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O rei de Nova Friburgo

sábado, 04 de dezembro de 2021
Foto de capa
(Foto: Arquivo AVS)

Os reis eram escolhidos por linhagem familiar de suposta escolha divina, quando não derrotados por sangrentas guerras ou por golpes menos facínoras, mas igualmente violentos e frutos da divindade. 

Mas o rei de Nova Friburgo é por merecimento e conquista. Sem armas ou invasão. Com música e poesia. Sem confabulações ou estratagemas. Com fé e coisas de amor. Mais do que isso: o coroado friburguense é também rei do apoteótico samba na sua mais fina bossa cigana. 

Os reis eram escolhidos por linhagem familiar de suposta escolha divina, quando não derrotados por sangrentas guerras ou por golpes menos facínoras, mas igualmente violentos e frutos da divindade. 

Mas o rei de Nova Friburgo é por merecimento e conquista. Sem armas ou invasão. Com música e poesia. Sem confabulações ou estratagemas. Com fé e coisas de amor. Mais do que isso: o coroado friburguense é também rei do apoteótico samba na sua mais fina bossa cigana. 

Nascido Uday, bendito seja, Benito! Filho de Maria e José, exatamente como o rei dos reis do qual ele é súdito, como sempre diz: “nosso senhor Jesus Cristo”. Amigo de Charlie Brown, antes mesmo do feminismo ser palavra de ordem já cantava: “mulher brasileira em primeiro lugar”. 

E, ainda que um tanto avesso à política, irritou Pinochet com aparentes frágeis borboletas. E como a borboleta que tudo que vê é liberdade, se vê ao nascer da aurora um infalível zen. Conduzido por seu filho - também músico e seu amigo do sol e da lua – é quintal e varal. À espreita, ao par de anjos não resta outra coisa que aplaudir o homem simples, o homem da montanha.

O violão de sete cordas é extensão de seu corpo, o piano foi inventado para a sua alma. Impossível desassociar, ao ponto que mais do que complementos, são parte um do outro, tanto quanto feitos um para o outro.  

A música. Essa forma tão única de traduzir sentimentos fez a família de cantores do morro de operários vencer. Ganhar, mais do que um trono permanente no topo da serra para um dos seus, ganhar o mundo. O chefe da tribo é rei! 

Se “bendito seja o alemão que inventou a cerveja”, bendito seja Deus que inventou Benito e bendito seja tudo que Benito inventou. Cada composição, cada arranjo, cada interpretação. 

Ainda veremos no topo da serra a estátua de nosso rei, no exato tamanho de sua estatura, com seus cabelos, bigode e costeletas icônicos perfeitos, sentado ao piano de flores de cauda longa. E, toda sua cidade natal fazendo reverência ao seu filho mais ilustre. 

Que se encomende um trem para relembrar os tempos de criança e o trabalho de seu pai. Para que no trem que fazia curva na saudade, Benito retorne acenando sob aplausos dos que o viram crescer nas ruas do Perissê, na Campesina, em cada baile e bar, no futebol e samba da Unidos da Saudade e não o perderam de vista, mesmo com ele além das montanhas... 

Pelo vinil, pelo rádio, pelos programas de TV, nas trilhas das novelas. Por São Paulo, Santiago, Itália, México, Japão, Cannes, o mundo todo. Sob aplausos dos mais novos que sabem reconhecer o talento e a valentia de quem defende seus ideais, dos que baixam suas canções nas plataformas de streaming e sempre puxam suas obras nas rodas de samba. 

Sob aplausos de quem vê mais um Vellozo — Rodrigo — acima de ser apenas extensão do rei. Sob aplausos de quem reconhece um mestre que homenageia outros mestres: salve Ataulfo, Nelson Gonçalves, Chico Buarque, Jorge Ben, Tom, Gonzagão...                

“Quem é poeta e que vê como é bonito Benito poetas como você”. 

O friburguense coroado é rei com roupa de “retalhos de cetim”, cedro da “bandeira do samba” e coroa moldada com as “marcas do amor” de quem sabe como amou, caminhou e talvez nunca entenda o quanto fez e faz pela música brasileira.

Benito é rei e não só em “fantasia de rei” de carnaval. Seu povo vibra para além do passar de sua escola de muitos sambas e enredos. O sonho de ser rei é realidade que perdura para muito além do desfile.

Quem diz não sou só eu. É Maria, é José, o povo cigano, o divino. É Ney, é André, o mundo do samba, o tempo. É Rodrigo, é Aurora, a Unidos da Saudade, a música. É o Brasil, é o Rio, as montanhas, a plateia. Todos esses que aqui estão e todos os demais também. Porque é “do jeito que a vida quer”: o “homem da montanha” é coroado — Benito Di Paula, rei de Nova Friburgo!         

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Se a vida é passageira, dirija-a

sábado, 27 de novembro de 2021

O mundo está muito depressa. Quero mais tempo para viver. Eu não quero morrer. Não que eu tenha medo da morte. Mas é que tenho muito apreço pela vida. Maior encantamento ainda pelas suas intensidades.

