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O dia mais feliz da sua vida

sábado, 17 de junho de 2023

E se esse for o dia mais feliz da sua vida? Se você viver assim, vai querer fazê-lo mais feliz ainda pelo simples saber. Talvez essa perspectiva seja melhor do que pensar que pode ser esse seu último dia, seu último instante. Seu único instante. 

A felicidade… Que dia feliz o de nascer. Apesar do susto de sair de bolsa tão confortável, ver a luz (ainda que apenas por silhuetas e sombras) é de uma beleza inigualável. 

E se esse for o dia mais feliz da sua vida? Se você viver assim, vai querer fazê-lo mais feliz ainda pelo simples saber. Talvez essa perspectiva seja melhor do que pensar que pode ser esse seu último dia, seu último instante. Seu único instante. 

A felicidade… Que dia feliz o de nascer. Apesar do susto de sair de bolsa tão confortável, ver a luz (ainda que apenas por silhuetas e sombras) é de uma beleza inigualável. 

E muito feliz o dia que bebê já não se guiava pelas vozes, especialmente a de mamãe. Ver o rosto dela, enxergar as cores. Que mundo colorido. Sem saber o que era felicidade, banguela o sorriso se plantou. Descobrir o sorriso é melhor do que o choro da reclamação. 

E não poderia supor que mais feliz ainda o dia de andar, só superado pela formação de palavras que fazem ser entendido. Compreensão, no entanto, só se aprende mais tarde, bem mais tarde e, igualmente, produz dias de muita felicidade. 

Achar que é independente pelo simples fato de ir ao banheiro sozinho faz criança achar que aquele era o dia mais feliz da vida. Mas aí vêm os dias de saber quão gostoso é refrigerante e quanto deixa energizado essa diversidade de delícias temperadas com açúcar. O açúcar. Não tão poderoso como o sol e a lua. E a lua é ainda mais poderosa quando vista no colo de primeiras, segundas, terceiras paixões. 

Que dia feliz, que momento feliz saber diferenciar tantos sentimentos que nos constroem e nos desconstroem. Aquela viagem a Recife, aquela viagem no simples observar uma abelha voar de uma flor para outra, aquele voo no olhar tão especial de quem vê em outros olhos um novo mar. Memórias que elevam até mesmo as saudades que recusam fantasias de nostalgia, pois se assumem como dias mais felizes da vida para a vida inteira. 

O palco tão cheio quanto a plateia, vibra o coração. As conquistas do clube de futebol escolhido ou as vitórias do time de pelada mesmo. Torcer é ser parte, se vincular e criar vínculos faz o destino se recusar a ser só. 

Na arte dos encontros, especialmente os mais inesperados, se fazem dias mais felizes que planejam outros tantos que vislumbram a mesma chance de ser como esse de ver pela primeira vez aquele rosto, sorriso, alma e olhar de quem se quer para o altar e tudo que vem depois dele, inclusive o cotidiano de pães dormidos virando torradas com manteiga. 

O dia mais feliz da vida se repete e se repete e querer chegar ao dia mais feliz que é envelhecer com quem se ama se faz continuadamente, dia a dia, de cabelos reluzentes aos brancos que virão. 

Descobrir que intimidade é raro e admiração é conquista contínua faz relações prazeirosas que dignificam os dias ao expoente de mais feliz da vida. Sem perfilá-los, sabedor que o tempo, essa marcação inventada  entre o nascer dos dias e a intrusão das noites, é cheio de canções. 

Às vezes, poetizam o silêncio, outras arrebatam em ansiedade os movimentos de ir sem ir, dançar como bailarino ou apenas bailar sem saber a coreografia. Porque inventamos formas de encarar as angústias e aprendemos muito com as músicas. Aprendemos até a amar, sofrer com convicção, se iludir, conscientemente, desapegar. 

Assim, rir dos enganos que sempre são ganhos e deixar ir, ainda que se queira muito que fique. Só fica o que pode ficar. Até raizes se soltam da terra profunda. 

E os alienígenas em contato com os humanos nos tranquilizarão de que escravos não nos farão. E revelarão que todos os que já se foram são estrelas das órbitas deles e que poderemos reencontrá-los como encontramos a luz das estrelas que já morreram nas galáxias mais distantes de nós. 

Querer é nobre e ser atendido é divino. Mas, feliz mesmo é conseguir o que se quer por si e pelas forças todas que convocam para atuar em favor do certo e certeza é o que se quer: bandeiras, paixões, amigos, paz e festa. 

E se esse for o dia mais feliz da sua vida. Se você viver assim, vai querer fazê-lo mais feliz ainda. Talvez essa perspectiva seja melhor do que pensar que pode ser esse seu último dia, seu último instante. Seu único instante. A sapiência do fim torna tudo mais urgente, não necessariamente mais feliz, ainda que cineasta da própria vida queira últimas cenas bonitas, finais felizes.

O dia mais feliz hoje será superado pelo de amanhã, continuadamente, porque viver é busca que se encontra nas reticências de cada dia e hora até que seja ponto final. Desejo que esse ponto final demore muito para chegar e que seja de exclamações, posto que supor o que vem além é apenas interrogação. 

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Procura-se

sábado, 10 de junho de 2023

Procuro por você e não me canso de querer te encontrar. Te encanto em canções, enquanto vasculho sua presença em lugares cheios de gente e até nos vazios de alma. Suspeito ter te visto virando a esquina. Convencido de que sei seu nome, até corri pela avenida te chamando: “meu amor, meu amor”. Prefiro me apegar à crença de que você não ouviu ao invés de afirmar que não era você.

