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Criação de textos literários

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Um dos temas que mais gosto de abordar é o processo criativo de produção textual. Refletindo sobre esse delicado e desafiante trabalho, percebi que é iniciado com a passagem da dimensão real para a literária, que é abstrata por essência. O escritor é um vivente sensível, um ser de experiências, como todos, que guarda em seu íntimo inconformidades, desejos e necessidades em ir além para transformar o status quo. Assim, contextualizado na realidade, toma a decisão de elaborar um texto para aliviar suas inquietações, através do qual vai se manifestar linguisticamente.

Um dos temas que mais gosto de abordar é o processo criativo de produção textual. Refletindo sobre esse delicado e desafiante trabalho, percebi que é iniciado com a passagem da dimensão real para a literária, que é abstrata por essência. O escritor é um vivente sensível, um ser de experiências, como todos, que guarda em seu íntimo inconformidades, desejos e necessidades em ir além para transformar o status quo. Assim, contextualizado na realidade, toma a decisão de elaborar um texto para aliviar suas inquietações, através do qual vai se manifestar linguisticamente. Nessa construção, ele reúne conhecimentos, experiências culturais e história de vida, bem como vai precisar respeitar as características do estilo literário que escolheu para abordá-lo.

É uma passagem complexa porque o autor vai ter que comunicar de modo fidedigno, através da expressão escrita, seus sentimentos, pensamentos e opiniões. Como também, no caso de pesquisas científicas, seja no campo das exatas, biológicas ou humanas, irá elaborar demonstrações, narrativas ou descrições objetivas e imparciais.

Como a vida é ampla, oferece aos autores fartura de assuntos. A literatura, enquanto arte da palavra, tem ao seu dispor riqueza de conteúdo e de abordagens. Por razões subjetivas, o escritor escolhe um ponto de vista e um modo literário para se expressar.

O fazer literário é um processo criativo por excelência. Segundo Freud, todos nós, adultos, temos tendência a fazer poesia porque desejamos, imaginamos e, quando crianças, brincávamos. Fazíamos de conta. Porém só se tornam poetas, de fato, aqueles que não perdem na vida adulta o hábito de elaborar realidades psíquicas tais quais faziam quando crianças, quando lidavam com os momentos lúdicos com veracidade, atribuindo importância relevante ao que faziam.

Na criatividade, os processos são inteligentes na medida em que a cognição interage com a imaginação. A cognição permite que a pessoa processe informações através da percepção, decorrente de estímulos captados pelos sentidos, que se constituem em conhecimentos adquiridos na experiência e assimilados de modo subjetivo. Refletindo, integramos as informações, o que nos possibilita interpretar o mundo. Opinar. Interagir e transformar.

Já o imaginário é constituído por elementos resultantes da fantasia, de devaneios e divagações, que não possuem existência real. São idealizações. São sonhos. A criação imaginária é uma reação às situações restritivas, através da produção de imagens e pensamentos.

Se o criativo não considera a realidade concreta e apenas se utiliza do conteúdo imaginativo para refletir, tende a tornar-se alucinatório. Se, ao contrário, apenas considera a realidade concreta, as elaborações mentais podem se tornar inexpressivas, repetitivas.

Os processos mentais criativos têm inteligência dinâmica, sensível, adaptativa, maleável, fluida. Contêm a noção de passagem uma vez que possuem a intenção de transformar o que existe, de ampliar os limites cerceadores. De modificar. De gerar e parir o novo.

O fazer textual é individual e momentâneo. Inclusive o relatório de uma pesquisa científica, se escrito por dois pesquisadores distintos, terá formas diversas. E, se pelo mesmo pesquisador, for elaborada em momentos distintos, será elaborado de modos diferentes.

A produção de um texto exige do escritor a reunião de vários elementos: tempo verbal, linguagem, aplicação da língua, apresentação de ideias afins e contraditórias, desenvolvimento de um tema, construção de personagens e de narrador, fatos, história, intenções, ideologias, ambientação, dentre outros. Além de elementos básicos como objetivos, estratégias, continuidade e contiguidade.

Um texto de qualidade é elaborado com os cuidados de uma bordadeira que integra linhas de diversas cores e espessuras. Tem abrangência de ideias, emprego de uma linguagem adequada ao público-alvo e riqueza de conteúdo artisticamente entrelaçados. Inclusive os textos técnicos e ensaios.

O escritor, depois de ultrapassar todos os portais, inclusive por inúmeras revisões, considera o texto pronto. Aí, chega ao campo das libélulas, das flores coloridas. Ao bosque das surpresas e dos assombros. Da eternidade.  

