Blog de palavreando_27591

Áudio de WhatsApp

sábado, 13 de junho de 2020

O intestino é o nosso segundo cérebro, por isso é tão importante o que comemos. Foi o que li e concluí de uma entrevista com uma nutricionista especialista no efeito que os alimentos causam, inclusive, depressão e ansiedade. Contrariando os estudos, chocolate e queijos me causam imensa felicidade. Mas sim, eu acredito na força da tese de que somos aquilo que nos alimentamos. Mas sim, sou um indisciplinado. 

O intestino é o nosso segundo cérebro, por isso é tão importante o que comemos. Foi o que li e concluí de uma entrevista com uma nutricionista especialista no efeito que os alimentos causam, inclusive, depressão e ansiedade. Contrariando os estudos, chocolate e queijos me causam imensa felicidade. Mas sim, eu acredito na força da tese de que somos aquilo que nos alimentamos. Mas sim, sou um indisciplinado. 

O cérebro em si... Se para o segundo cérebro (o intestino), o que comemos é tão determinante, para o primeiro (o cérebro mesmo), me parece ser muito importante aquilo que vemos, ouvimos, guardamos. E, acumulamos muito lixo, tanto quanto consumimos muitas meias verdades que na frente formam exército de verdades inteiras, absolutas e autoritárias. No mundo virtual, há preocupação com o lixo que entope as nuvens dos mais gigantes servidores. Nós, como coletividade e indivíduos, também estamos assim: carregados de acúmulos que tomam espaço na nossa massa cinzenta, que sobrecarregada, já não processa tudo como deveria.

Há poucos dias, um amigo - grande amigo mesmo, desses que não são amigos só pela longa data de convivência, mas de ser padrinho de casamento, de contar segredos e tal -  me enviou um áudio de sete minutos e dezesseis segundos no WhatsApp. Quem envia áudio com mais de trinta segundos nesses aplicativos deveria ser castigado. Exatamente sete minutos e dezesseis segundos. Não foi de dezesseis segundos. Foram sete minutos adicionados aos dezesseis segundos. O áudio com vários minutos mais os dezesseis segundo ficou lá. Me encarando com o avatar do meu amigo. Saudade de ouvir a voz desse cara – pensei. Saudade da mesa de bar com ele. Como sabem, eu não consigo beber sozinho. Beber cerveja me obriga companhia. Já até tentei tendo o Vasco como meu amigo. O Vasco de hoje só é amigo dos adversários. Não dou dois goles na dourada. Foi assim que concluí que estou longe de ser alcoólatra. Mas isso é papo para outra hora. Voltando ao áudio de sete minutos e dezesseis segundos do meu amigo... Conversa esperando para ser ouvida. Meu amigo, ainda que em foto, ali me encarando. Cerveja na geladeira. Pimba! (Alguém além do seu avô ainda fala pimba?). É isso! Vou para a mesa de bar imaginária com meu amigo aqui do sofá mesmo. Será melhor que o episódio da série que ainda faltam doze episódios.

O caminho curto até a geladeira me faz refletir que você só ouve áudio tão longo assim se for realmente de alguém que seja muito amigo. Ou da sua mãe. Ainda que você saiba que sua mãe não vai enviar um WhatsApp. Mães sempre ligam. Pelo telefone. Quando não te visitam só para perguntar: “meu filho, tá tudo bem? Por que não me atendeu? Te liguei várias vezes”. Saudade da época do telefone fixo. Nenhuma, no entanto, das contas altíssimas. Antes mesmo de escolher entre Barão ou Ranz considero: “quem sou eu que não posso tirar tempo para um amigo?”. Nesse mundo líquido, como diria (imagino que diria) o autor do célebre livro, escutar áudio de mais de um minuto é ato de empatia, de amor, de pertencimento... Parar o tempo para o que realmente importa.

Não seja enxerido para saber o que tinha no áudio de sete minutos e dezesseis segundos. Virou mais áudios e mais áudios, chamada em vídeo no dia seguinte e até essa despretensiosa crônica que era para ser sobre o tempo e nossa relação com o afeto. Nada como passar o tempo com quem a gente gosta, ainda que na distância atenuada por fibra óptica. O importante é ter o coração perto para acumular no cérebro tudo o que realmente nos alegra e aniquila depressão e ansiedade. Quanto ao segundo cérebro? Fiquei impressionado com a quantidade de artigos e estudos sobre a relação de alimentos com saúde mental. Com cerveja, que só bebo na companhia de amigos, vou cuidando da saúde da minha alma. Um queijinho e um chocolate também vão bem! Agora, vou escutar o áudio de cinco minutos e trinta e quatro segundos da minha irmã.

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O jornalista é um libertário por natureza e pela convicção de sua própria natureza

sábado, 06 de junho de 2020

Sou filho das Diretas Já. Nasci em meio àquela luta por democracia, liberdade, tolerância. Quando o verde amarelo pertencia aos brasileiros e não a um grupo que se autointitulou proprietário da pátria, como se o modo deles fosse o único de ser patriota. A bandeira brasileira é dos brasileiros, de todos os brasileiros. Não há escolhidos para serem melhores do que os outros, ou donos uns dos outros. Pedaços de Brasil podem até ter donos, mas o Brasil é de todos os brasileiros.

