Os reis eram escolhidos por linhagem familiar de suposta escolha divina, quando não derrotados por sangrentas guerras ou por golpes menos facínoras, mas igualmente violentos e frutos da divindade.
Mas o rei de Nova Friburgo é por merecimento e conquista. Sem armas ou invasão. Com música e poesia. Sem confabulações ou estratagemas. Com fé e coisas de amor. Mais do que isso: o coroado friburguense é também rei do apoteótico samba na sua mais fina bossa cigana.
Os reis eram escolhidos por linhagem familiar de suposta escolha divina, quando não derrotados por sangrentas guerras ou por golpes menos facínoras, mas igualmente violentos e frutos da divindade.
Mas o rei de Nova Friburgo é por merecimento e conquista. Sem armas ou invasão. Com música e poesia. Sem confabulações ou estratagemas. Com fé e coisas de amor. Mais do que isso: o coroado friburguense é também rei do apoteótico samba na sua mais fina bossa cigana.
Nascido Uday, bendito seja, Benito! Filho de Maria e José, exatamente como o rei dos reis do qual ele é súdito, como sempre diz: “nosso senhor Jesus Cristo”. Amigo de Charlie Brown, antes mesmo do feminismo ser palavra de ordem já cantava: “mulher brasileira em primeiro lugar”.
E, ainda que um tanto avesso à política, irritou Pinochet com aparentes frágeis borboletas. E como a borboleta que tudo que vê é liberdade, se vê ao nascer da aurora um infalível zen. Conduzido por seu filho - também músico e seu amigo do sol e da lua – é quintal e varal. À espreita, ao par de anjos não resta outra coisa que aplaudir o homem simples, o homem da montanha.
O violão de sete cordas é extensão de seu corpo, o piano foi inventado para a sua alma. Impossível desassociar, ao ponto que mais do que complementos, são parte um do outro, tanto quanto feitos um para o outro.
A música. Essa forma tão única de traduzir sentimentos fez a família de cantores do morro de operários vencer. Ganhar, mais do que um trono permanente no topo da serra para um dos seus, ganhar o mundo. O chefe da tribo é rei!
Se “bendito seja o alemão que inventou a cerveja”, bendito seja Deus que inventou Benito e bendito seja tudo que Benito inventou. Cada composição, cada arranjo, cada interpretação.
Ainda veremos no topo da serra a estátua de nosso rei, no exato tamanho de sua estatura, com seus cabelos, bigode e costeletas icônicos perfeitos, sentado ao piano de flores de cauda longa. E, toda sua cidade natal fazendo reverência ao seu filho mais ilustre.
Que se encomende um trem para relembrar os tempos de criança e o trabalho de seu pai. Para que no trem que fazia curva na saudade, Benito retorne acenando sob aplausos dos que o viram crescer nas ruas do Perissê, na Campesina, em cada baile e bar, no futebol e samba da Unidos da Saudade e não o perderam de vista, mesmo com ele além das montanhas...
Pelo vinil, pelo rádio, pelos programas de TV, nas trilhas das novelas. Por São Paulo, Santiago, Itália, México, Japão, Cannes, o mundo todo. Sob aplausos dos mais novos que sabem reconhecer o talento e a valentia de quem defende seus ideais, dos que baixam suas canções nas plataformas de streaming e sempre puxam suas obras nas rodas de samba.
Sob aplausos de quem vê mais um Vellozo — Rodrigo — acima de ser apenas extensão do rei. Sob aplausos de quem reconhece um mestre que homenageia outros mestres: salve Ataulfo, Nelson Gonçalves, Chico Buarque, Jorge Ben, Tom, Gonzagão...
“Quem é poeta e que vê como é bonito Benito poetas como você”.
O friburguense coroado é rei com roupa de “retalhos de cetim”, cedro da “bandeira do samba” e coroa moldada com as “marcas do amor” de quem sabe como amou, caminhou e talvez nunca entenda o quanto fez e faz pela música brasileira.
Benito é rei e não só em “fantasia de rei” de carnaval. Seu povo vibra para além do passar de sua escola de muitos sambas e enredos. O sonho de ser rei é realidade que perdura para muito além do desfile.
Quem diz não sou só eu. É Maria, é José, o povo cigano, o divino. É Ney, é André, o mundo do samba, o tempo. É Rodrigo, é Aurora, a Unidos da Saudade, a música. É o Brasil, é o Rio, as montanhas, a plateia. Todos esses que aqui estão e todos os demais também. Porque é “do jeito que a vida quer”: o “homem da montanha” é coroado — Benito Di Paula, rei de Nova Friburgo!
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