Procuro por você e não me canso de querer te encontrar. Te encanto em canções, enquanto vasculho sua presença em lugares cheios de gente e até nos vazios de alma. Suspeito ter te visto virando a esquina. Convencido de que sei seu nome, até corri pela avenida te chamando: “meu amor, meu amor”. Prefiro me apegar à crença de que você não ouviu ao invés de afirmar que não era você.

Sigo a procurar e até a me afogar em enganos. Divirto-me. Rio de mim mesmo e de nós dois. Os desencontros caçoam de ambos, enquanto ambos são sós. Solitários? Não. Temos um ao outro ou a esperança do outro e essa procura nos faz relativamente namorados. Se não conectados, desconhecidos que se conhecem sem terem sido apresentados – ainda.

Procuro por você querendo ser encontrado. Faço cartaz, escrevo poemas nos classificados dos jornais. No frio vapor da janela que assiste o amanhecer, desenho coração com a inicial do meu nome ao lado de três pontinhos. 

Suplico à tez da manhã que se contemple o desejo de ter rosto completo pelos dias todos. Escancaro meu peito e exibo as feridas que acumulei pela vida. Cicatrizes são apenas tatuagens para evidenciar o tanto que me preparei para você e pronto quero ser o que sou com o que você fará que eu seja nós. 

Sonhar é tão corajoso e cansar nem sempre é deixar de ser teimoso. Teimo na procura e vislumbro encontrar as mãos que quero dar e que queiram ser dadas. Com o romantismo dos românticos incorrigíveis, mas com a sabedoria de quem sabe que namoro é companheirismo de rotinas e intimidade que reinventa cotidianos. 

Com a paleta de cores dos que pintam arco-íris em dias cinzas, mas que na falta de múltiplas cores, tem a paciência de admirar a paz de quem se admira mutuamente. Porque amor não é uma invenção dos poetas, tampouco é filosofia. Amor é companheirismo, intimidade e admiração, posto que sem esses ingredientes não há rima que o sustente.

Assim, trazendo todas as vivências de quem errou achando ter achado, é que sigo a procurar por você. Talvez falhe mais uma vez ou dezenas de vezes, erre ao achar que o rapaz da Capital seria você, mas minha intuição grita que você é do Interior. Sigo atento e até ingênuo, mas desperto. 

Se for me visitar, chegar sem avisar, estarei a esperar, mas também fico a provocar a visita, porque preciso muito te encontrar. Não me preocupo com a roupa que estarei vestido, porque minha alma está preparada. Só peço que não demore mais semanas, nem que me deixe outro Dia dos Namorados só a imaginar o próximo em que você estará. 

Até o próximo Dia dos Namorados, quero domingos de cinema nas segundas, pudins de leite condensado em dias de dieta, ver novelas antigas na cama antes de dormirmos de conchinha nos verões de frio de serra. Por isso, vem logo, no dia seguinte a esse Dia dos Namorados. 

Quero viajar na geografia de seu corpo, viver histórias nas nossas caminhadas depois do trabalho, dançar na cozinha enquanto cozinhamos, antes de pedir comida no delivery pelo assado ter queimado. Não demore mais um agosto. 

Quero sorrir do silêncio, beijar sua testa após cada briga para admitir que fui um idiota, e, se não fui, beijarei sua testa apenas para dizer que está tudo bem, que te desculpo por ter me deixado esperando mais de dez minutos na noite chuvosa de outubro. Vai ter volta e, igualmente, culparei o trânsito.

Atravessa meu caminho, antecipa o destino e vem logo me abraçar. Procuro e sigo a procurar e quando te encontrar, cessarei a busca por você, mas não deixarei de criar modos de te fazer suspirar e nos fazer diariamente namorados.

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Minha oração

sábado, 03 de junho de 2023

Minha prece não é para santo, ainda que confie em São Jorge — Ogum. Não peço a Deus todos os dias, porque em algumas segundas, percebo Deus tão diferente ou mesmo ausente que questiono o por quê de tanta maldade no mundo. Talvez faça oração por minha própria procissão de fé, para minha corrida pelas horas, para minha inquietude diante do caos e do silêncio que faço para o mesmo caos. 

Minha prece não é para santo, ainda que confie em São Jorge — Ogum. Não peço a Deus todos os dias, porque em algumas segundas, percebo Deus tão diferente ou mesmo ausente que questiono o por quê de tanta maldade no mundo. Talvez faça oração por minha própria procissão de fé, para minha corrida pelas horas, para minha inquietude diante do caos e do silêncio que faço para o mesmo caos. 

Na minha lida com a vida, eu quero tanto e mesmo o não querer. Sangrar sem dor deixou de ser a minha ilusão. Doer sem sangue é, no entanto, mais cruel. Ainda que consciente, nem sempre consigo que não me sofra. Por isso, refutar a dor, talvez seja satisfação apenas para os que vivem sobrevivendo. Eu dispenso o somente sobreviver. Ninguém deveria se contentar em só sobreviver, com morte em vida. 

Quero esse vício de viver, mesmo quando frágil, mesmo quando nocivo o ópio que me entorpece, ao invés, de me fazer voar sorrindo. Não desejo apressar o meu fim, ainda que nem sempre o que pretendo aconteça na velocidade que eu gostaria. Não preciso que me entendam e nem quero que finjam compreender, mas quero que respeitem o meu existir, tal qual me fiz e faço. 

