Blog de terezamalcher_17966

Aos sobreviventes

segunda-feira, 04 de janeiro de 2021

Faço desta coluna uma carta aos sobreviventes, posto que assim me sinto. Sobrevivi à tragédia de 2011 e termino 2020 com saúde.

Acordei em 2021 com a paz dos náufragos que se deitam sobre a areia e descansam, olhando as nuvens que se movimentam no céu. Durante o café da manhã, Robson Crusoé, Malu Mulher, Jean Valjean e tantos outros personagens passearam pelo meu imaginário como conselheiros da manutenção da vida. Foi uma bela companhia.

Ah, a literatura nunca deixa de nos assistir! Cura-nos da estupidez. 

Faço desta coluna uma carta aos sobreviventes, posto que assim me sinto. Sobrevivi à tragédia de 2011 e termino 2020 com saúde.

Acordei em 2021 com a paz dos náufragos que se deitam sobre a areia e descansam, olhando as nuvens que se movimentam no céu. Durante o café da manhã, Robson Crusoé, Malu Mulher, Jean Valjean e tantos outros personagens passearam pelo meu imaginário como conselheiros da manutenção da vida. Foi uma bela companhia.

Ah, a literatura nunca deixa de nos assistir! Cura-nos da estupidez. 

Em dez anos, os friburguenses enfrentaram a tragédia de 2011, o Covid19, fatalidades e outros infortúnios. Agora, estamos ante 2021. Deveras prontos! Sempre que ando pelas ruas da cidade, vejo o friburguense fazer a vida com esperança. Apesar dos desafios, durante este tempo, quase 3. 650 dias, o destino desafiou a coragem e a força de superação da população. 

Penso que os dias iniciais de 2021 sejam propícios para compreendermos os acontecimentos que marcaram esta época. Seria bom que nos sentemos confortavelmente para assistir ao filme deste tempo, quando teremos a oportunidade de avaliar nossos feitos, erros e acertos. Será um momento de reconhecimento e amadurecimento. Afinal, fomos protagonistas e vivenciamos o acontecer de batalhas, derrotas e vitórias. Participamos do fazer histórico.  

Sim, senhor, como dizia Alice, a vida é uma aventura! É por esta razão que os escritores criam histórias de superação por todos os cantos do mundo, começando por Hilíada. Uma história sem enfrentamentos e superações não tem atrativo ao leitor, muito menos ao escritor para compô-la. Estes anos, enfim, nos exigiram raça, principalmente 2020 que mudou radicalmente e abruptamente nossos modos de viver. De fato, assumimos a posição de vanguarda no jogo da vida. Em todos os episódios desafiadores tivemos que buscar a criatividade para superarmos dificuldades. Fomos notabilizados por nossas realizações! 

Que possamos nos sentar à mesa com Fernando Pessoa nas mãos e pensar em 2021 com lucidez para superarmos nossas fraquezas.

Deixo, aqui, uma das suas sábias frases para reflexão.

 “Afasta-te da ignorância e da ilusão também. Vira o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles te mentem. Mas dentro do teu corpo – escrínio das tuas sensações – procura no impessoal o Homem Eterno; e, tendo-o procurado, olha para dentro; tu és Buda”.

(Os Dois Caminhos, em a Voz do Silêncio, ed. Civilização Brasileira, 1997)

 

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Entre mulheres, palavras e orvalhos

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Vou aqui relatar uma interessante experiência literária que tive recentemente. Com todas as dificuldades que enfrentamos neste ano de 2020, a literatura, mais uma vez nos mostrou seu poder de superação. É a expressão humana que está constantemente pronta a ir além. De apontar para horizontes, mesmo quando as nuvens carregadas retiram do nosso olhar o encontro da paisagem com o céu. É a arte que se aventura ao vazio, preenchendo-o com palavras cuidadas por pensamentos inquietos e mãos sensíveis. É o culto à beleza humana que nunca se esgota, mesmo nos tempos de pandemia.

Vou aqui relatar uma interessante experiência literária que tive recentemente. Com todas as dificuldades que enfrentamos neste ano de 2020, a literatura, mais uma vez nos mostrou seu poder de superação. É a expressão humana que está constantemente pronta a ir além. De apontar para horizontes, mesmo quando as nuvens carregadas retiram do nosso olhar o encontro da paisagem com o céu. É a arte que se aventura ao vazio, preenchendo-o com palavras cuidadas por pensamentos inquietos e mãos sensíveis. É o culto à beleza humana que nunca se esgota, mesmo nos tempos de pandemia.

