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Lockdown

sábado, 18 de setembro de 2021

Quantos fechados em si mesmos ou presos, arbitrariamente, pelo resto do mundo. Em um confinamento que não pediram, distanciados pela lógica desses tempos irracionais que antecedem a permanente era pandêmica que nos visita, sem data para ir embora.  

Gritam: “socorro”. Calam: “me ajudem”. Diga: “estamos juntos”. 

Quantos fechados em si mesmos ou presos, arbitrariamente, pelo resto do mundo. Em um confinamento que não pediram, distanciados pela lógica desses tempos irracionais que antecedem a permanente era pandêmica que nos visita, sem data para ir embora.  

Gritam: “socorro”. Calam: “me ajudem”. Diga: “estamos juntos”. 

Inserir solidariedade nas nossas vivências e perceber que dores individuais pedem batalhas coletivas são fundamentais para que esse lockdown de séculos que nos atravessa — cesse. Negar esse encontro do passado com o hoje é desassociar a própria existência do tempo. 

O nascimento de Cristo nos levou a 1500 que nos conduziu a 1888 que nos dirigiu a 1964 que nos transportou a 1985 que nos induziu ao hoje que determinará o amanhã. A sucessão de fatos entre todos os dias, escolhas, imposições e lutas construiu a psique de cada um de nós e a psique coletiva. Estamos influenciados pela trajetória humana e influenciaremos os caminhos adiante. Responsabilidade afetiva com nossos descendentes, amor mesmo aos que ainda não conhecemos ou jamais conheceremos.  

O medo e a coragem existem e é preciso admitir a convivência entre ambos dentro de cada um de nós. Suas manifestações, no entanto, não nos moldam. O que nos molda é o evocar cada um deles e o momento em que convocamos — para além da coragem e do medo — cada dialética que mora nas profundezas de nossas entranhas.

Corremos contra tempestades faz tempos e, definitivamente, aprendemos que utopias fazem sentido. O mundo de vez em quando muda e não é por acaso que muda. Alguém deu um primeiro passo e não necessariamente quem deu o primeiro, é quem dará o último — se o último existir. 

No mundo que habita em cada um de nós, nos mundos que chamamos ou se convidam para nos habitar, de uma maneira ou de outra, isso também se reproduz. Utopias nos alimentam e se realizam ou se realizam ao não se realizarem. Mudanças acontecem e são resultados de tantas outras, até imperceptíveis, decisões. 

Situações difíceis podem ser superadas. Sonhos se alcançam, mesmo quando temos a audácia humilde de desistir deles. Mas sonhos viram heranças que olhos atentos podem apanhar e prosseguir. A história está aí para mostrar. O cotidiano — essa tal história exclusiva da biografia de cada um — também prova. Tudo continuará a girar, o destino vai seguir entre velhos novos amores, em inovadores ultrapassados dilemas, em reinventadas enterradas ideologias. 

Segurança é um mito e querer ter segurança é um modo arriscado de acreditar que viver não seja um permanente risco.

O que precisamos agora, e, desde ontem, é abrir as nossas janelas e não basta olhar para além delas. É preciso colocar os braços, o peito, o espírito para fora. Deixar o vento bater e renovar as células mortas que se desprendem do choro ou do bafo do sorriso de quem se surpreende. Sair desse lockdown. Sentir o céu diurno até descer o céu noturno e se apreciar como ser exclusivo que se é. 

Liberdade!  

 

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Inspirações

sábado, 11 de setembro de 2021

Ao me desvencilhar das formas que me impunham, abandonei os tabus e abracei a felicidade. Porque o movimento da vida impede que eu paralise, ainda que me possibilite o dom de observar. 

Eu poderia ficar observando a lua cair para detrás daquela montanha até o sol surgir, ainda que o sol não surja de lá. Mas a imaginação fantasia nossas mais divinas horas e é dela — a imaginação — que surgem as melhores invenções. 

Ao me desvencilhar das formas que me impunham, abandonei os tabus e abracei a felicidade. Porque o movimento da vida impede que eu paralise, ainda que me possibilite o dom de observar. 

Eu poderia ficar observando a lua cair para detrás daquela montanha até o sol surgir, ainda que o sol não surja de lá. Mas a imaginação fantasia nossas mais divinas horas e é dela — a imaginação — que surgem as melhores invenções. 

De livros de poesias a máquinas, de músicas a placas que transportam conteúdos variados para todas as partes.  E, de repente, inventar, reinventar ou repetir de formas novas ou diferentes. 