Não permito que atem as minhas mãos, minhas pernas, meus pulmões. Livres sejam os meus sonhos, as minhas ideias, o meu modo e a minha vontade de ser importante, nem que seja só para mim mesmo. Sou o que mostro, muito mais do que o que escondo. Não sei mentir e nem quero aprender disfarces. Se me amarem ou me odiarem, apenas se aprofundem antes de decidirem. Mas saibam que sou o que descubro a cada dia, por isso prefiro não me definir assim tão permanentemente como uma coisa só. É o que peço na minha oração. Ser múltiplo, aberto, possível, solidário, profundo, apaixonado, repleto de quereres. 

Quero domingos no meu coração. Ver discos voadores nos olhos que aporto. Amar mais do que dizem que devo. Amar mais do que suponho estar disposto. Quero chorar de emoção e voltar a chorar, mesmo que seja choro de despedida, mas que tenha a verdade de quem se compartilhou em algo intenso. Talvez, eu deva desejar antes essa intensidade que no futuro dirá para o meu eu do ontem: “valeu à pena”. 

Quero saudades e seguir a construir saudades. Meu nome é nostalgia, tanto quanto vivacidade. Quero que declamem as minhas crônicas, cantem as minhas músicas. Quero a arte, quero ter a alma vestida de criatividade e despida — espalhar poesia pelo mundo.

Quero a louca imaginação de que vou hoje a um show do Cazuza, amanhã do Tim Maia e na próxima semana, em um bar qualquer de esquina, vou encontrar Belchior cantando. 

Quero gostar de São Paulo, louvar o Rio, matar saudades de Tiradentes, seguir fascinado por Friburgo. Quero conhecer Praga, mais do que Nova Iorque, mas se a escolha me for presenteada, quero mesmo é visitar o Cairo, Cuzco, Halong Bay…

Berlim, não só pelas suas excêntricas baladas, mas porque meu grande amigo, Bernardo, mora lá. Quero é, próximo ou distante no mapa, visitar o coração de alguém que me ame pelo que sou, mesmo sendo melhor depois da próxima estação.  

Quero abolir as metáforas para ser mais direto: “eu quero”. Você, a cidade, a alegria de chegar em casa, tanto quanto a ansiedade pela surpresa que me espera lá fora. Quero todas as metáforas para ser mistério, quando o mistério precisar me proteger dos burros incoerentes. 

Quero esse risco de ser feliz com a habilidade de trapacear os perigos, e, se preciso for conviver com os perigos como se fossem meus bons amigos. Talvez sejam. 

Quero pedir perdão a mim mesmo pela confusão que faço toda vez que não sigo meu coração, minha intuição, minhas razões de viver. Perdoado, quero meu coração como guia, minha intuição como mastro, minha vida vibrando pela razão de existir. Quero minha oração em mantra, minhas preces como prática. 

Quero a simplicidade de ir de pijama à padaria e de Havaianas ao shopping. Quero andar pelado pelo jardim da casa que ainda não tenho, acenar ao vizinho e pedir a ele um trago do que fuma. 

Dizem ser mais fácil dizer o que não se quer. O que se quer é o motivo que há entre cada intervalo de respiração. De repente, basta admitir: sou o que quero e até mais.

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É o que é o amor

sábado, 20 de maio de 2023

Repetidas vezes, tenho dito para mim mesmo, não por sabedoria sobrenatural ou fé, mas por vivência: o amor é composto por muitos ingredientes, alguns até exclusivos de cada relacionamento, mas todos os amores são sustentados por companheirismo, intimidade e admiração. 

Repetidas vezes, tenho dito para mim mesmo, não por sabedoria sobrenatural ou fé, mas por vivência: o amor é composto por muitos ingredientes, alguns até exclusivos de cada relacionamento, mas todos os amores são sustentados por companheirismo, intimidade e admiração. 

Você já se foi há algum tempo, seguiu seu percurso, ainda que eu estivesse no seu caminho ou o seu caminho em mim. Depois de muitas curvas, derrapadas, cartas não entregues, mensagens elaboradas não enviadas, confissões embriagadas, percebo que eu consegui. Consegui me desligar de você. Penso sempre em você, mas por agora os pensamentos moram em outra esfera. 

Só depois de você, ainda que só quando você foi embora, ainda que só quando consegui te deixar ir de mim, que me escuto: amor é companheirismo, intimidade, admiração.

Companheirismo, intimidade, admiração, talvez somados, não sejam tão românticos como comédia hollywoodiana. Mas é o que é o amor. Fantasias e alegorias perdem o brilho com o tempo ou a falta de ineditismo. Declarações rasgadas viram peça de livro ou boas memórias. 

Ainda que o passado dê fôlego ao futuro, o amor só sobrevive ao cotidiano com o companheirismo que estende a mão, com a intimidade de quem se entende pelo olhar até nas discussões, com a admiração de quem sorri e basta o sorriso para que o outro saiba que é uma chuva de palmas.

Eu te amei. Sei que me amou. Errei, tanto quanto você errou. E, tudo bem. Não quero saber de erros que não soube ou que não admito para você. Se amor é deixar ir... 