Participei da coletânea Juntas e Diversas Contos, organizada por Márcia Lobosco, que reúne contos inéditos, escritos exclusivamente por mulheres, ilustrados com os sensíveis traços, também femininos. No início do processo de produção textual, nos momentos de inspiração, eu me lembrei de um texto escrito, guardado há mais de vinte anos, que ficava perambulando entre outros na minha pasta verde de páginas rascunhados. Foi uma das minhas primeiras tentativas de escrever um conto, que consistia no registro de uma memória, em que narrei o dia em que descobri o meu primeiro fio de cabelo branco. Foi uma relíquia que retirei daquele baú que todo mundo tem em que são repousados nossos melhores diamantes. Repousados porque a todo instante podem voar, ganhar novas formas e descobrir outros abrigos. E foi isso o que aconteceu. O texto em papel amarelado, escrito à mão, provavelmente com Caneta Bic, foi habitar num livro atual. Recebeu adornos e maquiagem. Ficou pronto para se apresentar ao leitor.

Ao ler os contos da coletânea, entrei em contato com a sensibilidade e a intuição feminina de cada uma das autoras, porém não tanto diferente uma das outras, até naqueles escritos em estilo ficcional. Ah, a mulher, não posso compará-la a nenhum outro ser que não seja mulher. Talvez porque pressinta que o feminino tenha o poder de perceber a alma de todos os seres que habitam neste planeta, inclusive das montanhas, que foram o mote do livro. Será que nossas montanhas são femininas? A palavra já é. Entretanto a rocha, coberta pela mata, é um ser feminino? Acredito que sim. Porque delas emanam uma tal emoção, uma tal empatia para com as pessoas que vivem em suas terras, que suscitam tamanha inspiração, ternura e receptividade. Porque acolhem e alimentam os mais variados tipos de vida.

Qual a mulher friburguense que não tem a firmeza de uma Catarina? O poder de purificar como as águas que nascem nos picos e nas encostas do Caledônia? A fertilidade de suas florestas? A dor das queimadas? Ah, as montanhas e nós mulheres friburguenses nos encontramos, nesta coletânea, entre palavras e orvalhos, e mostramos a resiliência que guardamos no ventre. Nossos textos viajaram do presente ao passado, encontraram-se com pessoas que já se transformaram em estrelas, refizeram caminhos e escalaram montanhas. Foi uma relação prazerosa. Mas tinha outro jeito de ser?

Esta experiência nos fez montanha. Com certeza. E se alguém assim me chamar, vou sentir orgulho das florestas que habitam meu corpo e dlos rios que correm em minhas veias.

 

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O cotidiano sob os olhos do cronista

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Ao pegar o livro de crônicas do nosso professor de português Robério José Canto, O Dia em que o Trem não Chegou, sua última publicação, em que ele reúne crônicas publicadas, tive o prazer de me deliciar com seus textos, tão bem escritos. Ah, como ele sabe usar o humor e a ironia com maestria! Para compô-lo, além do mais, é preciso ter o domínio da nossa língua, tão complexa e delicada, mesmo que romântica. 

Ao pegar o livro de crônicas do nosso professor de português Robério José Canto, O Dia em que o Trem não Chegou, sua última publicação, em que ele reúne crônicas publicadas, tive o prazer de me deliciar com seus textos, tão bem escritos. Ah, como ele sabe usar o humor e a ironia com maestria! Para compô-lo, além do mais, é preciso ter o domínio da nossa língua, tão complexa e delicada, mesmo que romântica. 

Eu diria que a crônica é como um estalo, tal qual o estouro de uma bola de inflar, que expõe um momento do cotidiano de um lugar. Que mostra de maneira inteligente o que está acontecendo sob o ponto de vista de um observador atento e minucioso. Talvez o cronista seja o escritor que mais precise de feeling para captar como as pessoas estão vivendo e reagindo, experimentando esperanças e fazendo o acontecer. Entre o abrir e o fechar de olhos, o cronista nota algo para refletir e comentar. É um ser em busca de motivos para sentir-se inserido e justificar suas inquietações. Fazer-se escritor. Pode ser um fato corriqueiro, porém revelado com criatividade e arte. Seu trunfo é a capacidade que possui de transformar o que já é sabido em algo interessante, de revelar um ponto de vista com sabedoria, como um gato debaixo de uma janela pode ser uma situação divina ao cronista, tal qual considerou nosso professor Robério em sua publicação anterior. 

