Blog de roberiocanto_18846

Sem desperdício

terça-feira, 27 de junho de 2023

Cada cômodo é um brechó enlouquecido

Cada cômodo é um brechó enlouquecido

Outro dia li que a prefeitura do Rio recebe centenas de reclamações contra guardadores. A princípio pensei que fossem contra os chamados guardadores de carros, que não guardam nada, mas são assim chamados e acatados. Começaram conhecidos como flanelinhas, por causa do pedaço de pano que usavam para esfregar os vidros dos carros em troca de uma gorjeta, mais ou menos espontânea. Aos poucos foram se profissionalizando, e hoje melhor seria que os intitulássemos “os donos do pedaço”. Privatizaram as ruas, cada trecho tem seu titular que, com ares de quem comanda o tráfego e a cidade, indica onde o motorista pode passar ou parar. Mostra a guia pintada de amarelo e faz sinal para que o carro seja estacionado ali mesmo, com a explicação mais suscinta e definitiva possível: o polegar levantado, como quem diz: “Deixa comigo, aqui mando eu”.

Mas não era de guardadores de carros que a notícia falava. As reclamações ─ certamente de vizinhos ─ são contra pessoas que guardam em casa tudo quanto podem, todo tipo de velharia, porcaria e inutilidade. Já tem inclusive diaristas especializadas no que denominam “limpeza do bem”, ou coisa parecida. São experts em jogar lixo fora, às vezes enfrentando a cara amarrada, quando não as lágrimas da dona da casa. Parênteses para explicar que digo “donas da casa”, e não “donos”, porque os imóveis a serem desentupidos geralmente são capitaneados por mulheres que, como se sabe, desde Adão e Eva são mais afetivas e mais apegadas às coisas do lar.

Tem de tudo para todos os gostos. Cada cômodo é um brechó enlouquecido. Panelas sem cabo e sem tampa (e eventualmente sem fundo); pé esquerdo de chinelo sem o seu companheiro de andanças; cadeiras sem assento; livros com acentos usados em 1940; vidros de remédios vazios, uma boneca sem cabeça e outra tão suja que é quase impossível descobrir onde ficam os braços e onde ficam os pés. Sem falar na foto de Carlos Gardel, que ninguém sabe como foi parar ali.

Numa das casas visitadas a “limpadora do bem” encontrou dezenas de caixas de papelão, de todos os tamanhos e formatos. “Eu tive que almoçar no corredor, porque as caixas ocupavam as mesas, cadeiras e sofás. Até para usar o vaso sanitário era preciso antes tirar algumas caixas do caminho”.  A explicação da moradora, mutatis mutandis, foi a mesma de todos (bem, a tal esquesitice não é exclusividade feminina) os guardadores. Acham que em algum momento futuro vão necessitar daquilo que agora é tido como inútil. Uma delas confessou que diversas vezes enfiou tudo em sacos para pôr no lixo, mas depois ficou com medo de precisar de alguma coisa do que ia jogar fora.  Desfez o saco e de novo entulhou armários e gavetas, embaixo da cama e em cima do guarda-roupas, para alegria das baratas e desespero do marido e dos filhos.

A prefeitura carioca garante que oferece, além da remoção do entulho, assistência psicológica aos guardadores, para que, assim orientados, parem de guardar. Ainda se guardassem dinheiro! Mas, mesmo que tivessem dinheiro, onde achariam espaço em casa para guardá-lo?

É um distúrbio psicológico, sem dúvida. Mas também nós, que não guardamos panelas furadas, se não nos cuidarmos, aos poucos vamos estocando velhos ressentimentos, mágoas injustificadas, ideias pregadas na mente e despregadas da realidade, conceitos e preconceitos do tempo do onça, medos que vieram lá da infância e que nunca conseguimos jogar na lixeira do esquecimento. Felizmente existem faxineiras do bem inclusive para esses casos, e pode ser que uma delas esteja bem ao nosso lado. Diz o ditado que cabeça vazia é oficina do diabo. Pior ainda é a cabeça cheia de porcarias: aí mesmo é que o diabo deita e rola.

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Ganhar para não fazer nada

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Morimoto adianta que não faz sexo, não carrega peso, não discute

Estava escrito no mural: “O trabalho enobrece o homem”. Alguém, mais realista, ou mais pessimista, corrigiu por cima: “emagrece”. São duas maneiras de se encarar a questão, cada uma delas deve ter algum fundamento, que pouca coisa neste mundo ─ provavelmente nada neste mundo ─ é absolutamente preto ou branco (basta olhar a cara dos brasileiros!).

