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O dia em que Deus se ausentou

sábado, 05 de março de 2022
Foto de capa

No céu de estrelas de outubro, exatamente no mesmo teto azul de julho, tudo parou. Tudo, absolutamente tudo. Paralisou, como cena de filme que pausamos para ir ao banheiro ou para pegar um copo de Coca-Cola. 

No céu de estrelas de outubro, exatamente no mesmo teto azul de julho, tudo parou. Tudo, absolutamente tudo. Paralisou, como cena de filme que pausamos para ir ao banheiro ou para pegar um copo de Coca-Cola. 

As borboletas dos campos sem flores; os discursos que disparam balas nas favelas; as ondas dos mares do Pacífico e do Atlântico; os braços abertos para outros abraços; os icebergs que viajam para encontrar seus Titanics; os lápis dos dedos dos analfabetos funcionais e dos que não sabem escrever o que ditou o amor. Tudo simplesmente parou. O que é bom e ruim. O que é aceito e o que não é aceito. Sem virtudes ou pecados. Sem absolvições ou condenações.  

Quando Deus se ausentou, nem houve a pergunta sobre por que Ele se ausentou. Como se ausentou. A paralisia também cessou os lábios, as palavras, os sentimentos que reavivam e os que corroem também.  

Antes, perguntamos tanto onde está Deus. Procuramos nos céus, para além da Via-Láctea, para o centro da Terra. Vasculhamos nos textos antigos e até na física quântica. Uns recorreram ao Velho Testamento para usurpar liberdades. Outros disseram que vale o que veio depois de Cristo, pois Filho de Deus veio para contestar os religiosos de sua época e indagaram se voltaria agora para contestar os fanáticos dos anos dois mil. Fanáticos? Compõem, conscientemente, bancadas que se misturam à bala que mata e ao boi que desmata. Incoerente, não? Na vasta coleção de incongruências, soaria até absurdo continuar a se perguntar: “Onde está Deus?” Sempre causou mais medo quem responde, do que a constatação empírica.

O dia em que Deus se ausentou veio depois de tantos em que não respondemos sequer onde Ele estava…

Foi em uma aula com a brilhante Yoya Wursch que ela me contou essa história. Um programa francês entrevistava um filósofo e em determinado momento, o repórter pergunta: “você acredita em Deus?” E ele responde: “depende do dia”. Não exatamente com essas palavras, explicou que quando há tragédias, quando inocentes morrem, quando guerras começam, nesses dias — cravou ele — eu não acredito em Deus.   

Mas, af    inal — acreditando na existência de Deus — onde Ele estaria nesses dias em que crianças morreram por balas perdidas, em que a fome ceifou tantos em meio à fartura de poucos, em que furacões tomaram cidades inteiras? 

Se tivéssemos olhado para dentro. Dentro de nós e na soma de todos nós. Esquecemos de perceber que Ele está em nós, por nós, entre nós, somos nós na tarefa de desatar os nós.

Escolhemos paralisar, normalizar, naturalizar tudo por preguiça ou por tentativa de isenção de responsabilidade com o todo. Fácil arrumar culpado e por presunção de culpa futura dar todo crédito ao divino para os raros dias em que o tal filósofo acredita na existência de Deus.  

No céu de estrelas de outubro, exatamente no mesmo teto azul de julho, o relógio parou. O fim do mundo não veio no dia que Nostradamus teria previsto. Os polos terrestres não derreteram por completo, tampouco grandes asteroides caíram nas nossas cabeças e dos gados também. Os buracos negros das galáxias não se alimentaram de nossos corpos, nem extraterrestres escravizaram a humanidade. Em algum momento, tudo simplesmente parou. 

Pausa. Para os que pecam e para aqueles que acusam os pseudos-pecadores. Na paralisia, nem vilões ou heróis. Todos plenamente iguais, preservadas intactas as suas essências que unidas constroem o coletivo de individualidades.

Mas a história do tempo fez todos esquecerem. E o tempo para todos parou. E, na paralisia de quem não vê, forçou-se a mudez, o congelamento dos membros, a surdez. Só os corações se mantiveram, ainda que mecânicos. Ninguém morreu. Todos percebem a presença da ausência ao parar... O completo que vem do vazio. Forçados a parar para sentir? Sentir se partir para tomar partido. Deus se ausentou.

No dia seguinte ao sem Deus — quando? — surgirão todos nós. Porque sem nós, não há Deus. 

 

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Por que te quero, carnaval?

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Ah, carnaval! Como te quero todos os anos e cada vez mais. Se pudesse ficar o ano inteiro... Ainda que os amores que produz fiquem batucando meu coração, minhas memórias, nossas mais pertences nostalgias, sinto a ausência da sua presença para além dos seus dias. 

Ah, carnaval! Como te quero todos os anos e cada vez mais. Se pudesse ficar o ano inteiro... Ainda que os amores que produz fiquem batucando meu coração, minhas memórias, nossas mais pertences nostalgias, sinto a ausência da sua presença para além dos seus dias. 

