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O escritor e a magia da gaveta

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Escrever. Errar. Corrigir. Guardar o texto na gaveta. Reescrever. Assim é o processo de criação literária; o escritor vai refazendo o texto sucessivas vezes até considerá-lo pronto. Esta é a norma para quem escreve.
Certa vez, num curso que fiz na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, sobre produção textual e o respectivo arquivamento no computador, tive a oportunidade de ver rascunhos de escritores renomados que continham trechos assinalados, riscados e reescritos. De certa forma, o curso me acalmou, ao constatar que erros e correções fazem parte do processo criativo e garantem a qualidade do texto.
Inclusive, para esta coluna, meus textos sempre são revisados por um professor e escritor experiente, Márcio Paschoal. Mesmo depois de eu ter relativa experiência e corrigi-los diversas vezes, a revisão retorna, invariavelmente, com erros apontados e sugestões para correção.
Errar é humano! Acredito que “vivemos” para reparar nossas imperfeições. Até já pensei que este mundo é uma oficina de gente. O homem, ao buscar consertar seus defeitos, aprender e aprofundar suas virtudes, faz o mundo evoluir. Agora, a meu ver, precisará buscar novos modos de ser e fazer a fim de resgatar a humanização que vem se perdendo em detrimento do pensamento imediatista e supérfluo. Vivemos, amigos, para acertar amarras e aparar pontas desalinhadas.
Quando comecei a escrever, há 25 anos, participei de oficinas literárias. Logo nas primeiras aulas escutei de diferentes formas que o escritor precisa ter humildade para aceitar críticas e reconhecer seus erros. Bravo! Foi um importante ensinamento que recebi. Não podemos nos acomodar ante as dificuldades, nem pensar que somos perfeitos.
Aprendi com a experiência diária que um texto dificilmente fica pronto sem antes sofrer várias correções e revisões de outros escritores e, principalmente, de leitores. Um texto que conquista a qualidade literária é resultado de um trabalho intenso do escritor e beneficiado pela avaliação de outros. O ponto de vista de cada olhar enriquece a narrativa. Além do que as questões relacionadas à gramática, ortografia e harmonia do emprego das palavras oferecem dignidade e beleza ao texto. Não é agradável ao leitor, durante a leitura, se deparar com erros de concordância e pontuação, por exemplo.
Escrever é, além de ser arte, uma forma do sujeito se expressar através de vários estilos literários, como também caminhar por pontos de vista diferentes. Quanto mais ele desenvolve a capacidade de produzir textos, mais engrandece seus modos de refletir sobre a vida, participar de grupos e interagir com a coletividade. Não se escreve sem refletir a respeito de ideias diferentes, avaliar momentos históricos e culturais diversos, situar informações em contextos específicos. Enfim, o gostar de escrever é uma maneira do escritor extravasar suas emoções e ideias pessoais; ao transformá-las em palavras, libera as energias que não cabem dentro de si. Quem escreve é um turista nos fatos presentes e passados. É um intrometido, na verdade. Mas não pode ser falastrão.
O escritor escreve para alguém ler. Quem escreve e esquece o texto em gavetas nada contribui para a evolução do viver. É egoísta por não querer compartilhar suas ideias e inseguro por não acreditar no que pensa. Para compartilhar seus escritos é preciso tornar o texto interessante ao leitor, que, por sua vez, busca o prazer de abrir o texto e se degustar com as ideias do autor.
E a gaveta? Ah, ali tem uma magia inexplicável. Escrever um texto e guardá-lo por algum tempo garante ao escritor uma nova percepção a respeito do que escreveu. Tem uma fada, uma bruxa ou sei lá quem naquele espaço escuro e silencioso que faz milagres. É só experimentando para se ter uma ideia do poder que a magia da gaveta tem.
Enfim, quem se propõe a aprender a escrever vai trabalhar carregando as palavras do dicionário e os livros da biblioteca no lombo. Apenas garanto que será uma pessoa um pouco mais feliz!

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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