Homenagem aos 130 anos do Colégio Nossa Senhora das Dores
O pai brilhava de orgulho ao ver o filho se formando. Na alfabetização é verdade, mas formatura é formatura, tem que ser levada à sério. O garoto pisara pela primeira vez no CNSD há poucos meses, saíra correndo pelo pátio colorido, voara pelo bambuzal sem fim. Quando pousou e recuperou o fôlego, já estava apaixonado pelo colégio. Daí pra frente, o mistério das letras foi rapidamente se desmanchando diante de seus olhos curiosos. Em pouco tempo, lia até placa de trânsito.
Homenagem aos 130 anos do Colégio Nossa Senhora das Dores
O pai brilhava de orgulho ao ver o filho se formando. Na alfabetização é verdade, mas formatura é formatura, tem que ser levada à sério. O garoto pisara pela primeira vez no CNSD há poucos meses, saíra correndo pelo pátio colorido, voara pelo bambuzal sem fim. Quando pousou e recuperou o fôlego, já estava apaixonado pelo colégio. Daí pra frente, o mistério das letras foi rapidamente se desmanchando diante de seus olhos curiosos. Em pouco tempo, lia até placa de trânsito.
. O pai estava feliz e orgulhoso. E mais feliz e orgulhoso ficou ao saber que menino fora escolhido orador da turma, com a alta e grave responsabilidade de discursar no dia da formatura. Após digitar cada uma das eloquentes palavras sussurradas pelo filho, recomendou: “Ensaia bem, que no dia vai ficar uma beleza”. Verdade que o orador ouviu o conselho com indiferença e preguiça, mas, quando instado a mais uma pré-estreia familiar, punha-se em posição solene e começava: “Amiguinhos e amiguinhas...”
Resolvida a parte propriamente literária do grande acontecimento, a parte psicológica passou a merecer maior atenção. A “tia” alfabetizadora, procurada, respondeu tranquila que o garoto era bem desinibido, e essa tinha sido a principal razão de sua escolha. O pai, porém, usando da cautela, como diria Camões, sugeriu que, a título de ensaio, fossem feitas algumas apresentações em sala, mas estas foram julgadas dispensáveis, uma vez que a preparação em casa ia tão bem.
Ficou então sob a responsabilidade do colégio o ensaio geral. Oportunidade em que o orador saiu-se muito bem, ainda que interrompido uma ou duas vezes por um coleguinha que insistia em gritar que precisava ao banheiro e outro que no dia anterior tinha aprendido a imitar a voz de gato namorando e resolveu mostrar sua nova habilidade exatamente durante o pronunciamento. Mas, exceto por esses pequenos contratempos, inerentes à arte de falar em público, tudo correu bem.
Sabemos que todo público é um perigo. Um grande ator inglês, estando a interpretar Ricardo I, bradava por um cavalo, com o qual pudesse perseguir Henrique VI, seu adversário: “Meu reino por um cavalo! Meu reino por um cavalo!” Na plateia, um engraçadinho aproveitou-se da silenciosa emoção do público e perguntou: “Um burro serve?”, fazendo estrondar uma gargalhada que quase impede o elenco de permanecer em cena. Mas Ricardo I, que não sem motivo era chamado Ricardo Coração de Leão, manteve a serenidade e respondeu: “Serve, pode subir”, o que provocou uma gargalhada ainda maior, obrigando o piadista a retirar-se do teatro às carreiras.
E há os aparteadores, às vezes terríveis. Uma deputada inglesa, Nancy Astor, fazia campanha pelo interior e um cidadão local, tentando insinuar que a candidata nada sabia da vida no campo, interrompeu-a durante um comício, perguntando-lhe quantos dedos tinha um porco. “Homem, tire os sapatos e conte!”, retrucou ela. Mas até essa espirituosa senhora se deu mal quando disse a Winston Churchill que, fosse casada com ele, ela lhe daria veneno. Serenamente, o Primeiro-Ministro retrucou: “Se a senhora fosse minha mulher, eu bebia”. Mas o menino estava preparado. Tinha cada palavra do discurso no fundo da memória e na ponta da língua.
Aí chegou o Dia D, mais planejado do que a invasão da Normandia pelos Aliados. O Teatro Sania Cosmelli ainda não existia, era um auditório com cadeiras rangentes e palco estreito. Nada disso diminuía a fulgor daquele instante. A turma entrou solene, todos compenetrados do momento histórico que estavam vivendo. Depois de muita palma e muita música, foi anunciada a palavra do orador da turma. Ele veio lá do fundo, trazendo seus sete aninhos até a beirada do palco.
Aquele mar de gente sentada à sua frente, olhares que o espetavam por todos os lados, o microfone mais parecendo uma cobra que vai dar o bote. Finalmente o menino soltou a voz e fez então um dos mais rápidos discursos da loquaz oratória nacional:
− “Mãe-ê, eu quero ir embora pra casa!!!”
Aliás, foi aplaudidíssimo.
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