Assim, é navegando pela biblioteca dos séculos que percebemos que tudo sobre absolutamente tudo já foi escrito. Mas, ainda assim, o que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano. Talvez seja mesmo muito inútil aquilo que a gente não percebe. 

Após lavar as louças do jantar, concluí que a vida é uma inconsequência do cotidiano. Perfeito mesmo só as crianças. Depois que envelhecem desaprendem a perfeição. Talvez, um e outro consigam tapear o mundo e não permitam que todo movimento do tempo lhes façam menos infantis. 

Possivelmente, estão na categoria dos intensos. Pena que intensos morram mais cedo. Se esgotam da vida, nem sempre saciados. Não aceitam apenas sobreviver e um tanto quanto vaidosos, buscam viver mais do que poderiam.

Será que você pode mesmo fazer o que quer? Será que podemos certos quereres? O que sei é que coração vazio pesa. Pesa menos se se é feliz com os prazeres do descompromisso com ansiedades. É a tal percepção que o paraíso não faz sentido sem seus diabinhos humanos. Então, talvez estejamos, aqui e agora, no paraíso. 

Eu vivo, porque vivo da forma que vivo, e ponto. Ao abandonar as formas que me impunham, fui menos tabus e mais felicidade. 

Sou um resolutivo acelerado que até entende que quem tem muito pra falar, não tem nada pra dizer. Mas, inimigo do fim, confesso amar as reticências. O que vem antes e depois delas serão sempre inspirações. 

 

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Brasileiro

sábado, 04 de setembro de 2021

De repente, me vi nu em frente ao espelho. Mais nu que os que habitavam essa terra há mais de quinhentos anos. Os primeiros desse lugar a serem assaltados. Tiveram roubado o seu chão de florestas. Meus ancestrais são os culpados. Eu sou, em parte, culpado por permitir que qualquer outro irmão meu acredite em marco legal. Ora, os brasileiros indígenas estão aqui bem antes de 1500. Ninguém é mais dono do Brasil do que os originais.

De repente, me vi nu em frente ao espelho. Mais nu que os que habitavam essa terra há mais de quinhentos anos. Os primeiros desse lugar a serem assaltados. Tiveram roubado o seu chão de florestas. Meus ancestrais são os culpados. Eu sou, em parte, culpado por permitir que qualquer outro irmão meu acredite em marco legal. Ora, os brasileiros indígenas estão aqui bem antes de 1500. Ninguém é mais dono do Brasil do que os originais.

Nu, em frente ao espelho, me deparo com a minha imagem refletida. Sem alegorias. Sem fantasias. Sem truques de ilusão. Eu que já acreditei ser verde e amarelo acolhedor. Pratico xenofobia até com meus irmãos de nação. Do Nordeste. De São Gonçalo. De Roraima. Mas o espelho não esconde minha latinidade. Em tempos sombrios de negacionismo, o que o espelho reflete não me permite negar, ainda que eu possa fechar os olhos ou criar narrativas diversas. Sóbrio, reflito: quem sou eu ou quem me tornei?

Sem vestimentas que me devolvam ao armário, não fico bem na foto de arminha na mão. Envergonhado, com certo pudor, dou moedas de cinquenta centavos ao menino que vende balas no sinal, mais uns trocados à mulher que vende pano de chão no sinal adiante... O pouco que sobrou do pouco que me restou, entrego aos dois jovens que fazem acrobacia próximo à vaga de estacionamento. Não sobrou nada para a mãe com dois filhos que me pede uma quentinha na porta do self-service. Não sobrou nada para mim, além do cartão de crédito de fatura vencida e com apenas o mínimo paga. 

Nu e na união de nus, uma pátria desnuda, dividida como as duas bandas de uma bunda, separadas por um rego assustado de quem não gosta do que vê e ainda não entendeu que teme o que sente. 

Eu, brasileiro, sem a alegria do carnaval. Eu, brasileiro, matando a fome de quem posso, mas morto pela fome de todos os que sentem fome que não posso matar. Eu, brasileiro, salvando minha própria pele, mas desleixado em salvar a pele preta de quem tem a marca de escravo. Eu, brasileiro, machista que espanca travesti e inferioriza mulher, todos brasileiros e humanos, como eu. Eu, brasileiro, solidário com uns indivíduos que me podem olhar nos olhos, mas culpado por alimentar de boas maldades todos os outros. 

