu e esbarrou na xícara de chá, derrubando-a e deixando-a cair no chão. Mas o escritor só despertou com os gritos da Rainha de Copas que mandava cortar a cabeça de todos. E, eu, como intrusa, para não perder a minha, saí do quarto de mansinho junto com um feixe de luz. E, cá estou eu, pedinte de um sonho. Ainda. 

 

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O Estado e a literatura infantil. Por acaso, vocês sabem aonde o Coelho foi?

segunda-feira, 01 de março de 2021

Será que posso afirmar que a literatura é patrimônio do Estado, tanto quanto a língua usada? Volta e meia, eu me deparo com esta questão porque a literatura se utiliza da palavra como instrumento de expressão da cultura. Este é um tema essencial da expressão de um povo, dado que a literatura revela um tempo histórico, político, social e cultural. A literatura, através dos seus diferentes estilos, aborda fatos, revela acontecimentos e avalia tendências de um momento. Possui riqueza artística, exigindo do seu criador tantos cuidados como os dos designers de joias.

Será que posso afirmar que a literatura é patrimônio do Estado, tanto quanto a língua usada? Volta e meia, eu me deparo com esta questão porque a literatura se utiliza da palavra como instrumento de expressão da cultura. Este é um tema essencial da expressão de um povo, dado que a literatura revela um tempo histórico, político, social e cultural. A literatura, através dos seus diferentes estilos, aborda fatos, revela acontecimentos e avalia tendências de um momento. Possui riqueza artística, exigindo do seu criador tantos cuidados como os dos designers de joias. Não é produzida de qualquer jeito. Principalmente a literatura infantil, que não é historinha para criancinhas. É, sim, a composição literária que adentra o imaginário universal para encantar, em sua primeira finalidade, e mostrar à criança o mundo concreto em que ela vive.

Em cada obra literária há saberes relevantes a serem preservados, a infantil tem um sentido enriquecido pelo desenvolvimento do gosto pela leitura. Aliás, a literatura guarda em suas linhas a sedução ao prazer de ler. Quem lê quer conhecer mais para compreender melhor a vida. Quem lê pretende ampliar seus horizontes para aprimorar seus objetivos de vida. Estes sentidos estão presentes nas obras literárias, construídas em tempos e lugares diferentes. Alice no País das Maravilhas é uma obra sábia; dos oito aos oitenta anos, cada capítulo oferece ao leitor fontes para degustação e reflexão. Isso se pode dizer da milenar obra As Mil e Uma Noites. Ah, será que não precisamos, vez em quando, ter a sutil inteligência de Sherazade? Tenho vontade de me aprofundar em uma obra clássica de literatura infantil e trazer algumas reflexões aqui. Diariamente, em cada lugar, há um Chapeuzinho Vermelho sendo seduzido pelo Lobo Mau. Quem não vai num evento e se depara com um Grilo Falante?  Quem não guarda um Pequeno Príncipe dentro de si?

O escritor e sua obra precisam ser minimamente apoiados pelo Estado, através de salas de leituras nas escolas, bibliotecas nos bairros, concursos e programas de produção literária, distribuição de livros pelas prefeituras, feiras e festas literárias. Especialmente a literatura infanto juvenil. Não se desenvolve hábitos de leitura através de discursos, mas de exemplos. Pais leitores criam filhos leitores. Professores leitores formam alunos leitores. 

Quem lê, conhece muito bem aquele Coelho apressado e supõe aonde ele vai. Por falar nele, o Gato de Botas acabou de passar por aqui. E vou atrás dele para... Ah, boba serei se ficar comendo mosca.  

 

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Um fortuito aperto de mãos entre a literatura e a medicina

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Como a literatura é eclética! Imagino que o escritor seja como um colhedor de flores que seleciona e reúne plantas de vários espécimes para fazer arranjos e compor os ambientes em que vivemos, melhorando nossos modos de ser e de viver. Como toda arte, a literatura tem a perspicácia dos caçadores de esmeralda. Como toda a ciência, a medicina tem o espírito investigativo de Sherlock Holmes, que tudo precisa saber para resolver, além de ter nas mãos a divindade do tratamento e da cura.