Sou filho das Diretas Já. Nasci em meio àquela luta por democracia, liberdade, tolerância. Quando o verde amarelo pertencia aos brasileiros e não a um grupo que se autointitulou proprietário da pátria, como se o modo deles fosse o único de ser patriota. A bandeira brasileira é dos brasileiros, de todos os brasileiros. Não há escolhidos para serem melhores do que os outros, ou donos uns dos outros. Pedaços de Brasil podem até ter donos, mas o Brasil é de todos os brasileiros.

São nossas atitudes que separarão o joio do trigo, ou melhor, a terra da mandioca. Sempre foi assim. Uma hora chegará o momento do julgamento, não para condenar o passado, mas para fazer um novo futuro. É preciso aceitar que as atitudes de nossos antepassados nos tornaram todos ladrões, exceto os índios (vítimas) e os africanos (sequestrados). Não basta a história ser contada por esse ponto de vista, é preciso vivenciá-la com interpretação profunda não apenas dos fatos, mas com olhar jornalístico. 

Sou jornalista por formação. Fui formado exatamente quando o judiciário interferiu em desfavor da notícia, do profissionalismo e abriu espaço para repórteres de ocasião. E, justamente a decisão veio para inaugurar esses tempos em que redes sociais se tornaram campo de batalha de verdades absolutas, nascendo assim as Fake News. É meia verdade dizer que as redes sociais democratizaram a informação. Basta ver o valor de patrocínio cobrado por essa e aquela plataforma para impulsionar publicações. 

Aliás, é preciso estar atento: ninguém patrocina volumosamente suas postagens sem a intenção de vender ou se vender como bom produto. Em tempos de pandemia, essa simples observação já mostra muita coisa sobre quem é quem no jogo do poder. Que emana do povo... Que engana o povo! O tempo, no entanto, trata de separar os que são forjados pelo juramento de servir e transformar, daqueles que não tem qualquer compromisso para além de seus próprios umbigos que perseguem poder e fama momentânea. 

O jornalista, o verdadeiro jornalista, é um libertário por natureza e pela convicção de sua própria natureza. Uma natureza sensível e acolhedora. Uma convicção observadora de libertar mais do que a verdade, mas a transformação em benefício da sociedade. Opressão e jornalismo são antagônicos, para não dizer rivais, inimigos mortais que jamais serão parceiros. 

A liberdade está tão intrínseca ao jornalismo que quando falta, acaba por burlar a tentativa da verdade. De tal maneira que a liberdade é o mais importante instrumento de trabalho do jornalista e nenhuma outra profissão, nenhum outro setor como a imprensa, depende tanto da liberdade para se realizar.  

Em todos os tempos obscuros – não nos enganemos, estamos em tempos obscuros, de novo – a imprensa corajosa foi fundamental para resistir e transformar. Assim, repito meu automanual: o jornalismo exige, acima de tudo, sensibilidade. Não pode ser um mero relator de acontecimentos. 

E tem desafios que beiram o sobre-humano: deve ver poesia, sem se tornar poeta; deve fazer artes, sem ser artista; deve ensinar, sem ser professor; deve revisitar e entender a história, sem ser antropólogo; deve apostar na ciência, sem ser cientista; deve lutar pelo que acredita, sem ser militante. Deve, acima de tudo se abster, sem ser omisso. Nada de ser candidato a Clark Kent - mas se for necessário heroísmos – que assim seja para manter a imprensa livre para si, para os demais, para os que virão e para o povo.  

 

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Urgente

sábado, 23 de maio de 2020

A necessidade de mudar existe há tempos, mas é a urgência que nos faz agir. Sabemos que as coisas não vão bem, no entanto nos acomodamos até que algo imperioso ocorre e torna urgente a nossa mudança de comportamento. É a urgência - mais do que a necessidade - que muda atitudes.

A necessidade de mudar existe há tempos, mas é a urgência que nos faz agir. Sabemos que as coisas não vão bem, no entanto nos acomodamos até que algo imperioso ocorre e torna urgente a nossa mudança de comportamento. É a urgência - mais do que a necessidade - que muda atitudes.

Não sei quem foi o primeiro a dizer que o futebol é a melhor metáfora da vida. Mas está aí uma ilustração perfeita para exemplificar como a urgência muda scripts. Comum numa final de campeonato de futebol, um time, melhor ou pior, estar perdendo a partida e deixar para os instantes finais a gana de vencer. 

Parte para o ataque com todas as forças, deixando a defesa à deriva. O risco de tomar um gol se torna menos importante do que fazer gols para conquistar o título. É a falta de opção, é o fim próximo que torna urgente se lançar em fé para conquistar o que se vislumbrou. Mas por que não ter iniciado a partida assim desde o começo? 

Porque a urgência dos instantes finais impõe ímpeto de sobreviver no sonho. Alguns times sucumbem, outros conseguem viradas históricas e muitos, mesmo que não consigam o objetivo, saem com o reconhecimento de seus torcedores.       

No leito de morte, relatos mostram ser comum o paciente pedir perdão a um filho, chamar um amigo que não falava há tempos por conta de uma briga, pedir para ser amigo do ex-cônjuge, deixar teimosias de lado para simplesmente expressar o que nunca expressou. Não se trata de a doença terminal fazer com que o ser humano seja mais sensível, é a escassez de tempo que faz ser urgente terminar a história bem. Até os mais brutos cedem para que não cessem sem finalizar suas histórias como um bom biógrafo gostaria. 

