Ai, meu Deus, será que estamos lá embaixo, no fundo do poço?
Ai, meu Deus, será que estamos lá embaixo, no fundo do poço?
Li um teste de inteligência na internet e fiquei bem curioso, mas não me atrevi a responder as questões, com medo de sair muito humilhado. Se ainda fosse um teste de burrice, minhas possibilidades seriam consideravelmente melhores, esse é um tipo de avaliação em que muitas vezes ao longo da vida tenho me saído muito bem. Mas, esperando encontrar consolo nos meus conterrâneos, fui ver a classificação do Brasil na dita avaliação. Você pode estar achando que o brasileiro aparece no pódio, nem que seja nas laterais, estourando champanhe. Não quero decepcioná-lo, nem acentuar o complexo de vira-lata de que falava Nélson Rodrigues.
Mas o fato é que inteligência é uma coisa, esperteza é outra. Se fizerem um teste mundial de esperteza, certamente disputaremos os primeiros lugares. Mas a inteligência, para ser desenvolvida, depende de boa alimentação, boas escolas, boas oportunidades na vida, e tais coisas secularmente têm faltado à grande, senão à maior parte do povo brasileiro. Ainda assim, de vez em quando um patrício fura o bloqueio e se destaca. Graças a esses, temos cientistas na Nasa, diretores de cinema internacionais, professores nas melhores universidades de mundo, sem falar nos que ficam por aqui mesmo e pouco são citados e valorizados.
Entre os povos mais inteligentes do mundo, Hong Kong, Japão, Singapura e Taiwan estão empatados com 106 pontos, seguidos de pertinho pela China (104) e Coréia do Sul (103). Ou seja, parece que a inteligência é uma planta que floresce melhor lá pelos lados da Ásia. No meio de campo jogam vários países, com nota entre 90 e 100, dentre eles a Alemanha (13º. lugar, com 100 pontos). Os Estados Unidos ficaram com 97, na 30ª. classificação. Portugal está em 44º. (93), O Uruguai, o primeiro latino a dar as caras na lista, ocupa o 53º.lugar (89), vizinho do Chile que se agarrou ao 55º (88).
Aí fui passando os olhos lista abaixo, com o coração apertado, à procura do Brasil. Ai, meu Deus, será que estamos lá embaixo, no fundo do poço? Bem, não sei se isso consola, mas tem gente pior do que nós. Eu juraria que os Emirados Árabes e a Arabia Saudita, que estão deitados, não em berço esplêndido, mas sobre poços de petróleo, nos deixariam comendo poeira ou cheirando gasolina. Mas estão bem mal na fita, em 72º. (82 pontos) e 89º. (77) lugares, respectivamente.
O Brasil ficou em 66º. lugar, com 83 pontos, espremido entre o Paraguai e as Filipinas. Já disseram que o Brasil é “o país do amanhã”, ao que algum engraçadinho retrucou: “Pena que amanhã é feriado”. Pode ser então que num amanhã ainda distante, mas que seja dia útil, a gente chegue a uma posição menos humilde. Podíamos começar declamando e praticando os versos de Castro Alves (inteligentíssimo!): “Oh, bendito o que semeia livros.../ Livros à mancheia/ e faz o povo pensar!/ que o livro caindo n´alma/ É germe ─ que faz a palma/ É chuva ─ que faz o mar”.
Por fim, citemos os últimos colocados, aqueles que, por suas desventuras passadas e as condições em que vivem no presente, certamente têm muita inteligência, mas oculta como um diamante no fundo da terra, ou uma flor no lugar mais ignoto da floresta. Gâmbia: 55 pontos (118º. lugar), Guatemala: 55 (119º.), Serra Leoa: 52 (120º.) e, lanterna dos lanternas, Nepal: 51 pontinhos (121º.).
Agora, falando francamente: se você for testado, a colocação brasileira melhora ou piora?
PS - O texto acima é uma crônica e não um artigo científico: portanto, não pode ser lido como se expressasse verdades absolutas. Os números são de uma pesquisa realizada entre 2000 o e 2019: em cinco anos muita coisa pode ter mudado. As questões dos testes foram elaboradas e resolvidas por europeus: nada prova que se apliquem a todos os povos e culturas. Os testes de QI avaliam principalmente o tipo de inteligência mais valorizado nos sistemas de ensino asiáticos: outras formas de inteligência são também valiosas.
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