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As mães não morrem nunca

sábado, 01 de maio de 2021
Foto de capa
(Foto: Pixabay)

Essas efemérides que machucam nossa existência. São nas datas de motivos para a família se reunir que mais grita a tal saudade que nunca cessa. Fica lá, todos os dias do ano, em um sossego arisco nas paredes do coração e nos músculos da alma. 

Mas é nessas ocasiões de Natal, Páscoa, aniversários, Dia dos Pais ou das Mães que a visita parece mesmo inevitável. Olha-se para o lado e o vizinho está em festa, os amigos estão em confraternização. Mas ao olhar para o lado também se percebe que você e seus irmãos não são os únicos a ter essa ausência física.  

Essas efemérides que machucam nossa existência. São nas datas de motivos para a família se reunir que mais grita a tal saudade que nunca cessa. Fica lá, todos os dias do ano, em um sossego arisco nas paredes do coração e nos músculos da alma. 

Mas é nessas ocasiões de Natal, Páscoa, aniversários, Dia dos Pais ou das Mães que a visita parece mesmo inevitável. Olha-se para o lado e o vizinho está em festa, os amigos estão em confraternização. Mas ao olhar para o lado também se percebe que você e seus irmãos não são os únicos a ter essa ausência física.  

Já faz algum tempo que eu ficava triste no Dia das Mães. Engulo o choro com saliva quente e ordeno, como se pudesse determinar, para que essa dor, que é serena também, fique aquietada. Mas essa carência segue a me visitar nessas outras datas especiais e em muitos outros momentos do cotidiano. Aliás, é no cotidiano que fica mais evidente essa falta que faz. 

As mães não deveriam morrer nunca. Elas tinham que ser tão permanentes como o amor que deixam. É percebendo esse amor tão presente, mesmo com o passar dos anos, que digo a você que ainda tem ao lado sua mamãe ou a você que, assim como eu, não tem mais esse privilégio, que as mães... As mães não morrem nunca. 

São todas santidades como Maria. São divinas para além do poder da criação. Porque os que as torna mães não é o ato de gerar o feto e parir. O que as torna mães é esse laço que extrapola ventre e cordão umbilical e a faz amar de tal forma que não há nada mais egoísta que um filho querer partir antes de sua mãe. 

Porque a natureza ensina que nem mesmo santa, uma mãe pode suportar o tamanho da dor de perder seu filho. Compreendendo isso, ainda que essa compreensão não nos faça menos egoístas, sigo a vida olhando para o céu como se minha mãe fosse estrela nos pensamentos que me guiam. Mães são guias. Mães são múltiplas metáforas para o amor.           

O tempo na sua fúria incontida nos envelhece, nos faz ser pais, nos faz adultos e esse amor pela mãezinha querida se renova mesmo sem novidades. É um amor que até se reinventa, mas não muda. Ficam os cheiros do perfume na pele ou do café ou do feijão cujos sabores jamais poderão ser experimentados de novo. Fica o tom de voz, mesmo quando mais brava, seguido da nostalgia de sorrisos de quem não sabe brigar. Mães não brigam, aconselham. 

Ficam as preocupações de quem só queria o bem e essas preocupações ecoam mesmo muitos anos depois, daquelas mais corriqueiras, as de cuidar do futuro. Ficam as ligações pelo telefone mesmo nas horas mais inoportunas, para assunto algum que, na verdade, eram apenas uma das muitas formas de dizer eu te amo.

Saudade que se atropela sem causar acidentes. É choro que não se segura e, sabiamente, toma a inundar o peito para fazer se sentir parte de algo mais importante que o mundo. 

Mães nos fazem importantes, protagonistas. E mesmo quando não estão mais a nos dirigir, ainda sim nos salvam, até de nós mesmos. Sentimento maior, próprio do que é divino ou mais. Mães nos perpetuam e as eternizamos. Pois as mães não morrem nunca.  

 

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Carta ao Planeta Terra

sábado, 24 de abril de 2021

Planeta Terra, venho pedir desculpas sobre como tenho tratado você ao longo dos últimos tempos. Deixe me apresentar, ainda que você me conheça muito bem, afinal já deve estar exausta de experimentar o velho ditado que diz: “quem bate esquece, quem apanha não”. 

Planeta Terra, venho pedir desculpas sobre como tenho tratado você ao longo dos últimos tempos. Deixe me apresentar, ainda que você me conheça muito bem, afinal já deve estar exausta de experimentar o velho ditado que diz: “quem bate esquece, quem apanha não”. 

É! Você me conhece bem, muito bem, mais do que até eu mesmo. Sim, sou o ser humano. O mais predador entre todos aqueles que tem você como lar. Somos muitos, com múltiplas diferenças, culturas e condutas, mas no fim, independentemente de como agimos, respondemos por todos e assim devemos encarar a nossa desumanidade como um conjunto só.

