O suspense

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 08 de janeiro de 2024

Estou lendo “O apartamento em Paris”, da escritora inglesa Lucy Foley, um romance de mistério passado em um edifício de luxo na capital francesa. Seus moradores e suas paredes guardam segredos que vão se revelando aos poucos de modo que não consigo parar de ler. 

Um dos grandes desafios do escritor de prosa literária é prender o leitor na narrativa. Um texto carregado de circunstâncias a serem desvendadas, cuja leitura evoque perguntas e espantos é instigante e prazeroso. Mas elaborá-lo? Uauuu! Construir cenas densas, mas pouco explicadas, personagens misteriosos e enigmas é um desafio e tanto ao escritor. A literatura de suspense apresenta grandes obstáculos a serem superados, que exigem a definição pormenorizada dos mínimos detalhes que compõem cada uma das cenas. São definições que precisam ser esclarecidas e dominadas previamente pelo escritor, ou seja, antes mesmo de começar a elaborar o texto. Além do mais, os fatos devem ser mostrados pouco a pouco e cuidadosamente ao leitor, que, ao ler, vai desvendando segredos nada vulgares. Quanto mais inteligente é a trama, mais o leitor vai se sentir desafiado a desvendá-la.

Não é somente a literatura de suspense, mas todo texto deve considerar a capacidade reflexiva do leitor para compreender situações. Talvez possa afirmar que compor um texto seja engenhoso porque requer planejamento, cálculos precisos e construção minuciosa das cenas. Em “Aventureiros da Serra”, romance de minha autoria, os personagens precisaram atravessar um rio, e tive de calcular distâncias, riscos e tempo. 

O texto literário de ficção tem de ser verossímil! Um personagem de menor estatura precisa dar mais passos para percorrer a mesma distância do que outro mais alto. As cenas não podem ser lentas nem rápidas demais, a ação dos personagens deve ser realizada em momentos certos da narrativa para criar no leitor a máxima expectativa. Os acontecimentos devem ter sequência contínua de modo a preparar a narrativa para um desfecho, exigindo paciência e causando inquietude no leitor. Não é possível antecipar informações para amenizar o suspense, o que arruinaria o texto em poucas linhas.

Quase sempre a literatura de suspense envolve atos de perversidade, como em “O silêncio dos inocentes”, de Thomas Haris. Os romances policiais de Agatha Christie, como “Morte no Nilo” e “Expresso Oriente” trazem situações de morte violenta. Se não fossem as passagens trágicas não haveria uma narrativa consistente e atraente ao leitor. Quanto maior é a maldade e o sofrimento, melhor qualidade o texto pode alcançar.

As escrever “Aventureiros da Serra”, um personagem, o Edu, surgiu repentinamente na minha imaginação. Ele, vindo carregado de inveja e egoísmo, fez com que a narrativa crescesse. Suas atitudes levaram as cenas mais simples ao suspense. Ao escrevê-las, eu ia desvendando o seu caráter que criava grandes dificuldades ao grupo de amigos. Ao longo da narrativa, ele foi se transformando e fazendo com que os outros personagens amadurecessem. Foi uma experiência literária incrível. 

Estou escrevendo esta coluna porque pretendo, em 2024, começar a escrever um romance de suspense. Estou me preparando, aquecendo as turbinas, como dizia minha mestra Virgínia Cavalcanti. 

2024 me chegou cheio de ideias desafiadoras que serão tecidas por linhas. Linhas! Será um bom título? O ano promete muito suspense. Ainda bem... 

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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