Eu, brasileiro, de fé enganada e pela fé movido a dar de ombros aos que amam da forma como não entendo amar. Eu, brasileiro, já não finjo felicidade com os gols da seleção brasileira, pois essa seleção não é mais minha. Eu, brasileiro, jocoso com a vida da Amazônia e do Pantanal. Eu, brasileiro, cruelmente desmato e me mato, pouco a pouco. Eu, brasileiro, filho das desigualdades aponto para heróis de araque que me mandam à guerra para morrer. 

Eu, brasileiro... Triste. Feliz. Já não sei nem mesmo sobre cada uma dessas cicatrizes de séculos de opressão. Sei que elas aguçam o desejo de oprimir. Nu, entro para o espelho para impedir a imagem que ele reflete. Quem sabe preso lá dentro, me torno liberto?  

 

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Improvável

sábado, 28 de agosto de 2021

Seria improvável, mesmo com a bagunça do clima, fazer primavera no inverno. Mas tem flores nascendo no coração e quem comprova é o sorriso solto, quase bobo. Basta um olhar para o sorriso transbordar, e, o coração semeado por essa graça repentina de ser feliz - florescer. 

Temo assustar, tanto quanto me acomete a intensidade que me visita. Mas na cumplicidade comigo mesmo, provo do improvável da intimidade com quem acabo de conhecer. 

Seria improvável, mesmo com a bagunça do clima, fazer primavera no inverno. Mas tem flores nascendo no coração e quem comprova é o sorriso solto, quase bobo. Basta um olhar para o sorriso transbordar, e, o coração semeado por essa graça repentina de ser feliz - florescer. 

Temo assustar, tanto quanto me acomete a intensidade que me visita. Mas na cumplicidade comigo mesmo, provo do improvável da intimidade com quem acabo de conhecer. 

Dispenso o jogo dos segredos e me revelo quase que por inteiro. Deixo, é claro, alguns bocados nos bolsos na intenção de instigar descobertas que nem eu mesmo descobri. 

Não me importo se estou vulnerável, ainda que cante, ainda que tenha cautela para dizer que quero mais e mais e mais. Na confissão, acabo por me entregar: no seu magnífico circo, estou mais para talentoso palhaço em busca de te arrancar gargalhadas, do que mágico pioneiro sedento para te iludir. 

Improvável você me perceber e se interessar e continuar. Nas reticências de tudo, o que há é sintonia. Dirá que pensamento chama. Convoca, talvez. 

Como fenômeno climático traz verão para o inverno e aquece corpo, alma e coração. Sensibilidade poética de quem observa e ouve mais do que fala, ainda que tagarele sob efeito de vinho. 

Canta ao vir mais perto e tão próximo declama músicas que parece ter escrito. Ensina arte, testa receitas e acerta. Guarda teóricos no bolso para me impressionar ou me contra-argumentar, quando seu argumento infalível é apenas chegar e deixar eu te tocar, os peitos, os lábios, o arrepio do intervalo entre sua orelha e nuca. Se permitir, avanço mais e ainda que tudo pareça improvável, aceito a verdade: o melhor dos seus teóricos é você mesmo. 

Não pede para eu ficar, mas te convido. Sua maturidade me faz imaturo, mas gosto desse sabor infantil de criança que rouba doces da prateleira mais alta. 

No improvável enredo de encantamento à primeira vista, sou ousadia e você temperança; sou exagero e você sabedoria; sou noite e você dia. Na ausência de extremos, somados se inventa o equilíbrio. 

As impossibilidades não tombam a felicidade de sorrir com os olhos que mutuamente entendem o que está acontecendo, ainda que seja breve, ainda que seja forte, ainda que seja repleto de leveza e até de angústia própria de quem vive. 

Nesse improvável de nós dois, rechaço passado e futuro ainda que reze para que perdure a primavera, pelo menos até o inverno se despedir.

 

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Caio e o Menino Maluquinho

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Uma das homenagens mais bonitas que recebi na vida veio de um dos meus afilhados e sobrinho. Filho de mãe solo. Sem heranças, nem berço de ouro. Exatamente como eu. Já nos seus quase vinte anos, na faculdade, cursando psicologia, disse-me: “Você me mostrou um caminho que poucos têm a oportunidade de trilhar: o do conhecimento. Com um livro presenteado na minha formatura de alfabetização, você me mostrou um novo horizonte de possibilidades raras para pessoas que vêm de baixo, como nós dois viemos. Tenho orgulho de compartilharmos das mesmas raízes”. 