Entre nós, seres humanos, há alguns mais conscientes e que têm tentado, com certo esforço, alertar aos demais. Mas o mal segue sendo maior até mesmo quando você aumenta a temperatura e grita em tempestades, tsunamis, ciclones e furacões. Muitos de nós não querem ouvir e incendeiam suas florestas, criam teorias de que é plana e até de que as mudanças climáticas são conspirações ideológicas. Tantos anos para desaprender a aprender.

Não temos sido bons moradores. E não veja essa carta como uma provocação de mal inquilino que tenta adiar o despejo. Precisamos melhorar essa relação e admito que você tem sido até bondosa e paciente demais. Provoco desigualdades entre os meus (seus filhos, meus irmãos). Firo a sua honra, aniquilo suas proteções de ozônio, atolo seus mares de lixo e povoo a beira de suas veias de água. Poluo suas bacias, construo nas encostas de seus vales, roubo suas pedras que autointitulamos preciosas, estouro suas montanhas e mato suas fontes minerais. Tomo do seu profundo solo a sua substância preta e transformo tal matéria no vilão que te atormenta os oceanos e o ar. 

Ganancioso, troco o tempo que tenho por dinheiro e consumo mais e mais de forma desenfreada para mostrar quem é que manda! O vento que envia sugere que é você. Mas dou de ombros e mato animais e crio animais que nascem apenas para saciar os que podem pagar e quem não pode é porque não teve mérito para comer baby beef no jantar. Reclamam de fome? Que infeste o seu solo de agrotóxicos nocivos para te acelerar e nos dar mais, mais e mais.

Aí, nos fazemos capciosamente de desentendidos, mas você soma minúsculas partículas, tão pequenas que não podem ser vistas, mas que nos destroem por dentro e paralisam a nossa mais querida invenção: o capital. Vírus e bactérias que tentam nos ensinar sobre sustentabilidade, ética, de como somos frágeis e como nosso sistema é fácil de se brecar. Mas alguns de nós são tão espertos que aumentam seus bilhões e expandem ainda mais as desigualdades. O seu convite a cooperação parece não estar sendo aceito.             

Caro Planeta Terra, como gostaria que a maioria de nós seres humanos pudesse convencer essa minoria e aos que são massa de manobra dessa mínima parcela de que é necessária uma justiça social e econômica. Que a imperfeita democracia serve para nos unir e não nos segregar. Que só o fim das explorações, inclusive as explorações a você Terra, podem gerar a tão sonhada paz.

Peço desculpas. Por não cuidar de você como deveria. Por marginalizar a vida de todos os seres que aqui vivem, especialmente meus irmãos. Peço perdão pelas atitudes deles também. Temos a mesma morada e as mesmas responsabilidades para com você e com a gente mesmo. Temos sido autores da desigualdade. Criamos a tal sustentabilidade, mas ainda estamos longe de efetivá-la. Gostaria de poder te proteger de nós mesmos. 

Queria nessa carta te dizer que as coisas vão melhorar, que estamos próximos da tal ética planetária... Mas apenas desabafo para ser e por ser parte do seu lamento.      

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Quando acaba a esperança?

sábado, 10 de abril de 2021

A esperança só é perdida quando se morre. Para todo o mais, sempre sobrará a esperança. Mesmo nos tempos mais cruéis, a esperança, menor ou maior, estará ali, debruçada à nossa frente, entre nossos dedos, dentro do peito para nos fazer seguir. E é exatamente nos tempos mais difíceis que a esperança parece nos escapar ou não existir. Mas existe e persiste nesse aqui e agora. 

A esperança só é perdida quando se morre. Para todo o mais, sempre sobrará a esperança. Mesmo nos tempos mais cruéis, a esperança, menor ou maior, estará ali, debruçada à nossa frente, entre nossos dedos, dentro do peito para nos fazer seguir. E é exatamente nos tempos mais difíceis que a esperança parece nos escapar ou não existir. Mas existe e persiste nesse aqui e agora. 

Quanto mais reclusa ou invisível é que está mais forte. Porque não é fácil ser forte diante da adversidade próxima de ser vitoriosa. Mas a esperança não padece e opera justamente na invisibilidade, manifestando-se na simplicidade de um sorriso ou na criatividade da intimidade. É a tal voz que sopra no nosso ouvido: “não desista, siga firme”. 

Ao olhar para os lados, nada vemos, mas sabemos o que escutamos em nosso íntimo. É a tal força que nos arranca da inércia de quem cansou e nos faz aguentar um pouco mais. No entanto, que se sublinhe: a esperança não é masoquista, tanto quanto não é vaidosa. É repleta de fé, mas não se jubila, nem alimenta ao crente ou ungido de si mesmo. Esse alimento é outro e não pode ser confundido com esperança. Esperança é sublime, é iluminada, tanto quanto misteriosa no seu agir.          

Se a utopia é o que nos faz caminhar – como bem disse Galeano – é a esperança que nos faz levantar e ir. A esperança, portanto, é o que nos tira da cama todos os dias para trabalhar e é a mesma esperança que nos faz estudar, cumprir tarefas, se empenhar e cuidar de nós mesmos. 