A intensa Clarice Lispector nos ensina: “a vida serve é para se morrer dela”. Não interpreto como um pensamento meramente existencialista. Encaro como se ela estivesse profetizando que o destino é certo: morrer. E já que esse é o fim de todos nós, que se morra cada hora consciente disso, e ao saber, que se faça bom proveito dos minutos a nós concedidos.

O mundo está muito depressa. Quero mais tempo para viver. Eu não quero morrer. Não que eu tenha medo da morte. Mas é que tenho muito apreço pela vida. Maior encantamento ainda pelas suas intensidades.

A intensa Clarice Lispector nos ensina: “a vida serve é para se morrer dela”. Não interpreto como um pensamento meramente existencialista. Encaro como se ela estivesse profetizando que o destino é certo: morrer. E já que esse é o fim de todos nós, que se morra cada hora consciente disso, e ao saber, que se faça bom proveito dos minutos a nós concedidos.

Essa corrida maluca que tem sido os nossos cotidianos me assusta. Não sei se o mundo está acelerado, se a contemporaneidade está nos acelerando ou se somos nós mesmos que estamos velozes demais. No fim, somos o mundo e o contemporâneo – nós. Autoflagelo? Não nos culpemos arbitrariamente. Desaceleremos. Contemplemos.  

O que sei é que quero ficar mais tempo, mais do que for possível. Tenho sede de vida e não quero que a vida se esgote. Por isso, bebo a vida apreciando todos os seus sabores. Até os amargos ou salgados demais. Mas louvo os temperos, mesmo quando em excesso. Deixo me consumir para não ser consumido. Se a vida é passageira, eu a dirijo.

Assim, não espero o leito de morte para suprir minhas urgências. Tenho urgência de amor, de fascínio, de vida, de pessoas ao redor para brincar nesse parque de diversões que é o mundo. Compartilho. Cancelo os medos e embarco nas aventuras. Leio. Aprendo. Valorizo o que as ruas me ensinam, especialmente os saberes dos não acadêmicos. Canto. Rio. Deixo de contar o tempo para não padecer em agonia. 

Desejo e a experiência me conta que alguns desejos são traidores. Mas não me puno. Sou o responsável, o único responsável pelos meus rumos. Sonho. Choro. Clamo por paixões e apaixonado faço coleção de emoções. Ah, a emoção! Esse sentir tão extraordinário, quase mágico. Mas real. E o que é mistério, simplesmente classifico como metafísica ou sobrenatural. E fico maravilhosamente bem com isso. O arrepio é visita sempre bem-vinda.

Sabe, a vida é um convite permanente, mas que em algum instante é cassado de nós. Por sua imprevisibilidade, nos resta uma só previsão: é preciso viver agora enquanto esse agora perdurar. Por isso, só peço que perdure muito, para além da futura terra que serei. Mas, enquanto adio ser pó, não me peça apenas para sobreviver. Quero vida e vida em abundância. 

Não se pode se permitir nada menos do que a felicidade. Ciente, é claro, que tristezas virão e são essenciais para a percepção das felicidades. Mas se há uma razão para existir e persistir nesse mundo aceleradamente insano é ser feliz! Não espere um câncer ou a hipertensão para entender isso. Não espere a velhice para querer ser criança de novo! 

Parafraseando Clarice: vida é pouco. O que quero ainda não tem nome. Vou vivendo e ao viver encontro o que não se precisa nomear.      

 

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Dançar como a minha música

sábado, 20 de novembro de 2021

Que o corpo possa seguir as notas da música e cada célula possa escapulir nos falsetes que o artista faz. No envolvimento entre o físico e o sobrenatural, que a voz encontre mais do que os instrumentos, mas o paralelo entre existir e ser feliz. Pudera serem pleonasmo: existência e felicidade. Abundância que não tira do outro, mas se multiplica.    

Que o corpo possa seguir as notas da música e cada célula possa escapulir nos falsetes que o artista faz. No envolvimento entre o físico e o sobrenatural, que a voz encontre mais do que os instrumentos, mas o paralelo entre existir e ser feliz. Pudera serem pleonasmo: existência e felicidade. Abundância que não tira do outro, mas se multiplica.    

Seria devaneio acreditar que se pode dançar como a sua própria música? Deslizar por suas notas no passo a passo do cotidiano? Reverberar ainda mais em seus ecos e, de repente, tocar? O outro, o tempo, a si. Será a nossa música mesmo tão exclusiva? Será possível dançar como a sua música dança? Terá toda música – dança?

Quero e preciso. Deixar a voz levar e a música conduzir o corpo, quiçá a alma. Ser compositor de meus próprios versos, mas também pegar emprestadas as rimas de quem me olha com brilho nos olhos e de quem quero conceder meu sorriso fácil, minhas lágrimas incontidas, minha emoção inexplicada. Inspiração. Posso ir além. E pegar para nós os presentes geniais de Belchior.       

