Procura-se

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 10 de junho de 2023

Procuro por você e não me canso de querer te encontrar. Te encanto em canções, enquanto vasculho sua presença em lugares cheios de gente e até nos vazios de alma. Suspeito ter te visto virando a esquina. Convencido de que sei seu nome, até corri pela avenida te chamando: “meu amor, meu amor”. Prefiro me apegar à crença de que você não ouviu ao invés de afirmar que não era você.

Sigo a procurar e até a me afogar em enganos. Divirto-me. Rio de mim mesmo e de nós dois. Os desencontros caçoam de ambos, enquanto ambos são sós. Solitários? Não. Temos um ao outro ou a esperança do outro e essa procura nos faz relativamente namorados. Se não conectados, desconhecidos que se conhecem sem terem sido apresentados – ainda.

Procuro por você querendo ser encontrado. Faço cartaz, escrevo poemas nos classificados dos jornais. No frio vapor da janela que assiste o amanhecer, desenho coração com a inicial do meu nome ao lado de três pontinhos. 

Suplico à tez da manhã que se contemple o desejo de ter rosto completo pelos dias todos. Escancaro meu peito e exibo as feridas que acumulei pela vida. Cicatrizes são apenas tatuagens para evidenciar o tanto que me preparei para você e pronto quero ser o que sou com o que você fará que eu seja nós. 

Sonhar é tão corajoso e cansar nem sempre é deixar de ser teimoso. Teimo na procura e vislumbro encontrar as mãos que quero dar e que queiram ser dadas. Com o romantismo dos românticos incorrigíveis, mas com a sabedoria de quem sabe que namoro é companheirismo de rotinas e intimidade que reinventa cotidianos. 

Com a paleta de cores dos que pintam arco-íris em dias cinzas, mas que na falta de múltiplas cores, tem a paciência de admirar a paz de quem se admira mutuamente. Porque amor não é uma invenção dos poetas, tampouco é filosofia. Amor é companheirismo, intimidade e admiração, posto que sem esses ingredientes não há rima que o sustente.

Assim, trazendo todas as vivências de quem errou achando ter achado, é que sigo a procurar por você. Talvez falhe mais uma vez ou dezenas de vezes, erre ao achar que o rapaz da Capital seria você, mas minha intuição grita que você é do Interior. Sigo atento e até ingênuo, mas desperto. 

Se for me visitar, chegar sem avisar, estarei a esperar, mas também fico a provocar a visita, porque preciso muito te encontrar. Não me preocupo com a roupa que estarei vestido, porque minha alma está preparada. Só peço que não demore mais semanas, nem que me deixe outro Dia dos Namorados só a imaginar o próximo em que você estará. 

Até o próximo Dia dos Namorados, quero domingos de cinema nas segundas, pudins de leite condensado em dias de dieta, ver novelas antigas na cama antes de dormirmos de conchinha nos verões de frio de serra. Por isso, vem logo, no dia seguinte a esse Dia dos Namorados. 

Quero viajar na geografia de seu corpo, viver histórias nas nossas caminhadas depois do trabalho, dançar na cozinha enquanto cozinhamos, antes de pedir comida no delivery pelo assado ter queimado. Não demore mais um agosto. 

Quero sorrir do silêncio, beijar sua testa após cada briga para admitir que fui um idiota, e, se não fui, beijarei sua testa apenas para dizer que está tudo bem, que te desculpo por ter me deixado esperando mais de dez minutos na noite chuvosa de outubro. Vai ter volta e, igualmente, culparei o trânsito.

Atravessa meu caminho, antecipa o destino e vem logo me abraçar. Procuro e sigo a procurar e quando te encontrar, cessarei a busca por você, mas não deixarei de criar modos de te fazer suspirar e nos fazer diariamente namorados.

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