Qual livro?

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 07 de março de 2022

Taí, esta é uma pergunta que volta e meia a gente se faz. É um questionamento que guarda um valor imenso, caso seja para dar um livro a um filho, neto ou a uma criança. Caso seja um professor. A pergunta também é pertinente para quem quer presentear alguém ou para a escolha de uma leitura pessoal.

Confesso que para mim é uma questão bem delicada, posto que a leitura pode tocar as pessoas no mais fundo das emoções. Especialmente se for criança ou jovem porque, acima de tudo, o conteúdo de um livro influencia os processos de amadurecimento pelos quais está passando.  

A escolha de um livro precisa considerar aspectos diversos, a começar pelo fato de que o processo de produção literária pulsa na imaginação dos escritores que constroem textos; pulsa nos traços dos ilustradores que a recontam através de imagens ou apenas na capa e contracapa; pulsa nas telas dos diagramadores que configuram o texto nas páginas com harmonia, intercalando-o com ilustrações, no caso dos infantis; pulsa no planejamento dos editores que produzem o livro; pulsa, enfim, no leitor que decodifica o texto e reflete sobre as mensagens nele contidas. 

O leitor está no mundo concreto, vivendo e convivendo com as diversidades do existir. A cada instante se depara com questões conflitantes e instigantes. Buscando respostas, vai conhecendo a si mesmo e o outro, apreendendo o ambiente e lidando com a interminável quantidade de informações e solicitações. O fato é que somos seres de relacionamento e nos vemos através do que nos toca. 

O livro é, de fato, um objeto de consumo. Um bom presente, inclusive. Trata-se de um produto intermediário entre o leitor e a vida, a natureza e a civilização em toda sua história. 

Escritores e toda a equipe de produção editorial sentem a existência de modo particular. É essa sensibilidade que vai fazendo com que delineiem palavras, imagens e configurem o livro, um objeto de inteireza criativa e original.

 Vamos dizer, então, que quem participa do fazer do livro literário manifesta com sensibilidade um modo próprio de sentir, pensar e viver. O livro é expressão criada por artistas sobre os fatos da vida. 

Quando o leitor está entretido num livro, percebe, mesmo que de modo inconsciente, que o que vive está ali, sendo experimentado pelos personagens ou exposto no texto. É um acolhimento. Lendo, compartilha a solidão do sentimento do existir. Não é à toa que os leitores gostam de conhecer os escritores de seus livros e ver os personagens no cinema ou teatro. 

O leitor tem necessidade de falar de si, da sua visão particular que a cada dia constrói do mundo. E a literatura possibilita isto. Falando de um texto, fala também de si. Escuta outro leitor, conversa a respeito, debate temas. Interage culturalmente.

O leitor que aproveita a literatura sente no seu quotidiano o livro pulsar como um coração, até porque, independentemente da idade, ele é um eterno aprendiz. 

E, aí, meu amigo, qual livro você me daria?

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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