Blog de palavreando_27591

Todas Marias

sábado, 09 de março de 2024

Minha mãe era costureira, minha tia mais nova balconista. Minha avó era do campo, minha tia mais velha doméstica. Todas mães. Todas Marias. 

De onde elas vieram era tradição: homens com o primeiro nome José, mulheres precedidas de Maria. E assim minha avó fez com cada um dos seus sete filhos, três mulheres e quatro homens, sendo que a primogênita recebeu o nome composto de Maria José e o primeiro filho homem recebeu o nome de José Maria. 

Minha mãe era costureira, minha tia mais nova balconista. Minha avó era do campo, minha tia mais velha doméstica. Todas mães. Todas Marias. 

De onde elas vieram era tradição: homens com o primeiro nome José, mulheres precedidas de Maria. E assim minha avó fez com cada um dos seus sete filhos, três mulheres e quatro homens, sendo que a primogênita recebeu o nome composto de Maria José e o primeiro filho homem recebeu o nome de José Maria. 

Vovó era filha de sinhá. Quase centenária (faltou pouco para chegar aos cem), nasceu no final dos anos 20 do século passado, mas tinha ainda a marca dos resquícios escravocratas. Não conheci Dona Sinhá, como mamãe a chamava. Comentavam, minha mãe e meus tios, que quando a vara comia, todas as crianças iam para a proteção de sua saia. Nem sei o nome dela. Sinhá era sua função na grande fazenda que foi totalmente dividida ao fim do ciclo do café da região de Trajano de Moraes. Pelas histórias que ouvi, era uma mulher bondosa e igualmente perspicaz.

A pobreza era o retrato daquela época. Vovó viveu quase que a vida inteira em uma casa de pau a pique. O fogão de lenha e quando caía a noite se usava por tempo exíguo a lamparina de querosene. Ninguém nunca passou fome, mas quando se avistava, a solução era água de fubá com talos de bananeira. O sonho de todos era sair dali o mais rápido possível. Tentar uma vida melhor. Nova Friburgo era o paraíso. 

Naqueles tempos, o ônibus para Serra das Almas nem era diário. Quando vovó ia para Friburgo, o imaginário infantil era de que Dona Mulatinha estava indo para o céu ou além dele. Mamãe contava que até uns 12 anos acreditava que Nova Friburgo ficava mesmo no céu. Ela veio para cá por volta dos 17 e aqui ficou até a sua prematura morte aos 52. 

Friburguense, eu tinha medo de ir visitar minha avó só pelo nome do seu lugar, Serra das Almas. Assim como minha mãe imaginava que Nova Friburgo estava no céu, eu achava que lá era serra de almas que vagavam e sempre tive pavor de fantasmas. Mas ia, porque tinha minha mãe e minha avó para me proteger. Diziam: “Dinho, você tem que saber que gente morta não faz mal, você tem que ter medo é de gente viva”. 

Sim, meu apelido era Dinho. Até o fim da vida, minha avó me chamava só de Dinho. Como Wanderson era difícil para ela pronunciar, resumiu para Andinho, logo Dinho para facilitar. Mas isso é outra história…         

Mamãe, vovó, titias… Mulheres de amor, mulheres de fibra. No vigor, as suas sinas. Porque assim a vida as fez: determinadas, independentes, impetuosas para defender suas crias. Mulheres de peito, trabalhadoras, vibrantes, aguerridas. Os dias a provocaram a não baixar a cabeça. Mães exemplares com esse tal de amor incondicional que tudo faz e nada espera. Mulheres na essência de fazer acontecer, contra tudo e contra todos, até a sociedade. Mulheres que sabiam dividir o pouco e do pouco faziam muito. Mulheres… 

Com elas, aprendi a sensibilidade, mas também a firmeza, a vontade de ir e buscar, o dom de proteger, mas também a coragem de enfrentar. Orgulho de ser filho de costureira e de ter como heróis mulheres — heroínas. E sei que não é um privilégio meu, pois há tantos que aprendem esses e outros valores com mulheres. Porque a mulher tem esse talento de tocar o mundo e fazê-lo melhor. 

É mais do que algo de gênero, é mais do que maternidade, é muito mais do que receber o nome de Maria, Ana ou Aline. É mais do que essa tentativa que acaba como mero pleonasmo ao associar mulher a amor, fibra, vigor, determinação, ímpeto…   

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Passarinhos que cantam e voam

sábado, 02 de março de 2024

Como o tempo tem passado depressa. Já nem sei mais se é só uma sensação. Se é carnaval, de repente é inverno, do nada já é ano novo de novo. O futuro já é passado e o presente nem se sente. 

O tempo sempre passa mais apressado quando cantamos sem esforço ou quando devoramos um prato com gosto. Também é ligeiro quando estamos hipnotizados por toda a beleza que há entre a cachoeira e o mar, o tanto de graça que existe entre a terra e o céu. Passa veloz  quando nos perdemos em um olhar. 

Como o tempo tem passado depressa. Já nem sei mais se é só uma sensação. Se é carnaval, de repente é inverno, do nada já é ano novo de novo. O futuro já é passado e o presente nem se sente. 

O tempo sempre passa mais apressado quando cantamos sem esforço ou quando devoramos um prato com gosto. Também é ligeiro quando estamos hipnotizados por toda a beleza que há entre a cachoeira e o mar, o tanto de graça que existe entre a terra e o céu. Passa veloz  quando nos perdemos em um olhar. 