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Beijo de cetim

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Hoje darei um tom psicanalítico a esta coluna por causa de um amigo de oficina literária, Pablito, que teve o carinho de me enviar um vídeo sobre o texto “O Poeta e o Fantasiar”, escrito por Freud, em 1908.

Hoje darei um tom psicanalítico a esta coluna por causa de um amigo de oficina literária, Pablito, que teve o carinho de me enviar um vídeo sobre o texto “O Poeta e o Fantasiar”, escrito por Freud, em 1908.

O mestre da Psicanálise revela que o homem, por ser beneficiado pelas capacidades criativa e inventiva, sente-se encantado com o fantasiar, como forma de externar ou materializar seus desejos. A criação poética é, portanto, resultado desse potencial, e é possível relacioná-lo à brincadeira infantil, sempre construída por fantasias. Todos nós, humanos, somos poetas por essência, porém os que se tornam poetas de fato são aqueles que não perdem na vida adulta o hábito de elaborar realidades psíquicas tais quais faziam quando crianças, quando lidavam com os momentos lúdicos com veracidade, atribuindo importância relevante ao que faziam. Da mesma forma que o escritor quando cria narrativas literárias, seja em prosa ou poesia. Inclusive, um dos princípios básicos da ficção é a verossimilhança, ou seja, os universos ficcionais imaginados pelo autor precisam ser semelhantes à vida para dar ao leitor a impressão de concretude. 

Só se torna poeta aquele que não renuncia ao “faz de conta” infantil, que, na vida adulta, é substituído pelo fantasiar, através do sonhar diurno e noturno. Ah, no poema “Cancioneiro”, Fernando Pessoa tão bem reflete sobre o fazer poético, dando completa razão a Freud.

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não têm.

Mas assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Freud considera que tanto a brincadeira, como o poetar são atos psíquicos íntimos, atividades pessoais únicas. O fazer literário é uma forma do adulto não deixar que seus desejos fiquem ou continuem reprimidos, materializando-os através de palavras trabalhadas e cuidadas, que externam seus anseios, suas insatisfações. Poderia, neste mundo, não existir a arte? Uma atividade humana que acolhe a falta, a ausência, o medo. O enlevo.

Somos seres incompletos e desejantes, sempre em busca de prazer. O fazer poético se faz necessário para que não adoeçamos ou enlouqueçamos com os tantos desejos que guardamos, muitas vezes, desde os mais tenros momentos de vida. É um fazer que os atualiza sempre, tornando-os presentes em cada poesia e guardando-os para o futuro nos livros e arquivos. Eternizando-os.

Ao lidar com seus desejos, o escritor acaba nos presenteando com palavras, ideias, histórias. Sua dor sempre se transforma em beijos, que podem ter a maciez do cetim e a fúria dos mares. Até o gosto salgado de lágrimas infinitas.

 

 

 

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A nobreza de saber fazer o outro rir

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Não poderia deixar de fazer uma homenagem a quem nos deu felicidade, fazendo-nos rir e gargalhar com as situações mais simples da vida. Paulo Gustavo soube extrair do quotidiano os melhores motivos para construir uma obra de humor, que tem na literatura seu ponto de partida, através da elaboração de roteiros ou textos dramatúrgicos.

Não poderia deixar de fazer uma homenagem a quem nos deu felicidade, fazendo-nos rir e gargalhar com as situações mais simples da vida. Paulo Gustavo soube extrair do quotidiano os melhores motivos para construir uma obra de humor, que tem na literatura seu ponto de partida, através da elaboração de roteiros ou textos dramatúrgicos.

Provocar risos, quiçá gargalhadas, é uma das mais desafiadoras das produções literárias. O humorista já nasce com um estado de espírito propenso a fazer o outro rir, tendo espontaneidade visceral para a comédia, que pode ser aperfeiçoada através de cursos, ensaios e de experiências direcionadas ao inusitado, ao esdrúxulo e ao equívoco. Talvez seja o estilo literário que mais exija do artista a tendência ou o talento natural, isto é, o dom cômico.

A comédia surgiu na Grécia antiga, enquanto expressão popular e sátira aos costumes da época. Paulo Gustavo correspondeu a esse princípio e buscou na própria vida familiar fatos inspiradores para escrever a trilogia Minha Mãe é Uma Peça. Texto, inclusive, publicado em estilo literário.