Morimoto adianta que não faz sexo, não carrega peso, não discute

Estava escrito no mural: “O trabalho enobrece o homem”. Alguém, mais realista, ou mais pessimista, corrigiu por cima: “emagrece”. São duas maneiras de se encarar a questão, cada uma delas deve ter algum fundamento, que pouca coisa neste mundo ─ provavelmente nada neste mundo ─ é absolutamente preto ou branco (basta olhar a cara dos brasileiros!).

Não sei se o leitor acha que o trabalho enobrece ou emagrece. No geral, ele enriquece alguns poucos e deixa a grande maioria a contar os centavos para pagar as contas no fim do mês. Muitos são os que conseguem apenas (se tanto!) pagar a conta (no singular), porque não é fácil acertar tudo de uma tacada só: numa vez paga-se a luz, na outra paga-se a água, na outra compra-se o gás, e assim vai-se levando a vida, até que chegue a morte ou coisa parecida, como dizia o cantor Belchior.

Há trabalhos que, além de pouco reconhecidos, são pesados e mal pagos. Cansa! Quem não gostaria de encontrar uma moleza, um desses empregos em que, em câmaras e palácios, servidores do povo, de terno e gravata, tribunas e assessores e cafezinhos, definem quando e quanto trabalharão, quando e quanto receberão pelo trabalho que fizerem ou mesmo que não fizerem?

Mas em matéria de ganhar dinheiro sem fazer força, ninguém supera o cidadão japonês Shoji Morimoto. Ele mesmo define sua ocupação profissional como “comer, beber e dar respostas simples”. Qual é a mágica que esse sábio nipônico faz para viver bem, sustentar mulher e filho, sem fazer nada? Segundo a Agência Reuters de Notícias, Morimoto se oferece para acompanhar. E daí? Não tem daí nenhum. Sua função é apenas acompanhar pessoas que se disponham a lhe pagar R$ 367,00 para tê-lo ao lado delas por um dia.

Morimoto adianta que não faz sexo, não carrega peso, não discute. Apenas acompanha. Não é muito, mas não lhe faltam fregueses, e ele costuma fazer ao menos dois acompanhamentos por dia. Pode ser que essa profissão seja uma particularidade de países como o Japão, que, tendo gente demais, acaba fazendo com que muitos vivam na solidão. E aí, achar alguém que aceite andar conosco, sem perguntar aonde vamos ou o que vamos fazer, sem dar opinião contra ou a favor de qualquer coisa, é uma bênção dos céus. Quer você chore, quer você dance, quer simplesmente você sente num banco de praça e fique jogando milho aos pombos, o acompanhante está ao seu lado, solidário e inútil.

Como sabe o douto leitor, trabalho vem do latim tripalium, e designava um instrumento de três pontas usado para imobilizar animais a serem ferrados. Como os escravos eram considerados pouco mais ou pouco menos do que os animais, para castigá-los ou fazê-los trabalhar, passou-se a usar o tripalium. Daí que tripalium e trabalho logo tornaram-se sinônimos. É mais ou menos isso, talvez eu tenha distorcido um pouco, não me levem a mal nem me levem a sério.

Um filósofo concluiu que “todo trabalho supõe tendência para um fim e esforço”. Shoji Morimoto descobriu um meio de atingir um fim sem fazer esforço. Realmente, temos que reconhecer a superior inteligência nipônica, que até sem fazer nada consegue ganhar dinheiro.

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Delícias da culinária internacional

terça-feira, 30 de maio de 2023

No Laos, o mais apreciado é o rato à milanesa

No Laos, o mais apreciado é o rato à milanesa

Tem gosto pra tudo neste mundo, inclusive em se tratando de alimentação. Sem irmos muito longe, aqui mesmo no Brasil tem uns pratos que devem revirar o estômago dos estrangeiros, só de ouvir o nome. Imagine o rei da Inglaterra indo almoçar no Itamaraty e ser informado de que o prato do dia é a nossa famosa buchada, que se constitui das seguintes delícias: rins, fígado e vísceras, tudo cozido em uma bolsa feita com o estômago de bode, que, aliás, é o fornecedor involuntário de todos os ingredientes. É de fazer Sua Majestade renunciar ao trono e, no entanto, no Nordeste do Brasil é considerado um manjar digno dos reis e dos deuses.

Imaginemos agora que o chef de alguns dos restaurantes de nossa cidade esteja querendo oferecer aos seus clientes algumas novidades culinárias. A fim de poupar-lhe o esforço de viajar a terras longínquas para conhecer as delícias locais, descrevo aqui algumas das iguarias mais apreciadas fora do Brasil, segundo a internet.