A paixão faz o mundo girar mais desenfreado e a percepção do que há entre tudo, nos remete a certa vontade de ser parte de um todo. Causa deslumbramento. Como pode tanta magia? Se for contar, não cabe em uma vida toda, porque o tempo passa depressa demais, mesmo quando somos paralisados pelos impactos do sentir. 

A admiração não é fugaz, mas gosta de ser perseguida ao ponto de quem sabe um dia ser reconhecida como amor. Talvez já seja pelo simples ato de começar. Portanto, perceber, admitir, aderir, acolher e acolher-se são verbos tão sujeitos nessa oração. Pedimos e quando temos, desatentos ou mal resolvidos, adiamos, tememos, abdicamos.

Depressa, a paciência tenta sossegar os minutos, mas a angústia não afugenta a ansiedade. E ansiedade faz correr para a depressão. O relógio se mete na relação entre a gota d 'água que cai no copo vazio. E ainda que demorado, o copo enche, transborda. Intrometido, o tempo passa igual e só quando o copo já não pode deter tanta água é que se nota. 

Nós não passamos da mesma maneira pelo tempo, nunca. Porque o que fomos ontem, já não é o que somos agora. E amanhã? 

Caminhos tortos podem ser imensas avenidas retas. Já peguei estradas em quinhentos quilômetros retos. Caminhos assim nos dão sono, mesmo feitos em altíssima velocidade. As paisagens parecem se repetir. O tédio faz o tempo parecer parasitário. Mas o tempo segue seu fluxo. Envelhecemos da mesma forma. Esse corpo que temos vai esvair, a alma evaporar. Para onde? Por aí… Se é tão certo o destino - é clichê - o modo é que importa. Fácil dizer e até classificar como clichê. Difícil é fazer sempre valer a pena. 

O tempo passa devagar, quase estático, quando tenho medo. E o medo é um guloso que paralisa para ser voraz. Só a coragem nos faz famintos, mesmo sem fome. É o motivo que nos tira da inércia. Ir, fazer, ser. 

Será que o tempo é apenas um método que nos faz cumprir tarefas? Estranho quando isso acontece. Ocorre muitas vezes, não diria toda hora, mas há momentos que só se quer explodir. Em felicidade. Em tristeza. Melancolia, talvez. Prazer, com certeza. Fogos de artifício, mas para brilhar sem desaparecer. 

Uma música só, dura muito pouco tempo. Uma playlist pode ser longa demais, como o lado A dos vinis. Já teve esse sentimento de se achar antigo e de que nasceu na época errada? Do futuro ou do passado? Não sei. Presente! 

Dizer presente para a vida. Pressente que o agora não aceita talvez? “Queria ir, não fui… vou”. Para entre as estrelas. 

Tão impressionante é contemplar o tanto de vida que há entre uma flor e outra no jardim. É seguro nutrir certo espanto bom, daqueles que nos garantem imaginar infinidades de formas e possibilidades. Se somos tão imensos assim, por que querer ser uma coisa só ou tão pouco?   

A loucura se instalou em mim e não sai mais. Todos no salão, esses que cantam, se irão. Eu também. Mas quando eu cantar quero que tenham a coragem de ficar. Em algum momento eu estarei. Fincado. E, ao ficar, possivelmente, sozinho, não serei solitário. Mas só, eu comigo mesmo, tenho incertezas se a festa me habita ou se faço morada na festa. 

O tempo passa diferente para o momento de cada um de nós. Às vezes canto bem, outras o que cantam me soa mal ou não… Como comparar o que fomos, o que somos ou o que queremos ser? Cada momento tem o seu tempo. E a certeza nunca, nunca, prevalecerá. O que existe é essa existência efêmera do agora. Tristeza ou felicidade e todo o resto para além de ser feliz ou triste é o que se apresenta. 

Não me parece apenas uma questão de múltipla escolha. Há infinitas respostas e nenhuma exatamente certa ou errada. O que há é essa prece confundida com ladainha de que o tempo passa depressa demais, quando queremos apenas ser passarinhos que voam sem que o tempo voe por voar.

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O melhor ou o pior dia da sua vida começa como outro qualquer

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O melhor ou o pior dia da sua vida começa como outro qualquer. Você acorda, bebe dois copos de água, alguns bebem o primeiro copo com um limão espremido. Cada um com seu ritual, cada qual com seu hábito. Há os que escovam os dentes antes de qualquer coisa, outros que só após tomar o café da manhã. Há quem sequer tome café da manhã. No dia em que decidiu beber um copo de leite, teve dor de barriga o dia todo. Ficou um trauma, por culpa do leite ou não. Melhor se precaver? 

O melhor ou o pior dia da sua vida começa como outro qualquer. Você acorda, bebe dois copos de água, alguns bebem o primeiro copo com um limão espremido. Cada um com seu ritual, cada qual com seu hábito. Há os que escovam os dentes antes de qualquer coisa, outros que só após tomar o café da manhã. Há quem sequer tome café da manhã. No dia em que decidiu beber um copo de leite, teve dor de barriga o dia todo. Ficou um trauma, por culpa do leite ou não. Melhor se precaver? 