Eu de ontem não deixaria. Eu sei. Peço desculpas pelo meu egoísmo. Te deixo, hoje. Para voltar depois? Não sei e não carrego mais essa esperança. O destino? Ele até pode, mas peço que não sussurre nos meus ouvidos, e, se seus ventos uivarem, estarei surdo para o aviso de tempestades. 

O quê? Não sei. E adoro não saber se está feliz com outro. Se está, fico contente por estar e por eu não saber. 

A saudade é boa quando se amou. Toda admiração, todo companheirismo, toda intimidade foram tão verdadeiros e únicos. Tão singulares. Nossos céus de estrelas foram singulares. Nossos voos matutinos foram singulares. Nossa viagem à São Tomé foi singular. Até nossa preguiça de ficar o domingo inteiro debaixo dos lençóis foi singular.   

Não! Não me venha falar que sou ótimo com poesias, mas péssimo na vida real. Fui surreal na vida cotidiana. Para fora ou além dela — um poema. Muitas crônicas, sobre exoplanetas, escovas de dente, coração amadeirado e outras coisas entre as camas, as horas, na cantoria de quem é melodia com os olhos e sintonia com as línguas. Amor certeza e esteja certo disso.   

Para sempre te amarei. E esse eu que para sempre admite que te amará é o que deixa você ir. Porque amar é também saber deixar ir e isso advém de amor maduro, mais do que inconsequente. 

Mesmo com todo nosso companheirismo. Mesmo com a intimidade que construímos. Mesmo com a admiração que mantemos um pelo outro, mesmo quando não nos admiramos a nós mesmos, mas estávamos ali para admirar o outro e nesse espelho ver no reflexo de si mesmo o quanto de beleza temos.    

Não sei se o amor tropeça, mas acredito que o amor não necessite de bengalas. Pois, o amor é asa. Enquanto juntos, fomos o par de asa do outro. Com tudo que nos ensinamos, espero, ainda que capenga, possa encontrar o par de asa que me fará voar pleno de novo.

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Mãe, meus filhos lhe chamarão de vó

sábado, 13 de maio de 2023

Certa vez, um professor me disse que felicidade é mais ou menos isso: uma experiência, que de tão boa, você vai fazer de tudo para poder repeti-la. Eu repeti muitas, sem ter a exata noção do porquê queria de novo. 

Quero repetir tantas outras, algumas que, inclusive, não posso mais. Há ainda aquelas que imagino que depois da primeira, vou querer uma segunda, terceira e tantas quanto puder, até se esgotarem.

Dentre as que imagino, há algumas que, infelizmente, são impossíveis, pelo menos nesse espaço-tempo, tal qual conhecemos.

Certa vez, um professor me disse que felicidade é mais ou menos isso: uma experiência, que de tão boa, você vai fazer de tudo para poder repeti-la. Eu repeti muitas, sem ter a exata noção do porquê queria de novo. 

Quero repetir tantas outras, algumas que, inclusive, não posso mais. Há ainda aquelas que imagino que depois da primeira, vou querer uma segunda, terceira e tantas quanto puder, até se esgotarem.

Dentre as que imagino, há algumas que, infelizmente, são impossíveis, pelo menos nesse espaço-tempo, tal qual conhecemos.

Dentre as que eu gostaria de repetir está o seu abraço e o seu colo, mãe. A sua voz dizendo sim e não, mas sempre com a doçura e a preocupação de quem despeja amor em você. 

Repetiria os almoços de domingo, a conversa fiada na varanda, o lanche da tarde ou o passeio no shopping. Repetiria o aguardar fazer as unhas e o cabelo no salão de beleza ou mesmo a espera para te ver sair do trabalho. 

Repetiria a simples rotina de assistir novela na sala e prever o destino do personagem secundário. Nunca gostamos muito dos protagonistas. Repetiria, simplesmente, te observar e o deixar ser amado por você. 

Dentre as que só imagino, te levaria ao show do Roberto, no estádio, na casa noturna, no cruzeiro. Te presentearia com coisas que não tem, só para testar se ia gostar; como me faria mais presente. Te levaria em viagens, iria à feira com você, apenas para escolher cebolas e frutas. Te ensinaria a jogar videogame. Dividiria minha conta do Spotfy com você e faríamos uma playlist só nossa. Te pediria para dar banho e cortar as unhas dos meus filhos que ainda não vieram. 

Meus filhos não terão o privilégio de te chamar de vó. Eles não terão a felicidade de poder repetir a experiência de fugir para a sua casa, comer besteiras escondidas no seu armário, compradas apenas para deseducar o que os pais chamam de educação nutricional. Talvez, meus filhos ficarão nesse lugar de só imaginar essa tal repetição que evidencia o que é a felicidade.   

Mãe, ainda que meus filhos não lhe vejam, lhe conhecem antes mesmo de nascerem. Eles não terão a alegria de ter seus braços, mas lhe chamarão de vovó. E eu sei que você poderá ouvi-los, tanto quanto eles poderão lhe sentir junto, como você segue junto comigo. Esse seguir junto se repete, porque é grande a felicidade de poder repetir a experiência de te chamar de mãe. 

Nos momentos felizes, você está ali. Nos instantes de tristeza, você é essa força estranha que me acolhe e me sustenta. Saudade também traz presença. Posso ouvir sua tímida reclamação quando não estou sendo eu de verdade. Posso ouvir seus aplausos, mesmo quando sem plateia, se faz torcedora orgulhosa de minhas conquistas. 