O autor não precisa dar muitos passos do lugar onde vive para encontrar elementos significativos que o toquem e estimulem-no a criar literatura. Certamente, embasamentos de uma formação artística se fazem necessários. Basta saber olhar, escutar, abrir os sentidos para perceber detalhes da experiência imediata, como a maneira que uma dona de casa carrega sua bolsa ou guarda o dinheiro da feira. São hábitos característicos de expressões culturais.

Paulo Gustavo exacerbou o papel desempenhado por uma dona de casa e a relação entre mãe e filhos para torná-los engraçados. Entretanto, tudo o que o filme mostra, encontra referências na realidade. Ah, quando ele repete que a vida da mulher se torna diferente depois que tem filhos, principalmente quando se tornam adolescentes, é a mais pura verdade. As agruras da maternidade. Já vou! Tô indo! Peraí! Hum... Qual mãe que não escuta tais expressões com frequência?

E quando os filhos saem de casa e deixam o “ninho” vazio. O final de domingo sem vozes, como é sofrido! Paulo Gustavo conseguiu pinçar momentos relevantes da vida de uma mãe, da dinâmica familiar, dos sentimentos que invadem a mulher no dia a dia, como irritação, ciúmes, insegurança, saudade. Até a falta de jeito.

Ele expôs o destino de uma família de classe média com humor e maestria. Contrastou a vaidade feminina com o dia a dia doméstico, fazendo emergir a comédia da rotina diária. Além de tudo, não teve medo de mostrar seu lado feminino e expor-se como mulher. Bem bonita por sinal.

Fiquei comovida com o que aconteceu com Paulo Gustavo. Doeu. Ele me passou bons sentimentos e me divertiu. Fiquei sensibilizada com seu marido e seus lindos filhos. Senti a tristeza de sua mãe me tocar, até porque tive um Beto que partiu iluminado para as estrelas.

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As estranhezas dos novos tempos

segunda-feira, 03 de maio de 2021

Aconteceu algo esta semana que não sei exatamente descrever as impressões que tive, só posso dizer que foram fortes e avassaladoras. O fato foi, para mim, inédito. Mas acredito que para outros seja uma situação vivenciada uma vez ou mais.

Como a pandemia está nos trazendo desafios!

Aconteceu algo esta semana que não sei exatamente descrever as impressões que tive, só posso dizer que foram fortes e avassaladoras. O fato foi, para mim, inédito. Mas acredito que para outros seja uma situação vivenciada uma vez ou mais.

Como a pandemia está nos trazendo desafios!

Perdi uma prima de Covid há uma semana, entre a internação e o falecimento foram quinze dias aproximadamente. Era uma pessoa animada, falante, que marcava presença em qualquer situação. Familiares e amigos acompanharam o adoecer dela com preocupação, tristeza e esperança. Mas seu estado de saúde foi se agravando, e seu tempo de vida findou. Ela tinha uma filha, Rafaela, com quem morava. Eram boas companheiras. Enfim. Depois da cremação, Rafaela trouxe a urna com as cinzas da mãe para casa, com a finalidade de aguardar o momento de lançá-las ao vento ao lado de pessoas da família, que moram em outro estado. Pela necessidade de tomar as providências iniciais, esse momento poderá demandar um tempo maior; um mês ou mais.

Confesso que este fato me tocou enormemente, uma vez que, em quinze dias, alguém com quem convivemos e amamos se torna um monte de cinzas guardadas em uma urna, que deve ficar em algum lugar da casa. Que seja num armário, numa cristaleira, numa gaveta. É uma rápida e triste metamorfose que precisamos lidar com sensatez para que a dor não nos adoeça. A vida nos faz tropeçar, entretanto essa situação pode nos ajudar a caminhar com mais equilíbrio.   

Como conviver com isso, se o findar, o momento em que a pessoa deixa de existir, na verdade, não acontece na concretude real? A pessoa, transformada em cinzas, retorna para o lugar onde vivia.

A literatura, como sempre, nos apoia nos momentos em que precisamos vivenciar o luto. Lembrei-me do livro que li de Ana Letícia leal, escrito com sensibilidade A Gente Vai se Separar. A autora externa suas emoções e lembranças nos últimos momentos em que esteve na cabeceira de sua mãe, gravemente enferma. Perder alguém por quem temos amor é um processo sofrido. Em Paula, Isabel Allende escreveu, também ao lado de sua filha Paula, em estado de coma irreversível, uma autobiografia em que a homenageia.