Os dez minutos a mais na cama, por reverenciada preguiça, precisam ser recuperados para não chegar atrasado: as louças sujas terão de ser lavadas à noite. Arrumar a cama — pesquisas científicas comprovam — proliferam fungos e bactérias, portanto deixar bagunçada previne alergias e outros problemas.    

E você sai de casa com o objetivo de trabalhar, levar os filhos na escola, ir ao médico, à farmácia, pensa que antes de retornar tem que passar na padaria. Comprar pães, queijo, presunto ou apenas mortadela. Quem sabe um cigarro no varejo? Nem fuma. Quem sabe se hoje decide fumar para aliviar o provável estresse com o chefe, com o trânsito, com as notícias do jornal. Melhor garantir a perversa tolice consigo mesmo ou a ousadia ingênua de experimentar algo novo ao fim do dia. Mas a padaria é só na volta. Por que se preocupar com isso agora, logo cedo? Saímos sempre na esperança de retornar. 

Já no caminho, lembra que esqueceu um papel qualquer em casa. Não há porque voltar ou talvez seja imprescindível retornar. Está tudo digital e o tal papel não está nas nuvens. E aquela decisão de voltar ou não pode alterar todo o dia. A sucessão de fatos. 

Perigos de que se salvou ou outros que alimentou e que sequer estavam programados para cruzar seu destino. Nunca se sabe. Porque por mais que nos façam querer crer, boa parte das coisas não dependem exclusivamente da gente. Acontecem por uma conjunção de fatos alheios, por pessoas diversas que conhecemos, chamamos pelo nome e outras que nunca vimos ou jamais veremos. Não temos controle de tudo, se é que temos controle de algo. 

De repente, se conhece o homem ou a mulher da sua vida. Apenas um lance, uma paixão avassaladora. Talvez, nada aconteça ou conheça alguém que se tornará importante conselheiro, um amigo para o resto dos seus dias. Um cão ou um gato abandonado que, sabe se lá porquê, te compadece e você, que sequer gosta de bichos de estimação, resolve levar o filhote para casa. 

Pode ser que no caminho para o trabalho ou na volta do almoço se meta em uma enrascada sem saída, seja envolvido em um acidente, um crime. Pode ser que o coração falhe, as pernas bambeiam. Pode ser que o coração acelere e as pernas tremam pelas borboletas voando no estômago. Tudo é possível. Até aquilo que não se imagina. Que horas você volta hoje?     

O melhor ou o pior dia da sua vida começa como outro qualquer. A maioria é apenas um dia comum, sem grandes acontecimentos. Mas todos contam sua história, escrita por você e por um monte de pessoas que te rodeiam e por tantas outras que você só vê na televisão. 

Uma mensagem do Cortella na rede social pode te fazer ver o que não via. Do nada, te toca, mexe com você. Parece que foi escrita para você naquele exato momento de sua evolução. Se vê no espelho e por razões desconhecidas, enxerga sua alma nu. Quais os seus sonhos? Quais eram os seus propósitos de menino quando você sequer sabia o significado de propósito? 

Há dias, bons ou ruins, que abrem capítulos do livro que conta a sua vida. Outros tantos que apenas enchem linguiça. Dias impactantes mereceriam um livro inteiro. Filmes não são entediantes porque fazem recortes dessas brevidades importantes. Tudo pode mudar em um instante. A questão é que o melhor ou o pior dia da sua vida começa como outro qualquer. 

Mas nossas vidas não são filmes. Seus enredos não podem ser resumidos em minutos e vivemos, vivemos e vivemos bocejando; trabalhando; procurando; passando pelo cotidiano de simplicidades e simplificando ou não o que é complexo; cumprindo afazeres banais e essenciais; adiando; suportando; desejando; admirando; sentindo saudade; ansiando; explodindo nos mais variados sentimentos. Não somos passíveis de edição.  

O que foi o melhor dia pode ser superado por outro melhor ainda, tanto quanto o pior. E todos começaram ou começarão como outro qualquer. O que foi o melhor poderá virar o pior. O que foi pior pode ser a grande lição para te preparar para o melhor que veio ou virá. É uma coleção dinâmica essa que fazemos…    

Saímos de casa com a intenção de voltar. Com que bagagem voltaremos? Voltaremos???

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Saudade do meu amor de carnaval

quarta-feira, 07 de fevereiro de 2024

Foi em uma quinta-feira, antes da sexta de carnaval. E te ver, ali, em um espaço improvável que o imponderável cantou. Impactado, mesmo antes de tomar coragem para lhe dizer oi, um novo mundo me disse bem-vindo. E fui com a audácia dos sonhadores e a permissividade de quem quer ser feliz. 

Foi em uma quinta-feira, antes da sexta de carnaval. E te ver, ali, em um espaço improvável que o imponderável cantou. Impactado, mesmo antes de tomar coragem para lhe dizer oi, um novo mundo me disse bem-vindo. E fui com a audácia dos sonhadores e a permissividade de quem quer ser feliz. 

Dizem que nossa alma sente quando algo grandioso está se fazendo. É a tal sensação de estar diante de fato que marca para sempre a história, como a queda do muro de Berlim, como quando Alexander Fleming descobriu a penicilina, como quando será descoberta vida inteligente em outro planeta. Diante de mim, a grandiosidade de dar a primeira linha à minha mais feliz história de amor.   