Afinal, que garantia há de que estaremos vivos amanhã? 

Se não há garantia alguma, caminhamos pela utopia de perdurar, mas na esperança de concluir. Assim, por mais que tenhamos dificuldade em achá-la perdida no meio de todo o caos, entre tantos ais, de um modo ou de outro, sentimos que a esperança está ali, ansiosa, em um cantinho qualquer do nosso ser. Pois somos seres de esperança e nos movemos por quem somos. Se assim não for, não há razão para existir. 

A esperança só morre, quando a gente morre, seja como indivíduo ou mesmo como sociedade, de tal forma que transformações não significam morte, mas evolução. E a esperança está nesse processo evolutivo, mesmo que passe despercebida.

Nesses tempos de pouca ou quase nenhuma empatia, por vezes é passível acreditar que a esperança foi aniquilada e que nós,, como coletividade, fomos derrotados. Pode até ser que enquanto conjunto social tenhamos fracassado. Mas a esperança – reforço – jamais acaba. É em um pingo de ética aqui, em um bocado de virtudes ali que a esperança resiste e nos faz resistir e até sonhar.

Enquanto houver vida, haverá esperança. E, não é tolice se apegar à essa vontade de viver - não para apenas sobreviver - mas viver em plenitude e abundância em um mundo sustentável e mais igual, em um mundo melhor da gente com a gente mesmo.      

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Nascer, morrer, renascer

sábado, 27 de março de 2021

Já nasci e morri para tantas coisas. Renasci para tantas outras. Quando arrogante - se atento - tento morrer para renascer menos vaidoso. Quando angustiado, tento sobreviver o quanto for possível, mas se tiver que morrer para renascer com outras possibilidades não receio.

Nascemos, morremos, renascemos várias vezes numa mesma vida, às vezes em uma mesma semana ou dia. Porque, mesmo que não dispostos, estamos expostos a aprender, evoluir, sair do casulo que costuramos em volta de nós mesmos. 

Já nasci e morri para tantas coisas. Renasci para tantas outras. Quando arrogante - se atento - tento morrer para renascer menos vaidoso. Quando angustiado, tento sobreviver o quanto for possível, mas se tiver que morrer para renascer com outras possibilidades não receio.

Nascemos, morremos, renascemos várias vezes numa mesma vida, às vezes em uma mesma semana ou dia. Porque, mesmo que não dispostos, estamos expostos a aprender, evoluir, sair do casulo que costuramos em volta de nós mesmos. 

Nossas verdades descosturam e o sol lá fora, esse mesmo sol que não nasce para todos, descortina a nossa saga nada simples, mas nem tão complicada que não possamos recomeçar. E, o melhor: nenhum recomeço é do zero. 

Nossa evolução, por mais que queiramos, não retrocede. Reiniciamos com alguma experiência, acúmulo de coleções variadas. Mesmo que não evidentes, nossas cicatrizes nos iluminam caminhos.

Nasci por coragem, morri por medo e vice-versa. E nesse misto, renasci embrulhado, mas outras vezes liberto. Liberdade é algo que não pode matar ou fazer a gente morrer. Liberdade é algo que nasce na gente e deve perdurar para fazer do renascimento algo eterno. Porque liberdade talvez seja o mais próximo que teremos de ser de verdade. 

A tal verdade sem julgamento, sem ficção. Verdade que como filme fotográfico quando revelado escancara a essência da nossa existência. Liberdade não para mostrar para o mundo, mas antes de tudo para si mesmo e ser contente com isso e coerente consigo mesmo.

De braços abertos... Pare. Escute. Espie como criança curiosa e sem maldade o que o vento da novidade traz. Pode ser anunciação ou apenas gemido de quem não sabe falar. Talvez não entendamos a língua dos ventos, tanto quanto não entendamos toda essa jornada de nascer de novo e de novo e de novo para sempre e até o fim. 

Morrer para o que não serve mais e é fardo que não valha carregar. Morrer para toda essa convicção de teimar em ter razão. Morrer para esses furtos que fazemos em nossos próprios corações e só se enganar quando o engano é piada pronta de quem só quer rir diferente do mesmo texto já decorado. 

Renascer sem ganância, ainda que com saudade. Renascer solidário com os pobres de si mesmos, olhando para si próprio ao ponto de admitir que já não se quer e não se pode mais cultivar essa inveja de ser o que nunca se pretendeu ser. Renascer para perceber o do porquê morreu por deliberação própria de tudo aquilo que não mais quer.

Nascer. Morrer. Renascer. Convidativo, ainda que assustador. Mas quantas vezes morremos e renascemos sem mesmo perceber? 

Já não sou aquilo que era e por mais que pareça delicioso voltar no tempo com o que sei agora, não sei se seria prazeroso consertar ou mudar o rumo – voltar. Pelo que passei não passo mais, Heráclito já dizia: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. 