O divino está para você como divindade é! E o divino é a sua passarela, especialmente, na arte do encontro: seja da linha com as fantasias que tomam forma pelas mãos das costureiras; seja pelos paralelos que levam nossos passos da concentração à dispersão; seja pelo compasso do som que sai dos seus tamborins e vai ao encontro dos meus ouvidos; seja pelo que promove nesse entrelace do bloco da liberdade com o bloco da democracia. 

“Gosto que me Enrosco” nas riquezas materiais e de afeto que fabrica. Gosto de te ouvir e adoro te sambar sob “A Batucada dos Nossos Tantãs”. E se “As Rosas Não Falam”, nos tempos que nos visita – cantam. O samba — você — hino à essa tal “Liberdade, Liberdade” que abre as asas sobre nós, é cura e raiz, é “A Voz do Povo”.

Nesses tantos rios que passaram em nossas vidas, aprendemos que se falta o pandeiro, toca no isopor mesmo. Se não tem chocalho, enche a latinha de cerveja (bebida) de areia ou pedrinhas. Se a cuíca não chegar a tempo, o assobio esbanja a espontaneidade que planta em seu povo. Sua vocação é inventiva e nos faz devotos criativos. 

Deixa me fantasiar de serpentina e o confete fazer a alegria das crianças — futuros ou já presentes foliões. Vem e me vacina dessa harmonia de abandonar os adereços que me impõem o ano inteiro para ser quem eu sou. Experimentar o outro no prazer de se abraçar e, se houver encantamento, porque não se beijar, se dar e receber... Até a Quarta-Feira de Cinzas ou para além dela.

Ah, Carnaval... Que saudade de você! Vem para interromper esses tempos de cólera e de gente raivosa que não gosta de fazer obra de arte coletiva. Chega mais perto e me permite protestar contra as malvadezas do mundo, dessa forma divertida, que irrita os que são contra você. Quero pular na maestria de suas multidões e declarar que, por amarmos gente, sou assim tão ligado a você. 

Sigo a te esperar de glitter no rosto, coração de palhaço posto — repleto de emoção. Já separei as fantasias e minha coleção de alegrias para me multiplicar de você. Estou pronto, já há algum tempo, para embarcar nas suas alegorias que traduzem bem viver. Está difícil essa saudade do seu lirismo em poesias, estou louco para te rever. Se atrasar mais um pouco, não nego o sufoco de ter que te aguardar um tanto mais. 

No entanto, livre, leve e solto, estou cada vez mais cheio de energia para desfilar na sua democracia e me embebedar da sua mais festiva paz.        

 

Foto da galeria
(Foto: Carlos Mafort)
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Convicto

sábado, 19 de fevereiro de 2022

A fé move as pessoas, o idealismo reforça a recusa em esmorecer perante as fraquezas e intrigas alheias, mas é a coragem que determina o poder que temos em mudar o mundo. Mudar nossos bairros, nossa cidade, nossa realidade, a si mesmo. Mudar os lugares e a lida cotidiana, no entanto, só faz sentido se for pelas pessoas. 

A fé move as pessoas, o idealismo reforça a recusa em esmorecer perante as fraquezas e intrigas alheias, mas é a coragem que determina o poder que temos em mudar o mundo. Mudar nossos bairros, nossa cidade, nossa realidade, a si mesmo. Mudar os lugares e a lida cotidiana, no entanto, só faz sentido se for pelas pessoas. 

A vida das pessoas tem que importar. A vida das pessoas é mais do que mero detalhe em leis, discursos e estatísticas. A vida de cada pessoa importa. Afinal, as pessoas são o motivo de existir das cidades, estados e países. É o nosso motivo de insistir na vida. E esse deve ser o motivo fundamental, essencial de toda ação para que a vida de todas as pessoas possa ser melhor, possa ser mais feliz. 

Assim, mudar o mundo só faz sentido se for para melhorar a vida das pessoas e consequentemente a nossa. O mundo não está um lugar nada fácil para se viver. 

É preciso coragem, muita coragem para fazer o que tem que ser feito. Dar a cara à tapa, insistir, teimar na fé, combater o mal não são missões das mais simples. 

Mas também não precisamos complicar tanto, nem se render à preguiça, ao pessimismo ou às narrativas que nos tentam empurrar como roteiros fechados. O enredo de existir é obra em aberto que não aceita verdades prontas da boca de facínoras ou de nossos próprios pensamentos que ocultam traumas. 

É admirável quem age no sonho de revoluções cotidianas, altruisticamente, mais do que propriamente para tentar ter fama. Fazer, promover o diferencial, somar, enxergar os invisíveis, acreditar no coletivo, enfrentar a omissão. É preciso coragem nessa profissão de fé que faz chamamento, urgente e necessário, para se combater as desigualdades, o preconceito, o ódio gratuito às mulheres, a marginalização da população LGBTQIA+. Proteção aos vulneráveis e desprotegidos, pois são eles (nós) que estão em risco permanente. Ensina essa profissão de fé que há situações que não se debate, se combate.     