Aquela véspera de carnaval, (você), abocanhou tudo que se planejava de inconsequência para a folia vindoura. A partir dali, os planos se tornaram outros. O ensaio antecipou não só o carnaval daquele ano, como fez daquele ano o melhor carnaval. E daquele melhor carnaval, um grande amor.   

A fantasia que antes havia preparado pediu por mais lantejoulas em variadas cores e além delas, ganhou adereços mais deslumbrantes. Não era luxo. Era beleza dessas que artistas passam a vida toda buscando desenhar. Você se fez inspiração e a primeira vez que lhe vi sorrindo permanece como desfile que nunca se quer que acabe. E durou mais alguns carnavais, mesmo quando não havia desfile na avenida. 

Se neste ano, como no outro, não desfilamos na mesma escola, o melhor enredo segue sendo o mesmo, com samba antológico, desses que ainda após muitos anos de feito continua a ser entoado como o mais adequado para o esquenta de bateria.        

O amor… É isso o que fica enraizado na gente evoluindo para uma gama de outros sentimentos que se afloram a partir do mesmo âmago. Não é porque acabou o encontro que não foi bom. Não é porque findou que não foi amor. E essas saudades se enfileiram sem tapear a percepção da intensidade que visitou. Genuíno.

Compadecimento profundo de perda misturado à aguda nostalgia de algo já vivido e que se considera desejável. Felicidade pela lembrança, mas tristeza por não ser mais. “Você está longe e não sei o que se passa com você”. Talvez, seja isso que doa mais. Todo o restante não machuca, pois é tão íntima a presença do que ficou.

Fincou na memória tudo que se experimentou e até aquilo que se vislumbrou, mas não se teve. Tivemos um ao outro, principalmente nas sagas cotidianas de pão dormido antes de se deitar, tanto quanto das noites de festa, dos carnavais fora de época. Ainda sinto o cheiro do café circulando por toda a casa. Do seu café. Revi algumas séries de TV que vimos juntos. Não são tão originais quanto pareciam diante do sofá ocupado por nós dois. Como queria repetir o desfile daquele carnaval.  

As poesias que fiz para você e você fez para mim estão guardadas nas gavetas, não empoeiram, pois jamais perderam o frescor. Ainda que sambe com outro mestre-sala, ainda que finja não tropeçar nas escadas do mesmo prédio que moro, minha bandeira segue sendo a da saudade desse amor de carnaval… 

Admito: sambando na passarela da vida, vez em quando caio ao olhar para o céu tentando encontrar o exoplaneta que atende pelo mesmo nome que o meu amor de carnaval.

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Nossa herança

sábado, 03 de fevereiro de 2024

A Terra a ser herdada será aquela que agora está sendo plantada. Colhemos tempestade. Quem mais paga são as vítimas da desigualdade. O gado passeia pelos pastos que outrora dava arroz. Tomates para quem? Soja é melhor do que árvores. Pois se entupam de agrotóxicos na ilusão de ser possível estocar ar. E a fome é problema de quem tem fome — dirão os cavaleiros do apocalipse. O fim do mundo não é produto de profecias, mas é alimentado dia após dia por nós, com cada vez mais velocidade. Não é possível se colocar de fora. Somos co-responsáveis. 

A Terra a ser herdada será aquela que agora está sendo plantada. Colhemos tempestade. Quem mais paga são as vítimas da desigualdade. O gado passeia pelos pastos que outrora dava arroz. Tomates para quem? Soja é melhor do que árvores. Pois se entupam de agrotóxicos na ilusão de ser possível estocar ar. E a fome é problema de quem tem fome — dirão os cavaleiros do apocalipse. O fim do mundo não é produto de profecias, mas é alimentado dia após dia por nós, com cada vez mais velocidade. Não é possível se colocar de fora. Somos co-responsáveis. 

Mais do que aos nossos filhos, mas para nós mesmos: um novo tempo! Se somos tão talentosos em acelerar o fim, que sejamos precisos em honrar nossa grande casa Terra com dedicação, sustentabilidade, provendo-se do necessário e garantindo ao outro o mesmo necessário para uma vida digna e com garantia de continuidade. Que não sejamos nós o meteoro do armagedom, mas que sejamos guardiões da paz que preserva e prospera vida e vida que se recusa apenas a só sobreviver.

Merecemos, todos, mais. Muito mais! Assumindo os equívocos dos nossos antepassados, colocando lupa nas raízes do mal causado para que nossas raízes possam produzir outros frutos: acolhimento, empatia, resiliência, temperança. 

Estamos no mesmo barco. Maltratamos a Terra e os seres que vivem nela, inclusive nós mesmos. Agora, precisamos salvá-la. Que não fique tarde, ainda que pareça já ser tarde. Precisamos nos entender, mais do que apenas conversar em planos de potências que as potências não cumprem, mas obrigam os países pobres a se dedicar. 

De nada adianta bilhões e trilhões de dólares para povoar Marte, se não habitamos mentes e corações para inaugurar uma nova Terra neste velho planeta. Respeito à ancestralidade; aos rios e mares; à diversidade; às matas e animais, à humanidade. Não há terra prometida, há paraíso se derretendo bem na frente dos nossos olhos. Parar com o que estamos fazendo, não cessar na determinação de uma ética planetária que nos conduza a uma nova conexão com Gaia e com a gente mesmo.             

