Onde mora a liberdade?

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 11 de dezembro de 2021

Onde mora a liberdade? Talvez a liberdade ainda more apenas nos sonhos. Essa tal liberdade, em que tantos matam e morrem por ela, não é liberdade. É o mal vestido de bem. É a crueldade travestida de bondade. É Cristo preterido para Barrabás, em nome da inventada liberdade religiosa que peca, destila ódio, crucifica. Seria diferente se Jesus Cristo viesse hoje? 

Acima das religiões estará sempre a espiritualidade. Individual, ainda que com efeitos coletivos. Essa é a liberdade permanente. A que se conecta com Deus sem intercessores. A que não se calça na fé em busca de prosperidades materiais ou poderes. Fé não se veste de paletó e gravata, tampouco carrega no pulso relógio de ouro. Fé está na nudez da alma. Todo o resto é sorte, charlatanismo, esforço, meritocracia, trabalho de coaching, psicologia e todas as “logias” possíveis e ainda não inventadas.     

“Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. Os usados serão perdoados. Mas os que usam — não! Pois os que usam sabem o que fazem e fazem conscientes e deliberadamente. Ferem, abusam da crença alheia, mandam à guerra (disfarçada de missão e chamam soldados de missionários) e matam. Há lágrimas e sangue em suas mãos.       

Liberdade que se faz em favor da morte e de morte em vida não é liberdade. Liberdade está mais para “vida plena e vida em abundância”. Liberdade requer respeito à existência do outro e de si mesmo. A liberdade mora na ética coletiva, na boa convivência, sem que para isso tenha que se fingir o que não se é. “Não me tornes invisível!”. 

É estar fora do armário, das imposições, das obrigações de se limitar a caixinhas. É ser quem se é e se afirmar sendo. É confrontar a hipocrisia. É dar a outra face para derreter mentiras fantasiadas de moralismos. É entender o próximo e compreender que somos únicos, singulares em espírito e vivências. É derrubar julgamentos e se vigiar para não determinar o que é melhor para o íntimo dos demais. Como seríamos mais livres se não ficássemos vigiando o rabo dos outros?  

Por que determinar o que o outro pode ou não pode? Ninguém é dono de ninguém. Por que dar opinião sobre tudo? Se fere, discrimina — não é opinião. Por que querer ser Deus?   

Geralmente, quem se vende de muito simples, bastante vaidoso é! Normalmente, quem planta moral demais, muito falso também é! Quem julga demais o faz, pois bem sabe que é réu. Mas a mentira se derrete por si só, enquanto causa graves danos ao subconsciente. Ainda que não à luz desses dias, ainda que demore, mas emerge.   

Assim, a liberdade está no bem-estar, em ser feliz sem incômodos. Liberdade e felicidade andam de mãos dadas em direção ao sol, sem necessidade de protetor solar, tampouco caminhando à espera de, mas sendo ao caminhar — livre e feliz.  

 

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(Foto: Unsplash)
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