Construir de forma coletiva, de fato, requer certa abnegação. Que sentido há no individualismo? Que vocação há na gana do poder? Que motivação apaixonante há na vaidade vazia? Nenhum para a primeira pergunta. Nenhuma para a segunda pergunta. Nenhuma para a terceira pergunta. Mas na resposta há sentidos que diferirão os que passarão daqueles que são bons e até invencíveis nessas pequenas grandes batalhas coletivas, para o coletivo e para si mesmo. 

Esses que sobrevivem nas suas profissões de fé podem até aparentar abatimento pela luta árdua e interminável, mas serão os que de fato herdarão a terra. Juntos! Esperançosos sempre, temerosos jamais! E há muito das lutas coletivas dentro dos nossos combates particulares consigo mesmo. Mas em ambos há um objetivo comum: alcançar a felicidade, se permitir a felicidade. E, não há felicidade plena se ao lado o irmão chora ou se não se está contente internamente. É preciso que você seja seu melhor amigo e da sua consciência também.   

As dúvidas são sementes paralíticas. Que essas sementes daninhas sejam arrancadas. Convoque para si, convoquemos para nós, coragem repleta de amor, do tipo que impede observar tudo passivamente. Injustiças são injustiças e têm que ser derrotadas com esforço incansável. Há que se preservar e garantir o maior dos direitos a todos: o de ser feliz, sem que se faça o mundo triste. 

A grandeza dos nossos sonhos nos concede garantias de que, através de nossas atitudes, toda luta vale à pena e pode e deve ser até prazerosa. Quando os propósitos se tornam maiores até do que a realidade vigente, não há nada que possa impedir a caminhada. Um passo de cada vez, hora veloz, outra mais lento – não importa – se convicto. 

 

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A tarefa e o prazer, o sonho e a realização

sábado, 05 de fevereiro de 2022

Somos escravos de nossos hábitos. Por isso, tão importante é preservar bons hábitos. Quem fala uma coisa e faz outra é tão desonesto quanto aquele que rouba.

Discurso que não é prática, é charlatanismo com a fé alheia. Discurso de ódio, discurso que mata é tão condenável quanto a prática do preconceito, da indiferença. O sangue que escorre na mão que faz, também está na boca de quem profere.     

Somos escravos de nossos hábitos. Por isso, tão importante é preservar bons hábitos. Quem fala uma coisa e faz outra é tão desonesto quanto aquele que rouba.

Discurso que não é prática, é charlatanismo com a fé alheia. Discurso de ódio, discurso que mata é tão condenável quanto a prática do preconceito, da indiferença. O sangue que escorre na mão que faz, também está na boca de quem profere.     

Os valores morais e éticos devem ser hábitos praticados cotidianamente. Não confunda, no entanto, moral com esses moralismos às avessas tão em moda. Se caça a liberdade do outro, se fere o próximo, se não há empatia, logo não é moral, é maldade mesmo. E ética está mais para amor e consciência coletiva, do que para o que se prega por aí por gente que se autointitula de bem. Há muita crueldade nessa gente de bem com Bíblia debaixo do mesmo braço que faz arminha com a mão. 

Assim, o sonho de um mundo melhor também deve ser cultivado a todo instante e este deve ser também um hábito. Quando perdemos a capacidade de sonhar, também perdemos o desejo de realizar. Perder o desejo de realizar é também negar o direito de viver.

Viver é sofrer de vez em quando, mas sorrir em boa parte das vezes, inclusive com os erros. Viver é se sentir esgotado de vez em quando, mas ter energia para enfrentar mais um leão. Viver é ter prazos de validade, mas acima de tudo fazer bom uso do tempo que se tem. 

Quando se finda? Não sabemos ao certo, mas temos a certeza de que tudo tem começo, meio e fim. Onde está o prazer? No meio, pois é na jornada que se vive de fato e é na intensidade que se descobre o que garante a felicidade.    

O melhor de tudo, portanto, se dá quando o prazer é tarefa e a tarefa prazer. Prazer de escrever. Prazer de fazer. Prazer de se dar. Prazer de estar aqui e não lá. Prazer em se manter firme em seus propósitos. Prazer de sonhar. Prazer de realizar. Afinal, o que vem antes das realizações?

Walt Disney, esse gênio da fantasia, dizia: “prefiro divertir as pessoas, na esperança de que elas aprendam, ao invés de ensinar as pessoas, na esperança de que elas se divirtam”. 

Assim, ele criou a sua forma fantástica de sonhar e realizar. É a chamada estratégia da criatividade que, mesmo décadas depois, segue atual e pode ser aplicada a todas as profissões, a todas as decisões que tomamos, à vida como um todo. 

No seu método de criação, Walt Disney se separava em três: o sonhador, o realista e o desmancha-prazeres. Walt Disney usava e coordenava sua imaginação (o sonhador), traduzia metodicamente suas fantasias em formas tangíveis (o realista) e aplicava seu julgamento crítico (o crítico).