Se a morte acontece repentinamente, o impacto é mais forte, porém a dor não é diferente se houver um tempo de adoecimento.  Contudo, depois de todo o sofrimento, trazer para casa as cinzas de um ente querido, que seja por um, dois ou mais dias é algo indescritível. Ah, nunca me deparei afetivamente com tal circunstância como agora estou.

A médica, especializada em Cuidados Paliativos, Ana Cláudia Quintana Arantes, escreveu o livro A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver: E um Excelente Motivo para se Buscar Um Novo Olhar para a Vida, em que aprofunda as relações entre os modos que a pessoa vive com o processo de findar. O morrer é certo, talvez a única certeza que temos em relação ao nosso futuro. Segundo a autora, o fato de aceitarmos que vamos morrer pode nos remeter à decisão de buscar a plenitude no viver. Aceitar a morte com serenidade torna-nos mais aptos a lidar com o fato de procurarmos um lugar que aconchegue uma urna em casa.  Ou até mesmo decidir que a morte, por ser um efetivo modo de extinção, não cabe ser estendida por qualquer modo, como levar um ente morto, reduzido em cinzas, para casa. Eu me sinto melhor com esta opção.

Ah, como foi bom escrever este texto. Senti-me aliviada por ter conseguido chegar a uma conclusão. Salve a literatura.

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“Minha flor é efêmera” (Saint-Exupéry)

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Hoje é um tempo triste. Tantas pessoas estão contaminadas pelo Covid19, outras mais, internadas, além do alto índice de óbitos. Uma certa desesperança paira no ar, que nos faz perguntar: como estaremos amanhã? Sobreviveremos a uma terceira onda?

Este estado de emoção me remeteu a um trecho do livro O Pequeno Príncipe, que, tão logo o li, senti meu peito apertar.

Hoje é um tempo triste. Tantas pessoas estão contaminadas pelo Covid19, outras mais, internadas, além do alto índice de óbitos. Uma certa desesperança paira no ar, que nos faz perguntar: como estaremos amanhã? Sobreviveremos a uma terceira onda?

Este estado de emoção me remeteu a um trecho do livro O Pequeno Príncipe, que, tão logo o li, senti meu peito apertar.

— Mas o que significa “efêmeras”? — repetiu o pequeno príncipe, que, em toda sua vida, jamais desistira de uma pergunta que tenha feito.
— Significa “o que está ameaçado de desaparecer em breve”.
— Minha flor está ameaçada de desaparecer em breve?
— Certamente.
“Minha flor é efêmera, disse para si mesmo o príncipe, “e ela só tem quatro espinhos para se defender do mundo.  E eu a deixei sozinha no meu planeta!”

O livro que tenho em mãos tem a leveza da tradução de Ferreira Goulart, e o trecho a que me refiro retrata a conversa do pequeno príncipe com o geógrafo, quando visita o sexto planeta.

Com suavidade, Saint-Exupéry nos revela que somos efêmeros, sozinhos e temos de sobreviver no mundo com tão poucos recursos. Nem com toda tecnologia conquistada, hoje, no século XXI, não nos tornamos poderosos. Quem pode se defender da ventania, da inveja e de um capcioso vírus? Somos frágeis e temos poucos anos de vida. O que são 90 anos ou mesmo 100 na grandiosidade do tempo? Ninguém tem como negar que somos caracterizados pelos limites. Se olharmos para nossas mãos, percebemos que o tamanho delas é invisível aos olhos do universo. Mesmo fazendo a vida com as duas, que se completam e se ajudam. Mesmo o homem tendo construído túneis, arranha céus e trens com elas, quando vêm a avassaladora força da natureza, o poder maligno do caráter humano, elas se quebram e não conseguem superar o que diante delas se impõe.

Talvez, como Fernando Pessoa usou esta palavra!, os viventes tenham de reconhecer suas impossibilidades para conseguirem melhor enfrentar a vida. Talvez a expressão “sei que nada sei”, seja de Sócrates ou de Platão, tenha a sabedoria dos mestres. Quem não precisa conhecer e aprender mais? Pena que, às vezes, a sensação de onipotência nos engole e chegamos até a imaginar a possibilidade de sermos imortais. Há quem se esqueça de colocar máscaras quando sai à rua em plena pandemia! Será banal esquecimento ou soberba?  

Morremos. Desaparecemos. Sim. Sim, senhor, como dizia Alice. Podemos findar a qualquer momento. 