Uma das homenagens mais bonitas que recebi na vida veio de um dos meus afilhados e sobrinho. Filho de mãe solo. Sem heranças, nem berço de ouro. Exatamente como eu. Já nos seus quase vinte anos, na faculdade, cursando psicologia, disse-me: “Você me mostrou um caminho que poucos têm a oportunidade de trilhar: o do conhecimento. Com um livro presenteado na minha formatura de alfabetização, você me mostrou um novo horizonte de possibilidades raras para pessoas que vêm de baixo, como nós dois viemos. Tenho orgulho de compartilharmos das mesmas raízes”. 

Toda vez que lembro disso, as lágrimas me tomam por completo. Lágrimas de uma felicidade ímpar. Um brinquedo, uma roupa não me renderiam, dez, quinze anos depois, tamanho depoimento que me envaidece de pureza. O brinquedo quebraria. A roupa ficaria curta. Mas o livro fica na memória e o que vem depois dele é um universo. Mas acima do testemunho e da vaidade em mim semeada, o maior orgulho é ver o homem que aquela criança se tornou. 

O Menino Maluquinho foi o livro que lhe presenteei. Obrigado, Ziraldo. Depois desse exemplar, Caio não parou mais de ler. Lê de tudo. E, apesar das dificuldades, da casa apertada e da mãe que trabalhava quase que vinte e quatro horas por dia, sempre foi o melhor aluno, o melhor filho, o melhor neto. Caio é prova de que a educação transforma e os livros são asas que nos fazem voar pela beleza da vida, mesmo na feiura desigual do mundo. Pensar nessa história que escrevemos me dá a convicção de que com criança e educação não se economiza.  

É quando me recordo que aos nove anos, trabalhando como garoto de estacionamento, eu era rato de biblioteca. Entre o trabalho e a escola, sempre passava na Biblioteca Municipal Infantil e ficava ali escolhendo o livro que levaria para casa. Acho que li quase todos os exemplares que havia lá. É com sorriso largo que lembro da Marthinha. Doce Marthinha que sempre me recebia com um abraço caloroso. Conversávamos sobre o livro que levei na vez anterior e ela me indicava outro e mais outro. Ela sabia ler as crianças. Obrigado, Martha. Fui crescendo, encantado.  

Na biblioteca do Jamil ou na sala de leitura do mesmo colégio, entrei na fase dos livros em que se escolhia o caminho da história. “Se fizer isso vá para a página trinta, se escolher aquilo, siga para a página cinquenta”. Acredito que li a coleção toda disponível. Obrigado, professores. 

Na Biblioteca Municipal, não cheguei nem perto de ler todos os livros das estantes. Minha carteirinha era a de número vinte e dois. Pura sorte. Quando fui me inscrever, herdei o número tão baixo entre mais de três mil cadastrados. Criança pobre, tinha que me contentar com os títulos nada muito atualizados das prateleiras de ferro. Não dava para comprar livros. 

Eliane... Acho que esse era o nome da moça que trabalhava no empréstimo dos livros. Bem, a Eliane virou minha amiga e quando chegava a doação de um título mais recente, ela separava para mim e me perguntava se eu tinha interesse de ler antes de qualquer outra pessoa. Obrigado, Eliane.

O gosto por escrever só veio na Formação de Professores. Incentivado pela professora Alcilea, passei a escrever mais e mais até participar dos concursos literários do Ienf. Mais do que ler, escrevia sem parar. Enchi vários cadernos de poesias e textos variados. Ganhei alguns concursos e a partir dali nasceu o jornalista, cronista, seja lá o que sou. Um biógrafo do mundo e de suas fantasias. Obrigado, Alcilea.

O que os livros nos fazem? Abre-se um livro e nascem mundos, possibilidades, maneiras de crescer, sentimentos, sensibilidade, raízes, memórias, o inimaginável. Obrigado, Caio. Obrigado, meu menino maluquinho. Somos o improvável que a leitura liberta.                            

 

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Quero mesmo é flutuar

sábado, 14 de agosto de 2021

Eu fico à procura de paixão como o bebum caça cervejas depois que todos os bares já fecharam. Paixão. Não, paixões. Ainda que considere o risco de experimentar. Singular acima de plurais – sempre.    

Eu fico à procura de paixão como o bebum caça cervejas depois que todos os bares já fecharam. Paixão. Não, paixões. Ainda que considere o risco de experimentar. Singular acima de plurais – sempre.    