Como a literatura é eclética! Imagino que o escritor seja como um colhedor de flores que seleciona e reúne plantas de vários espécimes para fazer arranjos e compor os ambientes em que vivemos, melhorando nossos modos de ser e de viver. Como toda arte, a literatura tem a perspicácia dos caçadores de esmeralda. Como toda a ciência, a medicina tem o espírito investigativo de Sherlock Holmes, que tudo precisa saber para resolver, além de ter nas mãos a divindade do tratamento e da cura. A literatura e a medicina são dois prismas da atividade humana que carregam a nobreza dos deuses do Olimpo.

Esta coluna foi inspirada pela vasta obra de Augusto Cury. Além de ser médico psiquiatra, com doutorado em Psicologia Multifocal pela Flórida Christian University, é professor, conferencista, pesquisador e escritor, um dos mais vendidos autores no mundo sobre a inteligência humana. Ao transitar com desenvoltura entre o romance e a autoajuda, ele aproxima estes gêneros literários com a finalidade de exaltar o funcionamento da mente humana e estabelecer relações entre o uso das suas capacidades e as formas de viver. Em sua obra, ele descreve o funcionamento da mente nos livros de autoajuda, como no Código da Inteligência, e mostra nos romances a experiência existencial, como Prisioneiros da Mente. O que, a meu ver, pode ser interessante ao leitor de seus livros, que tem a possibilidade de conhecer e visualizar os pressupostos por ele apresentados em perspectivas diferentes.

Muito me preocupa a literatura de autoajuda sem o respaldo da ciência, construída a partir da visão empírica, que se baseia na experiência pessoal. Fundamentada no rigor dos estudos científicos, a obra de Augusto Cury merece nosso respeito. 

 O mundo civilizado foi construído pela inteligência do homem. As realizações ou feitos foram consequência do modo como as capacidades intelectuais foram usadas ao longo da história. Em todos os momentos houve discrepâncias e dualidade de sentidos, a vida civilizada não seguiu de modo linear em direção à preservação da vida e ao respeito à individualidade. Infelizmente. 

O que tinham de especial os homens que contribuíram para o aperfeiçoamento das condições de vida como Leonardo Da Vinci, Sabin e Sócrates? Seria curiosidade, amor à vida, capacidade de pesquisar e discernir? Fizeram autópsia no cérebro de Einstein e não encontraram diferenças com os cde outras pessoas. 

Nas profundezas do quotidiano de cada um, a inteligência é fator preponderante para a conquista da qualidade de vida, especialmente das relações interpessoais. Tenho certeza de que para conquistá-la é bom compreendermos melhor como configuramos nossa mente a cada instante do dia e de que forma usamos as capacidades que possuímos.

 

Alguns livros de Augusto Cury:

. Pais Brilhantes e Professores Fascinantes;

. Nunca Desista dos Seus Sonhos;

. Você é Insubstituível;

. O Futuro da Humanidade:

. O Código da Inteligência;

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A música carnavalesca esbanja literatura

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Não é porque estamos em tempos de pandemia que o carnaval vai se encolher pelas frestas da cidade como um refugiado, que procura pequenos espaços para eclodir em vida. Ah, o carnaval é solene! Triunfa nas ruas como uma festa popular que inunda cidades do planeta há séculos. No Brasil, chegou nos tempos coloniais e se enraizou. Entretanto, neste ano de 2021, como forma de preservar a saúde, o carnaval vai vibrar no brasileiro de outras formas, já que seu coração bate no ritmo do bumbo. Mesmo os que não brincam nos blocos, mas cantarolam, movimentando os pés ou as mãos ao som do samba. 