A palavra crônica vem do latim chronica, que significa a narração a respeito de um acontecimento, respeitando a ordem dos fatos. A crônica nasceu na antiguidade, surgiu quando os reis precisavam de ter ciência dos fatos, das transações e dos conflitos; era um relato minucioso dos acontecimentos feito por um enviado. É um estilo literário que se caracteriza por uma narrativa curta, que não se detém com profundidade em um tema. Hoje, é um texto publicado em revistas e jornais.

Há leitores que apontam a crônica como sua leitura preferida, talvez por ser o cronista um filósofo, um pensador do seu tempo, que conversa de modo informal com pessoas da sua geração. Robério proseia sobre as verdades do Brasil com sutileza, sobre a vida, trazendo à tona fatos inusitados de tempos e lugares diferentes, bem como capta os mínimos detalhes da vida, enriquecendo-os com ditos populares. 

É um livro que pode ser lido com a tranquilidade dos pombos, uma vez que o leitor tem a prerrogativa de escolher os textos sem se preocupar com a sequência para, depois, deitar-se sob as nuvens da tarde e pensar, dormitar, ler...        

 

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O Impressionismo, a eterna dúvida e Tom Jobim

segunda-feira, 07 de dezembro de 2020

Dando continuação às reflexões que tive ao assistir, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes do século XIX e XX”, apresentado por Catherine Beltrão. A arte se movimenta no tempo, transformando suas expressões, mostrando o modo de pensar e de viver de uma época. Este tema me faz lembrar a visita que fiz ao museu de Van Gogh, em Amsterdã, quando passei uma manhã inteira observando suas obras, percebendo a sensibilidade com que ele captava as imagens da vida, a serenidade com que distribuía as cores na tela, principalmente o branco e o amarelo.

Dando continuação às reflexões que tive ao assistir, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes do século XIX e XX”, apresentado por Catherine Beltrão. A arte se movimenta no tempo, transformando suas expressões, mostrando o modo de pensar e de viver de uma época. Este tema me faz lembrar a visita que fiz ao museu de Van Gogh, em Amsterdã, quando passei uma manhã inteira observando suas obras, percebendo a sensibilidade com que ele captava as imagens da vida, a serenidade com que distribuía as cores na tela, principalmente o branco e o amarelo. No Impressionismo e no Pós-Impressionismo, as cores são simbólicas; são suaves e iluminam a cena, são incisivas e reveladoras da intimidade. 

Sempre busquei compreender as relações entre a literatura e a arte. O Curso de Imersão me ofereceu motivos mais instigantes ainda para mergulhar na pesquisa e na observação dos momentos históricos. O Pós-Impressionismo foi uma tendência artística que se manifestou na passagem do século XIX para o XX, que mudou a história da arte de um modo geral e nos transformou, fazendo-nos direcionar os olhos para nossas próprias impressões, como forma de autoconhecimento e libertação. O pensamento passou a valorizar a intimidade da pessoa, o seu mundo interior, a autopercepção. O Brasil amadureceu; deixou de ser colônia e tornou-se independente. Há uma interação sutil entre a arte e a história, na medida em que a literatura, sendo capaz de alicerçar o modo como se concebe a realidade sócio-econômica-política e cultural, exerce influência nas decisões e ações que determinam os rumos de uma nação. Tudo está interligado. Não há movimentos espontâneos e distintos, principalmente depois do advento da impressão tipográfica, no século XV. A edição de textos em grande escala favoreceu a expansão do inconsciente coletivo que se expressa através da arte. A força criativa faz parte da essência humana, e a literatura, enquanto arte da palavra, ganhou, então, poder incalculável. 

Para melhor entender este movimento, vale a pena compreender o Impressionismo, enquanto arte que revela o instante, as impressões sensoriais e o psicológico. Neste contexto, surge no Brasil, Machado de Assis!, presenteando-nos com a obra-prima Dom Casmurro, cujo romance penetrou de tal forma no âmago do personagem que foi capaz de trazer para a vida real sua cruel dúvida, que até hoje, ninguém conseguiu chegar à conclusão se Bentinho foi traído por Capitu ou não. Está eternizada.

Estou diante de um tema sedutor e interminável. Vou continuar a ler a respeito, escutando Tom Jobim, nosso grande maestro, que bebeu nas águas do Impressionismo para compor suas obras. 