Somos milhares de anos de avanços e retrocessos. Todas as atrocidades cometidas deveriam envergonhar. Ensinam. Todos os avanços podem nos fazer mais fraternos para que não se cobre com sangue de marginalizados e indignados um futuro mais inclusivo, dias melhores.  

O que aprendemos? Nem um passo a menos, muitos passos para a frente. Um outro mundo é possível. A consciência conquistada não pode ser esquecida. A esperança de um amanhã cooperativo deve ser imperativo. 

Que amanhã não seja somente outro dia, mas a reparação de todos os equívocos cometidos, para que também não sejam repetidos, para que ninguém mais sofra em nome da ganância ou da fé. Fé que mata não é fé. Bem que faz o mal jamais é em nome de um bem maior. 

Estamos a plantar a terra que será herdada. Que preservemos também os herdeiros que a receberão. Que seja uma Terra sadia, de respeito às diferenças, de harmonia entre os povos, de menos consumismo e mais comunhão de afetividades. Que o poder seja poder cantar, se expressar, ser feliz, compartilhar. 

Pode parecer sonho, mas ao fim, é nossa única alternativa.   

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Arranha-céus

sábado, 27 de janeiro de 2024

Quando foi que o homem inventou os edifícios? Há dois mil anos ou mais… Primeiro com dois andares, três, depois com cinco, oito, onze. O prédio com mais andares do mundo em 1885 não chega nem perto dos 46 do prédio mais alto da São Paulo de hoje. E o que dizer dos 290 metros de altura do prédio mais alto do Brasil, em Balneário Camboriú? Apenas um terço do Burj Khalifa, em Dubai. 

Arranha-céus. Como ousam cruzar o céu? Cimento e aço materializando loucuras. À estratosfera? Jamais. Talvez, daqui a alguns anos, quem sabe? 

Quando foi que o homem inventou os edifícios? Há dois mil anos ou mais… Primeiro com dois andares, três, depois com cinco, oito, onze. O prédio com mais andares do mundo em 1885 não chega nem perto dos 46 do prédio mais alto da São Paulo de hoje. E o que dizer dos 290 metros de altura do prédio mais alto do Brasil, em Balneário Camboriú? Apenas um terço do Burj Khalifa, em Dubai. 

Arranha-céus. Como ousam cruzar o céu? Cimento e aço materializando loucuras. À estratosfera? Jamais. Talvez, daqui a alguns anos, quem sabe? 

Empilham pessoas. Dormindo umas sobre as outras tendo insônia. Estranhos no mesmo lar. O que é lar? O céu! O inferno. O que há entre cada andar? Conectados por telas de celular. E a vida? 

A termosfera segue morada dos satélites que nos vigiam e enviam bytes, megabytes acumulando informações em algoritmos. E nós? Alguns seguem sonhando em ser astronautas para poder cruzar a exosfera. Há quem queira se candidatar à cobaia para ser um dos primeiros moradores do experimento Marte. Filhos da nostalgia seguirão apreciando os 139 metros de altura da Grande Pirâmide de Gizé.   

Os adeptos ao romance vivem à moda antiga. Morar em 1920. Antes de Elvis. Antes da existência da Velha Guarda da Portela. Ser dela. Ser dos tempos da Tropicália. Ser Bossa Nova. Não há taciturnidade alguma em toda esta nostalgia que se achega. Anima. Mesmo que cantem a pujança de Anitta. Há sabedoria no que os críticos dizem que não presta. A grande maioria das películas que os críticos indicam, são filmes arrastadamente chatos.   

Quem disse que queremos prestar? Queremos viver, nem tanto saber, ousar… A ousadia é para os poetas, como os poetas são para a poesia. Devorar Quintana. Amar Drummond. Imitar Djavan. Ser compositor do cotidiano e sublinhar nele os versos que rimam: eu e você. Nós.

Ver a vida de cima é tarefa dos deuses. Bom mesmo é estar aqui. Dando a eles o dom da observação e do altruísmo para não serem invejosos. Pois invejem, porque é divino esse nosso ir e vir daqui de baixo. Acertar e errar, aceitar e recusar, amar e amargar o peso de um coração vazio. 

Quando quiser ir ao céu evapore e evaporar não faz inexistir. Volte como chuva, neblina, como tez na manhã do amanhã que cismar retornar. Partir e andar para encontrar ou se deixar ser encontrado, ou não.

Descobrir sem a ânsia de desvendar. Descoberto, tremer quando o frio vestir e se despir para o sol quando o sol vem. Neste planeta, podemos ser felizes. Por que se faz tanta confusão? Qual será o primeiro edifício da constelação de Dorado?

É cínico construir tantos edifícios de alturas exageradas e ver tantas pessoas disputando espaço debaixo das pontes, tantos de nós sem abrigo. 

Há dois séculos ainda se construíam igrejas o quanto mais altas possíveis, não para estar mais próximo de Deus, mas para demonstrar poder na ilusão de que altura faz estar mais perto do Todo Poderoso. É tão estranho impor interseção para falar ao sobrenatural tanto quanto é estapafúrdio querer medir a fé. 

O que era arranha-céu ontem não é mais e amanhã... O conceito de arranha-céu muda de acordo com a evolução da engenharia. Já foi considerado arranha-céu edifícios de 10 andares. Atualmente, é preciso ter mais de 40 andares e ser mais alto que 150 metros para ser um arranha-céu. Amanhã… Quem sabe? 