Estamos em tempos de urgências. O tempo de mudar passou faz tempos. Nós no tempo... Resposta do tempo. Não ouvimos o tempo. Até que o tempo unido ao planeta deu um basta ao nosso ego, à nossa ignorância em rechaçar se mover diante de tantos apelos por mudanças. A necessidade foi rebaixada, porque não se pode deixar brecha para escolhas.

É urgente que cuidemos melhor uns dos outros, que nos sintamos pertencentes ao coletivo, que nos percebamos como parte essencial da natureza para como tal, cuidar da natureza para que assim estejamos cuidando de nós, dos nossos, dos que virão de nós mesmos... 

A desigualdade, esse abismo que colocaram entre todos, exige passos urgentes para que através de equidade diminuam-se essas diferenças que estão pondo fim a todos! Não se livrarão os mais abastados. Ninguém está seguro. O barco é um só.

Por mais impactante que possa parecer, a urgência, ainda que imponha pressa, é bondosa por enviar convite de última chance. O prazo é esse do a partir de agora e do agora em diante. Não há mais garantia de nada, a não ser a certeza de que não haverá outra possibilidade. 

E aí? Como vamos finalizar essa história? Discutindo consigo mesmo sobre verdades erráticas? Supondo profecias de messias de ocasião? Apostando na sorte, no herói hollywoodiano, no terraplanismo? 

O que há de óbvio é que é com você, com a gente, com todos nós. E é urgente. O planeta é mais importante que nós. Entre morrer e eliminar o que o mata – há legítima defesa. É urgente a mudança de atitude nessa nossa relação com a Terra. Para que ela respire. E nós também.

 

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Sábados estranhos

sábado, 16 de maio de 2020

São dias estranhos. A Monte Líbano que estaria lotada - vazia. Cada cantinho do bom furdunço - idem. O Bolero sem o costumeiro formigueiro de gente, tal qual os bares de Olaria e Conselheiro. A festa de gente não se faz, porque gente não pode se ver, tocar, se reunir.

São dias estranhos. A Monte Líbano que estaria lotada - vazia. Cada cantinho do bom furdunço - idem. O Bolero sem o costumeiro formigueiro de gente, tal qual os bares de Olaria e Conselheiro. A festa de gente não se faz, porque gente não pode se ver, tocar, se reunir.

Uma conhecida morreu. Não foi Covid-19. Sei que o velório foi vazio. Não porque não era querida. Pelo contrário. Até a despedida a um ente querido foi limitada. Não se pode se aglomerar. O choro e a oração foram no silêncio de casa para amigos e até familiares. Ela entendeu. Ouvi de uma enfermeira que é muito triste morrer sozinho, como os tantos que ela assistiu. Um curado contou que a sensação é de afogamento, só não há rio ou mar. Apenas a solidão do lençol. Se afoga no ar da perplexidade. Outro camarada resumiu bem o que acontece: as pessoas não morrem, desaparecem!

Um casal de amigos ganhou um filho. Davi nasceu antes do que se previa. A orientação foi adiantar o parto, porque o futuro é muito incerto nas unidades hospitalares. Deu tudo certo. Ainda não o conheci, a não ser por fotos. O costumeiro xixi do bebê foi adiado para quando pudermos nos encontrar. Tios, avós, padrinhos não puderam testemunhar o milagre do nascimento. Há oito meses, quando, naturalmente, seriam nove, ninguém podia imaginar a falta de festa ainda que de regozijo ao ariano que se previa taurino. O pai médico não poderá curtir o pequeno em seus primeiros dias. Por estar exposto pela missão da cura, certa distância física para proteger os amores maiores: esposa e filho.

Querer encontrar Deus é pedir que os fiéis fiquem em casa. O resto é charlatanismo. Mas por mais que ouça atento o que espiritualistas proferem, meus pelos não arrepiam, meu coração não sangra como na energia da oração em comunhão. Certo de que eu e nem ninguém precisa de interventor para falar com Deus, o auxílio da orientação segue pertinente à fé. Mas fé maior é dar exemplo de amor ao próximo e protegê-los.

Aqui no congelador de casa tem uma peça de contrafilé. Comprei para um churrasco desses avulsos. Mas churrasco sem amigos, não é churrasco. Eu, por exemplo, não gosto de beber cerveja sozinho. Preciso do brinde, ter companhia é a razão da gelada. Entende? É também assim com o café. Tem café em casa, mas não é igual ao do fim de tarde no trabalho ou naquela lanchonete que tem pingado e que se joga conversa fora com o balconista, um estranho qualquer ou com o colega de trabalho. Sinto falta até dos estranhos. Qual seu nome? Oi, me chamo Wanderson.

Sábado estranho. Dias estranhos esses. Por mais que nas redes sociais exista o movimento de show ao vivo, não sei. Sinto falta da música, do violão arranhando bem próximo ao meu ouvido. Gosto de quando o músico escapa a mão e seus dedos tocam, sem querer, a madeira do violão. Traz sentido. O bafo, fazer dos meus olhos câmera para captar o detalhe que me vier. Sinto falta de ver gente, de cruzar olhares, de abraços, tocar mãos. Preguiça dessa preguiça de casa.

Ainda que seja invisível, minúsculo, nano, o que nos causa essa separação, sabemos seu efeito. Por dentro, a prece é não ter medo. O medo é contaminar o próximo, ferir alguém. Coragem para ficar no reservado da solidão coletiva que se torna até suave diante do perigo da dor de perder alguém. Logo, logo estaremos juntos de novo. Precisamos fazer nossa parte por todos e para voltarmos o quanto antes. Quanto mais se desobedece ao desconhecido, mais demorada será a volta.