 

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Arte

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Assisti, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes
do século XIX e XX”, apresentada por Catherine Beltrão, engenheira que
mergulhou no universo artístico, especialmente na pintura e na literatura,
autora do projeto Artenarede. A Imersão é um curso de curta duração e possui
um objetivo específico. Assim sendo, esta se constitui em duas palestras sobre
Vincent Van Gogh e Pablo Picasso, suas vidas, obras e contextualização
histórica da época em que viveram.
Como nos momentos iniciais nos foram apresentados conceitos

Assisti, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes
do século XIX e XX”, apresentada por Catherine Beltrão, engenheira que
mergulhou no universo artístico, especialmente na pintura e na literatura,
autora do projeto Artenarede. A Imersão é um curso de curta duração e possui
um objetivo específico. Assim sendo, esta se constitui em duas palestras sobre
Vincent Van Gogh e Pablo Picasso, suas vidas, obras e contextualização
histórica da época em que viveram.
Como nos momentos iniciais nos foram apresentados conceitos
interessantes sobre arte, fui tomada por várias reflexões e decidi apresentá-las
aqui. Até porque considero que o fazer desta coluna é uma construção
artística, posto que a arte é um universo criativo infinito do qual a literatura faz
parte, enquanto arte da palavra, escrita ou falada.
Ao escutar as apresentações iniciais do curso, imediatamente refleti sobre
a indissociável relação entre o autor e sua obra, independentemente da área
artística, enquanto resultado de uma entrega que eu diria embrionária. A arte é
gestada. Da ideia ao produto, há um processo intenso em que a inspiração é
transformada, através de uma delicada cadeia de produção criativa. Digo
cadeia porque há um entrelaçamento contínuo entre um momento e outro do
processo criativo. Cada obra é resultado de atos únicos. Nem mesmo o próprio
autor consegue reproduzi-los. Aqui, confesso que nunca consegui escrever um
texto de modo idêntico ao outro. Por isso, salvo-o no computador para não o
perder para sempre.
Não restam dúvidas que o artista já nasce com um potencial criador
especial. Entretanto, ele também possui uma história vinculada à arte. É no
âmago dessa experiência existencial que a capacidade criadora vai aflorando,
aos poucos, dia a dia, sendo resultado da vontade e da dedicação ao
aprimoramento dos próprios interesses, tendências e habilidades. O fazer da
arte é resultado de um contínuo e sensível processo de conhecer e de
experimentar. Muitas vezes, sofrido. Aliás, como tudo na vida.

A literatura possui identidade com todas as formas artísticas, capazes de
interpretar a realidade a partir de pontos de vista específicos. Ou seja, uma
mesma circunstância de vida pode ser decantada por expressões distintas,
como pela pintura e pelo texto literário.
A arte acompanha as tendências do tempo, através de movimentos que
possuem ideais similares aos do momento histórico, como o pós-
impressionismo, no século XIX, em que Vincent Van Gogh encontrou sua
expressão. Na literatura, tivemos grandes autores como James Joyce e
Virgínia Wolf, que escreveram obras-primas. Este movimento, especialmente,
retrata o cotidiano, além de evidenciar o pensamento e as emoções do
personagem. Estes artistas da palavra influenciam o modo como escrevo, uma
vez que seus textos invadem, com profundidade, a experiência diária. Tal qual
Virgínia Wolf aborda os “Músicos de Rua” num ensaio afinado com as
dificuldades desses profissionais, que não possuem condições de se
apresentarem em palcos estruturados como nos teatros. E, principalmente,
“Mrs. Dalloway”, romance que narra um dia na vida de Clarissa Dalloway. Em
“Ulisses”, James Joyce, também narra o dia de Leopold Bloom. Eu sempre
consulto o terceiro capítulo, em que o pensamento repartido e discrepante do
personagem é descrito, o que me respalda a desenvolver as cenas dos meus
livros.
As íntimas relações da literatura com a pintura nos oferecem um campo
de pesquisa inesgotável. Deste modo, na próxima coluna, pretendo dar
continuidade ao tema.

