Sou fã confesso do Papa Francisco. Não sou fã por ser católico ou por conta da minha história ter ligação com os jesuítas. Sou adepto de sua liderança, de seus ensinamentos, por ser discípulo de um Deus que habita na simplicidade. É uma besteira gostar de um padre ou de um pastor porque ele é da mesma religião que a sua. Temos o direito de discordar. Assim, a religião não deve nos obrigar a gostar do pastor ou do padre porque somos da mesma congregação.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
Eu queria ser um desses... Loucos que não despejam nem um segundo sequer. Desses que não se arrependem de tomar um gole de água a mais ou uma dose de whisky a menos. Nunca tive a intenção de voar, mas já supliquei para que as minhas articulações pudessem suportar um quilômetro a mais na corrida pelo parque. Venero a beleza dos lagos, me encanto com o deslizar dos cisnes, devoto a viagem das folhas que se desprendem dos galhos... Invejo-as. Queria ser como elas!
Laços. Criar laços para além do cadarço ou do nó da gravata. Desamarrar para desarmar o espírito, o peito e a atitude cruel. Fechar o laço do vestido ou o laço que segura o cabelo. Laços invisíveis - brancos da paz que confronta a tal paz dos cemitérios. Paz vívida e festeira que celebra a existência com alegria e abundância. Pacto. Pela paz que liberta – liberdade. Pela paz que permanece – igualdade.
Ainda muito criança, quando mal sabia adequar as cores aos desenhos, já me encantava com o colorido que pintava as avenidas no carnaval. Lembro que minha tia levava a mim e meus irmãos para a Alberto Braune para assistir aos desfiles, pequeninos, no meio da multidão. As alegorias, as fantasias, aquela gente toda me causava grande fascínio.
Eu esperava até que a espera se desfez em pleno carnaval. E o carnaval daquele fevereiro durou o ano inteiro e mais outro e mais outro. Mas todo carnaval tem seu fim, como diz a música. Carnavalesco, mesmo dos melhores, tem seu tempo, sua fase de criatividade cessada, para quem sabe recuperá-la novamente com novos estilos e inovação. Não é o mundo contemporâneo que cobra inovação o tempo todo. O mundo sempre espera por inovação, mesmo antes de ter inventado o pão. Talvez seja mais algo humano do que divino. Reinvenção se confunde com aperfeiçoamento e nem sempre significa evolução.
Acolhei os refugiados
Perguntei à Alegria: você sabe cantar? Ela respondeu que não. Perguntei então se sabia sorrir. Apesar de mostrar os dentes, branquíssimos como o leite, também disse não. Alegria não sabia sorrir. O que mais me encanta é que mesmo sem saber sorrir e cantar, ainda assim Alegria sorri e canta. Apesar de todas as adversidades, as crianças, mesmo sem saber, sorriem e cantam.
A última curva de uma cidade. Aquela que descortina novos lugares ou simplesmente outro lugar... Quantos segredos guarda, quantos sentimentos grava, tantas histórias que narra... Suspiros de realização e dever cumprido ou puramente desistência daquilo que a força exterminada obrigou se entregar. Saudade daquilo que acabou de se tornar memória. Ansiedade pelo que está por vir. Chegando ou deixando, a última curva é também a primeira.
É estranho que já tenha acontecido outras vezes. Mas agora parece tudo tão diferente. Talvez não seja essa percepção de você estar ou não em casa. O que me chama a atenção é que meu coração te envia convite, porém você recusa. Mas também não é a recusa em si de um jogo de desafios inexistentes.
Deixei você ir, sem querer que você fosse. Podia ter dito, mas não disse. Podia ter sido sincero para além da sinceridade que boia na superfície. Paralisado, falei seu nome para dentro sem que som algum pudesse reproduzir o sentimento em mim.
"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos." Ela adora Clarice Lispector ao ponto de tomar para si as palavras da escritora. E ela é assim mesmo, impaciente, intensa, nunca indiferente. Não chega a ser extremista, mas largaria farmácia por gastronomia.