No primeiro, sugere: sonhe alto, dê asas à imaginação, sem medo, inibições e censura. Tudo é possível, o céu é o limite. 

No segundo, o realista, faça as coisas acontecerem. Pense de maneira construtiva e saiba como planejar, estabelecer prazos e metas, definir responsabilidades e dimensionar recursos.

Por fim, o crítico em que se deve concentrar no que pode dar errado, busca por furos nas idéias e nos planos. Sabendo localizar as falhas, há a possibilidade de tomada de ações preventivas para eliminar as causas de problemas potenciais.

Não é fácil mantê-los sem conflito, mas é possível integrá-los e interagi-los de modo bastante eficiente na finalidade de ter prazer nas tarefas — sonhar e realizar.

Há que se sonhar, mas sonhos sem ação são só sonhos! Tão importante quanto sonhar é realizar! Mas sem prazer, nada se concretiza de maneira feliz. Porque fazer por fazer, o mundo está cheio. Repleto de gente no automático. Carimbadores que sequer enxergam o que carimbam. 

Acreditar que o mundo pode ser mais pacífico de paz festiva para todos deve ser sonho e realização de cada um de nós. Um mundo mais prazeroso de viver, com felicidade de si para todos e por todos se retroalimentando.

 

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(Foto: Freepik)
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Tilt

sábado, 29 de janeiro de 2022

“A gente tem muita paciência para erros da tecnologia, mas não temos a mesma paciência com o outro, com as pessoas”. À frase, que o sociólogo Dominique Wolton disse à minha turma de pós-graduação em Gestão Pública, acrescento que também não somos pacientes nem com a gente mesmo. 

Esse pensamento ecoou ainda mais interessante por conta de uma experiência que tive recentemente e pela qual todo mundo passa. Meu smartphone, do nada, simplesmente parou de funcionar. A tela preta, cheia de cores esquisitas pulando — tilt. 

“A gente tem muita paciência para erros da tecnologia, mas não temos a mesma paciência com o outro, com as pessoas”. À frase, que o sociólogo Dominique Wolton disse à minha turma de pós-graduação em Gestão Pública, acrescento que também não somos pacientes nem com a gente mesmo. 

Esse pensamento ecoou ainda mais interessante por conta de uma experiência que tive recentemente e pela qual todo mundo passa. Meu smartphone, do nada, simplesmente parou de funcionar. A tela preta, cheia de cores esquisitas pulando — tilt. 

Tilt é um termo que ouço desde criança quando o cartucho do videogame não funcionava. Geralmente, não sei por que motivos, assoprávamos a fita, o tilt passava e lá íamos para a diversão. Tilt, nesse caso, é uma gíria para exemplificar algo que parou de funcionar. Também é usada para pessoas: ficou maluca.  

Telefone sem contatos, sem aplicativos do banco, de conversa, de jogos, de editor de fotos e de vídeos. O celular tem mais coisa que a carteira de couro que carrego no bolso. Sem poder falar com ninguém. Ficar sem o aparelho é quase como ficar sem um dos membros.

Uma pesquisa na internet me deu os caminhos: baixar um programa para atualizar o dispositivo. O aviso assustador: “Caso não seja possível atualizar, será necessário restaurar, o que significa que perderá todos os dados não salvos na nuvem”. 

Horas e horas — erro. Mais algumas horas e novo erro que sacramentava: restaurar. Sem alternativas, efetuei o procedimento que deu o erro 4103. Será que vai de 1 a 4103? Haja erro! Nova busca e a pior notícia: assistência técnica. Para a virtual, código de verificação no telefone. Oras, como fazer a verificação se o dito cujo está com defeito? 

Horas fora do mundo. Parentes e amigos preocupados com o sumiço. Estar fora da tecnologia te torna invisível. Por isso, a paciência irritante com a tecnologia é mais forte. Dia seguinte, salvo pela assistência. Na verdade, salvo pela experiência de um dos técnicos.

O primeiro não conseguiu resolver, o segundo matou a charada por caso semelhante em que quebrou a cabeça para conseguir salvar aparelho igual. Curto-circuito interno, por uma peça miúda. Peça desconectada, restauração efetuada, uso parcial permitido até que a peça fosse trocada. 

A saga é cotidiana em todos os cantos e se percebe pela quantidade enorme de lojas que consertam todo tipo de eletrônicos. Do mesmo modo, vemos a quantidade crescente de espaços que “curam” pessoas: farmácias, igrejas, consultórios de especialidades variadas, com destaques para psicologia e psiquiatria. Estamos dando tilt. 

Será que temos a mesma paciência com o tilt das pessoas como temos com nossos caros eletrônicos? 

Estamos precisando de preventivos: diversão. Tanto quanto precisamos respeitar os nossos tilts e os tilts dos demais. Talvez necessitemos mais da mesma paciência que temos com as tecnologias para com as pessoas. Porque se as tecnologias, inegavelmente, facilitam nossas vidas e por isso somos dependentes. 