Deixo, então, o Soneto 12 de Shakespeare:

Quando conto as horas que passam no relógio,
E a noite medonha vem naufragar o dia:
Quando vejo a violeta esmaecida, E minguar seu viço, pelo tempo embranquecida;
Quando vejo as altas copas de folhagens despidas,
Que protegiam o rebanho do calor com sua sombra,
E a relva do verão atada em feixes
Ser carregada em fardos em viagem;
Então, questiono tua beleza,
Que deve fenecer com o vagar dos anos,
Como a doçura e a beleza se abandonam,
E morrem tão rápido enquanto outras crescem;
Nada detém a força do Tempo,
A não ser os filhos, para perpetuá-lo após tua partida.

 

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Entre guisos, fantasmas e girassóis

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Por incrível que pareça, depois de mais de vinte anos escrevendo textos, livros e colunas, ainda faço oficina literária de escrita para melhorar minhas capacidades de transpor para o papel ideias, sentimentos e esperanças. O escritor é como o pianista, precisa treinar horas por dia, tal qual Gustave Flaubert fazia. Eu tinha uma vizinha, dona Lúcia, que era pianista clássica e tocava do amanhecer ao anoitecer, às vezes, os mesmos acordes de uma música, quando ela buscava a harmonia perfeita entre as notas.

Por incrível que pareça, depois de mais de vinte anos escrevendo textos, livros e colunas, ainda faço oficina literária de escrita para melhorar minhas capacidades de transpor para o papel ideias, sentimentos e esperanças. O escritor é como o pianista, precisa treinar horas por dia, tal qual Gustave Flaubert fazia. Eu tinha uma vizinha, dona Lúcia, que era pianista clássica e tocava do amanhecer ao anoitecer, às vezes, os mesmos acordes de uma música, quando ela buscava a harmonia perfeita entre as notas.

Na penúltima oficina, foi-nos sugerido escrever a respeito dos fantasmas que nos habitam e rondam. Que interessante e repugnante tema! Comecei a pensar nos meus e encontrei medos. Quem não os colecionam? Logo me lembrei de que Freud nos mostrou que somos regidos por uma instância invisivelmente preponderante, o inconsciente. Fiz esforços para adentrá-lo e, tentando, constatei que tenho medo de escrever sobre mim. Eu. Esta pessoa frágil, que usa tantos subterfúgios para fugir das ameaças que existem dentro de si.

Não apresentei texto na oficina seguinte. Aliás, costumo me proteger. Uma nova colega de oficina me espantou ao revelar que o maior abismo que tem é ter saudade de si. Ah! Pensamentos desencontrados, então, ficaram me cutucando na medida em que ia descobrindo o tamanho da saudade que sinto de mim. Inclusive, da estranha saudade de sentir falta das pessoas que guardo no meu inconsciente. Que finjo desconhecer. Ora pois, que não tem ambivalências?

Confesso que me tornei uma pessoa diferente depois que comecei a escrever. Até porque estou em cada frase, em cada palavra, revelando minhas ideias e sentimentos e, até, mesmo mostrando que escondo alguns deles. Estou viva em tudo o que escrevo. Há temas que nunca ousei escrever, como fantasmas porque vou tocar nos meus. Não gosto deles e, por isso, eles me respeitem, talvez. Por ter medo de fantasmas, meus textos sempre trazem a beleza dos girassóis, aquelas flores em forma de sol que iluminam os jardins. Por outro lado, costumo juntar ideias como o cozinheiro faz com os guisos, tão bem aceitos no dia a dia do brasileiro. Aliás o brasileiro gosta de misturar, até porque ele tem em sua essência uma diversidade de povos e cultura.

Mas preciso escrever sobre minhas faltas, lugar em que meus fantasmas habitam. Eu me acostumei a sentir falta, mas não consigo transformá-la em presença e preenchimentos. Vou vivendo, as situações vão passando. Ah, meus girassóis e meus guisos, sempre tão lindos!, vão ficando no tempo e vão me trazendo inspirações.

Agora vou me esforçar para colocar meus fantasmas na posição de abre-alas porque eles estão cansados de pedir passagem. Por certo, serei menos romântica e mais crítica. Será que conseguirei exibir minhas carnes e meus ossos com menos pudor? Nada melhor do que o tempo e as tentativas de ensaio e erro.

Fantasmas amadurecem; sempre nos trazem outras vertentes da sabedoria.