Se felicidade é mesmo isso, uma experiência, que de tão boa, vai levar você a fazer de tudo para repeti-la, eu te aconselharia: não espere, repita-as. E cada repetição não será como a anterior, ainda que nos mesmos lugares e com as mesmas pessoas. Mas farão todo sentido. E grande parte da nossa felicidade está ligada ao cordão que nos alimentou em ventre e que mesmo rompido, segue conectado por uma energia sobrenatural. 

Serão lembranças e mais lembranças, sentimentos que não se pode explicar, vivências que esquecemos, mas que estão lá, em algum lugar da memória de nossas almas. 

Não fique apenas na imaginação, porque algum dia, o que imaginará será impossível de se cumprir nesse espaço-tempo. Faça agora. Para sua felicidade. Pois, mesmo que esse amor não finde, até as mães morrem. 

Pelo amor, mãe, meus filhos lhe chamarão de vó.

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De pé em fé

sábado, 06 de maio de 2023

Sei que o mundo está ruim, mas esperançar é preciso. Ainda que o futuro nos impeça de fazer o que tem que ser feito agora, de dizer o que tem que ser dito hoje, é louvável pensar em um amanhã mais bonito. 

Isso explica muito de nós. Essa coisa de acordar, se levantar e enfrentar as agruras. Essa coisa de continuar, persistir bem próximo de teimar, mesmo quando o ao redor diz não!

Sei que o mundo está ruim, mas esperançar é preciso. Ainda que o futuro nos impeça de fazer o que tem que ser feito agora, de dizer o que tem que ser dito hoje, é louvável pensar em um amanhã mais bonito. 

Isso explica muito de nós. Essa coisa de acordar, se levantar e enfrentar as agruras. Essa coisa de continuar, persistir bem próximo de teimar, mesmo quando o ao redor diz não!

Sim! Vai! De pé em pé. De pé em fé. Não essa fé punitiva que promete prosperidade em troca de dízimo. Mas a fé que mora no âmago da consciência. Já me disseram que é nesse lugar que mora Deus. Bom é ser amigo de Deus, da sua própria consciência, dos seus propósitos, da sua caminhada. 

Talvez, um dia aprendamos. Que ainda que esperemos ver quem amamos amanhã, talvez nunca mais veremos. O amor se alimenta do companheirismo dado agora, do olhar disposto desse instante. E, se constrói dia após dia, na esperança de ser para sempre. 

Mas não é. E jamais saberemos quando o para sempre acaba. Por isso, é sábio sempre se despedir com declaração rasgada, com abraço que sem dizer nada diz: obrigado por existir na minha existência. Obstinaremos em existir juntos o quanto nos for concedido. Sejamos gratos por isso.  

Talvez um dia percebamos. Que não herdaremos a terra, mas as sementes que plantamos serão herança para os que virão. É preciso ousadia para fazer nascer novos frutos, mas é necessário também prudência para preservar os bons desígnios que recebemos. 

Não viemos sós e não iniciamos nada do zero. Somos parte da trajetória da humanidade. Temos muito de seus acertos e erros e seguimos necessitando melhorar como coletivo.

Esse sentimento de que podemos mais, ser melhores com o planeta e uns com os outros é o que deve nos mover. Deve ser o nosso propósito, a nossa gana. Menos tecnocracia e mais empatia. Menos enriquecer por enriquecer e mais solidariedade, dividir para distribuir não só o que se possuiu, mas aquilo que se tem dentro... Essa centelha que se espalha em fagulhas pequenas, mas ilumina corações. 

Nossos corações pulsantes são o sagrado coração da terra que deve clamar para ser melhor para os filhos seus. Mas ao depender dos seus filhos para assim ser, ensina que é digno daquilo que pulsamos: se emanamos o bem — o bem volta. E o contrário também.

O mundo está ruim, mas há pequenas partes florescendo. Eu posso sentir e você pode ver. Há céus se abrindo sobre tetos de casas, de pequenas vilas e consequentemente de mentes que se abrem juntas, em luz, para orientar a um lugar mais acolhedor para se viver. 

Os raios solares que se espalham indicam que conhecimento sem acalanto traz mais avareza do que paz, pois o que vigora é a sabedoria do respeito a ser quem se é e venerar a forma de cada um ser e amar. 

Cientistas sem poesia, matemáticos sem rima, historiadores sem afeto, químicos sem propósito, são como compositores sem música. O que produzem pode até se fincar nos livros, mas não ensinarão a humanidade a ser mais humana. 

O mundo está ruim e essa percepção é, em verdade, um grito cheio de esperançar. Porque tem certeza de que o mundo pode ser bom, de que podemos ser melhores. Sem pressa de chegar, mas na velocidade que a urgência desse passo a passo necessita. 

De pé em fé, vamos!

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Precisamos falar de você

sábado, 29 de abril de 2023

Mulher, eu não posso falar por você, mas precisamos falar de você. O que penso saber, mas não sinto, ainda que tente ser empático. Eu não sei se chego a esse patamar, mas de certo jamais saberei o que passa. 

Homem, eu preciso falar com você sobre elas, ainda que não possa falar por elas. Como homem, por mais que tenha relatos, depoimentos, coleção de fatos estarrecedores de crimes praticados contra elas, não vivo na pele o que elas sofrem.

Mulher, eu não posso falar por você, mas precisamos falar de você. O que penso saber, mas não sinto, ainda que tente ser empático. Eu não sei se chego a esse patamar, mas de certo jamais saberei o que passa. 