Comecemos com um prato muito popular na Escócia. Lá eles cozinham uma bolota feita com o pulmão, o estômago, o fígado e o coração de uma inocente ovelhinha. Servem com nabo e purê de batata. O que salva é que o caldo é obtido com a adição de uísque. Os escoceses lambem os beiços. Já a Itália, para quem pensa que lá como cá tudo acaba em pizza, tem um delicioso queijo cujo processo de fabricação é, para dizer o mínimo, originalíssimo. O dito queijo é recheado com larvas, as quais serenamente se hospedam nos buracos deixados no produto justamente para que elas ali se acomodem. Então, quando as moscas nascem, o queijo está no ponto para ser consumido. Uma delícia! (Ou um nojo, as opiniões variam).

Se o nosso chef quiser copiar uma receita do Camboja, poderá fazer um prato que certamente encherá seu estabelecimento de fregueses e triplicará a venda de cerveja. Trata-se um petisco feito com a saborosa carne de aranha, dividindo-se a preferência dos gourmets entre as tarântulas e as caranguejeiras. Por prudência, retiram-se os pelos das bichinhas, que é onde o veneno se concentra. No mais, é só acrescentar sal, açúcar, pimenta e alho. Umas cachacinhas antes e outras depois devem ir muito bem.

Para quem aprecia uma boa carne, o Camboja oferece também o churrasco de crocodilo. Só que lá não tem esse negócio de perder tempo com grelha e carvão. A posta é colocada na mesa ainda crua, e o comensal é que vai passando-a numa chapa quente até atingir o ponto que lhe agrade. Talvez seja uma forma que eles acharam de se vingar da falta de cerimônia com que os crocodilos também devoram carne humana.

No Laos, o mais apreciado é o rato à milanesa. Se der bobeira, nem Mickey Mouse escapa. Carne muito versátil, pode ser servida cozida ou assada, e o bicho pode vir inteiro ou em pedaços. Para que nem o rabo se perca, usam-se palitinhos para pescar as fatias. E pensar que em Nova York o prefeito nomeou uma comissária, com salário de 64 mil dólares anuais, para comandar uma equipe de caça às ratazanas (um desperdício de dinheiro e de comida!). Milhões delas habitam os subterrâneos da cidade, mas frequentemente sobem à superfície para ver como andam as coisas nas casas, restaurantes, hospitais, lugares onde, aliás, costumam ser muito mal recebidas.  

Especialmente apreciado nas Filipinas é o ovo de pato. Ora, dirá você, isso até eu como. A diferença é que lá come-se o ovo fecundado, ou seja, com o embrião do patinho ainda lá dentro. É uma maneira de consumir carne, clara e gema de uma só garfada. Também não faltam lugares onde os insetos constituem umas das refeições prediletas. Fritos, assados, bem temperadinhos, não há quem resista a um bom prato de besouro, abelha, gafanhoto (João Batista era fã), cupins, moscas, cigarras e – para os paladares mais refinados – baratas!

Creio que já dei bastantes sugestões. Caso sua esposa pretenda arriscar uma dessas delícias para o almoço do próximo domingo, meu conselho, amigo, é que você vá almoçar no pé sujo mais próximo.

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Teófilo, Maria, Conceição

terça-feira, 16 de maio de 2023

Melhor seria se houvesse uma lei proibindo os filhos de escreverem sobre suas mães

Melhor seria se houvesse uma lei proibindo os filhos de escreverem sobre suas mães

Escrevo em jornais há tantos anos que não sei como não conheci Gutenberg pessoalmente. Deve ter sido por pouco. Nesse tempo todo, nem que seja por acaso ou por descuido, há de ter acontecido que eu tenha escrito alguma coisa que se aproveite. Mas também, por ignorância, desinformação ou incompetência, eu certamente disse muitas palavras, frases, textos inteiros de que os leitores mereciam ter sido poupados (e assim me admirariam não pelo que escrevi, mas pelo que deixei de escrever). Mas também entre escritores ─ mesmo os grandes e famosos ─ houve quem abominasse obras que tinha posto no mundo. Veja o que disseram Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão sobre “Os Mistérios da Estrada de Sintra”, que haviam perpetrado a quatro mãos: “O que pensamos hoje do romance que escrevemos há quatorze anos? ─ louvores a Deus! ─ que ele é execrável, e nenhum de nós, quer como romancista, quer como crítico, deseja ao seu pior inimigo um livro igual”. E assim justificaram a sua publicação: “Consentimo-lo porque entendemos que nenhum trabalhador deve envergonhar-se do seu trabalho”.

Ainda bem que os leitores em geral têm a gentileza de ficar calados quando não gostam, e de se manifestarem quando acontece o contrário.  Assim, de vez em quando recebo uma mensagem, um comentário, às vezes até um elogio. Lembro, por exemplo, de uma senhora que me parou na rua para dizer que tinha se emocionado até as lágrimas com uma de minhas crônicas. Eram lembranças de meu avô e logo ficou claro para mim que o mérito era dele, e não meu. Ela o havia conhecido e estimado e, ao ler sobre ele, reviveu um passado em que, jovem, fora vizinha de Seu Teófilo Chardelli, um senhor trabalhador, sério e educado. Mas eu não deixei de me considerar ao menos um pouco merecedor daquelas lágrimas, pois foram minhas palavras que colocaram meu avô novamente diante dela, tantos anos depois de ele ter ido para o céu, onde também, com toda certeza, conquistou muitos admiradores, que não era sem razão que ele se chamava Teófilo: amigo de Deus.