Não sei se sou rio ou apenas riso com vã filosofia. Se o sujeito não é mais o mesmo e as águas não são as mesmas, navegamos de fato por essas correntezas de verbos existenciais.

Consciente, clamo para morrer sem correntes e renascer com asas libertas na ânsia de ser livre como devo ser e desejo o mesmo para você. Se a alvorada não pode ser detida, tampouco nascer, morrer e renascer.  

 

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Pequena reflexão sobre o sono… ou o que nos tira o sonho

sábado, 20 de março de 2021

Quando estou com sono, apenas vou dormir. Quando perco o sonho, eu me levanto. Minha ansiedade é maior do que a tentação da preguiça. Considero-me um ser noturno, ainda que concorde que as manhãs são lindas e o amanhecer talvez seja mesmo a parte mais bonita do dia. 

Quando estou com sono, apenas vou dormir. Quando perco o sonho, eu me levanto. Minha ansiedade é maior do que a tentação da preguiça. Considero-me um ser noturno, ainda que concorde que as manhãs são lindas e o amanhecer talvez seja mesmo a parte mais bonita do dia. 

Sei que parece conversa para boi dormir, mas refletir sobre perder o sono ou se render ao sono ou se vestir de sonho, diz muito sobre nós mesmos. Podemos ter sono por razões naturais, podemos perder o sono por circunstâncias diversas que vão além, muito além da biologia, podemos trocar de sonhos e pesadelos porque colecionamos traumas, aprendemos e quiçá evoluímos.  

O sono perdido de ontem pode não ter nada a ver com o de amanhã. De modo que aquilo que nos faz bocejar agora, um dia pode ter nos colocado desperto. Da mesma forma que o que nos despertava por prazer pode agora nos tirar o sono e o sonho que raramente vem do sono. Parece confuso. E é! A vida é confusa. 

O tempo faz confusão para além, muito além das bagunças que planta na mente. Falo das bagunças pelas células que morrem e nos levam fatalmente à perda de memória e até à insanidade, mas também daquelas que o conhecimento instiga ao ponto de entendermos a célebre filosofia de que quanto mais se conhece, menos se sabe. 

A admissão do não saber é a mais verdadeira das liberdades. Tão bom envelhecer quando se aprende a abdicar de dar opinião sobre tudo. Podia ser mais fácil, menos instigante. Porém, o prazer da paz é o mais legítimo facilitador do bem querer a si mesmo. Fazer guerra com quem quer morrer... Não serei eu o assassino! E não tem nada de individualista nisso. Muito pelo contrário. E adiciono o muito precisamente para dar ainda maior ênfase ao pelo contrário mesmo. É um sonho coletivo…

Em tempos líquidos como esses, segurar os dedos antes de sair digitando fezes pelas redes é de tal encanto, menor apenas que sequer se permitir ao trabalho de pensar em dar opinião ou ter opinião. Ah, o velho Raul! Não era mesmo desse mundo o nosso carimbador maluco. Mais Raul, menos extremismo ideológico idiotizado. Ainda que seja essa uma opinião, só dar opinião quando de fato se mereça investir tempo, paz e amor próprio. Quando for por um sonho.  

Eu posso agradecer por acordar todo dia, mas é muito difícil quando sequer fui dormir. Já fiquei desperto com o programa Silvio Santos. Atualmente, me dá sono. Mas é melhor do que essas pílulas. Os médicos deveriam receitar Silvio Santos ao invés dessas pílulas de benzodiazepina. 

Aliás, pesquisas recém publicadas e avalizadas pela Organização Mundial de Saúde atestam: “o uso indiscriminado de remédios para sono e ansiedade causa risco de morte maior do que o uso de drogas como cocaína e heroína”. Não use nem um nem outro tanto quanto for possível. 

Veja Big Brother Brasil, leia Martha Medeiros, faça dieta de leitura para descobrir verdades para além daquelas que tem te nutrido e não se esqueça: morrer é o destino de todos nós até para quem não acredita em destino. Mas também se lembre: viver - há certa dose de pretensão nisso - a gente escolhe. O que nos tira o sono, o que nos dá sono, o sonho…

Bom é ter ou buscar certo controle sobre um e outro e ambos.

 

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Saudades da cidade lá fora

sábado, 13 de março de 2021

Um silêncio ensurdecedor domina os cômodos da casa. Uma mensagem chega no celular quebrando a monotonia dessa música de uma nota só. Mais uma daquelas propagandas que tentam te convencer de que você foi sorteado para comprar. Vê se pode? Sorteado para gastar... 

Um silêncio ensurdecedor domina os cômodos da casa. Uma mensagem chega no celular quebrando a monotonia dessa música de uma nota só. Mais uma daquelas propagandas que tentam te convencer de que você foi sorteado para comprar. Vê se pode? Sorteado para gastar... 

