Shakespeare foi abençoado nas ideias que fundamentaram sua vasta e diversificada obra. Ele conseguiu abranger os meandros da existência humana, incluindo até os momentos de vigília antes do adormecer.
Shakespeare foi abençoado nas ideias que fundamentaram sua vasta e diversificada obra. Ele conseguiu abranger os meandros da existência humana, incluindo até os momentos de vigília antes do adormecer.
Está nas minhas mãos o livro “44 Sonetos Escolhidos: Homenagem ao Bardo, nos 450 anos de nascimento 1564-2014”, no qual a tradutora, Thereza Christina Rocque da Motta, seleciona 44 sonetos dele. O 27 se reporta ao momento em que nos deitamos, olhamos vagamente para o teto, as paredes do quarto, sem direção, na verdade, e a imaginação acaba por nos embalar, relaxando o corpo cansado.
Ei-lo.
Cansado do trabalho, corro ao leito,
Para repousar meus membros exaustos de viagem;
No entanto, inicia-se uma jornada em minha mente,
Depois que a atividade do meu corpo cessa:
Assim, meus pensamentos (vindos de muito longe)
Começam uma lenta peregrinação até onde estás,
E fazem que meus olhos sonolentos não se fechem,
Encarando o negror que os cegos veem:
Exceto que a visão imaginária de minh’alma
Traz tua sombra invisível,
Que, como uma joia suspensa no escuro,
Adorna a noite turva, a renovar seus traços.
Vê! Assim de dia, minhas pernas e, à noite, minha mente
Nem por mim, nem por ti, encontram paz.
O poema 27 vai ao encontro a que um amigo da família, já falecido, o psiquiatra, Dr. Jadyr de Araújo Góes, dizia: a mente trabalha incessantemente durante o dia e durante a noite, de modo que nossos melhores pensamentos e ideias surgem quando dormimos. Por isso, quando temos algo a resolver e não sabemos como, é aconselhável nos deixarmos dormir. Quando acordamos, podemos vislumbrar uma solução.
Nosso corpo é o maior aliado que temos. Muitas vezes, o usamos de forma inadequada, principalmente as nossas capacidades mentais. Infelizmente, vivemos em uma moderna cultura que nos acostuma a colocar fora de nós os melhores recursos a que podemos recorrer. Ao reconhecermos que os momentos de vigília são nobres, quando nosso pensamento vai longe, trazemos imagens da alma, fatos esquecidos, reflexões sobre o que nos sensibiliza. Ainda experimentamos um turbilhão de ideias geniais — loucas ou sensatas. São momentos em que a divindade, a saudade, a criatividade e a inteligência se misturam e nos mostram alternativas. Nos trazem o novo.
Ah, é o nosso momento furta-cor!
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