Falar de meu avô desperta em mim a vontade de falar também de duas mulheres que habitaram minha vida e até hoje habitam minha memória e meu coração. Minha avó, Maria Maturo Chardelli, nascera na Itália, se criara no Brasil e guardava em si o que de melhor podia haver nessa mistura de temperamentos ítalo-brasileiros. Tanto eu quanto meus irmãos e irmãs, quando pequenos, vivíamos mais na casa dela do que na nossa. E mesmo depois de adulto continuei indo lá com frequência, era um dos meus programas habituais das tardes de sábado. Ela me conhecia desde o dia do meu nascimento, portanto, desde antes que eu mesmo me conhecesse. No entanto, ainda que me tivesse visto há poucos dias, me recebia como se há anos não pusesse os olhos em mim.

A outra, Dona Conceição Chardelli Canto. Até evito falar ou escrever sobre ela, porque mesmo que escrevesse outra Bíblia não poderia dar sequer uma ideia da mãe que ela foi, a um só tempo tão humilde e tão dedicada. Era o coração da família. Coração que se sacrificou inteiramente pelos filhos e nunca achou que tinha feito qualquer sacrifício por eles. Não é possível voltar ao passado, a vida não tem segunda via. Mas eu, se pudesse voltar, era só para fazer de novo alguma coisa com que eu a tenha deixado feliz e pedir perdão a ela pelas muitas coisas que fiz ou que deixei de fazer e que a magoaram.

Mas o que eu acho mesmo é que ninguém devia escrever sobre a própria mãe, porque, por melhor que o faça, sempre vai ficar devendo muito, vai ficar sempre muito aquém do que queria e devia dizer. Melhor seria se houvesse uma lei proibindo os filhos de escreverem sobre suas mães, porque, eles, por mais que as elogiem, as reduzem.

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Em busca da beleza perdida

terça-feira, 02 de maio de 2023

Nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus

Um outrora famoso humorista brasileiro, já nas últimas curvas da estrada que leva aos noventa anos (e depois leva sabe-se lá para onde) submeteu-se àquela reforma eufemisticamente conhecida como harmonização facial. Não sei bem que cara ele tinha antes, mas pelas fotos que vi, não acredito que a reforma tenha harmonizado grandes coisas. Pode ser que agora ele esteja de fato um pouco mais bonito, até porque pior do que estava era difícil ficar.

Nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus

Um outrora famoso humorista brasileiro, já nas últimas curvas da estrada que leva aos noventa anos (e depois leva sabe-se lá para onde) submeteu-se àquela reforma eufemisticamente conhecida como harmonização facial. Não sei bem que cara ele tinha antes, mas pelas fotos que vi, não acredito que a reforma tenha harmonizado grandes coisas. Pode ser que agora ele esteja de fato um pouco mais bonito, até porque pior do que estava era difícil ficar.

Na minha humilíssima opinião, ele chegou a uma idade em que melhor faria se começasse a harmonizar a alma para aquela longa viagem sem volta do que insistir em impressionar os outros com seus últimos encantos. Não que eu seja contra a beleza. Muito pelo contrário. Nas mulheres, a beleza é o colírio do mundo e mesmo nos homens ela não faz nenhum mal às vistas. Quando pousa na natureza ou nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus. As feias não me levem a mal, mas não há como não concordar com Vinícius de Moraes: “A beleza é fundamental”. Apesar de que, segundo afirma um etílico ditado, “Não existe mulher feia, você é que bebeu pouco”, ou, ainda segundo outro anexim (que palavra antiga!), “Quem ama o feio bonito lhe parece”.

Mas o que surpreende no caso desse senhor (se é que alguma coisa ainda nos pode surpreender neste mundo de espantos em que ora vivemos) é essa obsessão por uma cara bonita, numa idade em que ela pouco ou nada pode acrescentar à felicidade da pessoa, e nada mais a justifica, salvo o caso de o sujeito ser tão horroroso que assuste as criancinhas. Como o caso daquele homem que, acusado de ser feio além da conta, prometeu matar-se caso lhe mostrassem alguém que, por se assemelhar a ele, o convencesse da própria feiura.