Ainda que seja especial estar sobrevivendo, não há nada de incrível em estar no cadastro do invasivo telemarketing. Será que eles acreditam que esse tipo de propaganda rende negócio? Talvez, dê certo. Comigo, não. Silencio o aparelho que me conecta a tudo lá fora e apenas espio a fortaleza de escuridão embrutecida pelas cortinas blecaute. 

Durmo para ver se o sono vem. Canto para despertar. Estou com saudades da cidade lá fora. Da chapa fritando. A frigideira daqui de casa não é igual. Dizem que servir às multidões é o tempero que faz o alimento na chapa ser mais gostoso. O gosto do bacon no sanduíche que não continha bacon, a gordura do provolone na muçarela. 

Enquanto sonho, estou lá fora, brincando com as crianças no parquinho, correndo dos quero-queros no gramado. Mas logo acordo e me sinto passarinho na gaiola. Eu, passarinho. A casa, gaiola. 

Saudades da cidade lá fora... As flores dos canteiros da praça. Vislumbro. Mesmo que há tempos naquela grande praça só exista eucaliptos renascendo. As plantas daqui de dentro de casa não gostam muito de luz. Plantas que ficam na sala são assim. Pouca ou muita água, mas nada ou quase nada de luz do sol. São belas, ainda que não deem flores. Ah! As lá de fora são mais libertárias. Ainda que, quando na varanda particular, deem mais trabalho para cuidar. Ficam expostas, são sensíveis e requerem muita atenção, pois não aprenderam a se virar sozinhas como as que estão no habitat natural. Assim como as flores da cidade lá fora, são os vira-latas. 

Cachorros ou gatos. Sabem pedir, graduados em sonsice, não resistem a um carinho qualquer. Mas logo dispersam e se vão como cão sem dono mesmo. Saudades deles, especialmente do Branquinho e do Pretinho. São os nomes deles. E em outras ruas há o Amarelinho ou o Miauzinho. Nomes ou apelidos, mas que atendem prontamente ao serem chamados. Não sei se eles são os donos da cidade ou se a cidade é que é dona deles. Para que saber de algo tão resolvido por si só? 

O barulho da cidade só me achega quando a moto barulhenta atravessa a rua perto ao meu prédio. Corta o silêncio e treme a gaiola fechada em que meu canto é ruído tímido e desolador. Desesperador é sentir que isso não acaba esse ano e que talvez não acabe tão cedo. Minha saudade da cidade lá fora caminha para nostalgia. Como as que tenho dos tempos que não vivi ao colocar um vinil do Belchior na vitrola moderna. 

Toca CD, Cassete, entrada USB e tem até bluetooth. Fico com o LP. Com a agulha fina que desliza pelas faixas que se traduzem em som límpido. Como se produziu maravilhas artísticas nos anos de chumbo. O que se produzirá de arte nesses tempos inglórios e tão cruéis? O que me cabe é, por agora, imaginar Daíra cantando Paralelas no Corsário, como se o extinto Corsário fosse a minha sala e eu ainda que na gaiola pudesse viajar como se estivesse no meu carro a cem por hora. Não escapo da gaiola, mas corro por ela e por suas poucas janelas, e então, sofrido, destemido, ao mesmo tempo que esperançoso, revigoro ao sentenciar a mim mesmo que o infinito da cidade sou eu... 

Que não seja infinita essa saudade.      

 

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(Foto: Henrique Pinheiro)
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Eu não quero ser mais um machista

sábado, 06 de março de 2021

Paz: substantivo feminino

Que toda violência - física, moral, psicológica, sexual - seja rechaçada por todos. Absolutamente todos. E não pode ser apenas um desejo exposto na escrita ou para evitar cancelamentos. Não é só porque soa bem aos ouvidos coletivos. Tem que ser prática cotidiana, mesmo no silêncio de nossas intimidades. Tem que ser combate permanente a nós mesmos e a tudo aquilo que acumulamos erroneamente como sociedade ao longo dos tempos. Chega! Basta! Tantos séculos não nos serviram de nada?

Paz: substantivo feminino

Que toda violência - física, moral, psicológica, sexual - seja rechaçada por todos. Absolutamente todos. E não pode ser apenas um desejo exposto na escrita ou para evitar cancelamentos. Não é só porque soa bem aos ouvidos coletivos. Tem que ser prática cotidiana, mesmo no silêncio de nossas intimidades. Tem que ser combate permanente a nós mesmos e a tudo aquilo que acumulamos erroneamente como sociedade ao longo dos tempos. Chega! Basta! Tantos séculos não nos serviram de nada?