Eu sei onde piso, mas quero mesmo é flutuar. Flutuar pressupõe falta de chão que, às vezes, pode ser abismo. Se tivéssemos o dom da vidência... Cabe então, calcular voo e aterrissagem pela matemática da vida, sempre intimidada pelo talento da intuição. Aterrissará? Bom que não haja resultado fechado, tampouco gabarito em outros corações. Tudo pode acontecer e é o inesperado que inspira. Mesmo após abdicar do sonho de nessa novela não ser apenas amigo, meros conhecidos ou ficantes que sequer gravam o nome. Não basta apenas se seguir no Instagram. 

O mundo podia ser assim: te envio mensagem dizendo que “não consigo parar de pensar em você”. Se revelar ou revelar o que os olhos não fazem questão de esconder. Flutuar nessa verdade que quer a sua verdade apenas se ela responder: “eu também não consigo parar de pensar em você”. 

Há encontros não esperados, próprios do inusitado, que nos fazem flutuar em imaginações para além de toda conversa iniciada, evoluída para fiada, de quem faz rodeio e joga. No entanto, o jogo é desculpa esfarrapada de ambos na tática - nem sempre tão sábia - de apenas evitar se machucar. 

Guarda segredo, fala por entrelinhas em brincadeiras que dizem tudo ou boa parte. Se descobrir é tão fascinante. Se desvendar no outro é mais fascinante ainda. Faz parte do encantamento o tal mistério. Mas encantamento mesmo seria te cantar Cazuza, te dar um codinome e você me declamar poemas atribuídos a Caio Fernando Abreu enquanto dedilha o violão. Aí, não seria mais só instigação. Nem para mim - que ainda não colhi informações suficientes para cruzar seu mapa astral com o meu Sol em Leão e Lua em Sagitário - nem para você, que finge saber tão pouco sobre o que eu quero. Mas não me pergunte se ainda sei onde piso. Pois depois da curva da instigação, talvez flutuemos e ao flutuar tudo pode acontecer. 

Flutuar sem asas, na segurança de um balão cuja combustão se faz pela união de mãos, peitos e lábios. Conduzido pelo vento do desapego e da coragem de quem não teme ser feliz, amando como se deve amar e se entregando ao gostar e à paixão, o tanto quanto o gostar e a paixão pedirem entrega para flutuar. 

Nos dias nublados em que o balão for impedido de ir aos céus, o tapete da sala vira tapete voador, tanto quanto os lençóis da cama ou as cortinas do quarto ou as folhas das árvores ou os livros da biblioteca, pois em verdade o que flutua é a imaginação de não ser mais sozinho desde que cruzou o meu caminho. 

Se sabia onde pisava, mas queria é flutuar, agora eu não sei mais onde piso. Agora, eu só sei é flutuar...    

 

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Mães pais

sábado, 07 de agosto de 2021

Tenho alguns amigos que tiveram suas mães como exemplo de paternidade. Pensando bem, conheço muita gente que teve na mãe o seu pai. E conheço muitas mães que acumularam essa missão: ser pai e mãe. Como se ser mãe já não fosse o bastante. Admiro-as com devoção. E dois domingos para serem o dia delas - que são mãe e pai - ainda é pouco.  

Tenho alguns amigos que tiveram suas mães como exemplo de paternidade. Pensando bem, conheço muita gente que teve na mãe o seu pai. E conheço muitas mães que acumularam essa missão: ser pai e mãe. Como se ser mãe já não fosse o bastante. Admiro-as com devoção. E dois domingos para serem o dia delas - que são mãe e pai - ainda é pouco.  

Na ausência do pai, as mães ficam. Nas diversas possíveis ausências paternas, pelas formas mais variadas... Algumas como viúvas, outras mães solos que na grande maioria das vezes, ou porque os homens têm outras famílias, porque trabalham o tempo todo fora ou porque simplesmente somem no mundo, sem nada deixar para o(s) filho(s) a não ser as fortes mulheres que não esmorecem e não paralisam. Pois as mães ficam. Provam não precisar de homem, ainda que pelo amor que têm pelos filhos gostariam de que crescessem com um pai presente. Mas se a ausência persiste, tomam para si esse lugar e não permitem qualquer vazio para quem amam. 

Pelos filhos, mães sempre permanecem.Como se amor de mãe já não fosse pouco, acumulando o de pai se torna maior do que o muito que já é. Mas mães não se importam com a dupla função, porque amor não é uma tarefa para elas. Amor é o que as fazem ser mãe e até mães pais.  