As pessoas, inegavelmente, nos dão brilho aos dias e por isso somos livremente dependentes delas. Mas as tecnologias podem até faltar, chegamos até aqui sem muitas delas. Mas sem as pessoas não chegaríamos e seguimos sem chegar a lugar algum. 

Cuidar mais uns dos outros. Dar aquela assoprada carinhosa de vida como fazíamos no cartucho do videogame. Dar afagos, olhar sereno, abraçar as imperfeições que dão gosto ao cotidiano. 

Fazer do dia a dia – diversão e compartilhar dessa diversão. Afinal, festa vazia não é festa. Vazio é pior do que tilt.    

 

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Quando eu morrer... Enquanto vida

sábado, 22 de janeiro de 2022

Quando o céu cai sobre mim
Minha alma evapora
E por um instante deixo de ser eu.
Talvez, eu me transforme no nada.
Uma nuvem traiçoeira me engole
E logo depois me vomita.
A busca por uma chance
É, às vezes, uma saga
Outras, um desperdício.
Aí, ao abrir os olhos e voltar a mim,
Me pergunto
Se o céu, realmente, cai sobre mim
Ou se sou eu que voo ao encontro dele.

 

Quando o céu cai sobre mim
Minha alma evapora
E por um instante deixo de ser eu.
Talvez, eu me transforme no nada.
Uma nuvem traiçoeira me engole
E logo depois me vomita.
A busca por uma chance
É, às vezes, uma saga
Outras, um desperdício.
Aí, ao abrir os olhos e voltar a mim,
Me pergunto
Se o céu, realmente, cai sobre mim
Ou se sou eu que voo ao encontro dele.

 

Nelson Cavaquinho já dizia em seu poético samba “Quando Eu Me Chamar Saudade” que “se alguém quiser fazer por mim que faça agora”. No dom da música, aconselhava: “me dê as flores em vida, o carinho, a mão amiga para aliviar meus ais. Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais”. 

Filho de outro saudoso Nelson que nunca tocou cavaco ou pandeiro, aprendi com ambos que a morte é um mistério, mistério esse que nem tão cedo se pode querer desvendar. Mas a vida está debruçada à nossa frente e na sua simplicidade enigmática quer ser vivida mais do que resolvida.  

Assim, quando eu morrer não se preocupe comigo. Se preocupe comigo enquanto eu estiver vivo. Não quero coroa de flores. Parafraseio o sambista: me dê flores em vida. No dia a dia, me surpreenda numa manhã qualquer em meio ao café ou nesses tempos sórdidos de WhatsApp, me espante com uma ligação telefônica inesperada, sem notícias boas ou ruins, apenas com a meta de dizer que pensou em mim. É mágico ser lembrado. Mais mágico ainda é saber de que foi lembrado e poder retribuir com abraços. 

Essa roupa que nos é emprestada tem como destino ser pó. Enquanto funcional é normal se perguntar: qual a parte mais importante do corpo? Onde estão as memórias, os sentimentos? Coração. Às vezes, cérebro. 

Bom mesmo é quando agora — e só no agora é possível — sentir fluir o que lava a alma. Será que a alma evapora? Pó ou vapor, me beije, me sorria, me presenteie de presença agora, enquanto tenho certeza de experimentar o que é ter alma nessa roupa que me permite ir, vir, escolher, abdicar, voar, sentir.  

A felicidade não está à venda, muito menos está nas vitrines dos magazines ou boutiques de shoppings centers, ainda que a vaidade nos insista a pequenos caprichos capitalistas. Mas a felicidade, esse grande fascínio e objetivo da vida, não pode ser resumida a apenas um termo ou mesmo conjunto de termos. Por mais que tratada de forma empírica, a felicidade jamais conseguiu ser totalmente descrita por filósofos, cientistas ou poetas. Porque a felicidade é mutável de pessoa para pessoa, de trajetória para trajetória, de espaço-tempo para espaço-tempo. É determinada para si ainda que em constante redescoberta, mas absolutamente indefinível como algo único para o coletivo. 

Paz — dirão. A paz é um sonho mundial, como a fraternidade é. Mas o que é paz na Palestina, na África, na favela carioca, na sua casa?    

Quando eu morrer, você não saberá se tenho as respostas, tampouco se mudei as perguntas. Por isso, é em vida que quero confabular com você todos os ensaios-erros possíveis. 

É animadora a consciência de que o que se podia adiar, já não se pode mais. Pois quando não se pode mais adiar, a urgência é uma aliada do desafio que desconhece o medo, ainda que admita que o medo existe. Mas o medo passa a colaborar para se mover. 

O tempo, de repente, já não permite que sejamos tão efêmeros assim. Se a velocidade do mundo antecipa o fado de ser pó ou de evaporar, o novo futuro que se achega diz que idiotização só é enredo na ironia crítica de um desfile de carnaval. Não há por que ficar perdendo tempo com esses. 

Não é mais necessário se reinventar: é urgente. O caminho está posto e não há outro percurso para se caminhar. Quando eu morrer, eu quero que a Terra prossiga para os próximos, mas quero ser lembrado disso em vida. 