O que nunca muda, no entanto, é que a altura de tudo pouco importa quando se pode ser humanamente gigante em si mesmo. Somos e sempre seremos, afinal, arranha-céus.    

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O sol é arco-íris

sábado, 20 de janeiro de 2024

Abre a janela desta manhã que amanhece mais cedo. O sol das cinco e meia da manhã brilha sem queimar. Lá fora, dá para ouvir os pássaros acordando em regozijo. O céu rosado manifesta poesias que podem ser lidas sem uma ordem específica. Passa o olho por esses desenhos nada infantis. Percebe. Capta. Boceja a preguiça. Reivindica essa energia.  

A liberdade é mesmo linda. Abre os braços, o peito e a mente. O sol quer fotografar seu rosto. Alma. Deixa essa energia abastecer seus sonhos, sua vivacidade, seus propósitos. O que te move? Escolha o movimento de ser feliz!

Abre a janela desta manhã que amanhece mais cedo. O sol das cinco e meia da manhã brilha sem queimar. Lá fora, dá para ouvir os pássaros acordando em regozijo. O céu rosado manifesta poesias que podem ser lidas sem uma ordem específica. Passa o olho por esses desenhos nada infantis. Percebe. Capta. Boceja a preguiça. Reivindica essa energia.  

A liberdade é mesmo linda. Abre os braços, o peito e a mente. O sol quer fotografar seu rosto. Alma. Deixa essa energia abastecer seus sonhos, sua vivacidade, seus propósitos. O que te move? Escolha o movimento de ser feliz!

Deixa o vento dizer o que tem para dizer. Deixa a música tocar. Sempre é bom ouvir novas músicas e afetado por aquelas que parecem ter sido feitas para você e para suas histórias, deixar repetir e repetir até decorá-las e cantarolá-las pelo dia inteiro. Ah, esse lugar… Espelho d 'água nos faz ficar mais bonitos.

E é tão belo o sol iluminando a grande montanha que se vê pela janela. Tão imponente é o mesmo sol desenhando o azul do mar. Qual é a cor do mar? O sol é quem faz dele azul com suas ondas vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. O sol é arco-íris. O mundo é colorido. Deixa a janela aberta. Vem para fora. A felicidade é aqui e agora. 

Olha o povo de novo na rua. O bloco vem vindo. Mais outro e tantos outros em cortejo. Se deixe ser cortejado. Estenda a mão. Se renda. É carnaval de janeiro querendo ir para além de fevereiro, sem se importar se as águas de março virão ou não. Há verões que jamais são varridos. Há carnavais fora de época e outros que não se encerram em cinzas. Instrumentos de sopro combinam com tambor e tamborim. A música lustra a vida. 

Fantasia o dia de alegria até descobrir que não é a alegria um adereço qualquer. Esse paetê que se instala no coração, ninguém pode tirar. Roda como a porta-bandeira. Levanta as suas bandeiras. Somos nossas paixões. Faz das suas paixões seu sobrenome. E ainda que pareça colecionar utopias, lembre de Galeano: siga caminhando até o horizonte. 

Ao pôr do sol — agradece. Palmas ao astro-rei. Em dias de verão, o sol fica até quase às sete da noite. Se a noite o esconde, ele segue iluminando a lua para iluminar a todos nós. No rebuliço da dança das estrelas, seja calmaria ou agitação, mas dance. Evite o medo de dar passos em falso. O importante é chamar a leveza para te levar dois pra cá, dois pra lá até você conseguir inventar a sua própria forma de dançar. Flutuar. 

Se despe de tudo, menos empatia, para mergulhar nessas águas de purificação. Celebrar. A existência e o que existe entre nós. A intenção é apenas inauguração de querer chegar. Vai! Persiste, pois, a nossa gana em viver e a imensa vontade de ser feliz. Livres sem acanhar a liberdade alheia. Dispostos a ser como o sol, que com seu colorido, faz azul o mar. Nós também somos arco-íris e como tal é da nossa essência colorir os dias.

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Carta de um friburguense a 2024

sábado, 30 de dezembro de 2023

Nós merecemos mais do que o melhor, fomos destinados à excelência. Se olharmos para trás, que história incrível nos potencializou. Quando foi que nos esquecemos que nascemos para ser grandes como projetaram nossos ancestrais?

Recuperar a nossa trajetória é essencial para recobrar a consciência que apenas enfeites em efemérides não nos bastam. A festa acaba. A música cessa. As visitas vão embora. E quem fica o ano todo? Nem com o essencial é prestigiado.

Nós merecemos mais do que o melhor, fomos destinados à excelência. Se olharmos para trás, que história incrível nos potencializou. Quando foi que nos esquecemos que nascemos para ser grandes como projetaram nossos ancestrais?

Recuperar a nossa trajetória é essencial para recobrar a consciência que apenas enfeites em efemérides não nos bastam. A festa acaba. A música cessa. As visitas vão embora. E quem fica o ano todo? Nem com o essencial é prestigiado.

Queremos festa, mas também saúde, educação, menor perda de tempo possível nos ônibus, no trânsito, no ir e vir cotidiano. Queremos fé, mas também transparência, ruas iluminadas e sem buracos, qualidade naquilo que é de todos. Eficiência. Queremos desenvolvimento; sustentabilidade; criatividade; esporte e cultura como evento, mas também como formação. Queremos moradia digna, tranquilidade em morar onde se mora, sem medo das chuvas ou de ver um novo 2011 nos derreter. Queremos paz, liberdade, identidade, respeito!