Não é porque estamos em tempos de pandemia que o carnaval vai se encolher pelas frestas da cidade como um refugiado, que procura pequenos espaços para eclodir em vida. Ah, o carnaval é solene! Triunfa nas ruas como uma festa popular que inunda cidades do planeta há séculos. No Brasil, chegou nos tempos coloniais e se enraizou. Entretanto, neste ano de 2021, como forma de preservar a saúde, o carnaval vai vibrar no brasileiro de outras formas, já que seu coração bate no ritmo do bumbo. Mesmo os que não brincam nos blocos, mas cantarolam, movimentando os pés ou as mãos ao som do samba. 

O espírito carnavalesco vai além da liberdade, do prazer e do gingado. Pousa como um colibri na inspiração dos autores das letras de carnaval, que buscam no quotidiano do povo e na história motivos para criarem poemas que vão se eternizar nas melodias. O samba é um símbolo relevante do carnaval, que surgiu na cidade do Rio de Janeiro, no Estácio. O primeiro samba gravado no Brasil foi Pelo Telefone, em 1917, cuja letra foi criada por Mauro de Almeida. Até hoje é cantado nos cortejos e blocos carnavalescos.

O chefe da polícia

Pelo telefone

Mandou me avisar

Que com alegria

Não se questione

Para brincar

Os desfiles de escolas de samba são puxados pelo samba-enredo, de modo que todos os integrantes seguem cantando, dançando e interpretando um tema, dando estilo e alegria ao desfile. São poesias que contam histórias, fazem reverência às personalidades que construíram ou ainda constroem a vida de um lugar. Que mostram fatos culturais que influenciam modos de ser e de fazer de um povo. Enfim, é uma construção literária que envolve pesquisa, ritmo musical e, acima de tudo, o amor ao carnaval.

O Clube Vivências, organizado por Márcia Lobosco, está brindando este carnaval com a leitura de sambas-enredos, lidos e interpretados pelas participantes. Além de ser um momento delicioso, ao lê-los e escutá-los diariamente percebemos a beleza dos seus versos, a mensagem que engrandece a vida, as pessoas e o lugar. Ela nos faz a cada interpretação beber a expressão carnavalesca numa das mais alegres fontes literárias.

 

Samba-enredo da Mangueira 1986

Caymmi Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm

 

Tem xim-xim e acarajé

Tamborim e samba no pé

 

Mangueira vê nos céus dos orixás

O horizonte rosa no verde do mar

A alvorada veste a fantasia

Pra exalar Caymmi e a velha Bahia ô ô ô

Quanto esplendor

Nas igrejas soam hinos de louvor

E pelos terreiros de magia

O ecoar anuncia o novo dia

Nessa terra fascinante

A capoeira foi morar

 

O mundo se encanta

O mundo se encanta

Com as cantigas que fazem sonhar

Com as cantigas que fazem sonhar

 

Lua cheia

Leva a jangada pro mar

Oh! sereia

Como é belo teu cantar

Das estrelas

A mais linda está no gantois

Mangueira berço do samba

Caymmi a inspiração

Que mora no meu coração

Bahia terra sagrada

Iemanjá, Iansã

Mangueira super campeã

 

Para finalizar, deixo a deliciosa poesia da marchinha de carnaval, Máscara Negra, de Zé Keti.