Mães jamais abandonam o lar ou seus filhos e muitas das vezes fazem um esforço hercúleo. Trabalham o dia todo para garantir a sobrevivência e ainda encontram tempo para levar para creche, escola, médico e, exaustas, ainda cumprem com as tarefas domésticas da casa e encontram descanso ao velar o sono dos filhos. Mães não gostam de dormir antes dos filhos, mães são naturalmente preocupadas. E nada é mais respeitável que uma mãe pai. Mães são sagradas. Mães pais são santas na Terra.

E os filhos dessas mães pais são gratos por nunca terem ficado sozinhos. Devem reconhecer e retribuir tamanha dedicação, entrega e exemplo. De garra, de força própria dos que têm fé, mas que não esperam - vão! Mães pais são determinadas e se uma mãe protege os seus, mães pais protegem e guerreiam pelos seus com certa ousadia sobrenatural. Filhos de mães pais sabem que não são apenas adjetivos soltos, é acima: contundência. Simplicidade elegante de quem não mede esforço para ser mais do muito que já se é, apenas por ser mãe. 

Ao ser pai, não chega a dobrar seu amor, pois amor de mãe não aceita equação, mesmo quando se multiplica na paternidade. Mães pais sagram a santidade sem objetivar serem santas. São, naturalmente, divinas ainda que sabiamente recusem o título de divindade. São nobres, ainda que não tenham vaidade por nobreza. São pais, ainda que abdiquem desse lugar, pois para elas não importa o quanto são mães e pais ao mesmo tempo, em suas canduras, apenas querem bem aos seus filhos e fazem o que for preciso para que isso seja garantido. 

A todas mães pais, dedico o segundo domingo de maio, mas também o segundo domingo de agosto e todos os demais domingos e dias do ano. Reunidos no calendário, são poucos para glorificar quem são, o que fazem e o quanto se dispõe em amor por seus filhos.                

 

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Vinho, vela, lareira e romance

sábado, 31 de julho de 2021

Se toda uva merece ser vinho, se toda cera é digna de ser vela, se todo fogo faz jus a ser chama, todo encontro deveria ser romance. Todo inverno de alguém pede primavera. O tal abraço que aquece mais do que casaco e gera o calor de mãos unidas formando história. Ainda que passageiras.

Se toda uva merece ser vinho, se toda cera é digna de ser vela, se todo fogo faz jus a ser chama, todo encontro deveria ser romance. Todo inverno de alguém pede primavera. O tal abraço que aquece mais do que casaco e gera o calor de mãos unidas formando história. Ainda que passageiras.

Posto que até os melhores vinhos podem vinagrar, que toda vela tem como destino findar, que fogo demais queima, é preciso entender que romances são definidos mais pela permissão que nos damos ao encantamento do que pelo encantamento em si. Há um pouco de escolha nesse roteiro que o mundo faz, pois o escrevemos de certa forma para nós mesmos. E ainda que o tempo possa ser personagem, jamais será ator principal. Somos protagonistas de nossas horas. 

Vinho é bom, em boa companhia melhor ainda. Muitas das vezes pode ser só a sua companhia mesmo. Não sei você, mas sou adepto do clube dos que nunca bebem sozinho. Ou quase nunca. Fato é que muitas das vezes, mesmo nas salas cheias, bebemos só com a gente mesmo. Que se brinde! Há solitários na festa das multidões? Também é preciso cuidado com a carência. Quando somos visitados por ela e deixamos que a carência nos dirija, acabamos por permitir que qualquer pessoa entre. Pode ser bom, mas também pode ser a pior das experiências. Que o vinho salve e avelude o paladar.

Luz de vela pode ser um pequeno sol no aconchego de dois. Faz brilhar os olhos e serena o espírito enquanto queima. É a paciência de quem derrete em intensidade, ainda que paciência e intensidade soem tão ambíguas. Mas é possível saber esperar e arder ao ponto que a espera se traduza em sonho prazeroso e a realidade extrapole o próprio prazer do que se vislumbrou. Se o destino do encontro for ser vela, terá valido a chama. Se o que ficar for memória, ainda sim será louvável a cera derretida e legítimas serão as cinzas do que foi barbante. Perdurará, portanto, a perecível sombra feita pela vela. O que você gostaria que fosse sombreado? 

Assim, a lareira pode queimar em vastos combustíveis e mais importante que a madeira, o álcool, o querosene ou mesmo eletricidade, é o motivo de acendê-la. Pode ser pela necessidade de espantar o frio, por puro charme ou filosofia, para unir pessoas em torno do fogo ou tão somente para apreciar tudo que a flama consome. Levará pensamentos vãos, fabricará saudades futuras ou retomará saudades passadas? 