Gentil: adjetivo feminino

Eu não posso falar por elas. Como homem, tenho tentado aprender que não tenho lugar de fala e que preciso escutá-las, ouvi-las, se colocar ao lado delas nas suas batalhas sofridas e diárias, históricas. Não por gentileza. Não se trata de gentileza, mas de obrigação. Reconhecer as falhas e o quanto precisamos avançar por mais igualdade de gênero. Num mundo tão machista, precisamos, nós homens, entender que: não podemos ser mais um machista. O Brasil - grifo - já está cheio deles. Mais do que vigilantes, atentos para não escorregar nos equívocos presentes que a história nos põe goela abaixo. As piadas já não fazem mais rir nesse circo que necessita ser desmontado urgentemente. O assédio já não faz o homem ser mais homem, o torna apenas ignorante. Compreender é, portanto, verbo essencial para se desvencilhar das tantas besteiras preconceituosas que nos acompanham desde muito pequenos. Eu entendo o produto que somos, mas não posso aceitar ser esse pacote medíocre fechado e retrógrado. Dirão que o mundo está chato. Não! O mundo é injusto e desigual.

Sensivelmente: advérbio feminino

Eu não quero ser mais um machista. E não é pelo politicamente correto. Eu quero aprender a não ser machista. Não por vaidade moral, mas porque quero respeitar em sua integralidade o espelho que reflete minha mãe - toda mulher - vinculada a mim ou não. Eu disse: todas as mulheres em suas mais diversas personalidades. Minha mãe, minha irmã, minha amiga, minha professora, minha vizinha, a atendente de telemarketing ou da loja de biscoitos, a que se senta ao meu lado no ônibus, a que me chefia no jornal, a faxineira que limpa lá em casa uma vez a cada 15 dias, a desconhecida da padaria, a moça da praça que por motivos que não nos cabem exerce a profissão mais antiga do mundo, a minha avó quase centenária que é filha de sinhá, as mães de santo dentro e fora dos terreiros, as pastoras, a mulher rural, a vereadora. Reconhecer cada uma delas, reverenciar, fortalecer, se sensibilizar na sensibilidade que só o feminino tem e só o feminino pode nos emprestar.

Amar: verbo feminino

Ironizo as normas cultas para amar o feminino e suas lutas e provar que amar é feminino, é mulher. Não as doces mulheres dos livros de José de Alencar, tampouco as Helenas das novelas de Manoel Carlos. Elas todas e tantas outras, todas as outras com suas particularidades reais, das quais singularmente são amor... E com o amor não se pode guerrear. Que esse amor feminino seja a paz que encerra toda violência e gere a gentileza em todos os homens em se reconhecer e sensivelmente dizer para si mesmo: eu não quero ser mais um machista. E, para além de toda fala se comporte e, humildemente, queira aprender constantemente, até o fim da vida, a não ser mais um machista, a não ser machista. 

 

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(Foto: Reprodução Internet)
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Boa viagem!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Prepare a mala e o espírito para a melhor viagem que já fez! Toda viagem, longa ou curta, repetida ou inédita, independente da companhia, tem que ter a intenção de ser a melhor que já fez na vida!

Leve na bagagem suas roupas preferidas e seus sonhos mais ousados também. Tire do ombro o peso do cotidiano e trilhe o caminho traçado como um apaixonado em que nada é capaz de lhe desviar do objetivo a si dado: apaixonante fazer o mundo à sua volta também ficar apaixonado. Apaixone as cidades e países nos quais vai passar. Deixe também se apaixonar. 

Prepare a mala e o espírito para a melhor viagem que já fez! Toda viagem, longa ou curta, repetida ou inédita, independente da companhia, tem que ter a intenção de ser a melhor que já fez na vida!

Leve na bagagem suas roupas preferidas e seus sonhos mais ousados também. Tire do ombro o peso do cotidiano e trilhe o caminho traçado como um apaixonado em que nada é capaz de lhe desviar do objetivo a si dado: apaixonante fazer o mundo à sua volta também ficar apaixonado. Apaixone as cidades e países nos quais vai passar. Deixe também se apaixonar. 

Carregue fotos de momentos em movimento, traga tudo o que puder, inclusive traga-se de volta, com mais histórias para contar, com sua alma mais evoluída pelas experiências vividas lá que tornarão cá ainda melhor.

Não deixe de perceber a simplicidade das esquinas, não deixe de elogiar o caro café do famoso bistrô, assista com devoção o sol ir e aplauda as estrelas dos céus que verá. Nenhum céu é exatamente como o outro, por mais que a posição dos astros seja a mesma na Terra  inteira. 

Cumprimente o cidadão arrogante ensinando a ele o prazer da simpatia. Contagie os outros com o jeito de seu povo e mostre que estar de bem com a vida, faz a vida ficar de bem com você.

Esqueça a sua trilha sonora e ouça novas músicas de cantores e grupos desconhecidos. Mas se sentir um pouco extraterrestre, recupere a lista de suas músicas favoritas e cante-as sem pudor.

Tenha sempre o roteiro em mãos para pelo menos em duas ou três oportunidades sair do roteiro. Deixe o universo conspirar ao seu favor na tarefa de fazer você ir para onde tem que ir... Assim, se de repente der vontade de mudar a rota planejada não titubeie e entre à esquerda, com a audácia dos que gostam de ser surpreendidos.