Não é teimosia tola querer novos vícios para além de cantar Tim Maia quando ébrio. A coleção da irresponsável alegria é a melhor de se ter fora da prateleira. Livros e discos não merecem poeira, tampouco o destino de serem mera decoração. Alegria não é troféu dentro de uma redoma de vidro. Alegria é esse instante agora que se consome enquanto a agulha desliza por cada faixa do vinil. O presente tem sido nostálgico, talvez para impressionar e pressionar por um futuro melhor.      

Não verei Belchior cantar na minha frente. Tampouco terei a experiência de comprar ingresso para o show do Tim Maia na incerteza de que terá ou não o Tim no palco. Mas suas músicas seguem a acompanhar os dias para além de hologramas. Seguem em suas próprias vozes, nas vozes de outros, nas nossas próprias vozes. Quando muito felizes ou quando tristes. Música imortaliza e se renova, mesmo igual, em novas reflexões.

Compor é dar ritmo à poesia – tom. É entrega e revelação. É se despir sem ter vergonha dos mamilos, membro, pelos e mais profundo que toda carne e ossos, atingir o invisível que causa o arrepio. Muito mais do que colocar sílabas e versos em organização. Se dançarino de suas letras – comoção. No seu tempo e para seu tempo, ainda que se estenda para outros tempos em existências alheias.

Compor, cantar, ouvir, dançar. Diz muito sobre cada um de nós, sobre cada um de nossos momentos. E é bom deixar em aberto definições, pois definir é raso demais para verbos tão íntimos do existir.               

Por vezes, sou uma América Central num corpo só. Ou seria Humaitá, onde todos os caminhos se encontram? O drama me teme. Mas só peço para dançar como as minhas muitas músicas. O momento de cada uma delas eu escolho e deixo o mundo também decidir. Porém, às vezes coloco o fone e não ouço mais nada em volta. E sei que nada disso é exclusivo para mim ou a mim.    

Compositor, cantor, dançarino e plateia. Pode se querer ser tudo ao mesmo tempo, mais do que estar em dois lugares no mesmo instante. Ser tudo ao mesmo tempo, afinal, é bem mais possível do que estar em dois lugares ao mesmo instante. Se não fosse a música... O impossível não seria tão atrativo - possível.    

 

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Recortes

sábado, 13 de novembro de 2021

Recortando frases vou costurando o sentido da vida, mesmo que ao final de tudo, quando todos os recortes estiverem juntos, descubra que é fatal o destino. Colecionando pensamentos, tento de algum modo estender uma imensa colcha de retalhos sobre o mundo que é o mesmo para mim, para você, para todos nós... Mas ainda que cubra tudo, sempre haverá uma falha numa costura e outra que permitirá entrar o frio da dúvida. A incerteza pode vencer até o que é determinado como certo.   

Recortando frases vou costurando o sentido da vida, mesmo que ao final de tudo, quando todos os recortes estiverem juntos, descubra que é fatal o destino. Colecionando pensamentos, tento de algum modo estender uma imensa colcha de retalhos sobre o mundo que é o mesmo para mim, para você, para todos nós... Mas ainda que cubra tudo, sempre haverá uma falha numa costura e outra que permitirá entrar o frio da dúvida. A incerteza pode vencer até o que é determinado como certo.   

Tudo na vida você faz ou não de acordo com as consequências. Mesmo não havendo limite e que se enxergue além das linhas do horizonte, talvez você salte, talvez você não voe. O que determina nossas ações, sonhos e planos é a forma como mensuramos as consequências. Porque todos sabem que toda ação leva a uma reação e que ainda que perguntas fiquem sem respostas, a ausência das mesmas não deixa de ser uma resposta. Mas é preciso saber que só se vive uma vez, ainda que se pague em dez prestações. É necessário o desejo, mas nem sempre o desejo por si só é o suficiente.

Ser íntegro não garante a felicidade a ninguém. Mas é bom saber que estar de bem consigo mesmo é parte fundamental para ser feliz. Não há inimigo maior que a sua própria consciência. Você pode ser o único a saber do seu erro, do seu vacilo... E não há ninguém pior do que si mesmo! Por isso, conviver com tal peso pode até ser possível, mas ser feliz é bastante improvável. 

No entanto, não basta só estar de bem com a sua própria consciência. Só integridade não é o bastante. Integridade é apenas obrigação que torna a alma mais leve. É preciso fazer mais. O mundo não se resume a você e sua consciência. É preciso fazer algo pelo mundo. É preciso se dar mais do que só a si. É preciso acertar e muitas das vezes se arriscar para ir além do acerto. Gentileza é fundamental.      

A paixão é justa ainda que inconsequente. O apaixonado sempre faz justiça com as suas próprias mãos. E erra. E acerta. E põe tudo a perder para ganhar o que quer. A paixão não se mede e ainda que dure pouco implica na impossibilidade de mensurar a sua intensidade. Mesmo que a justiça se aproxime do equilíbrio, é justo se distanciar da lucidez. Quem não se apaixona e não se permite a paixão, dificilmente experimenta a sensação de estar vivo.   