Tanto riso, oh quanta alegria

Mais de mil palhaços no salão

Arlequim está chorando pelo amor da

Colombina

No meio da multidão

 

Foi bom te ver outra vez

Tá fazendo um ano

Foi no carnaval que passou

Eu sou aquele pierrô

Que te abraçou

Que te beijou, meu amor

Na mesma máscara negra

Que te esconde o teu rosto

Eu quero matar a saudade

Vou beijar-te agora

Não me leve a mal

Hoje é carnaval

 

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Trova, a borboleta que pousa em nossa alma

terça-feira, 09 de fevereiro de 2021

Nesta semana, andando com tranquilidade pela Praça Getúlio Vargas, observei,
mais uma vez, as trovas presas aos postes, colocadas em 2018, quando a cidade de
Nova Friburgo comemorou 200 anos. Que lindeza literária! As trovas são delicadas
meninas que dançam pelos vales da nossa cidade. Mas, depois deste momento de
orgulhoso encanto, fui tomada por uma sensação quase oposta, carregada pela
pergunta: por que o friburguense não valoriza suas conquistas, sua história e sua

Nesta semana, andando com tranquilidade pela Praça Getúlio Vargas, observei,
mais uma vez, as trovas presas aos postes, colocadas em 2018, quando a cidade de
Nova Friburgo comemorou 200 anos. Que lindeza literária! As trovas são delicadas
meninas que dançam pelos vales da nossa cidade. Mas, depois deste momento de
orgulhoso encanto, fui tomada por uma sensação quase oposta, carregada pela
pergunta: por que o friburguense não valoriza suas conquistas, sua história e sua
gente? Parece que há uma indiferença reinante, um certo desleixo com o passado, que
nos presenteia todos os dias com realizações que mudaram as circunstâncias de
épocas passadas, os modos de pensar, de viver e criar. Enfim, não fazemos parte de
uma geração espontânea, somos, sim, a síntese de todas as construções realizadas, de
modo que o passado se faz presente em todos os momentos da atualidade.
Nova Friburgo é o Berço dos Jogos Florais desde 1960! Quem sabe que
anualmente a cidade reúne e premia trovadores de vários estados do Brasil e países do
mundo? Enquanto cidade da trova acolheu grandes artistas da palavra poética, como
JG de Araújo Jorge, hoje continua sendo embelezada por Elisabeth Souza Cruz,
presidente da União Brasileira de Trovadores, Sérgio Bernardo e outros trovadores.
Da mesma forma que Nova Friburgo foi criada por um Decreto Real, por Lei
Municipal recebeu o título de Cidade da Trova em 2004. Trova é literatura, é uma
composição poética de quatro versos de sete sílabas, que traz a voz do povo, revela
sentimentos nobres, brinca com as situações de vida, recita o amor, a tristeza e o
sonhar. A trova desperta a vontade de viver, estimula boas reflexões sobre as relações
humanas e mostra que a vida tem a beleza do beija-flor. É a borboleta que pousa em
nossa alma e nos enleva.

Longe de ser invasão,
Ser dependência ou acinte,
Tu és amor, a razão
Para o meu dia seguinte

Elisabeth Souza Cruz, Jogos Florais 2020

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O voo do livro infantil

segunda-feira, 01 de fevereiro de 2021

Faz tempo que não escrevo sobre a literatura infantil. Lendo alguns textos
e entrevistas de Ricardo Azevedo, mestre em Letras e doutor em Teoria
Literária, escritor e ilustrador, autor de aproximadamente cem livros de
literatura infantil, como Nossa rua tem um problema (1993), Dezenove poemas
desengonçados (1998) e Se eu fosse aquilo (2014), editados pela Ática, fui
carregada por ideias iluminadas sobre o escrever para crianças.
Tenho a impressão de quem escreve para crianças tem vontade de

