Tanto já se falou de palavras

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Hoje eu me dei o direito de escrever livremente, como uma gaivota que plaina
no ar, sem mistérios nem compromissos, em busca do prazer de voar com plenitude.
Tanto já se falou de palavras neste mundo cheio de cantos e aforas, e eu pouco delas
falei, entretanto muito delas usei. Sou grata às palavras porque por elas sou feita. As
palavras fazem meu texto, e eu os enfeito sinônimos e brinco com os homônimos. São
espaçosas e individualistas! Querem destaque nas frases, exigem estar separadas por
espaços e suscitam interação com todas as outras. São inteligentes e sabem passar a
perna, se revestindo de vários significados e sobrevivendo nas entrelinhas. São quase
delinquentes quando se escamoteiam nas cartas e discursos.
Ah, as palavras, como são débeis e doces! Nunca se espantam, apesar de
causarem tantos sustos, surpresas e assombros. Flutuar entre os ventos quando a bela
da tarde fecha a porta e vira a esquina. Nunca deixam de ser arremessadas contra a
parede quando desejam insultar e revelar verdades. Sempre têm a mansidão das
nuvens que vagam pelos céus quando saem da boca dos apaixonados.
Palavras são fáceis de se tocar e usar; a qualquer instante estão disponíveis.
Todavia não são vulgares, apesar de serem batidas e caírem ao chão com facilidade. Os
que sabem usá-las podem repeti-las em cadência dias a fio. São as donas do mundo
que regem o que tudo acontece em seus continentes e em suas terras frias. Contudo
poucos reconhecem o poder que possuem. São dominadoras e escravizam. São
parceiras e discretas. Sabem revelar os mais belos sentimentos como nenhum outro
gesto. Substituem os trejeitos, sendo capazes de realizar um propósito com mais
eficiência do que qualquer movimento.
São versáteis porque compõem poemas, bilhetes ou notas sem titubearem. São
a fonte da literatura. O escritor as utiliza, usando e abusando das possibilidades que
cada palavra lhe oferece. Além do mais, sobrevivem ao tempo e viajam pelos espaços.
Há palavras que são criadas nas emoções e, quando ditas, bem ou mal, ficam
vivas, até à eternidade. Não temem a morte porque são imortais. Mesmo que ninguém

as transporte em malas, só habitam nas cartas, periódicos e documentos.
Especialmente nos livros.
Cá entre nós, sempre foram mestras eficientes. Sem dúvida!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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