Mas é sabido que a dor passa sempre. Nada como um dia após o outro, nessa equação de um dia de cada vez. O coração sossega, ainda que não se esqueça. As lágrimas cessam ainda que vez em quando retornem, mas retornam sempre de maneira diferente. O amor cristaliza na sua paralisia e é bem passível de se transformar apenas em respeito. A dor cicatriza ao ser rebaixada a mera lembrança de um tempo. Tudo passa, tudo sempre passará, pelo menos na superfície do que se vê. As marcas de tudo permanecem para sempre no para sempre da alma. Alma não tem QR Code.  

Se amar, a vida passará rapidamente. A felicidade faz o tempo passar rápido. E só se é feliz amando. Amando o que se faz, amando o que se é, amando as pessoas que estão ao lado. Amando se é feliz! E a felicidade faz o relógio voar, o mundo girar mais rápido. Toda vez que a felicidade visita, o tempo passa rápido, muito rápido, tão rápido que nem se percebe. É ótima a sensação de parecer que são oito horas, quando já são duas. É nessas horas que gostaríamos de paralisar o tempo, mas isso não é possível. O tempo avança na proporção da nossa felicidade. E é assim que é...    

A morte só é uma certeza para quem vive. A vida tem um destino. O que diferencia uma vida da outra são os caminhos que ela faz na sua jornada para o fim que vem antes para uns, depois para outros, mas independente do seu tempo, vem no incerto do que é certo! Quem vive, sabe da morte, mas não pode viver pensando nisso. É preciso viver dando à vida o que a vida merece por todo o tempo. Por isso, tenha curiosidade. Colecione recortes colocando-os em prática e na prática derrubando-os. Tenha esperança, por mais que parte da humanidade force o contrário. 

 

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Uma cidade dentro de um parque

sábado, 06 de novembro de 2021

Não é um parque dentro de uma cidade, é uma cidade dentro de um parque. De tal modo que Nova Friburgo pode, como qualquer outra cidade, ter tudo que o homem pode construir. A engenharia, de fato, pode fazer coisas incríveis. Mas Nova Friburgo tem algo que só Deus pode constituir: uma natureza exuberante, com verdes de vários tons abraçados por montanhas. Um belo vale com um rio no meio, cujas águas deslizam mansas. Essas águas cristalinas que fazem véus em suas cascatas antes de cortarem a cidade.

Não é um parque dentro de uma cidade, é uma cidade dentro de um parque. De tal modo que Nova Friburgo pode, como qualquer outra cidade, ter tudo que o homem pode construir. A engenharia, de fato, pode fazer coisas incríveis. Mas Nova Friburgo tem algo que só Deus pode constituir: uma natureza exuberante, com verdes de vários tons abraçados por montanhas. Um belo vale com um rio no meio, cujas águas deslizam mansas. Essas águas cristalinas que fazem véus em suas cascatas antes de cortarem a cidade.

Nova Friburgo é mesmo única. E ainda que relegada há algum tempo por gestões trágicas, ultrapassadas, sem visão – segue determinada, ainda que sonhando mais do que realizando. Mas se há sonho, há esperança. 

O protagonismo friburguense vem sendo roubado dos friburguenses por pseudos friburguenses de bem. Os moralistas, geralmente, são pouco talentosos e bastante limitados. Passarão. Ainda que deixem lastro de estragos. O pior, são os estragos culturais, pois esses levam tempo para serem refeitos. 

Perder identidade é a maior crueldade que se pode cometer contra um povo. O desrespeito e o descompromisso com a história causam feridas que dificilmente se fecham. Quando há cura, levam muito tempo para cicatrizarem. Assim, o que nos conecta como friburguenses não é o sangue. O que nos conecta como cidade são nossas instituições e a natureza que compartilhamos. São as lembranças que trazemos e preservamos e nossos filhos tornam a fazer, e, ao criarem apreço - mantêm.    

Cuidar da história e da natureza é primordial, inclusive, para o futuro econômico. Ter desleixo com o que o passado construiu é nos jogar na vala da desmemória e fazer a cidade perder valor como um todo. Óbvio que o novo sempre vem, mas porque o velho o traz na corcunda. Não há por que desassociar o moderno do tradicional. As inovações são tão bem-vindas quanto é bem quisto o respeito à biografia coletiva que escrevemos, seja nos campos de futebol, nas paredes das instituições, nas partituras das bandas musicais, nas pontes ou nos paralelepípedos. Só preservar, talvez, seja pouco. Reconstruir é premissa boa.    

Da mesma forma é ultrapassada a percepção que tenta separar ecologia de economia. A economia é dependente e a nova ordem faz ser ainda mais intrínseca a relação sustentabilidade e economia. É uma exigência do mercado, pois o mercado sabe que para sobreviver é necessária uma revisão, já em curso, dessa nossa relação com o planeta. Aliás, sustentabilidade já é pouco. Regenerar é preciso. O futuro pertencerá às cidades sustentáveis, que apostam na regeneração de suas matas e fontes, que investem em energias renováveis, se planejam como ambientalmente corretas e cuidam das pessoas. Inclusive de suas ecologias mentais.  

