De pé em fé

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 06 de maio de 2023

Sei que o mundo está ruim, mas esperançar é preciso. Ainda que o futuro nos impeça de fazer o que tem que ser feito agora, de dizer o que tem que ser dito hoje, é louvável pensar em um amanhã mais bonito. 

Isso explica muito de nós. Essa coisa de acordar, se levantar e enfrentar as agruras. Essa coisa de continuar, persistir bem próximo de teimar, mesmo quando o ao redor diz não!

Sim! Vai! De pé em pé. De pé em fé. Não essa fé punitiva que promete prosperidade em troca de dízimo. Mas a fé que mora no âmago da consciência. Já me disseram que é nesse lugar que mora Deus. Bom é ser amigo de Deus, da sua própria consciência, dos seus propósitos, da sua caminhada. 

Talvez, um dia aprendamos. Que ainda que esperemos ver quem amamos amanhã, talvez nunca mais veremos. O amor se alimenta do companheirismo dado agora, do olhar disposto desse instante. E, se constrói dia após dia, na esperança de ser para sempre. 

Mas não é. E jamais saberemos quando o para sempre acaba. Por isso, é sábio sempre se despedir com declaração rasgada, com abraço que sem dizer nada diz: obrigado por existir na minha existência. Obstinaremos em existir juntos o quanto nos for concedido. Sejamos gratos por isso.  

Talvez um dia percebamos. Que não herdaremos a terra, mas as sementes que plantamos serão herança para os que virão. É preciso ousadia para fazer nascer novos frutos, mas é necessário também prudência para preservar os bons desígnios que recebemos. 

Não viemos sós e não iniciamos nada do zero. Somos parte da trajetória da humanidade. Temos muito de seus acertos e erros e seguimos necessitando melhorar como coletivo.

Esse sentimento de que podemos mais, ser melhores com o planeta e uns com os outros é o que deve nos mover. Deve ser o nosso propósito, a nossa gana. Menos tecnocracia e mais empatia. Menos enriquecer por enriquecer e mais solidariedade, dividir para distribuir não só o que se possuiu, mas aquilo que se tem dentro... Essa centelha que se espalha em fagulhas pequenas, mas ilumina corações. 

Nossos corações pulsantes são o sagrado coração da terra que deve clamar para ser melhor para os filhos seus. Mas ao depender dos seus filhos para assim ser, ensina que é digno daquilo que pulsamos: se emanamos o bem — o bem volta. E o contrário também.

O mundo está ruim, mas há pequenas partes florescendo. Eu posso sentir e você pode ver. Há céus se abrindo sobre tetos de casas, de pequenas vilas e consequentemente de mentes que se abrem juntas, em luz, para orientar a um lugar mais acolhedor para se viver. 

Os raios solares que se espalham indicam que conhecimento sem acalanto traz mais avareza do que paz, pois o que vigora é a sabedoria do respeito a ser quem se é e venerar a forma de cada um ser e amar. 

Cientistas sem poesia, matemáticos sem rima, historiadores sem afeto, químicos sem propósito, são como compositores sem música. O que produzem pode até se fincar nos livros, mas não ensinarão a humanidade a ser mais humana. 

O mundo está ruim e essa percepção é, em verdade, um grito cheio de esperançar. Porque tem certeza de que o mundo pode ser bom, de que podemos ser melhores. Sem pressa de chegar, mas na velocidade que a urgência desse passo a passo necessita. 

De pé em fé, vamos!

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