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Os clássicos da literatura sintetizam o passado

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Faço parte de um grupo de leitura, Clássicos da Literatura, coordenado
por Márcia Lobosco. Estamos lendo Razão e Sensibilidade, a primeira obra
escrita pela escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), publicada em 1811. O
romance nos traz questões existenciais, que nos desafiam com frequência, a
começar pelo título, que nos remete à dinâmica sentimento-pensamento-ação,
motivando-nos a olhar para esta dialética, que rege nossos movimentos, desde
o momento em que o temos nas mãos. Inegavelmente, é uma reflexão

Faço parte de um grupo de leitura, Clássicos da Literatura, coordenado
por Márcia Lobosco. Estamos lendo Razão e Sensibilidade, a primeira obra
escrita pela escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), publicada em 1811. O
romance nos traz questões existenciais, que nos desafiam com frequência, a
começar pelo título, que nos remete à dinâmica sentimento-pensamento-ação,
motivando-nos a olhar para esta dialética, que rege nossos movimentos, desde
o momento em que o temos nas mãos. Inegavelmente, é uma reflexão
relevante à conquista da qualidade de vida, uma vez que abrange o modo
como tomamos nossas decisões e como as concretizamos.
É uma obra que aborda a história de uma família composta por quatro
mulheres e, especialmente, evidencia a relação entre duas irmãs. Mesmo com
um pouco mais de duzentos anos de vida, é uma leitura atualmente buscada,
tendo, inclusive, sido adaptada para o cinema, tal qual outras de sua autoria.
Ainda estou nas primeiras cem páginas e percebo que a natureza
humana atual não ganhou novos vieses. É a mesma! Certamente, a vida no
século XVIII foi pintada com as cores do passado; o enredo construído pela
autora mostra uma realidade muito diferente da que vivemos. Hoje, o feminino
foi atualizado pelas conquistas da mulher, pelas relações econômicas e de
produção, que provocaram mudanças significativas no âmbito cultural ao longo
do tempo. No tempo de Jane Austen, as mulheres usavam saias armadas e
montavam em cavalos; hoje, usam calças jeans e têm motos. Entretanto, a
resiliência, a sensibilidade e a capacidade de superação são características
que desde sempre permearam sua sobrevivência.
A literatura, por sobrevoar a existência do homem no Planeta Terra, por
mergulhar nos meandros da alma humana e do acontecer, tem o poder de
revelar o ser e o fazer, o desejar e o realizar, o nascer e o morrer. A literatura
faz, pois, a síntese dos modos de viver que sobrevive, ou seja, as obras
clássicas não perecem ao toque de recolher. São incisivas e têm a sublime
capacidade de mostrar com objetividade e arte as mazelas e as nobrezas
presentes em todos nós.

A qualquer momento, o texto literário pode ser interpretado em sentidos
diversos. Porém, em qualquer um deles, é possível compreender como as
civilizações construíram este mundo. Eu, particularmente, gosto de entender
em que terrenos minha geração fincou suas raízes, até porque, hoje, nós,
mulheres, trazemos resquícios do tempo em que Razão e Sensibilidade foi
escrito.
Jane Austen foi uma escritora romântica, que morreu jovem, aos 42 anos.
Dedicou sua vida à literatura e produziu obras relevantes em que realçou
sentimento feminino e a sociedade da época. Através de uma narrativa leve,
crítica e sutil, deixou uma obra que enriquece a literatura inglesa, como
Orgulho e Preconceito, Palácio das Ilusões, Amor e Amizade. A escritora fez
uma obra prazerosa de se ler em livro e de se assistir em filmes.

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Haverá surpresas no café da manhã?

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Escrevi este texto há uns quinze anos. Entretanto, para mim, continua a ser
atual, pois me deparo com as questões que nele apresento quando escrevo.
Como esta coluna é para alimentar o leitor e o escritor, decidi trazê-lo aqui. Posto
que é interessante ao leitor conhecer as agruras que o escritor sofre ao produzir
um texto a ser degustado pelo leitor. Posto que para o escritor é saudável refletir
um pouco mais sobre o ato de escrever, que se constitui num desafio constante
porque as ideias nos rondam, cutucam e são insistentes, porém apresentam-se

Escrevi este texto há uns quinze anos. Entretanto, para mim, continua a ser
atual, pois me deparo com as questões que nele apresento quando escrevo.
Como esta coluna é para alimentar o leitor e o escritor, decidi trazê-lo aqui. Posto
que é interessante ao leitor conhecer as agruras que o escritor sofre ao produzir
um texto a ser degustado pelo leitor. Posto que para o escritor é saudável refletir
um pouco mais sobre o ato de escrever, que se constitui num desafio constante
porque as ideias nos rondam, cutucam e são insistentes, porém apresentam-se
de modo confuso, descontinuado e contraditório. Os personagens aparecem
repartidos, escondidos em sombras e indefinidos. Durante o processo criativo,
vamos aos extremos e, quase simultaneamente, mergulhamos em incertezas e
saboreamos o néctar dos deuses. Somente quando superamos os medos que
nos recheiam e conseguimos escutar a nossa voz narrativa com nitidez,
conseguimos “literar”. Para inventar, descobrir e ir além dos limites é preciso
assumir nossas idiossincrasias e deixarmos de ser marionetes das opiniões
alheias.

