Além da Terra, ainda nós

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 30 de outubro de 2021

Hoje, mudamos de bairro ou mesmo de cidades e estados. Alguns até de País. Já imaginou que daqui a pouco tempo, poderemos estar mudando até de planetas? 

Além de Marte — o mais próximo e avançado em estudos para colonizar — os cientistas confirmam mais de 4800 exoplanetas, ou seja, planetas que orbitam estrelas além do Sol. As possibilidades de semelhanças com a nossa castigada Terra são imensas. Possivelmente habitáveis por nós, humanos. Isso para não dizer que é real a possibilidade de que nesses exoplanetas exista vida. Inteligente? Nem sei se podemos considerar que há vida inteligente na Terra. 

Por óbvio, meu sarcasmo aflorado tem mais evidências em crenças do que na ciência. A inteligência que nos falta é empatia. Cuidar do planeta para os que virão é empatia máxima. Afinal, nem conhecemos os que virão depois de nós, mesmo que sejam frutos de nós. 

Há quem diga que empatia e resiliência — ordens da moda recente — perderam espaço para o verbo ressignificar. Talvez ressignificar seja essência, inclusive para resiliência e empatia. No combate aos mundos líquidos, ressignificar é reflexão e prática urgentes. Mas como ressignificar se, talvez, nem tenhamos tido paciência para significar?

Queremos velocidade não só na conexão de internet. Tropeçamos. Queremos entregar artes, textos, trabalhos com pressa. Despercebemos. Engolimos a comida, sapos e saliva sem digerir. Beba com calma. Aprecie. Respire. 

O mundo gira na mesma velocidade desde o início dos tempos. O que está mais veloz são esses serzinhos, eu e você, que habitamos esse lugar redondo. Sim! A Terra é redonda e não precisa ter a grana do Jeff Bezos para confirmar com os próprios olhos. Não perca tempo com essa gente que insiste em Terra plana. Mas observe a maldade daqueles que as usam para estabelecer verdades mentirosas. É perigo maior do que dinamite. 

Há quem corte goiaba em fatias para evitar o indesejável mastigar larva. Há quem corra o risco. E não há  certo ou errado aqui. Segundo especialistas, o bichinho não faz mal. Mas se a textura não agrada, por que insistir?

Dirão: persistir! No amor, o verbo persistir é quase praxe para teimosos. Teimosia raramente é algo bom. Amor tem a ver com companheirismo instituído por certa intimidade que leva ao compreender. A compreensão está acima do altruísmo. Altruístas podem ser muito vaidosos. O amor pede leveza e é da natureza do amor ser leve, o que não quer dizer que não exija dedicação. Que essa dedicação seja prazerosa, na grande maioria das vezes.

Mais fácil é mudar de estado e continente, quiçá até de planeta do que de amores. Ah! O coração vai junto das nossas mudanças de lugar. E o coração é bagagem que não dá para se esquecer na aeronave. Tão difícil é mudar a nós mesmos. 

Poderá o homem colonizar um ou todos os seis planetas que orbitam a estrela Kepler-11. Mas não poderá o homem fazer mundos diferentes se não se fizer diferente. Ainda que os dias por lá tenham bem mais do que nossas 24 horas, seguirão líquidos se não nos transformarmos, se não nos ressignificarmos a partir até dos significados que abusamos recusar. 

Acumulamos experiências, próprias e alheias. Somos resultado de nossa ancestralidade, mas o produto pode ser alterado com a troca da ordem dos fatores. 

Que toda poesia nos ensine a chorar e toda música nos intua a sorrir. Que ambas, sendo uma só, nos privilegiem abraçar e sentir. Ressignificar, afinal, talvez seja mais possível que colonizar planetas para além das nebulosas. 

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(Foto: Pexels)
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