Recordo das minhas mãos quando eu ainda era menino. Habilidades evoluíram tanto quanto pelos, força, tamanho e tato. Retrocederão. Pelas minhas próprias mãos, compreendi que nem toda frase vira texto. Pela própria leveza da minha alma, entendo que nem toda palavra é poesia. Pelos vazios pesados do coração, tenho certeza de que nenhuma vida é santa. 

Mesmo na pretensão da imortalidade, mas com a certeza de um dia se chamar saudade, que a vida seja de coleções de histórias que reunidas consigam dar mais do que uma biografia, mas se consumem em um universo particular de gente que fez por você enquanto vida.  

 

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Qual é a sua cachaça?

sábado, 15 de janeiro de 2022

Todo mundo tem uma cachaça preferida. Mesmo os avessos ao álcool, mesmo os que não gostam do destilado. A cachaça é tão nossa que a usamos, inclusive, para falar de nossos bons vícios. 

“Esse jogo é uma cachaça”. “A vista desse lugar é uma cachaça”. “Assistir esse vídeo é uma cachaça”. “Fazer isso é uma cachaça”. “Aquela música é uma cachaça”. “Te ver é uma cachaça”. 

Todo mundo tem uma cachaça preferida. Mesmo os avessos ao álcool, mesmo os que não gostam do destilado. A cachaça é tão nossa que a usamos, inclusive, para falar de nossos bons vícios. 

“Esse jogo é uma cachaça”. “A vista desse lugar é uma cachaça”. “Assistir esse vídeo é uma cachaça”. “Fazer isso é uma cachaça”. “Aquela música é uma cachaça”. “Te ver é uma cachaça”. 

Cachaça é ditado popular. É referência para tudo o que gostamos tanto que até perdemos certo controle sobre a repetição e nos alertamos para não se embriagar, ainda que estar ébrio seja bom vez em quando. Somos feitos de prazeres e os marcantes – momentos, pessoas, lugares, epifanias, símbolos, afazeres – nos resumem. 

Um homem é resumo de suas paixões. O que intitulam os capítulos das nossas biografias, em parte, são nossas cachaças. Qual é a sua? Ou melhor: quais são as suas cachaças? Da branquinha ou da amarela? Pura ou envelhecida? Carvalho, Umburana, Ipê, Pau Brasil, Jequitibá, Cabriúva... 

Assim como tem cachaça para todos os gostos, as cachaças de todos têm que ser respeitadas. Dizem os mais velhos: “Gosto não se discute”. É sábio apreciar a liberdade, mas sabedoria ainda é compreender que temos paladares, tatos, olfatos, histórias e sentimentos diferentes – únicos. 

Quais as cachaças da sua trajetória? Quais seguem com você? Quais se livrou? Quais não abre mão e promete apreciar até o último suspiro, mesmo que não reste gole?

Definimos nossas cachaças para que elas nos definam. 

Diferentemente da matemática, na cachaça e na poesia a ordem dos fatores altera o produto. Assim, é importante saber quem está no controle. Pois ainda que vício, os bons são aqueles que abusamos conscientemente para ter equilíbrio. 

No tal balanço que faz gingar na corda bamba e sorrir mesmo na angústia dos dias difíceis. Na tal sensatez que faz brindar nas horas ruins para abençoar as boas do porvir. Na tal lucidez que nos abre os olhos e o coração para o amor vindouro que acaba de passar na calçada... 

E ainda que se tropece por se confirmar passageira paixão, embriagado experiente se levanta para seguir. Seguimos sempre e as tatuagens de nomes que carregamos abandonados não pesam. Tatuagem não pesa, tanto quanto não se gramatura cicatriz.

Beba das suas cachaças com devoção a si mesmo por estar vivo vívido. Aprecie sem moderação as cachaças que trazem cores ao carrossel e fazem-no girar sem tontear. Aproveite o sabor e até o retrogosto das cachaças que invadem o espírito e dão razão ao existir, insistir, resistir, investir e todos os verbos que o levam a ir para frente, rumo à tal felicidade para além do que pregam coachings, pastores, políticos, psicólogos, o capitalismo, os livros de autoajuda... 

Tenha duas, três ou muitas cachaças para chamar de suas. Compartilhe-as, por que não? Saiba a hora de bebê-las sozinho e todas as demais para dividir com uma pessoa, grupo ou multidão. Afinal, cachaça pede brinde, nem que seja com o santo ou com você mesmo.                         

 

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(Foto: Deise Silva)
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Viva e deixe viver

sábado, 08 de janeiro de 2022

Ninguém precisa da sua permissão para ser feliz. Tampouco, você precisa da permissão de alguém para ser feliz. Por isso, viva e deixe viver. É como diz a música: “Não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há para viver. Vamos nos permitir”.  

Os tempos atuais, de julgamento fácil, não pedem ainda mais fiscalizadores de rabo. O mundo necessita é de pacíficos e empáticos. De quem consegue dar a outra face. De quem estende a mão, inclusive, para o que não compreende. 