Eu quero e deve ser um desejo de todos que Nova Friburgo seja de futuro. Mas para esse querer ser verdadeiro e permanente é preciso gerar cultura e se reconhecer nessa missão. 

Pelos que ocupam o poder, estamos consideravelmente atrasados. Mas a força do nosso povo é mesmo surreal. Apesar, destes que aí estão, há vontades acontecendo quase que por instinto ou mesmo engajamento de alguns setores. Que cause catarse e se espalhe. Por isso, olhar para nossa história é convite irrecusável. Para se inspirar. O nosso DNA é de pioneirismo e não podemos perder isso de vista. Abraçar esse futuro é também gerar riqueza para uma cidade que, infelizmente, vem empobrecendo.

O mais difícil temos: uma cidade dentro de um parque e história. O mais fácil podemos: derrotar esses ultrapassados que agridem nossas memórias e identidades. O futuro é verde e precisamos plantar esse futuro imediatamente.               

 

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Além da Terra, ainda nós

sábado, 30 de outubro de 2021

Hoje, mudamos de bairro ou mesmo de cidades e estados. Alguns até de País. Já imaginou que daqui a pouco tempo, poderemos estar mudando até de planetas? 

Hoje, mudamos de bairro ou mesmo de cidades e estados. Alguns até de País. Já imaginou que daqui a pouco tempo, poderemos estar mudando até de planetas? 

Além de Marte — o mais próximo e avançado em estudos para colonizar — os cientistas confirmam mais de 4800 exoplanetas, ou seja, planetas que orbitam estrelas além do Sol. As possibilidades de semelhanças com a nossa castigada Terra são imensas. Possivelmente habitáveis por nós, humanos. Isso para não dizer que é real a possibilidade de que nesses exoplanetas exista vida. Inteligente? Nem sei se podemos considerar que há vida inteligente na Terra. 

Por óbvio, meu sarcasmo aflorado tem mais evidências em crenças do que na ciência. A inteligência que nos falta é empatia. Cuidar do planeta para os que virão é empatia máxima. Afinal, nem conhecemos os que virão depois de nós, mesmo que sejam frutos de nós. 

Há quem diga que empatia e resiliência — ordens da moda recente — perderam espaço para o verbo ressignificar. Talvez ressignificar seja essência, inclusive para resiliência e empatia. No combate aos mundos líquidos, ressignificar é reflexão e prática urgentes. Mas como ressignificar se, talvez, nem tenhamos tido paciência para significar?

Queremos velocidade não só na conexão de internet. Tropeçamos. Queremos entregar artes, textos, trabalhos com pressa. Despercebemos. Engolimos a comida, sapos e saliva sem digerir. Beba com calma. Aprecie. Respire. 

O mundo gira na mesma velocidade desde o início dos tempos. O que está mais veloz são esses serzinhos, eu e você, que habitamos esse lugar redondo. Sim! A Terra é redonda e não precisa ter a grana do Jeff Bezos para confirmar com os próprios olhos. Não perca tempo com essa gente que insiste em Terra plana. Mas observe a maldade daqueles que as usam para estabelecer verdades mentirosas. É perigo maior do que dinamite. 

Há quem corte goiaba em fatias para evitar o indesejável mastigar larva. Há quem corra o risco. E não há  certo ou errado aqui. Segundo especialistas, o bichinho não faz mal. Mas se a textura não agrada, por que insistir?

Dirão: persistir! No amor, o verbo persistir é quase praxe para teimosos. Teimosia raramente é algo bom. Amor tem a ver com companheirismo instituído por certa intimidade que leva ao compreender. A compreensão está acima do altruísmo. Altruístas podem ser muito vaidosos. O amor pede leveza e é da natureza do amor ser leve, o que não quer dizer que não exija dedicação. Que essa dedicação seja prazerosa, na grande maioria das vezes.

Mais fácil é mudar de estado e continente, quiçá até de planeta do que de amores. Ah! O coração vai junto das nossas mudanças de lugar. E o coração é bagagem que não dá para se esquecer na aeronave. Tão difícil é mudar a nós mesmos. 

Poderá o homem colonizar um ou todos os seis planetas que orbitam a estrela Kepler-11. Mas não poderá o homem fazer mundos diferentes se não se fizer diferente. Ainda que os dias por lá tenham bem mais do que nossas 24 horas, seguirão líquidos se não nos transformarmos, se não nos ressignificarmos a partir até dos significados que abusamos recusar. 

Acumulamos experiências, próprias e alheias. Somos resultado de nossa ancestralidade, mas o produto pode ser alterado com a troca da ordem dos fatores. 

Que toda poesia nos ensine a chorar e toda música nos intua a sorrir. Que ambas, sendo uma só, nos privilegiem abraçar e sentir. Ressignificar, afinal, talvez seja mais possível que colonizar planetas para além das nebulosas. 