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Doces relíquias da vida

terça-feira, 13 de abril de 2021

Hoje vou escrever sobre as avós e sobre a importância que elas possuem na vida dos netos, principalmente dos que se tornam artistas e, mais especialmente ainda, dos que se tornam escritores. Esta ideia me foi tocada por uma amiga, poeta e escritora, Catherine Beltrão. Depois de viajar pela vida, trabalhar como engenheira, ter os cabelos embranquecidos, resolveu criar canteiros diferentes em seu destino, como forma de enfeitar-se com outras flores, como também eternizar a vida e a obra de sua avó, a artista plástica francesa Edith Blin (1891-1983).

Hoje vou escrever sobre as avós e sobre a importância que elas possuem na vida dos netos, principalmente dos que se tornam artistas e, mais especialmente ainda, dos que se tornam escritores. Esta ideia me foi tocada por uma amiga, poeta e escritora, Catherine Beltrão. Depois de viajar pela vida, trabalhar como engenheira, ter os cabelos embranquecidos, resolveu criar canteiros diferentes em seu destino, como forma de enfeitar-se com outras flores, como também eternizar a vida e a obra de sua avó, a artista plástica francesa Edith Blin (1891-1983). Catherine, sem timidez, se transpôs dos números para as letras e vestiu-se de furta-cor.

A relação com as avós preenche os espaços vazios da criança, decorrente de uma relação de afeto que oferece referenciais à construção da identidade de uma pessoa. Quando esta mulher, com a experiência de anos vividos, desliza seu olhar a um neto, deixa seus melhores sentimentos colorirem os momentos em que interagem.

Eu tive avós que tanto me preencheram e tanto me trouxeram segurança e felicidade. Como a avó de Catherine, foram mulheres à frente de seu tempo. Eram profissionais e independentes, tinham suas determinações de vida bem definidas e tiveram um amor imenso por mim. Como Catherine se orgulha de sua Edith! Tanto quanto eu, minha amiga foi privilegiada por ter ganho do destino uma pessoa com riqueza de ideias e de criatividade. Agora, ela, Catherine, também avó, criou o Instituto Edith Blin, que vai acolher artistas de diferentes áreas, como as da literatura, oferecendo opções variadas de atividades a serem desenvolvidas, como contação de histórias, oficinas para leitura e escrita, debate sobre obra de autores. Acredito que Catherine sinta a vida através das cores que sua avó deixou nas telas em que fez da neta sua principal modelo.

Minha avó, Carmem Temporal, era professora de canto e tradutora de livros de bolso. Passei parte da minha infância escutando o seu dedilhar numa máquina de escrever de ferro. Aquele barulho me enterneceu, ficou no meu inconsciente e, hoje, escrevo dedilhando as teclas do computador com prazer, revivendo o passado. Meu pensamento é romântico.

As histórias entre netos e avós sempre serão ternas e saudosas. Admiro Catherine por esse empenho artístico e literário, carregado de nobreza e gratidão. Por querer perpetuar os esforços de sua avó que clamou por liberdade, igualdade e fraternidade. Que engrandeceu o ser mulher.

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Ebulições

segunda-feira, 05 de abril de 2021

Nossas emoções são tantas que explodem dentro de nós a todo instante e vão se misturando, mesclando-se. Nem sempre conseguimos pinçá-las e identificá-las porque estamos inseridos em tantos contextos, diversos e conflitantes. Borbulhamos em contraditórios afetos que vão se fundindo e atritando-se. Somos a própria ebulição

Nossas emoções são tantas que explodem dentro de nós a todo instante e vão se misturando, mesclando-se. Nem sempre conseguimos pinçá-las e identificá-las porque estamos inseridos em tantos contextos, diversos e conflitantes. Borbulhamos em contraditórios afetos que vão se fundindo e atritando-se. Somos a própria ebulição

Hoje, Sexta-Feira Santa, dia 2 de abril, começo a escrever esta coluna me sentindo fervilhar com os sentimentos que envolvem a Páscoa e o livro que acabei de ler no Clube de Leitura Vivências, Brisa, segunda edição, de Ania Kitilla, que aborda a tragédia de 2011. Vivemos um árido tempo de pandemia, que não se compara ao que foi vivido há dez anos, mas traz, nesta Semana Santa, pelo segundo ano consecutivo, o vazio, causado pelo isolamento, quando normalmente era para se cultuar o encontro entre pessoas queridas. Vivemos um período que mescla o luto, a preocupação e a esperança. 