Ninguém precisa da sua permissão para ser feliz. Tampouco, você precisa da permissão de alguém para ser feliz. Por isso, viva e deixe viver. É como diz a música: “Não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há para viver. Vamos nos permitir”.  

Os tempos atuais, de julgamento fácil, não pedem ainda mais fiscalizadores de rabo. O mundo necessita é de pacíficos e empáticos. De quem consegue dar a outra face. De quem estende a mão, inclusive, para o que não compreende. 

Como a vida seria mais leve se cada um pudesse ser pleno consigo mesmo. Como a convivência seria mais harmônica se a liberdade pudesse ser prática mais do que utopia.

Sabemos o que precisamos. Mas o preconceito acorrenta e a mera intenção da razão absoluta é chibata que dói no couro de quem ousa ser quem se é com o único objetivo de ser feliz. 

Ao conhecimento que mata, falta sabedoria. À fé que amordaça, falta espiritualidade. Às certezas do coração — coragem! Para ser quem se é, compartilhando o talento tão único que é exclusivo de cada um. 

Somos tão exclusivos que me pergunto: por que excluir? Como é possível não entender a diversidade que é o mundo? São tantos mundos particulares em um só mundo, com trajetórias tão peculiares a cada um que é incompreensível desconsiderar e desrespeitar a existência do outro, de suas escolhas, de suas formas de experenciar a vida. 

Marginalizar o que não se entende é uma maneira de torturar o outro. Inviabilizar a felicidade alheia é invisibilizar a existência de quem pode parecer diferente. Ao fim, todos só queremos o mesmo: viver feliz.        

“Só se vive uma vez”: por mais que seja clichê, poucos vestem esse mantra. Não há tempo que volte, mas se há vida — ainda há tempo para se viver. Não uma sobrevida. Mas uma vida que colecione alegrias e que faça das angústias trampolins para a plenitude. 

Aqui — grife-se — ser pleno não é chegar ao céu. Mas viver com a divindade da finitude que garante a urgência de amar e ser feliz. Talvez o céu seja aqui. Sem corrida maluca por uma terra prometida, mas sabendo que ao compasso do ponteiro do relógio, sempre será um segundo a menos. 

A eternidade não cabe em uma vida só. Se é essa a vida que temos garantia em ter, que a tratemos bem para que ela nos devolva o prazer de viver. 

Assim, sobreviver é pouco. Viver em espera igualmente é quase nada. Liberdade futura dói em quem não pode ser livre agora. Felicidade depois de amanhã é apenas promessa para quem sofre hoje. Tolerância é respeito futuro e o que se quer é respeito já! 

Viver livremente a felicidade é o imediato que se deve dar, por direito mais do que presente. Respeito a si, ao outro. Simples assim: viva e deixa viver!

 

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(Foto: Pexels/Pixabay)
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O ativismo que me encanta

sábado, 18 de dezembro de 2021

 

Meus pés cansados seguem — porque ainda que meu corpo igualmente cansado não responda como eu gostaria — meu espírito é de esperança. Mesmo quando o mundo se mostra mal, mesmo quando sinto que estamos perdendo como humanidade, mesmo diante de tanta gente má vestida de bem, sigo com fé. Mais do que andar com fé, é preciso honrar essa fé na prática. 

Ao esperar, não honro a fé. Ao silenciar, não honro a fé. Inerte, também não honro a fé. Fé pede ação, tanto quanto sonhos sem ação são apenas sonhos. 

 

Meus pés cansados seguem — porque ainda que meu corpo igualmente cansado não responda como eu gostaria — meu espírito é de esperança. Mesmo quando o mundo se mostra mal, mesmo quando sinto que estamos perdendo como humanidade, mesmo diante de tanta gente má vestida de bem, sigo com fé. Mais do que andar com fé, é preciso honrar essa fé na prática. 

Ao esperar, não honro a fé. Ao silenciar, não honro a fé. Inerte, também não honro a fé. Fé pede ação, tanto quanto sonhos sem ação são apenas sonhos. 

Sabedor de que protagonista nem sempre é o personagem que podemos vestir, reagir não é papel secundário. Reagir às injustiças, aos mensageiros da morte, aos profetas da ignorância, aos alimentadores da fome, têm sido cada vez mais fundamental nesses tempos de surdez rouca. Impedir narrativas que interessam apenas aos que narram para benefício próprio ou em nome de verdades que mantêm o status quo. 

Quem disse que a cidade é assim? Quem definiu que é assim a vida e ponto? Não! Não podemos passar pano para esses que insistem em atravancar caminhos. Passarão! Mas se não fizermos nada, seguirá tudo como está. O ativismo que me encanta é o da felicidade plena, minha e a de todos os demais, distantes e à minha volta.

Nem tudo precisa se encaixar. É arte a peça que não se encaixa no quebra-cabeça. Somos múltiplos, singulares, diversos. Quem não respeita a diversidade, atira no próprio pé e se mata pelo próprio umbigo. Quem não cultiva essa relação com a natureza, se suicida e leva todos os demais juntos. De tal modo que só há uma forma de uma convivência pacífica e feliz: com diversidade e ecologia. 

