— Alô! Alô! É o professor Macário?
— Ele mesmo. A senhora podia falar um pouquinho mais alto?
— O senhor é o professor Macário, que os alunos chamam de professor Macabro?
— Essa eu ainda não conhecia. O próprio. Em que posso ajudar? Por favor, fale mais alto.
— Não posso, professor. É confidencial.
— Não seria melhor então a senhora vir ao colégio, falar pessoalmente?
— Professor Macabro... Desculpe... Macário. Tem alguém mais ouvindo nossa conversa?
— Não, ninguém. Qual o nome da senhora, por favor?
— Alô! Alô! É o professor Macário?
— Ele mesmo. A senhora podia falar um pouquinho mais alto?
— O senhor é o professor Macário, que os alunos chamam de professor Macabro?
— Essa eu ainda não conhecia. O próprio. Em que posso ajudar? Por favor, fale mais alto.
— Não posso, professor. É confidencial.
— Não seria melhor então a senhora vir ao colégio, falar pessoalmente?
— Professor Macabro... Desculpe... Macário. Tem alguém mais ouvindo nossa conversa?
— Não, ninguém. Qual o nome da senhora, por favor?
— A telefonista é de confiança? Sei lá, ela tem cara de fofoqueira. Fica ali dentro daquela gaiola, ouvindo tudo quanto é ligação...
— Dona Marly é de total confiança. Mais de dez anos na cabine telefônica. Olha, eu estou esperando um pessoal do sindicato. A senhora podia falar do que se trata?
— É confidencial, professor. É sobre um aluno do colégio. Mas, pelo amor de Deus, não fala pra ele que eu liguei, não. Tem certeza que D. Marly não tá escutando?
— Por favor, qual o nome da senhora, quem é o aluno e de que se trata? Acho melhor a senhora vir falar comigo.
— Já tou falando, professor. Professor Mancada... desculpe... Macabro... desculpe ... Macário. É o seguinte... Sincomoda de ir ver se a D. Marly não tá de orelha em pé, ouvindo a gente?
— Minha senhora, desculpe, mas estou esperando o pessoal do sindicato...
— Vou falar. Já que é pra falar, falo logo. É a professora de português, professor. Sem brincadeira, ela é macabra.
— Qual professora de português? O que tem ela?
— A professora do Luizinho... Sabe quem é Luizinho, não sabe? Ou vai me dizer que não conhece os alunos do seu colégio!
— O colégio tem mil e duzentos alunos, minha senhora. Olha, o pessoal do sindicato já está lá fora... Qual é problema do Luizinho?
— Do Luizinho, não! Contra o Luizinho, isso sim!
— E qual o problema... vá lá!, contra o Luizinho?
— A redação, professor. Merecia pelo menos nove e meio.
— E quanto ele tirou?
— Só sete e meio ...Uma injustiça. Deus no céu tá vendo que é uma injustiça.
— E o que tem de errado na correção da professora, minha senhora? Aliás, qual é mesmo o seu nome?
— Eu sei lá o que tem de errado, Seu Macabro! Eu ainda não vi a redação. Ela não devolve porque sabe que a nota é injusta.
— Mas se a senhora ainda não viu a redação...
— E precisa ver? O Luizinho, se quiser, vai ser escritor. Mas o que ele quer mesmo é ser motorista de caminhão.
— Eu posso falar com a professora. Qual a série do Luizinho?
— Eu lá vou denunciar meu filho, professor!
— Mas sem saber quem é, vou fazer o quê?
— Já vi que o senhor também quer ferrar o Luizinho! Pela mãe do guarda! Não é à toa que chamam o senhor de Macabro. Pode deixar, eu mesma vou aí falar com a professora. E fala com a fofoqueira da Dona Marly pra parar de abelhar a conversa dos outros.
— Alô! Alô! Minha senhora... Desligou... Eu é que devia ter sido motorista de caminhão!
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