A leitura de Brisa foi iniciada em fevereiro. Lemos, uma vez por semana, a história entrelaçada de cinco personagens que vivenciaram a tragédia. Nos encontros virtuais do Clube Vivências, os participantes liam, em voz alta, com atenção e sensibilidade, capítulo a capítulo, frase a frase, parando com frequência para comentar as situações experimentadas pelos personagens e pelos sentimentos que emergiam em cada uma de nós.  As emoções decorrentes da pandemia se misturavam com as provocadas pela tragédia, através da leitura. Quando terminamos de ler Brisa, nesta terça-feira, dia 31 de março, o grupo estava impactado e profundamente emocionado. Ontem, quinta-feira, fizemos o fechamento da leitura, quando conversamos, também de modo virtual, com Ania. Segundo seu relato, o livro começou a ser construído na primeira noite da tragédia, a partir do espanto e do medo que sentiu.

Grande parte das leitoras do Clube estava na cidade no dia 11 de janeiro de 2011 e nos dias que se seguiram. Cada uma de nós teve uma experiência particular, entretanto, para todas, a realidade foi impactante, cruel e devastadora. Ao longo da leitura, os fatos, que se tornaram esquecidos com o passar do tempo, foram relembrados, como a angústia ao escutar o ruído do helicóptero de salvamento que sobrevoava os lugares, o espanto ao ver o desmoronamento de morros e a tristeza ao receber a notícia do falecimento de pessoas conhecidas. 

Ania escreveu Brisa com amadurecimento. Com lucidez, ela penetrou na alma do friburguense e revelou como viveram a terrível tragédia. Um dos personagens é uma cadela, Brisa, que foi revelada pela autora com maestria. O final do livro tem realismo, o que nos fez perceber de maneira mais contundente ainda como os personagens lidaram com as possibilidades concretas para resgatar suas vidas. 

A leitura sempre nos oferece a possibilidade de nos percebermos através dos personagens. Está aí a grande riqueza da literatura, que nos salva a cada texto que absorvemos.

A todos os instantes temos motivos para escrever, para compreender o que nos acontece e para superar infortúnios, medos e desafios. Como a vida é cheia deles! E, hoje, ainda com a experiência da leitura viva, nas vésperas da Páscoa, faço forças para que a esperança se sobreponha ao estresse da pandemia e me traga a certeza de retorno à rotina diária.

É o que desejo a todos. 

 

P.S.: A Academia Friburguense de Letras muito se orgulha de ter Ania Kitilla como Jovem Acadêmica.

 

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Interpessoalidade divina

segunda-feira, 29 de março de 2021

Existe algo melhor na vida do que ter avós que contem histórias aos netos? Que lhes ofereçam oportunidades de leitura? Que lhes coloquem em contato com expressões literárias, como peças de teatro ou filmes?

Existe algo melhor na vida do que ter avós que contem histórias aos netos? Que lhes ofereçam oportunidades de leitura? Que lhes coloquem em contato com expressões literárias, como peças de teatro ou filmes?

Noutro dia fui aos correios e encontrei uma querida amiga, Liminha, que acabava de enviar uma caixa cheia de revista em quadrinhos para os dois netos que moravam fora do país, na Alemanha. Ela me disse que todos os meses enche uma caixa com revistas para eles lerem e não ficarem distantes da língua portuguesa. Além de ser um gesto de amor, sua atitude revela a sensível percepção de que a leitura é fonte de prazer.

A presença dos avós é eterna na vida dos netos. Depois que os avós partem, tornam-se invisíveis, deixando intactas nos netos lembranças das experiências que vivenciaram. Minha mãe, vez em quando, me diz que sou parecida com minha avó Vera. Pensando bem, trago em meus gostos e hábitos a maneira que ela foi, o que me faz extremamente bem. Na verdade, minhas três avós me deixaram legados que me caracterizam, como vivenciar a literatura. Ambas eram leitoras e contadoras de histórias.

Os avós possuem papéis diferentes dos pais na vida dos netos pelos cuidados, carinhos e até mimos com que têm para com as crianças, jovens ou mesmo adultos. São aconchegantes e possuem especial poder de compreensão. Ah, como são dadivosos. Qual adulto que não se lembra das histórias que seus avós contavam? Quais avós que não contam as histórias que escutavam dos seus avós quando crianças? A vida se repete, e os avós perpetuam a fartura de afeto, tão importante à construção da identidade individual. O amor é vital.

Os avós, enquanto contadores de histórias, desempenham papéis relevantes na sociedade, na família e na formação do caráter da criança. Os avós cumprem a prazerosa função de distrair os netos com histórias, apesar de muitos desconhecerem o valor da contação, enquanto tradição milenar na perpetuação dos valores, haja vista que as fábulas tinham, na antiguidade, a função de formar e preservar comportamentos. 