Faz tempo que não escrevo sobre a literatura infantil. Lendo alguns textos
e entrevistas de Ricardo Azevedo, mestre em Letras e doutor em Teoria
Literária, escritor e ilustrador, autor de aproximadamente cem livros de
literatura infantil, como Nossa rua tem um problema (1993), Dezenove poemas
desengonçados (1998) e Se eu fosse aquilo (2014), editados pela Ática, fui
carregada por ideias iluminadas sobre o escrever para crianças.
Tenho a impressão de quem escreve para crianças tem vontade de
despertar a própria capacidade de imaginar. Também de dar as mãos ao
pequeno leitor e convidá-lo a passear pelo imaginário através de enredos
criativos, sensíveis e divertidos. É uma viagem em que o escritor e o leitor
interpretam os sentidos da vida, cada um ao seu modo e ao seu ponto de vista,
a partir de esforços para compreender as coisas deste mundo permeado por
diferenças, por situações, muitas vezes, ambíguas e incompatíveis com o ser
criança. Inclusive destrutivas. Os passos nos caminhos em que a fantasia
colore a realidade devem ser livres. Leves e desprendidos de preconceitos.
Porém respeitosos, responsáveis e equilibrados pelos valores humanos. Que
belo passeio pode-se dar no mundo maravilhoso de Alice no País das
Maravilhas, tão bem imaginado por Lewis Carol. O que se pode encontrar nas
As Aventuras de Pinóquio, guiada pelas ideias de Carlo Collodi? O que será
possível descobrir no O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato? Ah,
são tantas deliciosas viagens ao universo da imaginação!
O sentido da vida, as circunstâncias e as coisas deste mundo são
reveladas através dos livros, de modo que a realidade em que o leitor está
imerso é mostrada de modo lúdico. A literatura não é conclusiva, nem fonte de
lições. É vida e mais vida, a maior mestre de todos os tempos.
A individualidade da criança é preponderante aos olhos do escritor, que
jamais escreve para si. Um grande sedutor? Talvez tenha de sê-lo, bem como
hábil para transformar sua história num portal à reflexão de questões
relevantes, para inserir a criança no universo inquietante do pensamento

construtivo e fazê-la viajar pelos meandros do imaginário infantil. A literatura
infantil não pode ser depreciada ao âmbito das historinhas e dos livrinhos.
O livro infantil tem de voar mundo afora, carregando em suas páginas
ideias uivantes e coloridas. Fazedoras de homens valorosos.

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Será que somos civilizados?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Neste início de ano, em plena pandemia e entre tantos acontecimentos,
também por estar estressada e triste, quis aprofundar meus laços afetivos e
literários com os animais. Logo, na primeira semana, adotei uma cachorrinha
abandonada na estrada. Como me fez bem cuidar dela, tive a sensação de
estar resgatando o mundo dos seus males. Duas semanas depois, foi um
encantamento por um cavalo que vive sozinho num terreno. Que vontade estou
tendo de trazê-lo para casa e fazê-lo feliz.
Dedico esta coluna aos animais também por querer conhecê-los mais e

Neste início de ano, em plena pandemia e entre tantos acontecimentos,
também por estar estressada e triste, quis aprofundar meus laços afetivos e
literários com os animais. Logo, na primeira semana, adotei uma cachorrinha
abandonada na estrada. Como me fez bem cuidar dela, tive a sensação de
estar resgatando o mundo dos seus males. Duas semanas depois, foi um
encantamento por um cavalo que vive sozinho num terreno. Que vontade estou
tendo de trazê-lo para casa e fazê-lo feliz.
Dedico esta coluna aos animais também por querer conhecê-los mais e
entender um pouco melhor meus sentimentos. Ao escrever, vou pesquisar e
avaliar minhas sensações a respeito deles; a literatura sempre oferece meios
para que possamos ampliar nossos conhecimentos e sentidos de vida.
O primeiro livro que abracei foi o de Silvia Othof, Os Bichos que Tive,
editora Salamandra, 18ª. edição, em que a autora relata sua relação com os
animais quando criança. Nas primeiras páginas, perguntas me invadiram: por
que as crianças estabelecem uma relação de afeto tão plena com os animais e
de tamanha beleza? Por que alguns adultos não percebem o modo como os
animais vivem, o que sentem e de que forma olham para a vida? Ah, os
animais têm uma percepção que não temos. Às vezes, penso que são anjos
que vêm à Terra buscar aprimoramento e cuidar de outros seres, como nós.
Lendo Sylvia, eu me dei conta de que os animais, ao participarem do
processo de formação do ser humano, oferecem importantes contribuições. A
criança que convive com animais tem algo de diferente das que não convivem.
Eles são companheiros e tanto podem nos ensinar, posto que possuem
especial sabedoria que exigem de nós acuidade mental para que possamos
perceber intenções significativas às nossas necessidades em suas atitudes e
reações. Quando meu marido infartou, o olhar da minha cachorra Vênus
brilhava de modo diferente, reluzia. Ela sentiu, antes de todos nós, que a saúde
dele estava correndo riscos. O cavalo, ao perceber que eu estava estressada e
de luto pelo meu filho que faria aniversário se aqui estivesse e por uma amiga
de infância que partiu, aproximou-se, levantou sua cabeça sobre o arame

