Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

10/07/2021

Somos massa e alma. Somos recheio e ar. Somos fermento e propósito. Ainda que a vida e toda vida tenha uma jornada comum como premissa – nascer, crescer, envelhecer e fatalmente morrer – não há receita para viver. Os recipientes em que se colocam os ingredientes que escolhemos, com suas respectivas medidas, até podem ter semelhança. Porém, assim como os próprios ingredientes, a ordem em que os adicionamos, a forma de misturá-los, o tempo de descanso e maturação irão nos diferenciar a todos nós, sem exceção. 

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03/07/2021

Essa é mais uma entra tantas declarações de amor. Já disse que te amei no bom dia, já falei que me fascinei por todas as suas luas, já revelei que me apaixono sempre que cruzo a última curva da serra, já garanti que não te abandonaria por absolutamente nada, pois nada é capaz de abalar o meu amor por você. 

E ainda que coloque tais memórias no tempo passado, sigo te amando no bom dia, me fascinando por seus luares, me apaixonando de novo e de novo a cada vez que passo pela última curva da serra que me transpõe ao paraíso, segue teimoso esse amor inabalável por você. 

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26/06/2021

Voz que clama no deserto se faz ecoar pelos belos vales e montanhas da morada que fica no topo da serra. Faz os filhos desse lugar percebermos que temos o mais difícil: a natureza. 

De tudo mais, com integridade, inteligência, ousadia e vontade é possível construir. No entanto, lembra-nos que é preciso cuidar da natureza, regenerar aquilo que os antepassados e os gananciosos de hoje vêm destruindo sem qualquer preocupação com a sustentabilidade que garantirá aos próximos o amanhã. 

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18/06/2021

Contam que a flor de cerejeira nasceu de uma princesa que despencou do céu. Até hoje é apreciada, ainda que sua aparição dure pouquíssimos dias. Por existir por tão pouco tempo, é preciso olhar atento para não desperdiçar a chance de testemunhar tamanha beleza.

Nós, seres humanos, somos como a flor de cerejeira: frágeis, efêmeros, de inúmeras espécies diferentes, mas todas de natureza bela. Duramos muito menos do que gostaríamos, por isso deveríamos ter olhar sensível para os demais e para com nós mesmos. Apreciarmos de forma mais apurada a nossa essência. 

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12/06/2021

“Basta de intolerância e de tolerância como resposta à intolerância” (pode descatar)

Amor é amor e ponto. Por isso, é démodé demais essa de tolero. Amor não pede tolerância, quando tolerância é o contrário de intolerância. Amores não são para serem tolerados. São para serem admirados, respeitados, difundidos, consagrados, compartilhados para além dos livros, poemas e canções. Sem olhar a quem, ao par, a forma que tem, à soma que faz.

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05/06/2021

Estou tentando recuperar algumas coisas na vida. Velhos amigos e velhas histórias. Antigas paixões e antigos amores. É mais do que só lembrar ou rememorar passagens e momentos. Também não tenho a pretensão de vivenciá-los de novo, da mesma forma. Isso é impossível, mas mesmo que possível fosse, não é exatamente o que quero. O que quero é dar novas chances a episódios que pareciam esgotados. Há mais por experimentar. 

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29/05/2021

Se eu soubesse ontem o que sei hoje, cometeria as mesmas besteiras ainda mais prazerosamente. Eu me entregaria ao delírio de errar ainda mais deliberadamente, sem compromisso com o arrependimento, sem o receio de pecar. Porque aprendi que julgar é para os juízes e, definitivamente, recuso o trabalho de sentenciar alguém, inclusive a mim mesmo. 

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22/05/2021

Um coração vazio só é vazio porque sabe o que é ser habitado. A presença de outrora de morador é que faz perceber a ausência que causa. Causas são o que faz o coração pulsar, a alma se encantar e os sonhos terem sentimento. É o que desperta, mesmo aquilo que está disperso e que na confusão dos átomos nos permite ser: sujeito da própria história que invade e se deixa ser tomado por outras histórias. Faz sentido?

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15/05/2021

Nada, absolutamente nada é capaz de diminuir o amor e o orgulho que tenho de Nova Friburgo. É amor ingênuo, quase infantil. É encantamento permanente. Ser friburguense é a melhor e maior de todas as minhas vaidades. Talvez, de fato, a única boa vaidade que alguém pode ter. 

Assim, ser friburguense é a única vaidade da qual não me desfaço, mesmo que os guardiões da moral digam que é pecado. Se pecado for, então serei pecador convicto que afirma, reafirma e insiste em cometer, deliberada e conscientemente, seu pecado. Pecadores assim têm direito a pedir licença. 

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08/05/2021

Otimista por natureza, acreditei que nos tornaríamos mais humanos com todo esse impacto que nos causa a pandemia. Observador por experiência, evidencia-se que não. Não melhoramos nada. Quiçá, pioramos. Nós, seres humanos, evoluímos constantemente, e, creio nisso. Mas evoluímos tão lentamente quanto o Big Bang. 

Chego a me perguntar se nós, seres humanos, somos realmente bons. Será que nossa evolução nos leva a ser mais egoístas? Será que nosso gene é esse? Será que esses impactos que aceleram formas de ver e viver a vida nos tornam ainda mais individualistas? 

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