Pertencer. Uma cidade sem identidade perde o sentido de ser cidade. O sentimento de pertencimento é o que nos faz ser um só povo. Não queremos deixar de ser esta cidade plural, antes invejada e copiada. Queremos ela de volta! Clamamos para que seja ainda melhor do que outrora. Pior do que não ter aquilo que se quer, é perder o que já se teve. 

Precisamos, portanto, de sensibilidade. Precisamos muito mais do que só de boas intenções — preparo. Recuperar nosso potencial inventivo e empreendedor aliado a planejamento, gestão moderna, que não podem ser apenas modismos, mas práticas diligentes. Aceleração, porque se olharmos para os lados — ficamos para trás.

É urgente firmar um propósito: ser a melhor cidade do Brasil. Porque nossa história, nossa natureza, nosso povo, nossas capacidades já testadas permitem esse sonho e nos convoca coerência. Se formos ousados, iremos além. Se olharmos além das montanhas, seremos o topo. Recobrar a esperança. Sonhar de novo é primordial para sair dessa amarra da mediocridade que parece ter nos tomado em ilusão. Realidades virtuais não podem continuar a nos enganar. Caçoam de nós.

É de inconformar o conformismo daqueles que se medem pelo pouco ou quase nada. Nossa régua ficou baixa, mas não é porque estava tão ruim que o mais ou menos serve. Não serve e podemos mais, muito mais.         

Nós somos a cidade e ela não é propriedade de ninguém, mas de todos. Não há barão ou pastor que possa se declarar dono dela. Mais uma vez somos convocados a erguer a cabeça e mandar essa tristeza embora. Abrir os braços para uma cidade que trabalhe para ser saudável, em contraponto a esta que celebra o seu número de doentes. Abraçar tempos novos, que olham com admiração o século passado, mas que se percebe vocacionada a entrar no novo milênio com revolução na educação e na formação completa de nossas crianças. 

Respirar ar puro em uma cidade que protege suas florestas e planta árvores nas áreas urbanas, ao contrário daquela que decapita seus espaços de sombra e ainda não tem destinação correta ao seu lixo. Amar o que é, tanto quanto o que pode ser: diversa, igualitária, inovadora, inclusiva, Nova Friburgo.

Ainda que nostálgica, consciente de que essa nostalgia pode e deve nos impulsionar ao futuro. Porque merecemos muito mais, mas para tanto é preciso consciência coletiva que temos tido muito pouco ou quase nada diante daquilo que podemos: excelência.

Novos começos são sempre ótimas oportunidades para despertar. Que 2024 seja o início de despertar, de novos tempos!

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Luzes de Natal

sábado, 23 de dezembro de 2023

Peito aberto para as lembranças que passeiam, velozmente, por uma avenida repleta de luz. Lembranças de reuniões de família, união de amigos e canções. Não há época em que o ser humano é mais humano que no Natal. A ingenuidade invade e as declarações de amor se revelam em abraços e cartões. 

Não há preocupação com estar mais vulnerável, simplesmente isso não importa. Você está ali para os outros e os outros estão ali para você de peito aberto, coração escancarado para transbordar tudo aquilo que muitas das vezes se sente, mas se oculta.

Peito aberto para as lembranças que passeiam, velozmente, por uma avenida repleta de luz. Lembranças de reuniões de família, união de amigos e canções. Não há época em que o ser humano é mais humano que no Natal. A ingenuidade invade e as declarações de amor se revelam em abraços e cartões. 

Não há preocupação com estar mais vulnerável, simplesmente isso não importa. Você está ali para os outros e os outros estão ali para você de peito aberto, coração escancarado para transbordar tudo aquilo que muitas das vezes se sente, mas se oculta.

Pudessem ser, todos os dias, dia de Natal. Mas nos convencemos de que os anjos, vestidos ou não de Papai Noel, só descem dos céus nesse dia. Na verdade, os anjos não descem do céu... Brotam da terra e moram na terra todos os dias do ano. Nem sempre se revelam ou são reconhecidos. 

É preciso mais ingenuidade. Ingenuidade de Natal. É necessário mais peito aberto. Peito aberto de Natal. Mais luz. Luzes de Natal. Iluminando essas extensas avenidas, adentrando todas as casas e todas as vidas. 

"Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor...” São canções que nos visitam, cantigas que nos lembram de que também já fomos crianças e por mais que sejamos adultos, há sempre dentro de nós um pouco daquela criança que jamais disse adeus. E é por isso que o coração ainda pulsa nessa frequência e estranhamente ainda entende o que é ser criança e o quão bom é estar criança. E assim, o Menino Jesus nasce outra vez!  

Os amigos deixam de ser secretos. No dividir e multiplicar, laços fortes são feitos e os nós que se prendem trazem a paz que não se pode ver, mas que é fácil sentir. Paz de um sorriso que se faz num abraço de abrigo e te traz um amigo que lhe é irmão. E, em declarações embriagadas, existe uma sobriedade que se pode entender como "Eu te amo. Tenho vergonha de lhe falar, mas como é Natal...” E assim, ser cristão tem sentido.

