— Moça, dá licença. Não se assusta não. Dá licença pra eu sentar aí do seu lado.
— Que maluquice é essa, cara! Tá brincando comigo? Olha que eu pulo agora mesmo. Tou brincando não.
— Eu sei... Claro que não! Foi por isso que eu me resolvi também.
— Não se aproxima não. Nem vem com lero-lero, igual naqueles filmes que o policial vem chegando cheio de conversa e, de repente... Ninguém vai me fazer desistir não. Fica aí, se não eu pulo agora mesmo. Tou avisando.
— Vim te fazer desistir nada, menina. Eu vou é pular também.
— Moça, dá licença. Não se assusta não. Dá licença pra eu sentar aí do seu lado.
— Que maluquice é essa, cara! Tá brincando comigo? Olha que eu pulo agora mesmo. Tou brincando não.
— Eu sei... Claro que não! Foi por isso que eu me resolvi também.
— Não se aproxima não. Nem vem com lero-lero, igual naqueles filmes que o policial vem chegando cheio de conversa e, de repente... Ninguém vai me fazer desistir não. Fica aí, se não eu pulo agora mesmo. Tou avisando.
— Vim te fazer desistir nada, menina. Eu vou é pular também.
— O quê? Quem vai pular sou eu. Não se meta, se me faz o favor.
— Dá licença. A gente sentado conversa melhor. Dá licença. Ui, que altura!
— Fica longe. A laje é muito grande. Fica aí mesmo.
—Tá certo. Eu tava lá embaixo, no meio da multidão, ouvindo a conversa do povo. Tem gente querendo que você salte logo, tem uns até reclamando da demora. Um já tá nervoso, precisa ir embora e você não se decide.
— Decidida eu tou. E muito. Só tou aqui passando uns pensamentos a limpo.
— Pra que passar pensamento a limpo, se você vai morrer? Besteira. Mas tem gente chorando, uma freira tá rezando um terço. Uma velhinha prometeu àquela Nossa Senhora lá da Polônia... como se chama? Acho que é Mediugorje. Se você não pular, ela vai pagar uma viagem à Disneylândia pro sobrinho que faz 12 anos hoje.
— Pois esse moleque vai ficar sem conhecer o Pato Donald, sinto muito. E não é Polônia, é Iugoslávia.
— Já reparou como tem desocupado nessa cidade? Ninguém trabalha mais não? Há mais de uma hora lá na rua, olhando aqui pra cima. E de lá nem dá pra te enxergar direito.
— Agora juntou mais gente, depois que você chegou.
— Uns dizem que você tem câncer, outros que teu marido te deixou. O que mais tá correndo é que você roubou a loja onde trabalha, o patrão descobriu.
— Se no Brasil alguém se matasse por ter roubado, lá em Brasília não tinha 8o andar que chegasse. Mas larga de conversa fiada: você quer mesmo se suicidar?
— Pois é. Eu vi você e pensei: ela vai se matar por essas mixarias, muito mais motivo tenho eu. Vamos de mãos dadas?
— Você acha câncer mixaria?
— Você tem câncer???
— Deixa de ser besta, cara! Vira essa boca pra lá! Meu problema é outro. E o teu, qual é?
— Mulher ...
—Te traiu?
— Minha namorada há dois anos, veja só! Grávida!
— Mas isso é motivo pra alguém se matar? Francamente, cara. Um rapaz bonito igual você. Ah, vai embora. Me deixa morrer sossegada. Aliás, como você entrou aqui, se os bombeiros tentaram até arrombar a porta?
— Eu sou chaveiro. Quer dizer, fui. Abro qualquer porta. Será que aquele helicóptero é por nossa causa? Tamos ficando famosos.
— Vamos aparecer na televisão... Suicídio duplo não é todo dia que tem. E eu tão mal vestida. Também, que diferença vai fazer depois? Mas essa de se matar porque a namorada tá esperando um filho teu... deixa de ser frouxo, homem.
—Nada disso. Eu nunca transei com ela. “Só depois do casamento”, “Sou virgem”, “Minha religião não permite”, e eu acreditando! Grávida! De outro, é claro!
— Não me faça rir. Que zinha que você arrumou, hem? Em todo caso, melhor agora do que depois do casamento.
— E você? Vai ver que teu motivo é pior do que o meu.
— É uma história muito comprida. Precisava de tempo pra contar.
— Me conta, agora fiquei curioso. Faz o seguinte: a gente desce para tomar um chope e você me conta a história.
— Mas depois a gente volta, que eu não vim aqui pra dar esse espetáculo todo à toa.
— Depois a gente vê. Primeiro a gente toma um chope. Depois a gente vê o que faz.
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