***

Sempre suspeitei que começar é mais difícil do que terminar. Nada é pior
para um escritor do que estar diante de linhas vazias! O vazio é
assustador, é uma ausência que faz com que tudo o que esteja à volta perca o
sentido. Quando a busca pelo novo se torna faminta, ele sente as ideias
germinarem em suas entranhas.
Deixo os dedos dedilharem o texto, letra por letra, como se pudesse,
assim, descobrir onde as ideias estão fincando suas raízes, os canais que minha
alma encontra para se alimentar. É difícil e sofrido escutar a minha voz, que é
única neste vasto mundo ruidoso. De repente, uma energia me leva no tempo e
me faz vislumbrar o passado. Sinto os personagens que criarei me transportarem
para seus mundos.
As linhas vazias gritam, querendo me sugerir algo. Um suspense?  A
sensação de amor me invade. Um conto romântico? Uma história que

começa com tudo perfeito. A beleza dos corpos, a sedução e a força das cores
pincelam um ambiente. Os momentos de despedida são intensos e atiçam minha
criatividade. Um sobressalto quebra o devaneio. Um crime? O texto tem que falar,
as frases devem surpreender. Como é difícil abrir os braços ao leitor e
aconchegá-lo. Não sei quem é a pessoa do leitor. Pode ser um só, como tantos.
Nada posso explicar, nem concluir; quem deve fazê-lo não sou eu. Ainda não
consigo saber dos motivos. Não tenho com quem compartilhar esta
responsabilidade. Estou só. Suspiro.
É um mote sem pé e cabeça, um plano que começa a se desenhar. Por que
não falar do dia a dia? Uma tragédia? Não, as passagens são fortes. Apenas um
delito? As livrarias, os cinemas, os jornais, as revistas e as conversas de esquina
estão lotados de violações, e eu escreverei somente mais uma?! Tenho que
tomar cuidado com os clichês. O vulgar é fácil de imaginar; o difícil é mostrar o
quotidiano com maestria.
Pode ser uma comédia...O humor sempre ajuda.
Os personagens precisam nascer. Ângela me passeia na memória, a
personagem que Clarice Lispector, num de seus últimos livros, “Um
sopro de vida”, que foi por ela delineada ponto por ponto. Levei quatro horas para
ler o livro de Clarice. Quanto tempo ela levou para construir Ângela? Escrever é
assim. Levamos uma eternidade para elaborar um capítulo, e o leitor o devora em
minutos.
Será um crime sem morte? Uma calúnia? Quais serão os personagens?
Eles terão de aparecer no branco do papel e se apresentar a mim. Terão de me
seduzir, me fazer apaixonar por eles a tal ponto que possa deixá-los criar o
próprio contexto de suas existências. Serão dois jovens como Mário e Adélia?
Um padre e uma cigana? E Dul!? Gostei do apelido. Terá ele a alma de Iago ou
de Pierrot? De Medeia ou de Alice? O branco me cutuca, fazendo-me mergulhar
mais uma vez no vazio. Quem são vocês?
Já é madrugada e estou exausta! Os personagens me farão companhia
na mesa do café da manhã. Que surpresas me trarão? Será que me servirão
panquecas doces com pimenta?

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Um brinde com champagne em taças de cristal

segunda-feira, 09 de novembro de 2020

É gratidão sentir vontade de homenagear pessoas que deixaram, ao
longo de suas vidas, através de sentimentos, ideias e realizações, riquezas
para nossas vidas e cidade. Faço questão de brindar, então, com champagne
em taça de cristal, os artistas da literatura que escreveram significativas
palavras em forma de poesia ou prosa.
Nova Friburgo deveria colocar placas com versos dos trovadores
friburguenses nas curvas da Serra da Boa Viagem, bem como espalhá-las em
suas praças e esquinas, cantos e recantos. Quando comento com alguém que

