Poesia da madrugada

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 03 de setembro de 2024

Noite dessas, céu escuro de inverno, tempo frio, acordei de madrugada com uma poesia nos meus ouvidos, ora no direito, ora no esquerdo. Poesia!? Nunca a escrevo porque minhas ideias vêm de todos os jeitos para a prosa, porém nunca em estilo poético. Naquela noite, se trazida por um anjo, se emergiu dos meandros do inconsciente ou se resolveu anarquizar meus pensamentos, a poesia — teimosa — veio me acordar, exatamente, naquela hora em que as energias divinas vêm pelo mundo. Para sossegá-lo ou não.

Ei-la!

Posto que

A minha poesia começa com palavras calmas—

Conversam à frente dos meus olhos

Falam do tempo em que sempre estou

Sim, do aqui e do agora!

 Das dores que flutuam nos meus sonhos.

Ah, estes meus versos não trazem serenas verdades,

me fazem levantar e caminhar

Sim! Movimentar meus braços e pernas.

Com passos pequenos, tropeço, tateio e esbarro nos móveis

Tudo escuro. Silêncio.

Desperto. Recomeço. Sinto e penso.

Escuto a noite sussurrar:

“Mesmo fazendo parte da loucura de todos,

ainda me permito ser absolutamente eu”.

 

Fiquei espantada por arriscar, justo aqui, na coluna deste jornal, um gesto solitário, contudo literário. Literatura é assim. Passei dois dias revendo a poesia que nasceu à toa, cheia de viço.  

Gosto da conjunção posto que. A conjunção conecta orações; é um elo.  Eu me sinto assim na vida, no meio de tudo e de todos. Como posto que é uma conjunção que concede ou explica, encontro nessa expressão poética um modo de gritar para mim: resguarde-se!

A vida está enlouquecendo, até os polos do Planeta Terra estão mudando de posição e fazendo um auê na natureza! E, aí emerge das minhas entranhas um “Posto que”. Que me belisca. Que me chama a atenção porque, somente eu, com minha totalidade, saberei lidar com “isso tudo”.

Além do mais, vou dizer: volta e meia encontro nas palavras mestras de Fernando Pessoa um “posto que”. Nunca perdido no meio da madrugada gelada.

Salve!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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