Boa viagem! Bons momentos! Boa vida! Felicidade divertida pra você! O mundo te conhece quando você conhece o mundo! Deixe o mundo te chamar pelo nome! Nada poderá mudar o seu ritmo de ser feliz! 

A viagem é sua, como é você quem dita os passos da dança. Seja nobre, seja menino, seja você! Nada lhe escapará, nenhum detalhe, nenhum rosto, nenhuma árvore, nenhuma flor de nenhum jardim! Experimente o novo que lhe convoca! Experimente o novo que o velho te revela. Aprenda e se deixe instigado a desvendar o que as horas te provocam.

Vá com fé! Sinta o vento! Voe e faça voar alto as suas intenções. Mas volte. Não há nada tão seu quanto o ritual diário do seu lugar, com as suas atitudes e soma que dá ao seu mundo particular com alguns particulares que lhe desejam boa viagem, mas que necessitam de você aqui no mundo delas. 

Porque você é importante pra elas e é importante pra elas ter você por perto mesmo que não tenham que te ver para te sentir, mesmo que não tenham que te ter ao lado para te adorar... É bom dividir com você um tempo-espaço!

Boa viagem! Bons instantes futuros inesquecíveis! Porque é bom se conhecer em outros lugares como turista de si mesmo. 

N.R: Nosso colunista está de volta após longo período afastado, devido a compromissos com sua campanha eleitoral para prefeito de Nova Friburgo, seguida de merecidas férias. E foi com esse espírito elevado e esperanças renovadas que ele escolheu falar de liberdade, a ser desfrutada num futuro próximo. Deus te ouça e seja bem vindo Wanderson Nogueira!

 

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Contemplar para a plenitude

sábado, 27 de junho de 2020

Quando Alice está perdida e encontra o gato, o felino pergunta à menina para onde ela quer ir. Alice diz que não sabe e o gato sem titubear responde que para quem não sabe onde quer ir, qualquer lugar serve. 

Há quanto tempo qualquer lugar nos tem servido? Há tantas nos fazemos morar em uma ilha envolta em montanhas que não permitem olhar o horizonte. Nessas horas é que me lembro de Galeano quando reflete sobre querer alcançar o horizonte. A cada passo que se dá, mais longe o horizonte fica. Mas é esse desejo de alcançar o horizonte que o faz caminhar. 

Quando Alice está perdida e encontra o gato, o felino pergunta à menina para onde ela quer ir. Alice diz que não sabe e o gato sem titubear responde que para quem não sabe onde quer ir, qualquer lugar serve. 

Há quanto tempo qualquer lugar nos tem servido? Há tantas nos fazemos morar em uma ilha envolta em montanhas que não permitem olhar o horizonte. Nessas horas é que me lembro de Galeano quando reflete sobre querer alcançar o horizonte. A cada passo que se dá, mais longe o horizonte fica. Mas é esse desejo de alcançar o horizonte que o faz caminhar. 

Assim, define de forma brilhante o que chama de utopia. Sem a pretensão de contradizer o mestre, eu chamaria de visão esperançosa de crescer. Precisamos olhar o horizonte e além dele com a coragem de quem mora mais perto do céu e é filho das montanhas. Não as montanhas que aprisionam. Mas as montanhas que nos privilegiam estar do alto. 

No entanto, há de se ter certo cuidado em não só querer ver o mundo do alto, observando apenas e julgando. É preciso a humildade de se colocar na planície. Dela, muitas das vezes (se não na maioria) se enxerga muito mais. Da planície, nos colocamos como iguais para ser parte integrante de algo maior. 

É como a história das ondas do mar. Desesperada por arrebentar na areia da praia, a onda pessimista acha que é o seu fim. A onda otimista a convence de que ela não é apenas uma onda, mas parte do oceano.

Contemplar é, portanto, bastante diferente do que apenas observar. Observar – diz o dicionário – é espiar, analisar, ver atenciosamente, fazer uma constatação sobre algo ou alguém, exprimir juízo de valor ou opinião. 

Já contemplar é mais profundo e recuso as letras frias dos dicionários. Contemplar é se por, fixada e humildemente, diante das maravilhas de uma flor de cerejeira ou da Baía de Guanabara vista do Caledônia. Melhor ainda é contemplar a vida que retumba na natureza e a alma que escapole pelo olhar dos olhos infantis de quem se ama. 

Ou mesmo de quem sequer se sabe o nome para perceber que castanhos, pretos, azuis ou verdes, ao se olhar mais de perto guardam sonhos e expectativas diversas e que devem ser respeitadas as suas liberdades. Contemplar é próprio dos tolerantes que se apaixonam pela liberdade de ser o que se é. 

E, assim, contempla o que há dentro de si mesmo e se admira sem ser egocêntrico, nessa tênue linha entre a realidade e a fantasia e vice-versa. Afinal, o que é uma outra coisa e outra que se não alegoria de carnaval?