Homem, eu preciso falar com você sobre elas, ainda que não possa falar por elas. Como homem, por mais que tenha relatos, depoimentos, coleção de fatos estarrecedores de crimes praticados contra elas, não vivo na pele o que elas sofrem.

Nem você. E digo mais: mesmo que você, assim como eu, tenha empatia pelas pautas delas, não sabemos nem de longe as feridas que causamos. Mesmo se você é um aliado, atenção. Pois, erramos e precisamos ouvi-las e aceitar nossos equívocos, por mais que “deslizes” sejam rotulados de bobos. 

Mulher, já vi cantadas indecorosas que deram raiva a mim, imagina o que ecoaram em você. Os tais olhares, de desejo, perturbadores. Eu sei que você não quer que te olhem assim. E os que fazem julgamento pelas roupas que lhe confortam? Sucedidos do sórdido argumento de que a culpa é sua? “Quem mandou dançar assim?”.

As estatísticas mostram que esses inícios “pacíficos” podem levar a crueldades ainda maiores. A erotização do seu corpo, a visão dele de uso, como uso - é abuso.

Homem, presta atenção! Somos herdeiros de uma tentativa contínua de anulação da independência, para não dizer, da existência plena da mulher. Os salários mais baixos para as mesmas funções feitas por nós. Não é justo! Competência não tem gênero. Será igualdade algo tão difícil de entender?

Mulher, romantizamos a maternidade, sem levar em conta o peso na barriga por nove meses, os inchaços e as mudanças no corpo pós-parto. O bico dos seios rachados por ter que amamentar. A má divisão das tarefas caseiras e para com o filho, os adiamentos na carreira profissional. Ser mãe é provavelmente o que de mais humano existe, mas apesar de toda abdicação, abaixo a esse romantismo se a independência de ser mulher é surrupiada.

Homem, compreende que a violência tem muitas facetas. Ela não é somente física, mas também psicológica, comportamental. Você não tem o direito de ler as mensagens no celular dela, muito menos de ordenar a roupa que usa. Não pegue no braço dela, não grite com ela! Se ela quer sexo seguro, com camisinha, não tire o preservativo no meio da transa. Você não pode tudo quando existe o outro, e, ninguém manda em ninguém. Não é não! E isso não é modismo, ainda que seria ótimo se fosse norma permanente. 

Sei que rótulos existem e admiti-los, ajudam a nos prevenirmos deles. Sei que temos uma longa caminhada de conscientização, mas não é porque é longo que não deva ser caminhado. Talvez, seja menor do que ontem. Certamente, ainda é vergonhoso. Sensibilidade para o feminino é apenas um primeiro passo, tanto quanto respeito é dever. 

Patriarcado é um atraso. Machismo é tosco e pede vigilância permanente de quem sabe que ser machista está entranhado nas raízes de nossa criação e precisa ser arrancado das nossas atitudes. Não há justificativa, mas há negação. Precisamos parar de negar e agir de maneira diferente. É urgente cessarmos, todos, com a normalização dessa conduta. 

Que sejamos outro tipo de sociedade, aberta a se educar. Mas acima disso, sejamos pessoas melhores uns para com os outros, para com todos, especialmente, com aquelas que a história prejudicou e ainda marginaliza. Humano é humano, tanto quanto amor é amor e ambas dispensam longas explicações.

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A Voz da Serra permanece e permanecerá

sexta-feira, 07 de abril de 2023

Em tempos que assistimos, (muitos até passivamente), autoridades que abusam do egocentrismo em detrimento das instituições, A Voz da Serra — sobrevive.

É sombrio ver uma cidade com tanta história escrita por instituições centenárias, normalizar o desrespeito aos princípios da administração pública, entre os quais, as basilares normas da publicidade e da impessoalidade.

Em tempos que assistimos, (muitos até passivamente), autoridades que abusam do egocentrismo em detrimento das instituições, A Voz da Serra — sobrevive.

É sombrio ver uma cidade com tanta história escrita por instituições centenárias, normalizar o desrespeito aos princípios da administração pública, entre os quais, as basilares normas da publicidade e da impessoalidade.

A norma constitucional do estado laico, em Nova Friburgo, está à deriva. Os problemas cotidianos são disfarçados pela ultrapassada, mas ainda eficiente fórmula do pão e circo. Falta transparência aos atos. O Portal da Transparência não é o suficiente para quem se arrisca mergulhar nos seus propositais esconderijos, quando se é possível achar o que se procura nesse verdadeiro pique-esconde.   

Mas por que falar desses personalismos vis que avacalham a institucionalidade, em data tão importante como o dia do jornalista e aniversário de fundação de A Voz da Serra? 

Para dizer que esses passam, mais cedo ou mais tarde. A Voz da Serra — fica! Para reforçar que a democracia está estabelecida e como tal, ainda que ferida, presume a existência de oposição (ainda que autoritaristas a odeiem) e liberdade de imprensa (ainda que gestões blogueiras a detestem). 

Para opinar que quem não faz dos seus discursos um hábito ou é mentiroso ou não sabia do que falava. Em ambos, fundamental, é no mínimo, a autocrítica. Para reafirmar que ainda bem que existe A Voz da Serra. 

Como espaço de denúncia, de observação, de conceito, de soberania popular. Fazer aquilo que órgãos de controle deveriam estar fazendo. Sem assumir essa tarefa, mas cumprindo com o sagrado dever do jornalismo.