O adeus não se dá, o bem-vindo também não. Tudo o que estamos acostumados a desprezar - o cotidiano - ganha importância, pela ausência, por faltar. Vai passar. Mas quando passar, como será? Vamos apenas celebrar o dia seguinte como se fosse uma final de Copa do Mundo? Finais de campeonato passam tão rápido quanto carnaval. Será que vamos viver a catarse de se ver e se tocar de novo por um, dois dias, uma semana e só? O mundo precisa mudar, nós precisamos mudar. Essa força imensa que é o amor, que até faz a gente respeitar o se isolar, esse amor incondicional, precisa se estender sem ser por obrigação ou urgência. Respeito a saudade que sinto para exatamente ter a chance de exterminá-la quando tudo isso acabar. Saudade assim é melhor do que a eterna. Mas eu também não quero acumular saudade e depois extravasar essa saudade em segundos. Eu me recuso a esquecer o que estamos passando. A inércia acabou. O planeta, esse pequeno belo planeta, está nos devolvendo humanidade e não podemos deixa-la escapar de novo. O convite é na verdade um chamado, um grito, uma convocação.

Eu sei. Sei que a ganância de alguns é covarde e insistente. Mas a solidariedade é sólida e persistente. Não precisemos mais desses impactos para nutrir empatia. Se as circunstâncias causam cicatrizes, que não sejam remendos na pele, mas memórias tatuadas na alma. Os seus efeitos estão aí e já alteraram o rumo da história. O que faremos disso?

Quando esses dias estranhos passarem e as ruas estiverem cheias de novo, que não seja euforia vazia.... consumo insano, brigas por nada, efemérides, superficialidade... Que a fragilidade de viver nos faça perceber a força do nosso querer bem ao próximo e ao lugar que adoramos compartilhar nossas existências. Que todo esse sentimento também não seja de culpa ou responsabilidade vil, mas de libertação do aguçar da nossa sensibilidade em cuidar melhor de si, dos nossos, dos outros e do planeta. Que consigamos nos despir do egoísmo e da arrogância e nos vistamos do amor incondicional que nos merecemos e dele iluminamos e nos iluminaremos...

 

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Maio

sábado, 09 de maio de 2020

Quando eu era criança, lembro que confundia o dia do seu aniversário. Meu parâmetro era o aniversário de Nova Friburgo. Adorava desfilar com a escola no 16 de maio. Tinha toda aquela preparação e ansiedade. Minha confusão era se o seu aniversário era antes ou depois. Com o passar do tempo, firmei na memória o dia 17 de maio como sendo o dia de seu nascimento.

Quando eu era criança, lembro que confundia o dia do seu aniversário. Meu parâmetro era o aniversário de Nova Friburgo. Adorava desfilar com a escola no 16 de maio. Tinha toda aquela preparação e ansiedade. Minha confusão era se o seu aniversário era antes ou depois. Com o passar do tempo, firmei na memória o dia 17 de maio como sendo o dia de seu nascimento.

Maio também é o mês do seu dia. Dia de todas as mães. Quando criança, sempre confundi se o dia das mães se celebra no primeiro ou no segundo domingo do mês. O que me ajudava a saber, eram as lembranças feitas na escola. O único presente que podia te dar. 

Aqueles sabonetes pequenos embalados no tule e um desenho com letras garranchadas expressando em poucas palavras o amor de filho. Nunca fui talentoso em artes. Sempre escolhi as cores fora do padrão para pintar os desenhos. As rosas de preto, a nuvem de lilás, o céu de laranja, o Mickey de azul como se fosse um Smurf. Não! Isso não me fez um artista como esses impressionantes que expõem em galerias famosas. Lembro que minha mãe ria de mim, carinhosamente, enquanto meu irmão mais velho caçoava da minha excentricidade.

Passado o tempo, eu menino feito, vi alguns desses pequenos sabonetes todos rachados, alguns em pedaços dentro do saquinho transparente. Junto com alguns desenhos, você os deixou guardados em suas coisas, mesmo que já não dessem há tempos cheiro nas roupas. Acho que você gostava mais do significado que tinham do que propriamente dos sabonetinhos em si. Ver aquilo alegrou meu coração de criança pobre que queria poder dar muito mais à sua mãe. Mas mãe só quer amor. Descobri isso muito cedo na sua sabedoria exposta na prática.

Mãe só quer amor e - sem a obrigação de dar em troca - entrega amor incondicional. Desses que a gente não tem como explicar e que talvez um filho nunca de fato vá entender. Possivelmente, as mulheres quando se tornam mães possam experimentar. Os homens, jamais. Esse poder feminino de sentir e se sensibilizar. Nada mais sagrado que amor de mãe. 

São capazes de darem a vida por seus filhos. E, não importa o quanto errem ou o equívoco que tenham cometido. Bravas, ainda assim dirão: “ele tem mãe e a mãe dele sou eu”. Porque mãe não abandona o filho e tampouco vai amá-lo pelo seu sucesso ou fracasso. Vai apenas reconhecê-lo como seu filho. 

