Hoje, vou fazer uma homenagem ao patrono da Academia Friburguense de
Letras, Julio Salusse, autor de um dos sonetos mais lindos de todos os tempos,
publicado em vários países, um dos poemas mais declamados no final do século XIX e
início do século XX. “Cisnes...”.
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,
Hoje, vou fazer uma homenagem ao patrono da Academia Friburguense de
Letras, Julio Salusse, autor de um dos sonetos mais lindos de todos os tempos,
publicado em vários países, um dos poemas mais declamados no final do século XIX e
início do século XX. “Cisnes...”.
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,
Sobre ele, quando desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne...
Julio Salusse nasceu na Fazenda do Gonguy, no atual município de Bom jardim,
em 1872, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1948. Cursou Direito, tornou-se promotor
público e exerceu atividades políticas em Nova Friburgo. Como escritor, publicou três
livros de poesias, “Nevrose Azul” (1894), em que “Cisnes” foi publicado, “Sombras”
(1901) e “Fitas Coloridas”. E uma novela, “A Negra e o Rei” (1927).
A beleza do soneto está na fidelidade, atitude valorosa daquele que tem
compromisso com quem ama, que expressa verdade em suas intenções, palavras e
ações, que jamais abandona a pessoa querida. Ah, como Saint-Exupéry tinha razão
quando falou da responsabilidade do gostar. O amor não pode ser banalizado, precisa
ser honrado em cada momento da relação.
Certa vez, na Fazenda Marambaia, Corrêas, região serrana do Rio de Janeiro, vi
um casal de cisnes negros nadando num lago. Os dois vagavam sobre as águas em
calmaria, sempre um ao lado do outro. Caso um se adiantasse, logo parava, olhava
para trás e aguardava o companheiro. Eles deslizavam silenciosamente, numa paz
encantada. Parceira. Eu recitava, em pensamento, o soneto de Salusse, não só para
tornar pleno aquele instante, mas para compreender o significado do
companheirismo. A poesia de Julio me mostrava, em cada verso, o espetáculo que eu
via naquele lago, uma paisagem serena, iluminada pelo sentimento daquelas aves
aquáticas, que tinham tanto a me ensinar.
“Cisnes” é mais do que uma poesia. É uma proposta de vida, um modo de
mostrar o acontecer da vida. Naquela manhã, em Corrêas, observei a simplicidade,
carregada de amor e consideração.
“Cisnes” precisa ser mais lido e declamado para adentrar os afetos, acalentar
desejos e reforçar valores. Não foi à toa que a Academia Friburguense de Letras elegeu
Salusse como patrono.
Aqui cabe uma observação: o cisne possui características especiais. Além de ser
uma ave belíssima, aquática e inteligente, representa o amor eterno, uma vez que
possui apenas um parceiro durante a vida, sendo-lhe fiel até a morte. É um animal
elegante e demonstra harmonia nos movimentos, inclusive quando voa. O
acasalamento começa com movimentos sensuais, principalmente no pescoço, quando
o macho e a fêmea unem suas cabeças, formando um coração.
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