farpado e encostou seu focinho em mim. O que me fez tão bem, trouxe-me
afeto e alegria. Beto adorava animais!
A belíssima história de Beleza Negra, clássico da literatura inglesa, escrito
por Anne Sewel, publicado em 1877, livro que esteve na estante da casa da
mamãe enquanto minha irmã e eu éramos crianças. Como a leitura me tocou!
É um relato autobiográfico de um cavalo que sofre inúmeras crueldades ao
longo de sua vida. O pior que, infelizmente, a história é, hoje, vivida por cavalos
em todos os cantos do mundo. Vou até relê-lo para me tornar mais humana.
Outra obra que busquei foi a de Lygia Bojunga, Os Colegas, 48ª. edição,
editado pela José Olympio, que conta a história de cachorros de rua, Virinha,
Latinha, Flor, Voz de Cristal que vivem num terreno baldio, ao lado de um
coelho e outros animais. A história me remete aos cachorros que andam em
bandos pelas ruas e campos, suas difíceis vidas, brincadeiras e rivalidades.
Eles têm uma vida socialmente silenciosa, pouco considerada por nós, seres
civilizados. Mas será que somos mesmo?
Por último, “fui acolhida” pelo Angel Dogs: Anjos de Quatro Patas, de
Allen e Linda Anderson, editado pela Giz Editorial, em 2008. É um livro que
mostra que os cachorros não são apenas companheiros, mas guias espirituais.
Acho muito difícil trazer o cavalo para minha casa, mas vou estar atenta a
ele, pronta para compartilhar afeto. A cachorrinha e o cavalo trouxeram vida ao
meu mês de janeiro. Que bom!

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Tempo de faxina

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Buscando ideias para escrever a coluna desta semana, pensei numa amiga, Patrícia Mellodi, cantora e compositora, que compôs uma deliciosa música, Faxina Geral. Considero a letra uma poesia sobre o tempo de passagem, em que fechamos um capítulo da nossa história e recomeçamos outro. 

Buscando ideias para escrever a coluna desta semana, pensei numa amiga, Patrícia Mellodi, cantora e compositora, que compôs uma deliciosa música, Faxina Geral. Considero a letra uma poesia sobre o tempo de passagem, em que fechamos um capítulo da nossa história e recomeçamos outro. 

O início do ano é tempo de ajeitar os copos na cristaleira, dar um jeito nas gavetas e arrumar o baú de guardados. É tempo de varrer a casa, de tirar as teias de aranha e limpar a sujeira debaixo do tapete. Janeiro é o mês em que se coloca a vida em dia para começar o ano, um novo tempo, que tem ares carregados de esperanças. 

Principalmente neste ano de 2021, depois de tudo o que vivemos no ano passado, precisamos abrir um novo diário. Aí, meu amigo, é bom tirar as cracas que ficaram encruadas em nós para fazermos a roda da vida girar.

Toda vez que escuto a música da Patrícia, sinto vontade de me virar pelo avesso. Sua música me é um estímulo para ir além e superar dificuldades, que, comumente, são as grandes e as pequenas pedras que me machucam os pés. Como dou tropeços e topadas!