O fogo é tão repleto de símbolos, mas nem ele é capaz de aquecer a alma quando essa está convicta de ser frio. Talvez precise de luva, gorro e cachecol. Talvez se desnude pela graça de ser liberdade e voe como as fuligens da lareira para alimentar toda vida que há do lado de fora. 

Se poesia se escreve com tinta de vinho, é aconchego o sentido que traz a neblina repousada no vidro da janela. O dedo indicador vira caneta e desenha lua na madrugada que já é sol. Pudera e quem sabe da sua coragem para rabiscar coração. A inquietação com o amanhã talvez venha mais das possibilidades do que do medo. Nem sorte ou azar, apenas velas aromáticas rosas, azuis e amarelas; vinhos merlot, malbec e carménère; lareira em vestígios de brasa... Espalhados no inverno, romance não sabe se será primavera ou se sequer precisa de outras estações.   

 

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O sangue das árvores

sábado, 24 de julho de 2021

Árvores sangram e quando uma tomba sangra a alma da humanidade. Morremos, pouco a pouco, em suicídio coletivo. É uma morte cruel e lenta, própria das torturas. 

Consciência ambiental é mais do que sinal de evolução. É o sentimento de ser parte de algo maior, integrar algo que extrapola a nossa existência, pois se perpetua para além da gente mesmo.

Árvores sangram e quando uma tomba sangra a alma da humanidade. Morremos, pouco a pouco, em suicídio coletivo. É uma morte cruel e lenta, própria das torturas. 

Consciência ambiental é mais do que sinal de evolução. É o sentimento de ser parte de algo maior, integrar algo que extrapola a nossa existência, pois se perpetua para além da gente mesmo.

Árvores são pequenos planetas que abrigam uma infinidade de vidas, muitas das quais nossa visão limitada não permite ver. Mas mesmo que não vejamos, é sabido que todo o equilíbrio está até mesmo nos mais micros seres. E, sentimos na pele, as mudanças climáticas que seguem apenas o enredo que cada um de nós tem escrito. Somos vítimas de nós mesmos. Estamos nos torturando. A Terra pede socorro, grita! Nem é preciso tanta atenção para perceber.  

Em nome do progresso, da ganância, da vaidade, rompemos o trato com a vida. É motosserra ferindo tronco, é machado rompendo caule, é queimada sujando a terra de sangue. Sangue de árvore, cuja tintura não vinga o desprezo do homem, pois é o próprio homem tirando de si, dos seus filhos, dos próximos que virão.

Da varanda de minha casa, tenho o privilégio de ver muitas árvores. Há uma em especial que quase entra na minha sacada. Ela tem braços longos, troncos marcados em tatuagens diversas, folhas com várias tonalidades de verde. Em algumas épocas do ano, tem pequenas flores e frutos. Recebe além do meu olhar, visitas de pássaros dos mais diversos que me acordam todas as manhãs e que me avisam a cada entardecer da despedida do sol. É um relógio prazeroso, ainda que todo relógio seja um aviso de que o tempo está passando. 

Por mais que o tempo esteja passando para mim, para todos nós, para essa árvore, ainda não chegou a hora dela. Querem cortá-la. Seria apenas mais uma. Ora, vaidade para os olhares sensíveis de quem quer continuar apreciando-a todos os dias. Afinal, qual a importância de uma árvore? 

A mesma importância das árvores derrubadas da praça, das inúmeras espécies assassinadas todos os dias, em todos os cantos, para limpar terreno, para cair menos folhas no quintal, para construir, para se livrar de supostos riscos, para dizer ao planeta quem é que manda! 

Pois, as revoluções cotidianas se fazem com atitudes miúdas: parem! Permitam o ciclo natural seguir seu curso. Não sangrem mais uma árvore. Não me matem!        

Pode parecer um manifesto, um manifesto de características panfletárias. Manifestos e panfletos, por mais justos, geralmente levam ao torcer de narizes, ainda mais em tempos de lutas para provar obviedades. Mas é tão óbvio que estamos nos suicidando. Somos a natureza ou parte dela, e, estamos contra ela, contra nós mesmos. Não podemos compactuar com os profetas da ignorância. Esses que trucidam a Amazônia, o Pantanal e se reproduzem nos que destroem nossa Mata Atlântica, nossas médias e pequenas florestas ou mesmo nos que cortam, em vão, uma árvore – repouso dos pássaros e sustento de tantas outras vidas.   

Sustentabilidade não pode ser modismo, regeneração é necessidade urgente. Derrubar uma árvore é ceifar o futuro, é matar esse pouco de todos que ainda resta em nós. Portanto, preservar, recuperar, regenerar, conscientizar. Sangue de árvore, é sangue de gente, da gente mesmo. 

