─ Olha lá! Olha lá! Será que é ele mesmo, Astrênio?
─ É ele sim, Dalvinéia! Ele já tá até rascunhando as dedicatórias!
─ Ainda bem que a gente chegou na frente... Meio cedo, mas também assim a gente evita a filona que vai ter daqui a pouco.
─ É, esse prédio tem entrada, porta e escada pra tudo quanto é lado. Se a gente não chega cedo, ia mais era se perder. Capaz que nem chegasse a tempo.
─ Ainda bem que a gente comprou o livro antes. Vamos lá, aproveita que ele tá sozinho.
─ Com licença... Boa noite, professor. A gente já trouxe o livro, professor.
─ Olha lá! Olha lá! Será que é ele mesmo, Astrênio?
─ É ele sim, Dalvinéia! Ele já tá até rascunhando as dedicatórias!
─ Ainda bem que a gente chegou na frente... Meio cedo, mas também assim a gente evita a filona que vai ter daqui a pouco.
─ É, esse prédio tem entrada, porta e escada pra tudo quanto é lado. Se a gente não chega cedo, ia mais era se perder. Capaz que nem chegasse a tempo.
─ Ainda bem que a gente comprou o livro antes. Vamos lá, aproveita que ele tá sozinho.
─ Com licença... Boa noite, professor. A gente já trouxe o livro, professor.
─ O livro? Ah, já sei...
─ A gente queria, professor, que o senhor fizesse uma dedicatória bonita... Nós somos seus fãs de carteirinha.
─ Ah, sim! Pois então...
─ Nada de modéstia, professor. O senhor acredita que minha cunhada Marilice engravidou lendo seu livro “Como ser feliz no casamento apesar do marido”? Deu certinho! Antes da página quarenta ela já tava de barriga!
─ Astrênio, fala pra ele daquele teu amigo! Bebia que nem gambá, vivia mais apertado que piolho em pente fino. Ele leu a obra-prima “O problema não é beber, é ficar bêbado”. Não parou de beber, mas agora anda numa alegria que até irrita a gente.
─ Pra falar a verdade, a gente ainda não leu nenhum livro seu, professor. Vamos começar com esse aqui: “Nem mesmo no céu tudo são flores”. Estamos sendo sinceros. O senhor não acha que todo mundo deve ser sincero?
─ Achar eu acho, só que...
─ Tem uns críticos analfabetos por aí que dizem que isso tudo é alto-ajuda de má qualidade, que o senhor é o rei do lugar-comum, mas eu e a Dalvinéia achamos que o senhor tinha mais era que estar na Academia, no lugar do tal Carlos Drummond de Andrade, que ninguém sabe quem é.
─ Daqui a pouco chega a multidão, então a gente veio cedo pra ter essa conversa de coração com o senhor, é ou não é, Astrênio?
─ É... De coração. Professor, faz aí a dedicatória. “Para Dalvinéia e Astrênio. Que a vida lhes seja leve como uma pétala de flor soprada pelo vento suave”. Ficou bonito, não ficou?
─ Ficou, mas eu preferia...
─ Hi, professor, não precisa esquentar cabeça! Essa dedicatória eu e a Dalvinéia gastamos quase um caderno inteiro, merece ser escrita.
─ Bem, não me custa nada, no entanto... Eu gostaria...
─ Outro dia vi o senhor na televisão. Quer dizer, ver, não vi, o senhor já tava saindo de costa, mas só o “boa noite” que o senhor deu já foi uma lição de vida.
─ Professor, o senhor não sabe a luta que foi chegar aqui na frente dos outros... Esse prédio tem não sei quantas entradas. Escreve aí e assina, professor.
─ Bem, já que vocês insistem. Lá vai: Para Dalvinéia e Astrênio. Que a vida lhes seja leve como uma pétala de flor soprada pelo vento suave. João Raimundo Mosteiro.
─ Ué! Que história é essa de Mosteiro, professor Antônio Félix Carranca?
─ Mosteiro sou eu. O Carranca está lançando um livro no outro lado do prédio, terceiro andar, sala 3001.
─ Cara... Caramba! Por que não falou logo que não era o escritor! A gente aqui gastando tempo e saliva... Vai ver que o verdadeiro Carranca até já foi embora...
─ Eu tentei falar... Vai lá e pede a ele para assinar embaixo. Aliás, quem geralmente assina por ele é a secretária. Vai lá que, se o Carranca já foi embora, a secretária assina pra vocês. É tudo a mesma coisa. Boa Noite. E que a vida lhes seja leve... etc. e tal.
─ Cada picareta que a gente encontra, hem, Dalvinéia? Um professorzinho qualquer, se fazendo passar por escritor. Picareta!
Deixe o seu comentário