Os avós são narradores da vida! As narrativas que fazem aos netos contêm tradições, quase embrionárias, da civilização, além de aprofundar laços familiares. Ao contarem histórias de família, trazem os referenciais dos antepassados. Há avós que são verdadeiros biógrafos. 

O sentimento de orgulho que uma pessoa tem pela sua família, pelo o que seus antepassados fizeram e pelo legado que deixaram para as gerações atuais, dá sentido à existência e norteia os objetivos de vida. As memórias são preservadas na sequência de gerações quando a relação entre avós e netos é intermediada pela contação de histórias e narrativas. Como é um lugar, uma nação e uma pessoa sem passado? 

A oralidade é o modo mais fácil de contar histórias e transmitir narrativas. Não foi assim que a Ilíada, contada por Homero, chegou aos nossos dias? Quando ocorre na relação entre avós e netos, o momento é banhado de afeto e desenhado pela descontração. É um contato humano enriquecedor pela troca de olhares, calor físico, sorrisos, fala cuidada e escuta atenta. É uma interpessoalidade divina.

 

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Louvável seja o livro!

segunda-feira, 22 de março de 2021

“Quem não lê, aos 70 anos terá vivido só uma vida: a sua. Os que leem terão vivido cinco mil anos. Ler é uma imortalidade de trás para a frente”.

“Quem não lê, aos 70 anos terá vivido só uma vida: a sua. Os que leem terão vivido cinco mil anos. Ler é uma imortalidade de trás para a frente”.

Esta semana uma amiga, Carmem, com quem estou constantemente em contato, me enviou este pensamento, que é do célebre escritor Umberto Eco. Então, refleti a respeito dos benefícios que a leitura traz a uma pessoa. Cada um tem seus gostos e preferências, e a busca pela leitura deve ser orientada pelo prazer de ler, pela satisfação de perceber a vida em outras perspectivas e ampliar as possibilidades de compreensão da existência humana e da natureza. Os livros embalam nossos pensamentos e sonhos, ocupando de modo saudável o tempo que temos para relaxar, atraindo nossa atenção quando estamos aguardando a vez, ou até mesmo quando estamos num transporte. Estou cansada de ver leitores mergulhados na leitura em ônibus, metrôs e aviões. Sou um deles, para confessar um dos meus hábitos.

Quem lê amplia o poder de reflexão e argumentação. Torna-se mais capaz de interagir com as situações, vislumbrar outras oportunidades e planejar a vida com sabedoria. Certa vez, assisti uma palestra na biblioteca do SESC-NOVA FRIBURGO, em que a palestrante expunha o valor da leitura para jovens alunos. Percebi que eles gostavam de ler, o encantamento que sentiam com os personagens e como apreciavam os momentos em que se deixam levar pelo enredo das histórias. Entretanto, eles se queixavam de que não tinham livros disponíveis. Ou seja, os leitores de qualquer idade sofrem com a falta de oportunidades de leitura!

Mas há os que as possuem e não leem, uma vez que, provavelmente, gastam, cada vez mais, o tempo com os aplicativos virtuais de relacionamento. É certo que vivemos num mundo interativo, a internet é um veículo potente de comunicação e não podemos nos abstrair do universo virtual; temos de sobreviver no mundo civilizado! Mas é preciso ter amadurecimento para reconhecer os limites de uso e ser ciente de que nos livros encontramos fontes de ideias, prazer e de cultura. Quem lê tem o mundo nas mãos porque é alimentado por histórias e fatos, tem riqueza interior porque é abastecido por valores, tem vocabulário porque vivencia a língua em sua amplitude de emprego. Além do mais, cada leitura nos oferece algo de extraordinário que nos toca e nos faz ser diferente. Ah, as biografias!, como nos permitem conhecer a vida de pessoas corajosas, talentosas e sensíveis às questões relevantes, que modificaram a história.

Ler é poder adentrar diferentes universos culturais de tempos e espaços distintos. É viajar no tempo. E, por mais incrível que pareça, meu caríssimo amigo, os textos antigos têm atualidade. A premissa, o que não está na Bíblia, está em Shakespeare, é verdadeira, uma vez que os mitos, as lendas e as histórias de povos estão descritas em textos, em cada palavra, em cada frase, mostrando as relações de causa e efeito, os motivos das vitórias e derrotas, dos ideais, dos erros e acertos.  Inclusive, as múltiplas faces do caráter.

Ora pois, o livro não é uma caixa de surpresas e de magias?

 

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