É gratidão sentir vontade de homenagear pessoas que deixaram, ao
longo de suas vidas, através de sentimentos, ideias e realizações, riquezas
para nossas vidas e cidade. Faço questão de brindar, então, com champagne
em taça de cristal, os artistas da literatura que escreveram significativas
palavras em forma de poesia ou prosa.
Nova Friburgo deveria colocar placas com versos dos trovadores
friburguenses nas curvas da Serra da Boa Viagem, bem como espalhá-las em
suas praças e esquinas, cantos e recantos. Quando comento com alguém que
a capital mundial da trova está no Estado do Rio de Janeiro, no município de
Nova Friburgo, praticamente ninguém tem conhecimento deste fato tão
interessante, quanto relevante. Poucos sabem que Nova Friburgo é o lugar
sagrado dos trovadores, inclusive o próprio friburguense! Um tamanho absurdo
que me faz tremer de indignação. Por quê? Não paro de me perguntar.
Ah, meus amigos leitores, temos um passado literário viçoso. Sabiam que
as ruas do centro da cidade guardam os passos de Machado de Assis, de
Carlos Drummond de Andrade e Casimiro de Abreu? Os ares que circulam
pelos seus vales estão cheios palavras, deixadas pelos tantos escritores que
nasceram ou passaram tempos em nossas montanhas e deixaram valiosos
legados literários, o que faz nascer, ano a ano, novos escritores no seio
friburguense. Mesmo aqueles que não são filhos da terra e foram adotados
pela região. Como eu, por exemplo.
A vida é passageira. Quem viveu e deixou algo para as gerações futuras,
que seja simples ou breve, deve ser reconhecido e homenageado. A nossa
identidade, enquanto pessoa ou povo, é feita de passado, de histórias que
podem ser contadas, de lembranças de pessoas que nos trazem orgulho e
admiração. Não somos oriundos de uma geração espontânea. Temos um
passado a preservar. Hoje é um bom dia para fazê-lo.
O mundo foi feito através dos ideais e da ação humana. A literatura,
através dos seus estilos, não somente os registrou, como os alicerçou. Nossos
antepassados nos ofereceram as bases para que nós continuemos suas obras.

Sempre inacabadas. Por assim serem, as gerações seguintes abraçam seus
ideais e vão dando prosseguimento aos empreendimentos da humanidade. Dia
a dia. Atualizando as causas do passado. Renovando.
Deixo, aqui, as vozes dos trovadores friburguenses. Quem sabe, eles
lancem sementes para a gestação de novos escritores.

Rico eu sou, mesmo sem ouro
E da riqueza, dou provas,
— eis aqui o meu tesouro:
Minha sacola de trovas.
(JG de Araújo Jorge)

É poesia sempre nova
Cultivada com amor
Se você gosta de trova
Pode ser um trovador
(Rodolfo Abbud)

Eu não ouço teus conselhos
Mas, quando fala a razão,
Meus pecados, de joelhos
Imploram por teu perdão
(Dilva Maria de Moraes)

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Que falta o abraço e o beijo estão nos fazendo!

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Estou escrevendo esta coluna na quarta-feira, 21 de outubro, motivada pelo
cronista friburguense Zuenir Ventura. Geralmente, escrevo-a nos finais de semana,
pois criei o hábito de pensar no tema que vou abordar e do modo como vou fazê-lo
durante os dias de branco. Como a literatura nos toca de diferentes formas, um bom
cronista sabe como fazê-lo com veemência.
Hoje, ao ler sua coluna no jornal O Globo, intitulada Carência de Afeto, senti sua
dor por não abraçar seus netos e tantas outras pessoas guardadas em seu afeto. Sua

Estou escrevendo esta coluna na quarta-feira, 21 de outubro, motivada pelo
cronista friburguense Zuenir Ventura. Geralmente, escrevo-a nos finais de semana,
pois criei o hábito de pensar no tema que vou abordar e do modo como vou fazê-lo
durante os dias de branco. Como a literatura nos toca de diferentes formas, um bom
cronista sabe como fazê-lo com veemência.
Hoje, ao ler sua coluna no jornal O Globo, intitulada Carência de Afeto, senti sua
dor por não abraçar seus netos e tantas outras pessoas guardadas em seu afeto. Sua
crônica me remeteu a de Martha Medeiros, Dentro de um Abraço, publicada em maio
de 2012, nesse mesmo jornal, quando afirmou que o melhor lugar do mundo para se
morar é dentro de um abraço.
O afeto é o sol que aquece e ilumina a vida. Tem que ser sentido e vivenciado.
Entretanto, neste momento pandêmico, estamos privados de externá-lo através do
beijo e do abraço, as mais genuínas expressões da afetividade. Hoje, estão sendo
substituídos pelos acenos, toque de cotovelos e de punhos. Não se pode mais abrir os
braços e acolher quem gostamos no peito para trocar energias afetivas. Ah, não se
abraça amigos faz tempo! Sorte que o brasileiro é criativo e, rapidamente, aprendeu a
deslocar o afeto para gestos distantes.
O Beijar, o abraçar, até o modo de olhar são reparadores dos males que nos
adoecem. Na energia do amor, as pessoas se engrandecem e tornam-se poderosas
para conquistar seus destinos. A cada dia, buscamos diferentes formas para substituir
a aproximação dos corpos que tanto nos aquece a alma.
A vida começa no amor. Seja no sexo, seja na gestação. É preciso amar ao
extremo um filho para gestá-lo, carregá-lo no ventre ao longo de nove meses, para
fazê-lo pessoa ao longo de muitos anos. O amor tem concretude; não é abstrato. É
significado através de atos, atitudes. Os cães expressam com maestria seus afetos e
nos ensinam que só é preciso sentir o gostar para expressar o querer bem.