Não à toa, por boa coincidência, o dia do jornalista é também a data em que nasce A Voz da Serra — 7 de abril. E um está para o outro como A Voz da Serra está para Nova Friburgo. 

Para contar a sua história, registrar seus personagens, inclusive os antagonistas à própria cidade. Para revelar talentos, para ser fonte de pesquisa, para dar norte. Para enfrentar dilemas, apoiar ideias e ideais, dar espaço para os opostos.  

É de se valorizar um jornal do interior que segue sendo impresso diariamente. É de se orgulhar de um portal de notícias pioneiro que sobrevive às tantas alterações de mercado. Só quem é do interior sabe… 

Quando vem uma crise econômica, e, nos últimos anos temos tido crises em sequência, o primeiro lugar que as empresas cortam é no marketing, na propaganda. O investimento que seria fundamental para se sobressair e conquistar novos negócios.   

Frise-se: raros os municípios que têm um jornal como A Voz da Serra. Que não tem como donos grupos políticos, que não faz acordos escusos para ter publicidade de governo. O erro e o acerto são humanos, do jornalismo, mas nunca com intenção de beneficiar ou prejudicar grupo A ou B.  

Aliás, cabe aqui uma reflexão a mais sobre transparência. Atos oficiais devem ser publicados em jornal de circulação com alcance local. Fora disso, é mera burocracia. Basta de amor da boca para fora, amor de verdade é aquele que valoriza as coisas da cidade, os empregos e talentos locais. Nossas identidades.

Parabéns aos meus colegas de trabalho, à direção, aos patrocinadores e a você leitor. A quem se sentir afetado por qualquer linha desse artigo, este não é um recado, mas uma constatação. 

Mais respeito as instituições locais! São elas que dão identidade e identidade é o que dá sentido de existir a uma cidade. Parem de surrupiar a identidade friburguense, a legítima voz de Nova Friburgo.     

Por fim, parafraseando o velho poeta Quintana: esses que aí estão passarão... A Voz da Serra passarinho. A Voz da Serra permanecerá noticiando os que virão e os que sucumbirão, mais cedo ou mais tarde, tanto quanto os que vieram e foram na mesma lógica nem sempre justa do tempo. Afinal, A Voz da Serra não é juiz, mas um biógrafo que relata também pontos de vista. 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Renascer

sexta-feira, 07 de abril de 2023

Renascer é mais difícil do que recomeçar. Ninguém recomeça do zero. Traz consigo experiências, vivências, coleções de conquistas e fracassos. Sabe o que queima e aquilo que suaviza. Sabe diferenciar os medos que protegem daqueles medos que paralisam. Recomeçar, portanto, é traçar novo começo, mas a partir de algo que foi iniciado e interrompido. É ter percepção das tatuagens e cicatrizes e se fortalecer delas para prosseguir em novas rotas, mas com velhas histórias na bagagem. Recomeçar é pouco arriscado, pois se acredita saber dos riscos e saber dos riscos rouba os potenciais.

Renascer é mais difícil do que recomeçar. Ninguém recomeça do zero. Traz consigo experiências, vivências, coleções de conquistas e fracassos. Sabe o que queima e aquilo que suaviza. Sabe diferenciar os medos que protegem daqueles medos que paralisam. Recomeçar, portanto, é traçar novo começo, mas a partir de algo que foi iniciado e interrompido. É ter percepção das tatuagens e cicatrizes e se fortalecer delas para prosseguir em novas rotas, mas com velhas histórias na bagagem. Recomeçar é pouco arriscado, pois se acredita saber dos riscos e saber dos riscos rouba os potenciais. Pode impedir o ver além. Recomeçar é insistência, resiliência, bravura, mas também é dedilhar o mesmo violão com mais aprimoramento, mas para as mesmas notas musicais. Pode até fazer novas canções, mas raramente novos ritmos. 

Renascer é mais profundo. É abandonar velhas roupas, purificar-se das teses e estratagemas, livrar-se de qualquer preconceito acerca do entorno, mas acima de tudo sobre si mesmo. É admitir o não saber de nada e assustar-se com o amanhecer como quem vê o amanhecer pela primeira vez. Renascer é reinvenção a partir de invenção alguma, pois é desconhecer os experimentos para saborear o processo de romper o ventre ou romper as luzes que o sobrenatural traz. Renascer é morrer para tantas coisas e morrer em vida não é nada simples. É aprender a dar adeus para conceitos cultivados e às tantas razões que teimamos em achar que são nossas. Renascer é perdoar as próprias vaidades e dizer: “vão embora e as deixo ir sem olhar para trás”! É bem mais do que novos caminhos, são novos passos. Renascer é sepultar-se para ser outra coisa, outra história. É abdicar dos luxos e lixos acumulados, do próprio corpo e levar apenas a alma. 

Renascer… Recomeçar… Viver! A vida é de tantos começos, mas de poucos ou quase nenhum renascimento. Nascer de novo parece doído, cansativo, temeroso. Percorrer tudo que já foi percorrido. Mas libertador, é renascer.

Recomeçar faz da liberdade ser a mesma, talvez com mais adereços, mas a estrutura é a mesma. Renascer é desapego, soltar as amarras, cerrar as grades, aniquilar as cruzes que nos damos e nos dão. É dar basta à crucificação. É fé que não precisa de guia ou pastor com suas vãs interpretações. 