É perdão antes do pecado e é compreensão antes de qualquer julgamento. É bênção mesmo quando não se precisa ser amparado, é força que vem de dentro para provocar terremoto, se necessário, fora. Mãe sabe o que é dor e alegria antes mesmo do parto e é conexão que não se corta pelo cordão umbilical. Mãe é exagero, tempero, vivacidade.

Para o filho, a saudade que sabe que ficará, porque já existe antes mesmo de se tornar.

Ah, mãe. Queria poder te cantar de novo músicas do Roberto nas apresentações da escola. Queria poder me confundir de novo e te dar feliz aniversário adiantado para não arriscar errar se é 15 ou 17 de maio. E fazer dia das mães no primeiro e segundo domingo de maio. Mas também no terceiro e quarto de cada mês, em todos os dias de todas as semanas de todos os anos…

Já não sou tão criança. Você nem velha ficou. Tão bonito ver mães com a pele enrugada, cabelos bem branquinhos, avós, bisas... Sinto a chamada inveja boa de quem tem ou teve o privilégio. Creio que, vaidosa que era, seria uma idosa linda. Deitaria em seu colo e no aconchego de seu sorriso sorriria como sorrio agora com esse choro engasgado nos olhos. É choro de agradecimento à existência. Minha por você. Sua em mim. Independente se foi por pouco ou muito tempo.

Hoje, por mais que não te tenha, me vem nas memórias a sua presença e a paz por saber que pode me ouvir. As mães sempre ouvem, afinal. Te amo, mamãe!

 

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Um mundo diferente sim, mas acima de tudo melhor

sábado, 02 de maio de 2020

A Baía de Guanabara já tem alguns pontos com águas claras. A cinza São Paulo está com o ar mais puro. Em alguns grandes centros, já se pode observar melhor as estrelas no céu. Os moradores deste planeta, continuam habitando-o. O que mudou é a relação dos moradores com os lugares em que vivem. Por obrigatoriedade, é verdade. Será possível viver com menos? Será ilusão poluir menos? Podemos mudar nosso comportamento no futuro em que estivermos liberados para ir às ruas?

A Baía de Guanabara já tem alguns pontos com águas claras. A cinza São Paulo está com o ar mais puro. Em alguns grandes centros, já se pode observar melhor as estrelas no céu. Os moradores deste planeta, continuam habitando-o. O que mudou é a relação dos moradores com os lugares em que vivem. Por obrigatoriedade, é verdade. Será possível viver com menos? Será ilusão poluir menos? Podemos mudar nosso comportamento no futuro em que estivermos liberados para ir às ruas?

O mundo nunca mais será o mesmo - afirmam especialistas das mais diversas áreas. Espero que a razão deles vá ao encontro de um mundo diferente sim, mas acima de tudo melhor. E, isso depende diretamente de ações individuais que encontrem eco no coletivo.

Um mundo melhor, para mim, é um mundo mais sustentável, mais igualitário, mais livre. Um mundo em que impere o amor, em que a conexão entre as pessoas seja mais de alma, do que por cabos de fibra óptica. Empatia. Um mundo onde o homem é parte da natureza e como parte, cuida dela como cuida a si mesmo, como espécie que respeita também aos que virão. Resiliência. Um mundo que valorize a educação mais do que o consumo, e, a sabedoria mais do que o dinheiro. Solidariedade. Um mundo que derrube fronteiras e que se desfaça até das linhas imaginárias que nos dividem em nações. Nenhuma explorando a outra ou sendo explorada. Um mundo que consiga execrar do dicionário, de todos os dicionários das mais diversas línguas, o significado tacanho do verbo explorar. Que explorar seja apenas conjugado para descobertas interiores, para conhecimento conjunto da paz e da fraternidade.

O meu lado pessimista não consegue deixar de observar a ganância e o desprezo de alguns para com a vida. Narrativas arrogantes que se levantam contra a vida, baseadas no rancor e na raiva. Infelizmente, vejo gente, com talento para o bem, insuflada - pelo desespero ou mesmo pela falta de conhecimento – a, como gado, comprar a “verdade” de quem só vende mentiras: diz uma coisa, mas pratica outra. E seguem esse ritmo para a escuridão, na tentativa de manter tudo como está ou para um mundo diferente, ainda pior.

Mas meu lado otimista é contagiado pela fé que respeita a ciência e faz de Deus um professor que nos guia pelo livre arbítrio a encontrar respostas e não depender de milagres a toda hora. Meu lado otimista enxerga os aplausos em reconhecimento aos verdadeiros heróis que ganham capa nesse momento de extrema necessidade. Mas são heróis também no dia-a-dia para antes e para além da crise, ainda que suas capas caiam para os corriqueiros uniformes de médicos, garis, motoboys, operadores de internet, caixas de supermercado, funcionários de bancos, costureiras, jornalistas, agricultores, motoristas de ônibus, caminhoneiros...

Todos são importantes e meu otimismo aumenta quando se amplia a consciência de que daremos importância ao que, cotidianamente, somos instados a desperceber. O otimismo me toma por completo, com as inúmeras ações de solidariedade que não servem ao ego, mas ao outro cumprimentado pelo mais profundo eu que reside em cada um de nós.

Na balança do otimismo e do pessimismo, um mundo diferente já surge do caos. Se melhor ou pior, dependerá de cada um de nós. Sinceramente, que possamos ter céu extenso para melhor observar o universo acima de nós e olhar com afeto todos que estão, como nós, aqui embaixo.  