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Nossas canções

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Não me importa se é funk, sertanejo, bossa nova, nova MPB ou axé. Se é brasileira, já me ganha por si só. A vaidade acadêmica não pode desmerecer o que seu povo e o que o popular produz. 

Não há cultura melhor ou pior.  Classificar cultura é preconceito. Cultura é cultura e ponto. É identidade e a identidade brasileira é multicor, multifacetada, múltipla. Tem muitos rostos, sotaques, ritmos.

Não me importa se é funk, sertanejo, bossa nova, nova MPB ou axé. Se é brasileira, já me ganha por si só. A vaidade acadêmica não pode desmerecer o que seu povo e o que o popular produz. 

Não há cultura melhor ou pior.  Classificar cultura é preconceito. Cultura é cultura e ponto. É identidade e a identidade brasileira é multicor, multifacetada, múltipla. Tem muitos rostos, sotaques, ritmos.

De algum tempo, tenho observado festas pequenas e grandes. A pista fria como gelo nas músicas internacionais. A pista em fervo com músicas nacionais. Isso seria impensável há 30 anos. A música brasileira tem tomado conta das boates, das rádios, dos streamings, ocupando espaço quase que total das setlists. 

Nada contra a música internacional e nada de impor o que o outro tem que ouvir. Diriam que o dialeto da música é angelical. Que cada um ouça o que bem entende e ninguém tem nada a ver com isso. Mania de querer orientar o rabo do outro. 

O que celebro é a música brasileira em suas mais variadas vertentes de um país continental diverso. Apesar de você — como diz Chico Buarque no seu emblemático hino contra a ditadura militar — o verde e amarelo segue sendo dos brasileiros e não apenas de alguns brasileiros que se julgam melhores ou proprietários da pátria. A pátria e a música nacional não têm dono. A nossa história, ainda que às avessas, faz de todos nós responsáveis pela nação, ao mesmo passo que compositores de nossas canções.    

Na minha playlist - antigamente seria coleção de LP’s e CD’s - tem de Belchior a Luan Santana, de Jão a Roberto Carlos, de Maria Bethânia a Anitta, de Buchecha a Silva, de Beth Carvalho a Ronalt Condack, de Vitor Ferraz a Capital Inicial, de Tim Maia a Benito di Paula, de O Teatro Mágico a Emicida… 

Dizem que é uma confusão só, ainda mais quando no meio surge um samba-enredo da Portela ou do Alunão. Eu chamaria de grande festa, tipo Grande Encontro com Elba, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. Tipo Tropicália, com Caetano, Gil e Adriana Calcanhoto e/ou Clarice Falcão de intrusas convidadas. 

A música encanta a alma e nos dá trilha para percorrer pelo nosso cotidiano de cada dia. Por vezes mais batidão, por outras mais calmaria, quase melancolia. Por vezes nostalgia, n’outras futurista passeando pelo campo dos anseios ou meros desejos. Sensual ou vigarista, nada de nada ou fatalista. Música é momento, mas também tatuagem que nos marca ou esconde cicatrizes. É memória ou simplesmente viagem só de ida. Seja na trajetória das letras, no caminho das melodias ou no imaginativo separar de cada órgão que toca. 

Músicos são poetas com instrumentos divinais que traduzem mais do que se pode dizer e se sujeitam a interpretações cujos resultados podem variar de acordo com a individual audiência e o tempo de cada um. E as canções se tornam assim íntimas de nossas piores e melhores horas. Moldando nosso jeito ou apenas a nossa diversão de ser e estar onde tem que se estar — estado de espírito.    

 

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Sagrada sacrificada profissão

sábado, 16 de outubro de 2021

Tudo que é sagrado advém do sacrifício? Para ser sagrado há de se sacrificar? Melhor então não ser sagrado e sair desse conceito sobrenatural para doses de realidade. Ser professor no Brasil é a pior das escolhas. 

Como sagrados para a história, a consagração só vem depois da morte? Viver assim, não é vida em abundância. Portanto, não sagrem a profissão de educador, tampouco venham com toda essa poesia e discurso repetido em todo quinze de outubro. 

Tudo que é sagrado advém do sacrifício? Para ser sagrado há de se sacrificar? Melhor então não ser sagrado e sair desse conceito sobrenatural para doses de realidade. Ser professor no Brasil é a pior das escolhas. 

Como sagrados para a história, a consagração só vem depois da morte? Viver assim, não é vida em abundância. Portanto, não sagrem a profissão de educador, tampouco venham com toda essa poesia e discurso repetido em todo quinze de outubro. 

Se o discurso não é um hábito, então não presta. Todos esses que discursam o valor do professor, sem efetivamente darem valor, são falsos. E dessa gente estamos de saco cheio. Propagadores da ignorância que tomam conta da política e não fazem através dela a sua real função: servir, cuidar do futuro no presente. 

