Pequena reflexão sobre o sono… ou o que nos tira o sonho

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 20 de março de 2021

Quando estou com sono, apenas vou dormir. Quando perco o sonho, eu me levanto. Minha ansiedade é maior do que a tentação da preguiça. Considero-me um ser noturno, ainda que concorde que as manhãs são lindas e o amanhecer talvez seja mesmo a parte mais bonita do dia. 

Sei que parece conversa para boi dormir, mas refletir sobre perder o sono ou se render ao sono ou se vestir de sonho, diz muito sobre nós mesmos. Podemos ter sono por razões naturais, podemos perder o sono por circunstâncias diversas que vão além, muito além da biologia, podemos trocar de sonhos e pesadelos porque colecionamos traumas, aprendemos e quiçá evoluímos.  

O sono perdido de ontem pode não ter nada a ver com o de amanhã. De modo que aquilo que nos faz bocejar agora, um dia pode ter nos colocado desperto. Da mesma forma que o que nos despertava por prazer pode agora nos tirar o sono e o sonho que raramente vem do sono. Parece confuso. E é! A vida é confusa. 

O tempo faz confusão para além, muito além das bagunças que planta na mente. Falo das bagunças pelas células que morrem e nos levam fatalmente à perda de memória e até à insanidade, mas também daquelas que o conhecimento instiga ao ponto de entendermos a célebre filosofia de que quanto mais se conhece, menos se sabe. 

A admissão do não saber é a mais verdadeira das liberdades. Tão bom envelhecer quando se aprende a abdicar de dar opinião sobre tudo. Podia ser mais fácil, menos instigante. Porém, o prazer da paz é o mais legítimo facilitador do bem querer a si mesmo. Fazer guerra com quem quer morrer... Não serei eu o assassino! E não tem nada de individualista nisso. Muito pelo contrário. E adiciono o muito precisamente para dar ainda maior ênfase ao pelo contrário mesmo. É um sonho coletivo…

Em tempos líquidos como esses, segurar os dedos antes de sair digitando fezes pelas redes é de tal encanto, menor apenas que sequer se permitir ao trabalho de pensar em dar opinião ou ter opinião. Ah, o velho Raul! Não era mesmo desse mundo o nosso carimbador maluco. Mais Raul, menos extremismo ideológico idiotizado. Ainda que seja essa uma opinião, só dar opinião quando de fato se mereça investir tempo, paz e amor próprio. Quando for por um sonho.  

Eu posso agradecer por acordar todo dia, mas é muito difícil quando sequer fui dormir. Já fiquei desperto com o programa Silvio Santos. Atualmente, me dá sono. Mas é melhor do que essas pílulas. Os médicos deveriam receitar Silvio Santos ao invés dessas pílulas de benzodiazepina. 

Aliás, pesquisas recém publicadas e avalizadas pela Organização Mundial de Saúde atestam: “o uso indiscriminado de remédios para sono e ansiedade causa risco de morte maior do que o uso de drogas como cocaína e heroína”. Não use nem um nem outro tanto quanto for possível. 

Veja Big Brother Brasil, leia Martha Medeiros, faça dieta de leitura para descobrir verdades para além daquelas que tem te nutrido e não se esqueça: morrer é o destino de todos nós até para quem não acredita em destino. Mas também se lembre: viver - há certa dose de pretensão nisso - a gente escolhe. O que nos tira o sono, o que nos dá sono, o sonho…

Bom é ter ou buscar certo controle sobre um e outro e ambos.

 

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