 

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Nossa casa Terra, em guerra outra vez

sábado, 25 de abril de 2020

Nossa casa é tão bonita. Desatentos no dia a dia, talvez não percebamos como bela é a nossa casa. A desatenção não é proposital, eu sei. O enredo que foi criado para nós é de correria para sustentar um contínuo crescimento econômico exigido pelos pouquíssimos reitores dessa história. Eu não conheço nenhum deles e você também não deve conhecer, pessoalmente, nenhum deles. Não estou falando do seu avô que tem uma indústria ou do seu primo que tem uma loja de calçados. Tampouco, estou falando daquele conhecido que tem algumas ações na Bolsa ou da sua mãe que tem um restaurante.

Nossa casa é tão bonita. Desatentos no dia a dia, talvez não percebamos como bela é a nossa casa. A desatenção não é proposital, eu sei. O enredo que foi criado para nós é de correria para sustentar um contínuo crescimento econômico exigido pelos pouquíssimos reitores dessa história. Eu não conheço nenhum deles e você também não deve conhecer, pessoalmente, nenhum deles. Não estou falando do seu avô que tem uma indústria ou do seu primo que tem uma loja de calçados. Tampouco, estou falando daquele conhecido que tem algumas ações na Bolsa ou da sua mãe que tem um restaurante. São tão vítimas, quanto o motoboy e tantos outros explorados, ainda que possam achar, em algum momento, que fazem parte do exclusivo pequeno grupo dos 1% que detém 99% de toda riqueza do mundo.

Este planeta, a mesma casa em que vivemos e que é minha e sua também. É como se sob o mesmo teto, você pudesse tomar um pote de iogurte e seu irmão caçula - ao seu lado - não! E, em nome de seus impérios, nos motivam a um consumismo cada vez mais elevado, nos ludibriam com falsas ideias de meritocracia e até nos jogam, uns contra os outros, fazendo crer que parcela de nós é do time de roteiristas e não dos que desfilam no asfalto empoeirado de barro. Barro de sangue.

Mas afinal, quem herdará a Terra?       

Mesmo com eles, nossa casa que é também a deles, se faz bonita e tenta se manter plural. Ainda que a custo de lições muitas das vezes duras. Não se trata de punição. Apenas de correção de percurso. Pela sobrevivência. Para uma vida, conscientemente, em abundância. Pelo futuro: nosso, dos que nos trouxeram até aqui, pelos que virão.    

Como é bonita a nossa casa e como é forte a sua natureza. Estamos em guerra, outra vez. E nossa casa – resiste. Dessa vez, no entanto, a guerra não é entre uma potência e outra. Não é contra células terroristas. Não é pelo enriquecimento de urânio de lá ou contra um ditador de cá. Não é em nome de Maomé ou Cristo ou qualquer religião. Não tem Messias, nem Anticristo, ainda que alguns tentem se fazer de tais, tanto quanto nos aguçam a guerrear entre extremos, enquanto somos nós que estamos no meio. (Miseráveis líderes que arrebatam ainda mais pobres súditos, carentes de fé).

Eles passarão e os enganados sairão da ignorância ainda que aprisionados pelo passado de suas crenças. Sempre foi assim, com guerra ou sem guerra. Não será diferente dessa vez. Também não é uma guerra de Gaia contra os humanos. A Terra está tentando nos ensinar algo há tempos. Agora, em uma urgência flagrante, engrossou o método. Será que dessa forma aprenderemos?     

Nossa casa já suportou tanto e tem no seu seio feridas enormes (provocadas por seus moradores mais inteligentes), mas continua a girar e há de suportar... Apostando na multiplicação daqueles que propagam bons sentimentos. Ao fim dessa guerra, inevitavelmente, tudo haverá de ser diferente, porque a guerra é diferente. Uma guerra contra o invisível em que não se quer matar ninguém e que vencer é não deixar ninguém morrer. Podia ser essa a nossa única guerra...

A nossa casa permanecerá. Multicolorida, com seus tantos tons de azul e verde. E permanecerá com tantas cores como em um desfile de escola de samba. As sementes vão germinar, nem que por ação do vento, das abelhas, do homem. O ser humano, o mais complexo dos habitantes dessa bela casa. O que provocou tantas guerras, agora sofre com a guerra que diretamente não proclamou. Obrigado a se enclausurar como o seu primitivo ancestral que se escondia nas cavernas. Domou o fogo e o curso das águas; moldou o barro; criou alucinógenos e passatempos; tapeou a matemática, a história; matou e se fez morrer e viver pela cultura, tanto quanto pelo capitalismo; arregimentou prótons, nêutrons, elétrons; inteligência artificial... E ainda está aprendendo a amar, ainda está compreendendo que a bela casa que temos precisa de cuidado e esse cuidar exige que nos cuidemos uns dos outros, pois somos parte das estruturas da casa. Essa casa existe para todos e todos devem usufruir dela como fundamento essencial da existência dela própria.

Agora, com a vida por um triz, é imperativa a nossa profunda mudança de relação com a nossa casa - esse lindo lugar chamado Terra - assim como tudo que tem nela, especialmente, com nós mesmos.

 

Foto da galeria
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Hiatos

sábado, 18 de abril de 2020

Em frente a tela branca do computador... As palavras me escapolem e não interrompem esses hiatos... Entre meus pensamentos e minhas mãos, entre minhas mãos e o teclado, entre o teclado e as placas do computador, entre as placas do computador e o monitor. Logo serão hiatos também o meu e-mail para o e-mail do editor, do editor para o copydesk, entre o copydesk e o diagramador e finalmente entre o jornal e o leitor. É um efeito dominó.