 

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O trem da vida nos trilhos da charada do tempo

sexta-feira, 16 de julho de 2021

O tempo só anda para a frente. O passado para o tempo é história. E a história será contada de diferentes formas, por olhares diversos. Não sabemos o fim delas, ainda que no seu andar colecione nostalgias. Mas o tempo só anda para a frente, livre e leve. As bagagens, os acúmulos, mesmo os vazios, nós é que carregamos. O tempo não. O tempo só desliza e se deixa deslizar, faz trilho para nossa passagem.  

O tempo só anda para a frente. O passado para o tempo é história. E a história será contada de diferentes formas, por olhares diversos. Não sabemos o fim delas, ainda que no seu andar colecione nostalgias. Mas o tempo só anda para a frente, livre e leve. As bagagens, os acúmulos, mesmo os vazios, nós é que carregamos. O tempo não. O tempo só desliza e se deixa deslizar, faz trilho para nossa passagem.  

Pode se aprender com o que ficou para trás? Nós podemos. Mas o tempo, não! Pois, o tempo só olha para a frente, só anda para frente, só segue em frente. O tempo não tem o privilégio que temos de parar para pensar. O tempo segue destemido e nos colocando medo, caso não estejamos de bem com ele ou se não compreendermos a sua natureza. Pois o tempo, palco de nossas artes, se estende para a frente. Não para os lados ou para trás. Apenas para a frente.

Talvez, com o tempo, aprendamos a seguir em frente como ele. Se não sempre, na maioria ou em boa parte das vezes. Eu sei. Sei que dores existem e por vezes persistem. Pudera mandá-las embora com frases de efeito ou mesmo diálogos sem qualquer talento. Mas o tempo, mesmo diante da criatividade, não se curva e tramoia com suas curvas os mistérios que vem adiante. É sujeito birrento, intransigente, mas não mal-intencionado, tendo em vista que suas regras não permitem qualquer flexibilidade. É acordo inquebrável, do qual somos parte, ainda que não tenhamos assinado nada. Para o tempo, nascer já serve como aceite de suas imposições.      

Se você não vai, o tempo te arrasta para a saga comum a todos nós: nascer, crescer, envelhecer e fatalmente morrer. Como crescemos e envelhecemos é o que nos cabe. Fácil dizer. Nem tão simples, nem tão complicado assim para realizar.  

Viajantes, vamos e voltamos pelos caminhos antigos, novos e desconhecidos. Sem bilhete de volta no mesmo dia e horário, retornamos, vez em quando, com a intenção das mesmas coisas, mas aí já temos outras vivências que não nos permitem experimentar exatamente igual. Nada será absolutamente igual. Os trilhos ganham ferrugem, árvores florescem, desflorescem e desabam. O trem ganha velocidade, perde velocidade, mas o tempo segue no mesmo ritmo. Para frente. Sempre para frente.      

Talvez a grande charada do tempo não seja ser trilho, mas trem. Talvez o trem seja apenas residência para nós passageiros que envelhecemos nos trilhos pelos quais percorremos. É embaraçoso ao ponto de não poder se apontar claramente: o trem é a vida e o trilho é o tempo ou o trem é o tempo e o trilho é a vida? Se confundem. Propositalmente.   

A charada então deixa de ser do tempo e passa a ser da vida. O trem do tempo nos trilhos da charada da vida. O trem da vida nos trilhos da charada do tempo. A máxima: a ordem dos atores não altera o destino. 

Que grande charada é essa? Um enigma sem resposta certa ou errada. Vai se desdobrando em equações poéticas, como se a matemática pudesse aceitar poesia. E, pode! Vem em canção, nos passos frenéticos das avenidas, no ritmo das enxadas nos campos, no brinde dos bares, no burburinho dos corredores das fábricas, no bit das conexões, na contemplação dos templos, no silêncio noturno das casas pequenas, grandes e imensas, no batuque de cada coração, na chegada e despedida de cada estação. 

A vida desfila no tempo e o tempo desfila pela vida em conjunção. Para frente, sempre para frente, sem poder voltar para trás. Nem o trem que puxa vagões dá ré. No máximo, para. Roda. Volta para o trilho. No máximo, paramos. Pensamos. Agimos. Seguimos... Despidos ou cheios de adornos? 

O bilhete de viagem não nos obriga a nada.

 

Foto da galeria
(Foto: Freepik)
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