Muitos monstrengos foram trazidos à sua presença, mas nenhum deles lhe causou grande impressão. Assim foi por vários anos, até o dia em que apareceu um forasteiro que era a perfeita mistura do Corcunda de Notre Dame com Frankenstein. Ao deparar-se enfim com alguém que o enfrentava no quesito horrorosidade, deu-se por vencido: “Se eu sou tão feio quanto ele, mereço morrer”, e cumpriu a promessa. Bastou esse simples gesto de humildade para que o mundo imediatamente ficasse um pouco mais bonito.

Grande é a vaidade humana. Está lá no Eclesiastes: “Vaidade de vaidades. É tudo vaidade”. Cada um de nós tem a sua, e a mais grave talvez seja justamente alguém achar-se uma pessoa sem vaidade.  É bom e louvável que procuremos ser em tudo um pouco melhor a cada dia, mas também é bom nos aceitarmos como somos, porque Sancho Pança, que era ingênuo, mas não era idiota, já dizia ao seu mestre Dom Quixote que “Cada qual é como Deus o fez, e muitas vezes ainda pior”.

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Noite de autógrafos

terça-feira, 18 de abril de 2023

─ Olha lá! Olha lá! Será que é ele mesmo, Astrênio?

─ É ele sim, Dalvinéia! Ele já tá até rascunhando as dedicatórias!

─ Ainda bem que a gente chegou na frente... Meio cedo, mas também assim a gente evita a filona que vai ter daqui a pouco.

─ É, esse prédio tem entrada, porta e escada pra tudo quanto é lado. Se a gente não chega cedo, ia mais era se perder. Capaz que nem chegasse a tempo.

─ Ainda bem que a gente comprou o livro antes. Vamos lá, aproveita que ele tá sozinho.

─ Com licença... Boa noite, professor. A gente já trouxe o livro, professor.

─ Olha lá! Olha lá! Será que é ele mesmo, Astrênio?

─ É ele sim, Dalvinéia! Ele já tá até rascunhando as dedicatórias!

─ Ainda bem que a gente chegou na frente... Meio cedo, mas também assim a gente evita a filona que vai ter daqui a pouco.

─ É, esse prédio tem entrada, porta e escada pra tudo quanto é lado. Se a gente não chega cedo, ia mais era se perder. Capaz que nem chegasse a tempo.

─ Ainda bem que a gente comprou o livro antes. Vamos lá, aproveita que ele tá sozinho.

─ Com licença... Boa noite, professor. A gente já trouxe o livro, professor.

─ O livro? Ah, já sei...

─ A gente queria, professor, que o senhor fizesse uma dedicatória bonita... Nós somos seus fãs de carteirinha.

─ Ah, sim! Pois então...

─ Nada de modéstia, professor. O senhor acredita que minha cunhada Marilice engravidou lendo seu livro “Como ser feliz no casamento apesar do marido”? Deu certinho! Antes da página quarenta ela já tava de barriga!

─ Astrênio, fala pra ele daquele teu amigo! Bebia que nem gambá, vivia mais apertado que piolho em pente fino. Ele leu a obra-prima “O problema não é beber, é ficar bêbado”. Não parou de beber, mas agora anda numa alegria que até irrita a gente.

─ Pra falar a verdade, a gente ainda não leu nenhum livro seu, professor. Vamos começar com esse aqui: “Nem mesmo no céu tudo são flores”. Estamos sendo sinceros. O senhor não acha que todo mundo deve ser sincero?

─ Achar eu acho, só que...

─ Tem uns críticos analfabetos por aí que dizem que isso tudo é alto-ajuda de má qualidade, que o senhor é o rei do lugar-comum, mas eu e a Dalvinéia achamos que o senhor tinha mais era que estar na Academia, no lugar do tal Carlos Drummond de Andrade, que ninguém sabe quem é.

─ Daqui a pouco chega a multidão, então a gente veio cedo pra ter essa conversa de coração com o senhor, é ou não é, Astrênio?

─ É... De coração. Professor, faz aí a dedicatória. “Para Dalvinéia e Astrênio. Que a vida lhes seja leve como uma pétala de flor soprada pelo vento suave”. Ficou bonito, não ficou?

─ Ficou, mas eu preferia...

─ Hi, professor, não precisa esquentar cabeça! Essa dedicatória eu e a Dalvinéia gastamos quase um caderno inteiro, merece ser escrita.

─ Bem, não me custa nada, no entanto... Eu gostaria...

─ Outro dia vi o senhor na televisão. Quer dizer, ver, não vi, o senhor já tava saindo de costa, mas só o “boa noite” que o senhor deu já foi uma lição de vida.

─ Professor, o senhor não sabe a luta que foi chegar aqui na frente dos outros... Esse prédio tem não sei quantas entradas. Escreve aí e assina, professor.

─ Bem, já que vocês insistem. Lá vai: Para Dalvinéia e Astrênio. Que a vida lhes seja leve como uma pétala de flor soprada pelo vento suave. João Raimundo Mosteiro.