Em frente a tela branca do computador... As palavras me escapolem e não interrompem esses hiatos... Entre meus pensamentos e minhas mãos, entre minhas mãos e o teclado, entre o teclado e as placas do computador, entre as placas do computador e o monitor. Logo serão hiatos também o meu e-mail para o e-mail do editor, do editor para o copydesk, entre o copydesk e o diagramador e finalmente entre o jornal e o leitor. É um efeito dominó.

Antigamente, seria mais poético. O hiato residiria nessa falta de inspiração entre o coração do poeta e sua mão direita ou esquerda, porque uma delas seguraria um cigarro de fumo de rolo, quando não o cigarro seguro pelos lábios num malabarismo atraente. O hiato estaria entre todos esses hiatos na redação e não nessa solidão do home office. O barulho das teclas duras das máquinas de escrever Underwood nº 5, que só os chefes tinham, confundidas com as batidas ligeiras das icônicas Hermes 3000. Como uma orquestra. Talvez esse som de concerto desconcertante afastaria os hiatos, especialmente o primeiro hiato que gera todos os outros.

Gente, fumaça de gente, barulho, como vira-lata atrás de histórias do cotidiano que pudessem mitigar o destino de quase toda página de jornal: embrulho de peixe. Essa tal inspiração não vem de dentro da gente. Mas do nosso respirar de fora. Soberba achar que nos resolvemos sozinhos. Nem nossos textos existiriam só pela gente mesmo. Plantamos em letras, tudo aquilo que colhemos do mundo. Mundos pequenos como de uma redação, mundos extensos como de uma cidade. Mundos mínimos como de uma reunião, mundos infinitos como de um coração que batemos na porta para entrar. Se deixar entrar – basta para meu coração ficar em festa.          

Não sei. Às vezes, me pego pensando que nasci na época errada. Não porque sou especial. Até porque, creio que todos já se flagraram, meio que no susto, com esses devaneios. Será que vim no tempo certo? Talvez do futuro ou tão nostálgico com o que gostaria de ter vivido para se considerar do passado. Melhor mesmo seria ser do futuro, no passado. Até descobrir que rechaçamos o presente por pura ingratidão ou mera ansiedade. O tempo causa hiatos. Essas fendas existem apenas na nossa imaginação.

De repente, quando nos abrimos como um livro que não pretende ser lido, os hiatos vão para a gaveta. O que estava na gaveta dá lugar aos hiatos, pois como provou Newton, “Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço”. Ainda que sejam lacunas, vácuos. Lacunas e vácuos também ocupam espaço e, deveras, irritam mais do que bilhetes malcriados, memórias ruins, dores, saudades e boletos bancários. Boletos bancários nem tanto, dependendo do número de zeros à direita. Mas perfilados, os hiatos vão como um exército bem treinado para a gaveta e o que sai da gaveta... Susto! Não vem nada domado ao ponto de não ser um pelotão que quer guerra, nem paz. Apenas vem e sem ordem ou lógica, vai saltando para os meus pensamentos que movem os meus dedos e vão preenchendo o papel em branco, letra por letra, palavra por palavra, frase por frase...

Só queria estar na contramão, tomado por uma sala cheia de gente.

 

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Poeminha sobre esses dias

sábado, 11 de abril de 2020

Esses dias de pandemia
Nos vacinam de empatia,
Pois só a empatia pode nos salvar.
Mesmo quando a pandemia passar
(e há de passar),
Nos sobrará a empatia,
Para a empatia imperar.
Empatia pelo dia a dia,
Já que passamos por cada dia
Sem glorificar:
O irmão,
O aperto de mão,
O coração noutro coração,
O prazer de trabalhar.

Esses dias de pandemia
Nos vacinam de empatia,
Pois só a empatia pode nos salvar.
Mesmo quando a pandemia passar
(e há de passar),
Nos sobrará a empatia,
Para a empatia imperar.
Empatia pelo dia a dia,
Já que passamos por cada dia
Sem glorificar:
O irmão,
O aperto de mão,
O coração noutro coração,
O prazer de trabalhar.

Tanta falta faz essa paz das multidões.
Mais paz nos traz saber que esse momento...
Não é em vão.
A terra,
Esse grande organismo vivo,
Está nos chamando a atenção!
Aceite a convocação!
Esses dias,
De oração em oração,
Nos levarão a novo dia,
De harmonia
Propulsão a elevação.

Retração?
E-vo-lu-ção!

Não estamos sós
E nenhum de nós
Pode fugir da missão.
Coragem para se desfazer dessa miragem
Em que a imagem é a desigualdade,
E, será realidade,
Se invocada a nossa humanidade,
Para a existência da tal sustentabilidade
Que há de nos salvar.

Que esses dias de ruas vazias
Cheias de saudades das ruas cheias,
Nos injete nas veias
O antídoto que se anseias
Desde nossos mais remotos ancestrais:
O amor e só o amor
Pode cessar essa dor
De não sermos considerados como iguais.

Empatia, empatia e empatia
Para esse dia que há de surgir desses dias,
Para ir além, muito além desses dias
De despedidas doídas,
Saudades sadias,
Pandemia...
Depois desses dias
Que vigore a alegria
E o comprometimento de nos amarmos mais. 

