Cada mulher é um lado da dobra da folha de papel

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Hoje, vou escrever sobre a mulher. Não especialmente a respeito da literatura. Se bem que todo ser vivo é pura literatura ao reunir e misturar as histórias de diversas entidades que possam constituí-lo, como a da criatura, do sujeito, da pessoa e a do indivíduo. Todo e qualquer ser é o mais completo protagonista, é contundente narrador dos fatos experimentados. O mais dramático, inusitado e cômico personagem das cenas vividas.

Para mim, sob o ponto de vista feminino, é fácil escrever sobre a mulher. Talvez pelo masculino seja mais difícil. Ah, a mulher! A intuição exala como um gás natural na sua alma, que a faz mover-se vida afora, a usar palavras que fluem com agudeza. Sua percepção tem nuances subjetivas, que lhe permite notar os mais significativos detalhes. Daí a beleza do ser fêmea, que tem um modo de tocar as situações com delicadeza, mesmo tendo o poder da rudeza fortalecido em suas veias.

Neste momento, o Planeta Terra está em sofrimento, causado por uma guerra decidida por titãs, em que o povo, apenas o povo, é cruelmente sacrificado. Ao acompanhar as mulheres que fogem da Ucrânia, carregando uma vida inteira dentro de poucas sacolas, levando seus filhos e animais para um lugar diferente, indo em direção a um futuro desconhecido é, sem dúvida, um dos grandes espantos que senti. A coragem de seus passos emanam incomparável resiliência. Ao vê-las, como sinto orgulho de ser mulher! 

Nas cenas que vi na tela da televisão, aqui do Brasil, país distante do Leste da Europa, me foram impactantes. Dolorosas. A cada mulher que via caminhar em direção ao incógnito e ao obscuro, tinha vontade de abraçar e acolher todas aquelas que deixavam para trás suas histórias. Ao vê-las, as palavras de Saint Exupéry, escritas em “Terra dos Homens”, me envolveram. “Não há como substituir um velho companheiro. Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns, de tantos momentos difíceis vividos juntos, tantas desavenças e reconciliações, tantas emoções compartilhadas. Não se reconstroem essas amizades. É inútil plantar um carvalho na esperança de poder, em breve, se abrigar sob sua sombra.”. 

O que será do futuro da Ucrânia com a ausência de suas grandes amigas, as mulheres, que fizeram a história daquele lugar acontecer, dando-lhe constituição e identidade? Cada mulher é um lado da dobra de uma folha de papel. 

Diariamente, eu, mulher, admiro as que passam por mim ou as que estão ao meu lado. Eu as consagro como deusas que germinam o nascimento e o recomeço de tantos amanhãs. 

Que as ucranianas possam dar continuidade aos seus destinos e inaugurem novos momentos a serem construídos.

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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