Deixo, então, aqui, a letra de Faxina Geral para motivar a todos a pegarem as flanelas e engraxarem os sapatos.

 

FAXINA GERAL

Vou fazer uma faxina

Botar a casa em ordem

Dar uma geral

No meu coração

Vou dar um fim na poeira

Lavar com mangueira

A recordação

Descongelo a geladeira

Dou tudo o que é teu

Mudo a roupa de cama

Troco a cor das paredes

Eu armo uma rede

Acendo um incenso

Incendeio o colchão

Abro todas as janelas

Acendo uma vela

Faço uma oração

Pra Santo Antônio

E num baby-doll de cetim

Pronta pra só dizer sim

Com a casa da alma lavada

Escancaro o portão

 

Que é pra ver se vem

Um novo amor

Que é pra ver se sou

Feliz outra vez

 

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O grande encontro

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

São raros os momentos na vida em que nos deparados com a verdade,
em que sentimos que somos invadidos pela constatação de fatos, que, muitas
vezes e naturalmente, negamos reconhecê-los como realidades presentes em
nossa história de vida. Um desses raros momentos é o da morte. Ninguém
consegue mentir na hora de findar.
A maioria das pessoas, como eu, não gosta de pensar nesta última etapa
da vida, nos minutos finais. A médica Ana Claudia Quintana Arantes, autora do
livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, editado pela Casa da Palavra,

São raros os momentos na vida em que nos deparados com a verdade,
em que sentimos que somos invadidos pela constatação de fatos, que, muitas
vezes e naturalmente, negamos reconhecê-los como realidades presentes em
nossa história de vida. Um desses raros momentos é o da morte. Ninguém
consegue mentir na hora de findar.
A maioria das pessoas, como eu, não gosta de pensar nesta última etapa
da vida, nos minutos finais. A médica Ana Claudia Quintana Arantes, autora do
livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, editado pela Casa da Palavra,
em 2016, através de uma escrita leve e cativante, por incrível que pareça,
coloca-nos frente a frente com a premissa: a única certeza de que temos na
vida é que vamos morrer um dia. Com vasta experiência e estudiosa em
Cuidados Paliativos, prática da medicina que, segundo a Organização Mundial
de Saúde, consiste na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar
que objetiva a melhora da qualidade de vida de pacientes e de seus familiares
diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio
do sofrimento.
Ah, a literatura nos salva durante a vida, do nascer ao morrer. Esse livro
tem me mostrado que estar preparado para o derradeiro momento é um modo
de findar com dignidade. Ler, pensar, falar e escrever a respeito é um ato de
coragem e de amor a si. Não é um gesto de autoconsolo, mas um modo
amadurecido de refletir sobre a vida, ou seja, uma avaliação sobre as decisões
que tomamos e como as realizamos. A vida é única. O tempo passa e não
retorna. Cada dia acordamos para um dia diferente. O modo como vamos
morrer será a síntese de tudo o que vivemos.


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(Poema Tabacaria de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa)

Nosso poeta, através do seu heterônimo, revela a essência da existência
humana na primeira estrofe de “Tabacaria”: somos seres em permanente
realização.
Na proximidade da morte, as dimensões espiritual e emocional dominam
a consciência. É o grande encontro. Não é um momento de abandono, nem de
deterioração. Mas de cura.
Quando partimos deixamos nossas gavetas cheias. Não levamos malas
carregadas de materialidades. Neste momento, podemos nos tornar heróis
quando temos a possibilidade de perceber grandezas: a nossa, a do outro e a
da natureza.
A literatura ao nos oferecer a possibilidade de compreender o processo
de morte com sabedoria, nos abre os olhos para lidar com a vida de modo
diferente, para observar o que nossas decisões têm nos oferecido e para
constatar o que temos possibilidades de ser e de fazer.

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