Noutro dia, beijei minha mãe com um passeio de carro. Como ela gostou, apesar
das máscaras, álcool e janelas abertas, e sentiu-se por mim beijada e abraçada. Ofereci
um lanche especial à minha filha, regado a vinho, conversas e risos. O gostar tem a
suavidade da borboleta que pousa sobre a mata para se aquecer ao sol.
Nesta crônica, Zuenir também se referiu à pesquisa de Anselmo Góes que
constatou: o que as pessoas mais sentem falta nestes tempos é do abraço. Somos
seres de relações. A proximidade traz segurança, esperança e alegria.
Espero que esta pandemia faça o planeta expandir e aprimorar os sentimentos
humanos. O Corona Vírus nos mostrou que não somos coisificados e que temos sangue
quente correndo nas veias. Que bom!

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Aceno aos professores

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

No dia 15 de outubro brindamos os mestres. Nesta coluna literária, peço
licença para saudá-los, mesmo quatro dias depois. Ser professor não é uma
tarefa de facilidades, é um desafio diário estar diante de turmas repletas de
alunos, inclusive os de tenra idade que ainda não sabem o motivo pelo qual
estão sentados diante de uma pessoa que diz e mostra o que eles devem ser e
fazer. Não é uma atividade simples de realizar, precisa de cuidados,
planejamento, execução e avaliação; apenas um gesto ou uma palavra do


No dia 15 de outubro brindamos os mestres. Nesta coluna literária, peço
licença para saudá-los, mesmo quatro dias depois. Ser professor não é uma
tarefa de facilidades, é um desafio diário estar diante de turmas repletas de
alunos, inclusive os de tenra idade que ainda não sabem o motivo pelo qual
estão sentados diante de uma pessoa que diz e mostra o que eles devem ser e
fazer. Não é uma atividade simples de realizar, precisa de cuidados,
planejamento, execução e avaliação; apenas um gesto ou uma palavra do
professor pode influenciar a existência de outro, o aluno.
O professor precisa encontrar dentro de si e aprimorar o olhar do mestre,
nunca resignado, sempre atento e amoroso. Tem de saber empregar um tom
de voz a cada momento; ele é um exímio ator ante seus aprendizes que são
seduzidos para conhecer a vida do planeta e aprender desde os fatos da
gramática à dispersão da luz. Para desenvolver as mais específicas
habilidades físicas e capacidades cognitivas.
Hoje o professor não recebe o devido reconhecimento. A começar pela
sua formação, salário, condições para realizar o trabalho, transporte e muito
mais. Por serem resistentes, resilientes e insistentes, atravessaram séculos e
milênios cumprindo o fazer de ensinar. E, assim, vão continuar. Se o amor não
sustenta o trabalho que realiza, ele deixa de ser um mestre para ser alguém
que apenas ensina, um mero cumpridor de obrigações. Isso porque a ação docente
é um ato consciente e responsável, fundamentado pelos valores humanos.
Dermeval Saviani, filósofo e pedagogo brasileiro afirmou em seu livro
Educação - Senso Comum à Consciência Filosófica que “O trabalho educativo
é o ato de produzir, direta ou indiretamente, em cada indivíduo singular, a
humanidade que é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto de
homens”. Ou seja, ser professor é hominizar.
Não basta ensinar fatos objetivos. Ser professor é capacitar o aluno para
que ele aprenda a desenvolver suas capacidades. É uma pessoa de ética,
discernimento e de percepção, tríade que faz uma pessoa colaborar para que
outra tenha inteireza e caráter.

Parabéns, professores! Que o universo os ilumine para que a vida
humana neste planeta, a safira do sistema solar, tão rica em biodiversidade e
beleza, seja preservada e aprimorada.

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