─ Ué! Que história é essa de Mosteiro, professor Antônio Félix Carranca?

─ Mosteiro sou eu. O Carranca está lançando um livro no outro lado do prédio, terceiro andar, sala 3001.

─ Cara... Caramba! Por que não falou logo que não era o escritor! A gente aqui gastando tempo e saliva... Vai ver que o verdadeiro Carranca até já foi embora...

─ Eu tentei falar... Vai lá e pede a ele para assinar embaixo. Aliás, quem geralmente assina por ele é a secretária. Vai lá que, se o Carranca já foi embora, a secretária assina pra vocês. É tudo a mesma coisa. Boa Noite. E que a vida lhes seja leve... etc. e tal.

─ Cada picareta que a gente encontra, hem, Dalvinéia? Um professorzinho qualquer, se fazendo passar por escritor. Picareta!

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Aniversário do jornal

sexta-feira, 07 de abril de 2023

A cada texto meu na coluna Escrevivendo, constato que tanto as pessoas mais cultas, que têm o hábito de leitura, quanto as de modesta escolaridade, tomam conhecimento do que publiquei. Um comentário, uma palavra, às vezes apenas um gesto, e eu me certifico de que ali está um leitor de A VOZ DA SERRA.

E essa é apenas uma das formas pelas quais percebo a repercussão que o jornal alcança nos diferentes estratos da sociedade friburguense, e como grande parte da população nele se baseia para saber o que está acontecendo, para clarear as ideias, para formar opinião.

A cada texto meu na coluna Escrevivendo, constato que tanto as pessoas mais cultas, que têm o hábito de leitura, quanto as de modesta escolaridade, tomam conhecimento do que publiquei. Um comentário, uma palavra, às vezes apenas um gesto, e eu me certifico de que ali está um leitor de A VOZ DA SERRA.

E essa é apenas uma das formas pelas quais percebo a repercussão que o jornal alcança nos diferentes estratos da sociedade friburguense, e como grande parte da população nele se baseia para saber o que está acontecendo, para clarear as ideias, para formar opinião.

Isso certamente se deve à credibilidade do jornal, credibilidade que é uma tradição de 78 anos. A apuração dos fatos, a opinião equilibrada, a variedade de assuntos, a coerência entre o que opina e o que informa, a qualidade gráfica, são algumas das razões que levam os leitores a lerem e a confiarem em AVS.

Neste dia 7 de abril, em que por feliz coincidência se comemora o Dia do Jornalista, A VOZ DA SERRA mais uma vez se faz ouvir, respeitar e admirar. A todos que, ao longo desses anos o conduziram e a todos que atualmente o põe nas bancas, a minha homenagem e os meus aplausos.

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Micronarrativas

terça-feira, 28 de março de 2023

Escrever pouco e, ainda assim, dizer algo

Escrever pouco e, ainda assim, dizer algo

”Inutilia Truncat”, recomendavam os poetas árcades. Cortar o inútil é sempre um bom conselho, tanto na vida quanto na literatura. Esquecer aquela mágoa tão antiga, livrar-se das roupas há muito penduradas nos cabides, tirar do texto as palavras inutilmente penduradas nas frases. Como tão bem fazia Graciliano Ramos, como fez sobretudo em “Vidas Secas”. Bem sei que há obras, como as de Guimarães Rosa, que são oceanos de palavras, mas só quando se é Guimarães Rosa é que se pode navegar pelos mares e dicionários conhecidos e ainda inventar outros tantos. Nos demais casos, é uma grande qualidade ser econômico e mesmo avarento ao escrever (e não menos ao falar). Além do que, como ensinou Winston Churchill, “das palavras, a menor; das menores, a mais simples”.

Um exercício interessante para ir-se libertando do palavrório é dedicar-se à criação das chamadas micronarrativas: nanocontos, microcontos, minicontos. São contos, como o nome indica, mas geralmente limitados a 50, 150, 300 caracteres respectivamente, considerando-se como tal não apenas as letras, mas também a pontuação e os espaços, ou seja: qualquer toque no teclado. É um desafio sintetizar em poucas palavras uma ideia, uma emoção, um sentimento. A partir de um estímulo ocasional, contar uma história. Ou, na verdade, apenas lançar uma isca, convidando o leitor a usar a imaginação e a criatividade para mentalmente concluir o que no texto é sugestão e lacuna.

Ultimamente tenho feito esse desafio a mim mesmo. E hoje convido você a ser coautor/a dessas tentativas de escrever pouco e, ainda assim, dizer algo que mereça a atenção e a reflexão dos leitores. Eis aí alguns dos meus microcontos. Conto com a sua parceria para que eles, afinal, “digam” alguma coisa que valha o tempo de terem sido lidos.