Sabem ler e escrever através de um professor? Então leiam o que digo: vão à merda! Antes de merda tem crase, pois configura mandar a algum lugar com artigo feminino. Aprendi com um professor. Uma querida professora de português me ensinou vários macetes, entre os quais esse da crase sobre ir a algum lugar. Antes de ir, volte. Se você volta “da”, significa que há artigo: você vai “à”, com crase. Se você volta “de”, significa que não há artigo: você vai “a”, sem crase. Você, portanto, volta da merda, ainda que não sei bem se algum dia sairemos dela...

Que futuro tem uma nação sem educação? Estamos colhendo os frutos do nosso analfabetismo político. Estamos colhendo o que políticos de estimação de muita gente boa por aí plantaram. Pior: através do poder das sementes que nós, o povo, concedemos. 

Portanto, essas efemérides de exaltar os professores, como muitas anteriores, pedem protesto. Não há homenagem mais adequada. 

Como professor formado, ainda que nunca tenha exercido de fato a profissão, acredito que o professor é o intercessor de todos os outros profissionais. É o preparador, é o acendedor de chama, é o condutor de sonhos. Um teimoso insistente, é verdade.  

Não há engenheiro sem professor. Um médico passa por professores. Não há padre ou pastor sem professor. Um dentista passa por professores. Não há veterinário sem professor. Um professor passa por professores. E todos, absolutamente todos os profissionais, do jornalista ao químico, do técnico em enfermagem ao aviador, passam pelas habilidades de professores. Que concedem seus conhecimentos e aprendem junto dos e com seus alunos. Não tem mágica nessa relação. Tem estudo, planejamento, engajamento, entrega e até idealismo.  

Assim, muito se fala em valorização dos professores, mas efetivamente pouco se faz. E por mais que todos os demais profissionais tenham passado, se influenciado e se forjado por professores, como sociedade não defendemos essa valorização como prioritária. Sabemos que nossos filhos precisarão de professores motivados, bem pagos, mas nem assim… 

A educação é considerada a ferramenta essencial da evolução pessoal, humana e coletiva e não há educação sem professor. O intermediário entre o conhecimento e o conhecedor. O desafio é enorme de construir uma educação brasileira que de fato construa um País menos desigual e melhor. 

Uma educação que ensine para a vida e para uma vida com amor. Uma educação que nos leve a outro patamar de cidadania e compromisso com o outro. Uma educação que auxilie em resolver problemas da vida real, mais do que apenas equações de segundo grau. Uma educação que ensine a mandar à merda (com crase), aqueles que usurpam a Pátria e nos vendem por trocados que nos causam fome e miséria. 

Formar bons professores que possam ter dignidade salarial e estrutural para formar tantos outros e assim gestar uma nova Nação.     

 

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Dá-me um coração igual ao teu

sábado, 02 de outubro de 2021

“Dá-me um coração igual ao teu, meu mestre. Dá-me um coração igual ao teu. Coração disposto a obedecer, cumprir todo o teu querer...”. 

Enquanto ouvia essa música na missa, eu pedia, em oração, um novo coração para minha mãe. Não um novo coração de mãe, pois a minha mãe foi a melhor mãe que eu poderia ter. Mas um coração físico, no lugar do coração cujos músculos se ampliaram de tal forma que não pulsava mais direito e precisava ser trocado. 

“Dá-me um coração igual ao teu, meu mestre. Dá-me um coração igual ao teu. Coração disposto a obedecer, cumprir todo o teu querer...”. 

Enquanto ouvia essa música na missa, eu pedia, em oração, um novo coração para minha mãe. Não um novo coração de mãe, pois a minha mãe foi a melhor mãe que eu poderia ter. Mas um coração físico, no lugar do coração cujos músculos se ampliaram de tal forma que não pulsava mais direito e precisava ser trocado. 

Deus não deu a ela um novo coração. Porém, me deu um novo coração. Cheio de saudades, forjado de força e preenchido pelo tal amor que jamais passa.

O fraco coração de minha mãe paralisou no dia 21 de dezembro de 2013, após longa espera. Lembro que naquela data, uma entre tantas outras profecias, estava prevista mais um dia para ser o fim do mundo. Foi para minha mãe. Foi de certa forma também para mim e meus irmãos. 

A perda da mãe, do mundo físico para o espiritual, é certamente um dos momentos mais tristemente marcantes da trajetória de todos. Um dia que nunca se esquece, cuja dor se aquieta, mas permanece lá repleta de saudade.  

Assim como eu, muitos filhos pedem por um novo coração para seus pais. Muitos pais pedem novo coração para seus filhos. Milhares de brasileiros pedem um novo coração na imensa fila da doação de órgãos.

O Brasil avançou, ainda que tenha tido retrocessos nos últimos tempos, na doação de órgãos. Mas desperdiça muitos corações e outros órgãos aptos para a doação que prolongariam ou trariam novas perspectivas para a vida de muitos. Uma vida findada que se perpetua em outra. Nada mais cristão. 

Ainda há um abismo entre o Estado do Rio de Janeiro e o de São Paulo, por exemplo. A proporção de cirurgias desse tipo realizadas lá é imensamente maior do que daqui. Não porque lá existam mais doadores. Não se trata disso. Se trata de estrutura médico-hospitalar. Se falarmos então de interior, no RJ praticamente inexiste doação de órgãos. Lamentável.       

