Tenho alguns amigos que tiveram suas mães como exemplo de paternidade. Pensando bem, conheço muita gente que teve na mãe o seu pai. E conheço muitas mães que acumularam essa missão: ser pai e mãe. Como se ser mãe já não fosse o bastante. Admiro-as com devoção. E dois domingos para serem o dia delas - que são mãe e pai - ainda é pouco.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
Se toda uva merece ser vinho, se toda cera é digna de ser vela, se todo fogo faz jus a ser chama, todo encontro deveria ser romance. Todo inverno de alguém pede primavera. O tal abraço que aquece mais do que casaco e gera o calor de mãos unidas formando história. Ainda que passageiras.
Árvores sangram e quando uma tomba sangra a alma da humanidade. Morremos, pouco a pouco, em suicídio coletivo. É uma morte cruel e lenta, própria das torturas.
Consciência ambiental é mais do que sinal de evolução. É o sentimento de ser parte de algo maior, integrar algo que extrapola a nossa existência, pois se perpetua para além da gente mesmo.
O tempo só anda para a frente. O passado para o tempo é história. E a história será contada de diferentes formas, por olhares diversos. Não sabemos o fim delas, ainda que no seu andar colecione nostalgias. Mas o tempo só anda para a frente, livre e leve. As bagagens, os acúmulos, mesmo os vazios, nós é que carregamos. O tempo não. O tempo só desliza e se deixa deslizar, faz trilho para nossa passagem.
Somos massa e alma. Somos recheio e ar. Somos fermento e propósito. Ainda que a vida e toda vida tenha uma jornada comum como premissa – nascer, crescer, envelhecer e fatalmente morrer – não há receita para viver. Os recipientes em que se colocam os ingredientes que escolhemos, com suas respectivas medidas, até podem ter semelhança. Porém, assim como os próprios ingredientes, a ordem em que os adicionamos, a forma de misturá-los, o tempo de descanso e maturação irão nos diferenciar a todos nós, sem exceção.
Essa é mais uma entra tantas declarações de amor. Já disse que te amei no bom dia, já falei que me fascinei por todas as suas luas, já revelei que me apaixono sempre que cruzo a última curva da serra, já garanti que não te abandonaria por absolutamente nada, pois nada é capaz de abalar o meu amor por você.
E ainda que coloque tais memórias no tempo passado, sigo te amando no bom dia, me fascinando por seus luares, me apaixonando de novo e de novo a cada vez que passo pela última curva da serra que me transpõe ao paraíso, segue teimoso esse amor inabalável por você.
Voz que clama no deserto se faz ecoar pelos belos vales e montanhas da morada que fica no topo da serra. Faz os filhos desse lugar percebermos que temos o mais difícil: a natureza.
De tudo mais, com integridade, inteligência, ousadia e vontade é possível construir. No entanto, lembra-nos que é preciso cuidar da natureza, regenerar aquilo que os antepassados e os gananciosos de hoje vêm destruindo sem qualquer preocupação com a sustentabilidade que garantirá aos próximos o amanhã.
Contam que a flor de cerejeira nasceu de uma princesa que despencou do céu. Até hoje é apreciada, ainda que sua aparição dure pouquíssimos dias. Por existir por tão pouco tempo, é preciso olhar atento para não desperdiçar a chance de testemunhar tamanha beleza.
Nós, seres humanos, somos como a flor de cerejeira: frágeis, efêmeros, de inúmeras espécies diferentes, mas todas de natureza bela. Duramos muito menos do que gostaríamos, por isso deveríamos ter olhar sensível para os demais e para com nós mesmos. Apreciarmos de forma mais apurada a nossa essência.
“Basta de intolerância e de tolerância como resposta à intolerância” (pode descatar)
Amor é amor e ponto. Por isso, é démodé demais essa de tolero. Amor não pede tolerância, quando tolerância é o contrário de intolerância. Amores não são para serem tolerados. São para serem admirados, respeitados, difundidos, consagrados, compartilhados para além dos livros, poemas e canções. Sem olhar a quem, ao par, a forma que tem, à soma que faz.
Estou tentando recuperar algumas coisas na vida. Velhos amigos e velhas histórias. Antigas paixões e antigos amores. É mais do que só lembrar ou rememorar passagens e momentos. Também não tenho a pretensão de vivenciá-los de novo, da mesma forma. Isso é impossível, mas mesmo que possível fosse, não é exatamente o que quero. O que quero é dar novas chances a episódios que pareciam esgotados. Há mais por experimentar.