CONTRATEMPO - Homem segurando a mão da mulher:

─ Mas o Flamengo atrapalha em quê?

─ O Alfredo não vai sair de casa hoje. Vai ficar vendo o jogo pela TV.

DESCUIDO - Contemplei admirado a madeira maciça da porta que meu amigo fechava. No hospital, lamentei gemendo não ter tirado a mão a tempo.

TREVAS - Emocionado, abraçou a filhinha e suavemente tocou em seu rosto. Todos diziam que ela era linda. Queria tanto não ser cego!

SINA - Desde criança tinha um medo horrível de morrer engasgado. Até o dia em que um caroço de azeitona pôs fim a todos os seus medos.

DESCOBERTA - Tinham sido namorados. Ao reencontrá-la dez anos depois, olhou o menino que estava com ela e compreendeu que era pai.

GATILHO - Ele sabia por quem os sinos dobram e que o sol também se levanta. Mas, apesar de ter dado adeus às armas, pegou a espingarda e a colocou sob o queixo.

VOO - A estrada era muito sinuosa. “Não corra tanto”, ela pediu. Mas ele não lhe deu ouvidos e na curva seguinte as palavras dela caíram no vazio.

SURPRESA - Voltou mais cedo, disposto surpreender a mulher e levá-la para o quarto. Quase enfartou ao constatar que os dois lugares da cama já estavam ocupados.

PÁ DE CAL - Devia ter feito as pazes com o pai, ia pensando enquanto Segurava a alça do caixão.

PÊNALTI - O Saci Pererê chutou a bola e fez o gol, mas levou o maior tombo.

ROMANCE - Era um homem bonito, apaixonado e ... solteiro. Tereza viveu feliz com ele, até o dia em que uma mulher com duas crianças bateu na porta da casa dela.

PRIMAVERA - Luisinho apaixonou-se pela prima Vera. O parentesco não era problema. O problema era ele ter oito anos, ela ter vinte e cinco e ser noiva do Marcão.

RIQUEZA - Gouveia era um sujeito que vivia para juntar dinheiro. Aos trinta, já possuía uma fortuna que dava para ele viver 200 anos. Morreu aos trinta e dois.

LOUCURA - Na família, só ele são. Pai, Getúlio Vargas; irmã, Princesa Isabel. Após visitá-los no hospício, saiu decidido a proclamar a Independência do Brasil.

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Notícias mortais

terça-feira, 14 de março de 2023

A morte abomina hipérboles e eufemismos

A morte abomina hipérboles e eufemismos

Importamos dos Estados Unidos a expressão fake news porque, para os brasileiros, até notícia falsa parece mais verdadeira se anunciada em inglês. Mas, com a criatividade que não nos falta, rapidamente ultrapassamos os americanos e todos os demais povos do mundo na produção de mentiras online. Pena que não exista Nobel para criadores de lorotas, calúnias, invencionices, desinformação e coisas afins, ou certamente algum brasileiro já teria ido a Estocolmo receber seu merecido prêmio. Ou talvez o prêmio fosse dado a nosso povo em geral, tantos são entre nós os praticantes dessa nova modalidade de comunicação.

Por exemplo: agora tornou-se comum anunciar (na CNN News se diz “repercutir” – mais um modismo!) a morte de alguém famoso. Só nesses últimos tempos “morreram” William Bonner e Silvio Santos. Acho que Ivete Sangalo também morreu. Outro que bateu as botas foi o presidente Lula, que está sendo substituído no cargo por um ator (infelizmente o artista teve que amputar um dedo para assumir o papel). E o mais interessante é que mesmo quando os falecidos vêm ao vivo informar que estão vivos, a notícia continua correndo, com muita gente chorando ou rindo, comemorando ou mandando mensagens de pesar para as famílias enlutadas.

Certa vez um jornal anunciou que Mark Twain tinha passado dessa para a melhor. Aliás, não sei se ele queria ir para esse “lugar melhor”, pois certa vez declarou que “Todo o humano é patético. A fonte secreta do humorismo não é a alegria, e sim a tristeza. No céu não há humorismo”. O autor de “O príncipe e o mendigo”, “As aventuras de Huckleberry Finn” e outros grandes livros, numa de suas muitas tiradas espirituosas, simplesmente comentou: “Foram um tanto exageradas as notícias de minha morte”. Mas na verdade com a morte não tem um pouco mais ou um pouco menos. Quem morreu, morreu. A morte abomina hipérboles e eufemismos.

Mas até sobre mim, o mais anônimo dos anônimos cidadãos deste município, já pesou a acusação de estar morto. Um tanto exageradamente, como diria Mark Twain, e a prova disso é que estou aqui digitando essa conversa fiada. Caminhava eu pelas calçadas quando notei que alguns passantes me olhavam com ar de espanto, talvez até de medo. Fosse de noite, não duvido que muitos sairiam correndo. Não é que eu seja bonito, muito pelo contrário, mas não chego a assustar as pessoas no escuro, menos ainda à luz do dia.