Enquanto a política não avança em favor da vida, sei que o drama particular de minha mãe é coletivo. É preciso mais do que retomar as campanhas de doação de órgãos, mas fazer com que funcione na prática em mais unidades hospitalares, com as devidas estruturações de mobilidade e conservação dos órgãos. É algo delicado e que exige pressa das equipes médicas e acompanhamento.

No meu coração – saudade e desejo de que outras mães e filhos tenham melhor sorte do que a da minha família. Não imaginem que tenho um coração angustiado ou aborrecido com Deus. Sou imensamente grato pelos 52 anos de vida de minha mãe e todos os anos que tive o privilégio de ter tido o colo dela. Óbvio, meu egoísmo faz com que eu quisesse muito que ela estivesse aqui, com o que seriam hoje seus 60 anos.

Agradeço por essa saudade que foi construída cujas recordações vão além das fotos que vejo. Está no cheiro do café da manhã e do cangote; no gosto único do pastel dormido de carne de porco; no aconchego do rosto de quem encontrava no colo dela proteção; nas músicas, em cada canção do rei Roberto Carlos, cujos vinis dela permanecem sob minha guarda.

Peço todos os dias um novo coração para mim e para a humanidade. Um coração mais misericordioso, mais apaixonado pela vida, respeitoso e empático. Coração que se assemelhe de fato ao coração de Cristo.

Corações que acolham e amem. Nada mais sobrenatural e cristão que o amor. Coração que ama transpõe o físico e nos entrega espiritualidade.

 

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O que te desperta a Primavera?

sábado, 25 de setembro de 2021

Semeia. Cultiva. E, saiba que aquilo que semeia e cultiva vai gerar flor e fruto. Não espere resultado diferente para as sementes que semeou. A intenção. Se plantou limões, não germinarão maçãs. Se plantou jarro-titã, não espere que nasçam lírios. Se plantou ódio, cultivou com rancor, não aguarde por amor.

Semeia. Cultiva. E, saiba que aquilo que semeia e cultiva vai gerar flor e fruto. Não espere resultado diferente para as sementes que semeou. A intenção. Se plantou limões, não germinarão maçãs. Se plantou jarro-titã, não espere que nasçam lírios. Se plantou ódio, cultivou com rancor, não aguarde por amor.

Mas saiba que um jardim não se faz apenas de flores. Há plantas necessárias para o equilíbrio do ecossistema e a manutenção do colorido que pretende, se é colorido o que quer. Talvez apenas flores brancas, margaridas, talvez. Ou rosas vermelhas. Há os que se fascinarão com as novas rosas que vêm de cores azuis a negras. Arar a terra, tirar o mato crescido. Faz parte. 

Mas qual o propósito principal do jardim que está no seu peito?

A primavera é a mais fascinante das estações. Mais do que pelas flores em si. Mais do que pela poesia, mas pelas suas analogias com a vida, suas metáforas, seu simbolismo no desabrochar e o que nos provoca: a intenção de despertar. 

O que te despertará essa primavera?

As primaveras anteriores ensinam que poesia também faz o queixo cair nas mãos. Ser sentida, afinal, é mais vital do que ser apenas percebida. Nem toda poesia será suave, tampouco se traduzirá somente em drama. Quando pensa em poesia, o que lhe vem?  

Talvez a primavera seja como ano novo. Nova primavera, mais uma primavera... O sabor que vem dos cheiros, a esperança que advém do nosso fascínio em ressurgir, renascer, recomeçar. E, podemos! É necessário nos reconstruir de tempos em tempos. Na primavera? Mesmo sem força, mas com coragem. Mesmo sem motivação, mas com inspiração. Mesmo sem sol, mas com girassóis na janela que nos abre o mundo. 

Herdaremos a Terra pela história que construímos e a deixaremos para os que virão. Por isso, cuidar dela é a mais empática das missões. Acumular não faz sentido e explorar para acumular menos ainda. 

Para que servem as flores de plástico? Para burlar a nossa finitude? Autoengano. Não tão breves como as flores, mas pouco resistentes como elas é cada um de nós. Nossas peles virarão pó, como as pétalas das flores se desprenderão ao vento. É o destino — nosso e das flores — enfeitar com certa brevidade os dias. É preciso ter consciência para fazer boas escolhas. Erraremos e isso faz parte. O que não erra é o tempo: somos reféns dele, como a própria primavera que tem seu início, meio e fim.       

Assim, felicidade é conhecer e reconhecer seu íntimo. A melhor amizade que se pode fazer é com a própria consciência. Ser fiel a ela, mas sem punitivismos. O cotidiano já tem muitos juízes para você ser mais um consigo mesmo. 

Deixa desabrochar. Deixa perfumar. Escolhe bem teus verbos. Despertar. Que a primavera desperte seus mais belos sonhos e que se estenda a sua primavera para as outras estações.   

 

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