Na árvore de Natal, cartões e presentes. No íntimo de casa, a ceia é pretexto para ver de verdade os seus. Olhá-los nos olhos para perceber que não se pode ganhar o mundo lá fora, se dentro não se conquista aqueles que te conhecem como ninguém. Memória de Natais antigos, casa cheia, espera por Papai Noel. Aquele primo chato, aquela tia de dotes culinários fenomenais. Saudades de quem se foi... E assim, Cristo ressuscita com tudo aquilo que acredita: no amor e nas pessoas.

Não há época em que o ser humano é mais humano que no Natal. Pudessem ser, todos os dias, dia de Natal. Pudesse essa cidade estar vestida de luz todos os dias do ano, com os sinos badalando, os desconhecidos se saudando, os amigos se amando. Num tempo de entrega absoluta. Solidariedade. Em momentos de festa e paz. Irmandade. Com essa luz acendendo e ascendendo a todos os corações. 

O amor sempre vence o tempo. A verdade jamais some, pode até ser ocultada, porém, mais cedo ou mais tarde, será revelada. A luz se apaga, mas se estende por muitos séculos nos quilômetros do universo. A morte vence a vida, mas uma vida só se encerra quando sua história é esquecida. Anjos existem, só precisam ser reconhecidos. 

Que nossos dias possam se inspirar no Natal para que suas luzes se estendam nessas grandes avenidas. Se somos assim no Natal, por que não ser assim todos os dias?

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Eles verão…

sábado, 16 de dezembro de 2023

O que eles verão? Deixa ver. Que o mar, apesar de parecer desaguar no infinito, se fantasia de horizonte. Entre o que parece e é, há toda imaginação. É fértil a ilusão e toda pretensão do que cria. Criatividade é uma bondade dos astros conosco. E tudo podemos e nada nos fortalece mais do que a fé na vida.

O que eles verão? Deixa ver. Que o mar, apesar de parecer desaguar no infinito, se fantasia de horizonte. Entre o que parece e é, há toda imaginação. É fértil a ilusão e toda pretensão do que cria. Criatividade é uma bondade dos astros conosco. E tudo podemos e nada nos fortalece mais do que a fé na vida.

Verão: a alegria de ser quem se é e ser até aquilo que, admitidamente, não gostaríamos de ser. E isso não pode nos fazer amar menos a si. A perfeição é um delírio sem música. E a vida sem música é tão sem graça. É como um clímax de cena de filme sem trilha sonora. Portanto, sem desaprovação: julgar-se, quando há tudo em volta para te julgar também — é uma automutilação.

Veremos a vida vivendo-a intensamente. Porque é banhar-se de sol quando o sol vem e bronzear-se na chuva quando a chuva cai. Tão bom banho de chuva, ter as roupas encharcadas, os cabelos mergulhados, a alma lavada. Sorrir antes de secar-se e sorrindo deixar que o sol evapore os pesos que nos impõem. Aviso: não nos imporão verdades absolutas, tampouco liberdades falsas. 

Somos carnaval, fervo, somos vigília e acontecimento. Somos teto, amparo, somos abrigados e abraço. Somos múltiplos, singulares, somos coletivo e mundo. Não queremos ser guerra para alcançar a paz. Quanto ainda perdurarão as guerras em nome de paraísos de paz? A falácia dos séculos há de cair.

O planeta somos nós e que nome daremos a ele? Terra? Sol? Gaia? Grande casa? Caos? Ana? João? Antônia? José? Glaucia? Miguel? Bete? André? Nosso lugar pode ser uma pessoa, um conjunto de pessoas. Meu planeta tem seu nome. Tem luas com tantos outros nomes. Não nascemos para ser sós. 

Verão: ter saudades a cada 21 de dezembro e todos os dias depois dele. Querer saudades futuras, mesmo sem perceber que as produzimos agora. E da estrada que se espera linha reta, curvas descortinam jardins de flores nunca vistas em meio a estrelas suspensas sobre a grama. 

Atenção com contemplação. E deixe-se ser admirado. Admire. Ofereça beijos, mas se não for do agrado beijos, oferte sorrisos com a boca larga ou apenas com o olhar, mas jamais deixe despercebido o afeto dado. Apaixonado, não esconda este sentimento tão arrebatador. 

Descubra-se bobo, dançarino, andarilho, poeta, cantor. Mesmo sozinho na sala vazia de um museu nunca antes visitado ou na mesma galeria dos quadros fotografados por aquele seu olhar que ficou naquele encontro findado. Mas a novidade vem, sem que a felicidade tenha ido. A gente vai, mesmo sem despedidas.      

Ninguém quer ser esquecido. Às vezes, só não se quer ser lembrado. Não há mal em querer se guardar em gavetas sem chaves. Ficar recolhido. Mas ficar recolhido só faz sentido se há propósito de volta. Deslumbrante. Como o Verão. De poucos panos, cabelos ao vento, boas vibrações. 

Receber massagem das mãos mágicas das águas da cachoeira. Viajar pelos caminhos que as águas fazem, o passeio pelas rochas, suas quedas fazendo correntezas e virando rio. Somos mais semelhantes às cachoeiras do que aos oceanos.

Veremos assim o amor chegar porque fizemos chamados por ele. Verão o amor transbordar, transformar, revolucionar, porque se o amor une, ele também faz mover. A Era de Aquário surgirá em um outono qualquer deste século, mas já é desejada por muitos verões. Veremos. Verão.            

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