Por que te quero, carnaval?

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Ah, carnaval! Como te quero todos os anos e cada vez mais. Se pudesse ficar o ano inteiro... Ainda que os amores que produz fiquem batucando meu coração, minhas memórias, nossas mais pertences nostalgias, sinto a ausência da sua presença para além dos seus dias. 

O divino está para você como divindade é! E o divino é a sua passarela, especialmente, na arte do encontro: seja da linha com as fantasias que tomam forma pelas mãos das costureiras; seja pelos paralelos que levam nossos passos da concentração à dispersão; seja pelo compasso do som que sai dos seus tamborins e vai ao encontro dos meus ouvidos; seja pelo que promove nesse entrelace do bloco da liberdade com o bloco da democracia. 

“Gosto que me Enrosco” nas riquezas materiais e de afeto que fabrica. Gosto de te ouvir e adoro te sambar sob “A Batucada dos Nossos Tantãs”. E se “As Rosas Não Falam”, nos tempos que nos visita – cantam. O samba — você — hino à essa tal “Liberdade, Liberdade” que abre as asas sobre nós, é cura e raiz, é “A Voz do Povo”.

Nesses tantos rios que passaram em nossas vidas, aprendemos que se falta o pandeiro, toca no isopor mesmo. Se não tem chocalho, enche a latinha de cerveja (bebida) de areia ou pedrinhas. Se a cuíca não chegar a tempo, o assobio esbanja a espontaneidade que planta em seu povo. Sua vocação é inventiva e nos faz devotos criativos. 

Deixa me fantasiar de serpentina e o confete fazer a alegria das crianças — futuros ou já presentes foliões. Vem e me vacina dessa harmonia de abandonar os adereços que me impõem o ano inteiro para ser quem eu sou. Experimentar o outro no prazer de se abraçar e, se houver encantamento, porque não se beijar, se dar e receber... Até a Quarta-Feira de Cinzas ou para além dela.

Ah, Carnaval... Que saudade de você! Vem para interromper esses tempos de cólera e de gente raivosa que não gosta de fazer obra de arte coletiva. Chega mais perto e me permite protestar contra as malvadezas do mundo, dessa forma divertida, que irrita os que são contra você. Quero pular na maestria de suas multidões e declarar que, por amarmos gente, sou assim tão ligado a você. 

Sigo a te esperar de glitter no rosto, coração de palhaço posto — repleto de emoção. Já separei as fantasias e minha coleção de alegrias para me multiplicar de você. Estou pronto, já há algum tempo, para embarcar nas suas alegorias que traduzem bem viver. Está difícil essa saudade do seu lirismo em poesias, estou louco para te rever. Se atrasar mais um pouco, não nego o sufoco de ter que te aguardar um tanto mais. 

No entanto, livre, leve e solto, estou cada vez mais cheio de energia para desfilar na sua democracia e me embebedar da sua mais festiva paz.        

 

Foto da galeria
(Foto: Carlos Mafort)
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