Não existe só uma Maria no mundo, mas falou-se numa delas, parece que todas as outras entram na conversa. Aconteceu que havia falecido um xará meu e houve quem pensasse que era a mim que a “Indesejada das Gentes” tinha vindo buscar. Ao me encontrarem na rua, aparentemente vivo, ficavam surpresos, sem saber se me davam parabéns ou pêsames.

O fato é que sobre cada um de nós, mais cedo ou mais tarde, essa notícia acaba se tornando verdadeira. É bem sensato este famoso conselho: “Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta”. O que me consola é saber que um triz após essa hora chegar para mim eu já estarei longe demais para me preocupar com isso. Mas não estou com a mínima pressa. Sou da mesma opinião que Woody Allen: “Eu não tenho nada contra a morte. Só não quero estar presente quando ela chegar”.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Perdas e ganhos

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

A essas alturas seus olhos, leitor, já devem estar molhados de lágrimas, tanta é a pena que você sente desses desafortunados senhores

A essas alturas seus olhos, leitor, já devem estar molhados de lágrimas, tanta é a pena que você sente desses desafortunados senhores

É só olhar as caras na rua, melhor ainda: no supermercado, na quitanda ou na padaria, para perceber que a vida, para a maioria dos brasileiros, está mais apertada do que pé 41 em sapato 38. Digo a maioria porque para alguns poucos a vida continua tão folgada quanto colarinho de palhaço. É o caso daqueles a quem as leis, que eles mesmos fizeram, concede o direito de definir os próprios salários. Vocês sabem de quem eu estou falando. O salário talvez nem seja o problema, o problema é que eles, com criatividade maior do que a de todos os ganhadores do Nobel juntos, inventaram uns tantos penduricalhos, com os quais fazem a mágica de duplicar ou triplicar seus vencimentos. Sim, eles têm vencimentos. Para o povão, sobra o gosto das derrotas no fim de cada mês.

Em todo caso, tanto num grupo quanto no outro ocorrem perdas e ganhos. Pode ser que você tenha visto sua renda minguar nos últimos meses e esteja apertando o cinto da família inteira, de modo que o cinto, que já estava no penúltimo furo, pule de vez para o último. E pelo andar da carruagem, não demora muito para que as coisas cheguem a um ponto em que não haja mais nem mesmo cinto para apertar ou barriga para ser apertada.

O consolo que lhe posso oferecer é que não foi só você que empobreceu nesses últimos tempos. Elon Musk, por exemplo, que tem carros na terra (Tesla) e foguetes no céu (SpaceX), viu seu patrimônio minguar em 140 bilhões de dólares. Se fosse em real, 140 bilhões já era uma perda de meter medo, em dólares então, nem se fala, é de se perder também a voz. Aí a gente se pergunta como é que um ser humano sobrevive a um tombo desses. Bem, ele ainda ficou dono de outros 130 bilhões (de dólares!), o que dá para ir tocando a vida, se o sujeito não for muito exigente ou esbanjado.

E Musk nem foi o único que ficou no prejuízo. Mark Zuckerberg, da Meta, empresa que entre outras coisinhas é dona do Facebook, continua brilhando como um dos bolsos mais recheados do mundo, mas ficou 81 bilhões de dólares mais pobre em poucos meses. Agora está condenado a viver, ao menos por uns tempos, com míseros 44 bilhões daquelas notinhas verdes que ostentam na frente a cara de George Washington.

A essas alturas seus olhos, leitor, já devem estar molhados de lágrimas, tanta é a pena que você sente desses desafortunados senhores. Nem vou lhe contar o resto da história. Jeff Bezos, da Amazon e da Blue Origin, viu correr pelo ralo 86 bilhões dos 192 que possuía. Do que restou, ou do que restar quando der adeus a este mundo cruel, ele promete doar a maior parte para obras de caridade. Sendo isso verdade, a gente até torce para ele recuperar a grana perdida e até aumentá-la.

O samba de Aldir Blanc garante que quanto “mais alto o coqueiro maior é o tombo”. Mas trilionários, quando perdem trilhões, sofrem menos com isso do que nós, simples mortais, enquanto esperamos o dia do pagamento. Pode enxugar as lágrimas, leitor. Musk, Zuckerberg e Bezos logo se recuperarão. Diz o ditado popular que dinheiro chama dinheiro. O prêmio da loteria não raro chega a 500 milhões de reais. Não é dólar, mas já é alguma coisa. Vai que você arrisca dez reais e esses dez chamam os outros R$ 499.000,990,00. Se isso acontecer, não esqueça que fui eu quem deu a ideia!

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