Em tempos de pressa, respirar tem sido recomeços, mas nossos pulmões suplicam por renascimento. Ver tudo de novo e de novo sentir pela primeira vez cada sentido e sentimento. 

Encantamento, pureza, descoberta… Ah! Se cada novo dia fosse renascimento. Se mais do que si, todo mundo também renascesse e se renovasse espantado com tanta beleza que há. Herdeiros da terra e como bons herdeiros cuidadosos com a vida, com toda vida que há agora e porvir. 

Entre recomeçar e renascer, não precisa Cristo voltar para renascermos. Ele já veio para que tenhamos vida plena e vida em abundância. Falta — dois mil anos depois — renascermos de fato! Por enquanto, só temos, útil ou inutilmente, colecionado recomeços. De repente, de tanto recomeçar, renasçamos mais cedo ou mais tarde…

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Dias nublados

sábado, 25 de março de 2023

Deixa a vida surpreender, mesmo que tudo pareça ruim. Até pilha para funcionar precisa de positivo e negativo. Um dia a gente está por cima, outro por baixo e por mais que pareça clichê, essa é uma realidade das nossas travessias pela vida. 

Como dizem os adolescentes: “quem nunca chutou o balde para ir buscar depois”? Às vezes, é preciso chutar o balde mesmo, ainda que todas as previsões indiquem: “vai lá, meu filho, corre e traz o balde de volta”. Tudo a seu tempo. 

Deixa a vida surpreender, mesmo que tudo pareça ruim. Até pilha para funcionar precisa de positivo e negativo. Um dia a gente está por cima, outro por baixo e por mais que pareça clichê, essa é uma realidade das nossas travessias pela vida. 

Como dizem os adolescentes: “quem nunca chutou o balde para ir buscar depois”? Às vezes, é preciso chutar o balde mesmo, ainda que todas as previsões indiquem: “vai lá, meu filho, corre e traz o balde de volta”. Tudo a seu tempo. 

Dias nublados apenas escondem o sol. Ele está lá, acima das nuvens. Pode ser que não o vejamos, que não o sintamos. Mas ele segue lá, clareando o dia, permitindo a fotossíntese, regulando mares e alimentando a vida. Nuvens se dissipam pelo vento ou em chuva. Se ventar demais – voe. Se chover - lave a alma! Ou apenas observe o ciclo. O tempo vai abrir...      

Tem roupa para lavar e se pendurar meias é chato, mais chato ainda é ter que recolher cada peça do varal. Porém, nada supera a maldita tarefa de passar camisa de botão manga longa. Mas ainda sim é melhor ter roupa para lavar, estender, recolher e passar do que não ter o que vestir. Ah, se pudéssemos andar pelados…

Se joelho ralado dói, unha encravada dói mais ainda. É preciso valorizar ter pernas e mãos. Coração então: sofre. Mas ter coração é ter espaço para essas paixões avassaladoras e até esses vazios que pesam. Alma. Tenha alma! É preciso perceber que se tem. Agora. Eternidade é algo tão longínquo para sofrer por ela. 

As coisas vão se resolver. Sei que angústia fabrica ansiedade, mas ambas juntas não fazem bem. Disso, sei. Quem nunca experimentou, fuja agora dessa mesa de bar! 

- Mais ópio, por favor. 

Fuja desses dias! Não para se autoenganar. Para suavizar. Para se entender, sem a pretensão de encontrar respostas. Isso não é prova de concurso público de múltipla escolha. 

Eu gosto mesmo é de filosofia. Elizabeth sabe disso. Não sou trovador como ela, mas nós gostamos de poesia. Quando filosofia e poesia se misturam, compreendo que talvez sejam indissociáveis. 

Viver é bom, mas nem sempre a vida é bela. Aí, a gente fantasia mesmo, porque embrutecer é para essa gente de extrema direita e de extrema esquerda que não sabe sorrir, mas se autointitula dona da verdade. Tem muitas causas no mundo, muitas revoluções por fazer e se se perde a ternura, serão falsos esses discursos militantes que só alimentam egos pastorais. 

Entre qualidades e defeitos, perfeito é aquilo que não precisa mais se modificar. Cruzes. Melhor ser esse inacabado que ainda pode se acrescentar de vida, venha a música que vier a tocar. E dance com ela, mesmo que não saiba os passos. A gente se adapta. E foram as adaptações ao longo dos séculos que nos trouxeram até cá e nos levarão até lá, seja o que for lá, mesmo que apenas a sexta nota musical. 

Não viemos do caos, do Big Bang? Somos partículas das estrelas. Por mais que eu diga tudo isso para mim mesmo, sei que não é fácil ser leveza no caos. Mas na explosão de boletos, problemas, pés na bunda, trânsito e ressacas é que surgem planetas de gargalhadas, beijos, abraços, emoções, pessoas… Que se tornam tudo o que a gente precisa para suportar a si mesmo até se olhar no espelho e dizer: “como você é incrível”. 

Têm dias que nos sentimos um caco. Que certos sentimentos nublam as horas. Mas o sol segue lá. Assim como os que te acompanham e te aturam, lhe mostram que quando seus cacos se juntam, sua história se preserva linda e que precisa de mais linhas e desenhos, baldes para buscar, bateria para ligar, roda gigante para girar, amor para se dar e receber. 

Dias nublados não podem esconder os grandes sonhos que temos, tampouco tudo o que nos traz felicidade.

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