Salve os cachorros! Serão anjos?

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Volta e meia reorganizo minhas estantes, três compridas prateleiras que vão de um lado a outro da parede, onde misturo livros, pastas, retratos e objetos de recordação. Mexendo aqui e ali, mudando um livro e outro de lugar, um caiu em minhas mãos, “Os colegas”, de Lygia Bojunga, obra ganhadora do Concurso de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro, em 1971. Faz tempo que li esse livro da Lygia e adorei. “Os colegas” conta a história de um grupo de cães e outros bichos, como um coelho, que vivia na rua. É um texto delicioso de ler, que aborda a amizade, a solidariedade e a felicidade. Para ser sincera, gosto de tudo o que se refere a animais, principalmente aos cães. Também, não é para menos, passei a vida inteira acompanhada por eles.

Quando a Vênus, minha cachorra com a qual estabeleci uma relação de amor profundo, faleceu, ganhei de presente de uma vizinha, também amante de cães, “Angel Dogs”, escrito por Allen e Linda Anderson, que mostra que os cachorros não são apenas amigos, possuem uma função espiritual para com seus donos. E, da mesma forma, nós por eles. Depois comprei “Todos os animais merecem o céu”, escrito pelo veterinário Marcel Benedeti, em que reúne histórias relacionadas à vida espiritual dos animais. 

Li os livros e tirei algumas conclusões. Todos os cachorros que tive vieram em épocas especiais da minha vida. Quando nasci, minha mãe tinha uma cachorrinha. Um dia, passeando com meu avô, ela se soltou da correia, foi atropelada e partiu. Como meu pai havia falecido tão logo nasci, a cachorrinha veio para acompanhar mamãe e a todos da família. Quando a família já estava superando a perda, ela cumpriu suas funções e retornou.    

A Vênus quando esteve conosco participou de momentos difíceis, como a partida do meu filho, e situações de doença grave, como o infarto do meu marido. Depois que a nossa vida estabilizou, chegou a hora da Vênus partir. Antes dela seguir a vida em outro plano, veio a Hyra, uma rottweiler meiga, que nos deu aconchego, preenchendo os espaços que ficaram vazios na casa.

Hoje temos duas cachorras de rua que adotamos. Acredito que, agora, temos uma função importante na vida delas. Aliás, todos os cachorros que tivemos evoluíram, chegando, a meu ver, a serem até humanizados.

Neste momento, a lembrança de São Francisco de Assis se aproxima de mim. Ao acaso, abro uma página de um dos livros e uma frase grita aos meus olhos: “São Francisco amou os animais como os nossos irmãos.”  

O friburguense demonstra estima pelos cachorros. Inclusive a pedra denominada Cão Sentado é um dos símbolos da cidade. No bairro onde moro, a Fazenda Bela Vista, deve ter mais cachorros do que moradores, que se preocupam com o bem-estar dos animais. Infelizmente, alguns são abandonados aqui, mas nenhum deles fica à própria sorte porque são acolhidos pelos moradores, tal qual fiz com as minhas.

Certa vez uma pessoa que trabalha em uma loja na Rua Monte Líbano, no Centro, me disse que há cachorros que percorrem um longo trajeto para se alimentar com a ração colocada na calçada pelas pessoas que trabalham nas lojas. Eles vêm com andar certeiro e donos de si. É emocionante vê-los.

Os cachorros, além de fazerem parte da nossa cultura, são anjos que nos acompanham. Minha mãe disse, certa vez, que latido de cachorro e voz de criança dão um toque especial a uma casa. Cães e gatos oferecem aos seus donos afeto incondicional, sem falar na relação que estabelecem com as crianças, tornando-se delas verdadeiros companheiros. O olhar do cão para seus donos é profundo, sincero e terno. Tenho a impressão de que as minhas cachorras me agradecem sempre que olham para mim.

Estou relendo os livros e concluindo que os cães possuem uma sabedoria que nós humanos não temos. Eles sabem dos nossos sentimentos, são intuitivos e nos ajudam a ser pessoas melhores.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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