Esses seres admiráveis, os personagens?

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Quem são esses seres fascinantes que nascem no imaginário do escritor? Que sejam emergentes da realidade em que vivemos ou do universo da ficção. Querem saber a verdade? Não importa de onde venham, apenas é preciso que sejam bem construídos e prendam a atenção do leitor. Simples assim? Posto que não. 

Os personagens criados a partir da inspiração de uma pessoa existente ou que já tenha existido, são, na literatura, seres ficcionais. Dificilmente o escritor conseguirá retratá-lo na produção literária com fidedignidade, ele será reconstruído através de palavras e cenas elaboradas no imaginário. Mesmo no cinema ou teatro, a vida da pessoa é narrada através de um roteiro ou de um texto dramatúrgico. O personagem só existe situado em uma história com os elementos e atributos criados exclusivamente na imaginação. Vamos supor que três indivíduos presenciem uma cena, cada um vai descrevê-la de uma forma, vai notar os detalhes com parcialidade e observar a partir de um ponto de vista próprio, que está enraizado em formas de pensar, afetos e experiências de vida. 

Há personagens tão extraordinários e tão bem construídos que influenciam a vida dos seus leitores, causam espantos, risos e reflexões.  São entidades que, além de habitarem nos livros, vivem na mente daqueles que os admiram. Um personagem que me deixou marcas foi Raskolnikof, de “Crime e Castigo”, escrito por Fiódor Dostoiévski, pela sua insolência e capacidade de enganar, como se fazer amigo do chefe de polícia para mudar o rumo das investigações e evitar ser descoberto como o assassino de duas pessoas. Esse personagem foi tão bem elaborado que me lembro dele com repúdio sempre que me deparo com uma situação criminosa. 

São personagens que sobrevivem ao tempo, como Jean Valjean, de “Os Miseráveis”, criado por Victor Hugo ou Emma Bovary, de “Madame Bovary”, idealizado por Gustave Flaubert; Otelo, da obra de Shakespeare. São entidades que permeiam nossas vidas, como Hellen Keller, em que ela narra a sua bela história de superação em uma autobiografia, Dom Casmurro através do qual Machado de Assis apresenta a terrível dúvida com relação à fidelidade de Capitu. E a crueldade mostrada através da inveja de Iago, personagem de Shakespeare, em “Otelo”. Os personagens marcantes apresentam motivos para reflexões relevantes, e suas histórias contribuem para a construção da identidade individual de cada um de nós. Fernão Capelo Gaivota, protagonista do livro do mesmo nome, construído por Richard Bach, sempre me foi um exemplo de vida. Em muitos momentos da minha pré-adolescência eu me identifiquei com Zezé, de “Meu Pé de Laranja Lima”, escrito por José Mauro de Vasconcelos.

E de onde vêm os personagens? Ah! Será das estrelas, dos ventos ou do cheiro de sabonete?

Sei lá...  

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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