Tolerância é pouco e está mais para castigo ao castigado do que hombridade do tolerante. O mundo não precisa de tolerantes e os tempos de agora não sustentam neutralidade. O que o futuro não quer para esse presente que já se avista são neutros e tolerantes. Não há mais espaço para arquibancadas que não interagem com o jogo, tanto quanto não há mais lugar para torcedores do escárnio, predadores do esforço alheio.

Andar com fé é preciso. Mas é preciso caminhar. Porque fé sem verbo não é fé. Os segundos estão nos vencendo e o tempo fatalmente nos vencerá. Mas o que fazemos do tempo, com o tempo que temos, é e deve ser humanamente divino. 

Mesmo que eu queira ser como criança, meu corpo já não é mais o mesmo e o acúmulo de experiências me faz menos ingênuo. Cicatrizes de traumas e tatuagens de alegrias não me permitem mais ser como criança. Mas essas experiências me concedem certa evolução capaz de me dar sabedoria para ser melhor do que fui ano passado, para ser mais cortês do que fui ontem, para ser mais empático diante das existências que me permitem enxergar o equilíbrio e se compartilham comigo para coexistirmos.

Assim, dentro da gente mesmo, coexistem aparentes ambiguidades que nos dão a importância de uma e de outra. Não são visitas causais. Estão ali, permanentemente no canto à espreita de serem convocadas e se autoconvocando. Para lidar com cada uma, mais do que por aventuras, se faz necessário andar com fé — sílaba número um de felicidade.   

 

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Onde mora a liberdade?

sábado, 11 de dezembro de 2021

Onde mora a liberdade? Talvez a liberdade ainda more apenas nos sonhos. Essa tal liberdade, em que tantos matam e morrem por ela, não é liberdade. É o mal vestido de bem. É a crueldade travestida de bondade. É Cristo preterido para Barrabás, em nome da inventada liberdade religiosa que peca, destila ódio, crucifica. Seria diferente se Jesus Cristo viesse hoje? 

Onde mora a liberdade? Talvez a liberdade ainda more apenas nos sonhos. Essa tal liberdade, em que tantos matam e morrem por ela, não é liberdade. É o mal vestido de bem. É a crueldade travestida de bondade. É Cristo preterido para Barrabás, em nome da inventada liberdade religiosa que peca, destila ódio, crucifica. Seria diferente se Jesus Cristo viesse hoje? 

Acima das religiões estará sempre a espiritualidade. Individual, ainda que com efeitos coletivos. Essa é a liberdade permanente. A que se conecta com Deus sem intercessores. A que não se calça na fé em busca de prosperidades materiais ou poderes. Fé não se veste de paletó e gravata, tampouco carrega no pulso relógio de ouro. Fé está na nudez da alma. Todo o resto é sorte, charlatanismo, esforço, meritocracia, trabalho de coaching, psicologia e todas as “logias” possíveis e ainda não inventadas.     

“Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. Os usados serão perdoados. Mas os que usam — não! Pois os que usam sabem o que fazem e fazem conscientes e deliberadamente. Ferem, abusam da crença alheia, mandam à guerra (disfarçada de missão e chamam soldados de missionários) e matam. Há lágrimas e sangue em suas mãos.       

Liberdade que se faz em favor da morte e de morte em vida não é liberdade. Liberdade está mais para “vida plena e vida em abundância”. Liberdade requer respeito à existência do outro e de si mesmo. A liberdade mora na ética coletiva, na boa convivência, sem que para isso tenha que se fingir o que não se é. “Não me tornes invisível!”. 

É estar fora do armário, das imposições, das obrigações de se limitar a caixinhas. É ser quem se é e se afirmar sendo. É confrontar a hipocrisia. É dar a outra face para derreter mentiras fantasiadas de moralismos. É entender o próximo e compreender que somos únicos, singulares em espírito e vivências. É derrubar julgamentos e se vigiar para não determinar o que é melhor para o íntimo dos demais. Como seríamos mais livres se não ficássemos vigiando o rabo dos outros?  

Por que determinar o que o outro pode ou não pode? Ninguém é dono de ninguém. Por que dar opinião sobre tudo? Se fere, discrimina — não é opinião. Por que querer ser Deus?   

Geralmente, quem se vende de muito simples, bastante vaidoso é! Normalmente, quem planta moral demais, muito falso também é! Quem julga demais o faz, pois bem sabe que é réu. Mas a mentira se derrete por si só, enquanto causa graves danos ao subconsciente. Ainda que não à luz desses dias, ainda que demore, mas emerge.   

Assim, a liberdade está no bem-estar, em ser feliz sem incômodos. Liberdade e felicidade andam de mãos dadas em direção ao sol, sem necessidade de protetor solar, tampouco caminhando à espera de, mas sendo ao caminhar — livre e feliz.  

 

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