 

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Saudade do nosso cotidiano de cada dia

sábado, 04 de abril de 2020

Saudade. Estou com uma saudade daquelas de tanta gente. Gente que nem sabe ou poderia imaginar que estou com saudade delas. Saudade tipo do Léo, do Marquinho, do Reginaldo, dos camaradas lá do Bar América. Da Rivana, a maravilhosa da Rivana. Saudade da Ana Paula no Willa, da Kátia do Casarão. Saudade da menina que me atende lá no Baião e também do senhor que trabalha naquela pastelaria que me fugiu o nome agora. Saudade do tanto de gente que cumprimento na Alberto Braune. Saudade daquela senhorinha, das tantas senhorinhas que pedem informação na fila do banco. Saudade do cotidiano.

Saudade. Estou com uma saudade daquelas de tanta gente. Gente que nem sabe ou poderia imaginar que estou com saudade delas. Saudade tipo do Léo, do Marquinho, do Reginaldo, dos camaradas lá do Bar América. Da Rivana, a maravilhosa da Rivana. Saudade da Ana Paula no Willa, da Kátia do Casarão. Saudade da menina que me atende lá no Baião e também do senhor que trabalha naquela pastelaria que me fugiu o nome agora. Saudade do tanto de gente que cumprimento na Alberto Braune. Saudade daquela senhorinha, das tantas senhorinhas que pedem informação na fila do banco. Saudade do cotidiano. Desse cotidiano de ruas abarrotadas, de buzina, de ônibus atrasado, de fila, de guarda-chuva em marquise, de cobrador de estacionamento, de gente que te olha torto só porque você não votou no Bolsonaro e de outras que te olham tão estranho quanto porque você não é petista. Saudade dessa discussão, mas olho no olho. De rede social, estou cheio. Porque na rede, falta o tom de voz que mostra respeito e empatia.

Não tenho saudade do vazio. Cidades fantasmas não são cidades, porque cidades precisam de gente para serem cidades. Um publicitário, Wilson Peixoto, define bem: “Saudade é a essência em estado latente do amor”. Com muita saudade da minha Nova Friburgo. Das suas segundas, quartas e sábados. Da barraca do Pelé, da cocada da esquina da Renver, da Arlete na Rua Portugal, do Chiquinho da banca, do Vovô em seu bar, em Lumiar.

Estou com saudades da minha vovó, dos meus irmãos e dos meus pequeninos afilhados... Miguel, Tiago, Davi. Saudade do Davi (outro Davi), filho do Marcellinho, que nasceu em meio a essa pandemia e que nem pude conhecer ainda, a não ser por foto. Saudade da turma dos tantos trabalhos, porque home office não é tão divertido quanto cumprir horas no serviço. Saudade da Naiara, de todas as minhas amigas e amigos de longa data, de curta data, de outras vidas. Do Gui e do amigo famoso (Bernardo Dugin) dos amigos flamenguistas, tanto quanto dos vascaínos, tricolores e botafoguenses. Andrezin, Bruno, Hugo, Thiago, Marcos Vinicius, Dani, João Victor, compadre Bernardo (outro Bernardo famoso), Raphinha, Rafael, Rafão, Gustavo, Lucas, Digão, Filipes... Luís Filipe, Charanga, Pinguin e a família toda dele e a família da Tamara e tantas outras famílias de amigos e mais amigos de todas as tribos... Do time todo do Friburguense.

Quanta saudade também dos meus papos no FIFA (Tomás). Saudade daquela amizade que comecei a me encantar e que o encantamento está cheio de saudade de seguir a se encantar. Saudade do jantar de aniversário que nem aconteceu, mas que estou devendo, Mathias. Saudade, saudade, saudade... Saudade de você que me lê agora. Saudade... esse sentimento tão bonito.

Tenho até saudade das reuniões chatas e mais ainda daquelas de traçar futuro, sonhar junto. Teremos futuro? Saudade gigante que me faz perceber que eu amo muitas pessoas e amo o cotidiano que divido ou multiplico com elas. Mas sabe? Eu fiz uma escolha para minha saudade, pelas nossas saudades. Vai durar mais uns dias, duas semanas talvez, um mês... Não sei. Prefiro ter saudade que vai acabar no reencontro do que saudade eterna de nunca mais poder ver, exatamente do jeito que nos vimos da última vez, de nunca mais ter essas coisas, viver isso e aquilo que passa tão despercebido no dia a dia de pessoas que esperam o ônibus ou as que se aglomeram nos bares da Monte Líbano ou as poucas e boas que enchem a minha casa... e o meu coração de sentimento bom.

Por isso, estou em casa o tanto quanto posso, recolhido com a minha saudade que logo, logo – acaba. Tudo isso aí vai passar e a gente há de ser feliz como diz aquela música. Que música? Ah! São tantas que dizem que sorriremos de novo, que nos veremos de novo, que vamos nos reencontrar... Quer saber? Escolhe você a música, cada um escolhe uma que haveremos de cantar bonito e forte para acabar com essa saudade, nessa nossa saudade da roda de samba com o Bigode Serrano e toda música que a gente dança juntinhos com Vitor Ferraz ou Sam Lucca ou os dois juntos. Com a Bruninha Petribu e o Alan no intervalo... Todos nós felizes e vencedores dessa batalha pela vida, vencida graças ao amor incondicional que nos dedicamos uns aos outros.

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