Saber para onde ser quer ir é mais importante do que ir. Sonhar é pressuposto de quem caminha. Somos todos sol num só oceano. Articular felicidade é o principal dever de um líder e deve ser motivação de cada um de nós. 

Assim, não dá para abrir mão de contemplar para amar, pois a finalidade da contemplação é o amor à natureza, às pessoas, à vida. E só através desses elementos e desse verbo intransitivo (fico com o poeta Mário de Andrade) pode se alcançar a plenitude nesse céu daqui e não no longínquo céu das luas de Saturno.   

 

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O ano que nunca começou ou sequer existiu

sábado, 20 de junho de 2020

E assim ficarão marcados nas nossas memórias esses dias: 2019 é o ano que nunca terminou. 2020 é o ano que nunca existiu. 2019 não acabou mesmo ou é 2020 que ainda nem começou?

No Brasil, se o ano só começa depois do carnaval, então tivemos um ano realmente muito curto. Nos causa estranheza não celebrar os feriadões como a Sexta Santa ou o Corpus Christi. E as férias de julho? Para que férias em julho se mal saímos das férias de janeiro? 

E assim ficarão marcados nas nossas memórias esses dias: 2019 é o ano que nunca terminou. 2020 é o ano que nunca existiu. 2019 não acabou mesmo ou é 2020 que ainda nem começou?

No Brasil, se o ano só começa depois do carnaval, então tivemos um ano realmente muito curto. Nos causa estranheza não celebrar os feriadões como a Sexta Santa ou o Corpus Christi. E as férias de julho? Para que férias em julho se mal saímos das férias de janeiro? 

Se 2019 não deixou saudades para a coletividade, 2020 nem deu para deixar esse gostinho. Um ano esquisito, mas mesmo que seja lembrado como um ano que não existiu ou que começou tarde, ninguém ousará dizer que não foi um tempo que nos sacudiu. 

Fazer pensar não era para ser um sacode... O tempo aguça nossas intuições, mas meio que distraídos deixamos a brisa levar os ponteiros do relógio, até que a brisa vira furacão. Os alarmes soam, mas ainda assim nos deixamos levar, como se esses alertas não fossem comigo e com você. São para ele... Até que, o que precisa ser feito - muitas das vezes simplesmente repensar - se torna urgente. 

A urgência é sempre mais cara, mais pavorosa e inevitavelmente nos causa medo. Há quem defenda que o medo nos faz agir. Eu, sinceramente, acho que o medo deveria ser banido. É um sujeito imprestável que gosta de causar aflição. Não fomos feitos para sermos aflitos. Nossa natureza é corajosa, libertária, vulnerável. Coragem e liberdade não combinam com o medo, mesmo quando vistas como antônimas a ele. Já a vulnerabilidade não é uma exclusividade do medo, é da vida. Como um todo.

Apreciar a vida vivendo é melhor do que só observar, ainda que a observação sincera evite erros e a repetição de erros. Está na moda, não sei se é coisa de coaching, a tal da abordagem sobre autosabotagem. É a tal da contemporaneidade tão démodé. É como aquela equivocada escolha do novo que pode ser até diferente do velho - no rosto - mas é tão evidente ser mais do mesmo ou ainda pior. 

Heróis e vilões estão aí aos montes. Se você se olhar no espelho vai ver inúmeros heróis e vilões saltando de seus cabelos, pelos ombros, pelo peito... Não é do cotovelo do outro não. É do seu umbigo mesmo. Mas a gente tem uma certa mania de sempre querer ser o mocinho. Autoengano. Nossas escolhas individuais constroem monstros que mastigam a humanidade. Até a nossa própria humanidade.

É preciso estar atento. 2020 começou sim. Vai acabar, como 2019 acabou. Espero que não acabemos nele. Só vale se for para se acabar  dele como nos acabamos nos blocos de carnaval. Se bem que o carnaval até existiu mesmo... Espero que você tenha se acabado ao seu jeito. 

Mas é preciso estar atento ao objetivo de estar aqui. Não! Não se trata de ser escolhido ou abençoado. Todos, absolutamente todos, na sua natureza corajosa, libertária e vulnerável precisam compreender que há um objetivo para estar aqui: ser feliz e cuidar para que o outro também seja feliz, sem ninguém atrapalhando ninguém. Um cuidando do outro sem querer determinar o que o outro deve escolher ou se satisfazer. Como diria minha avó: “se cada um cuidasse do seu próprio rabo...”. 

Mais atual mesmo é o que um amigo meu cravou numa dessas discussões espúrias sobre orientação sexual. Ao ser indagado de forma áspera sobre quem orienta a sexualidade, respondeu sem ironia mesmo: “quem orienta é o ‘c...’!

Já confiei de que seremos mais empáticos depois que 2019 acabar ou 2020 começar. Também já me desanimei desapontado com a forma como lidamos com esse ano que nunca existiu. No fim, prefiro mesmo é ficar com a pureza da resposta das crianças de que a vida é bonita, é bonita e é bonita.

 

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