O que te desperta a Primavera?

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 25 de setembro de 2021

Semeia. Cultiva. E, saiba que aquilo que semeia e cultiva vai gerar flor e fruto. Não espere resultado diferente para as sementes que semeou. A intenção. Se plantou limões, não germinarão maçãs. Se plantou jarro-titã, não espere que nasçam lírios. Se plantou ódio, cultivou com rancor, não aguarde por amor.

Mas saiba que um jardim não se faz apenas de flores. Há plantas necessárias para o equilíbrio do ecossistema e a manutenção do colorido que pretende, se é colorido o que quer. Talvez apenas flores brancas, margaridas, talvez. Ou rosas vermelhas. Há os que se fascinarão com as novas rosas que vêm de cores azuis a negras. Arar a terra, tirar o mato crescido. Faz parte. 

Mas qual o propósito principal do jardim que está no seu peito?

A primavera é a mais fascinante das estações. Mais do que pelas flores em si. Mais do que pela poesia, mas pelas suas analogias com a vida, suas metáforas, seu simbolismo no desabrochar e o que nos provoca: a intenção de despertar. 

O que te despertará essa primavera?

As primaveras anteriores ensinam que poesia também faz o queixo cair nas mãos. Ser sentida, afinal, é mais vital do que ser apenas percebida. Nem toda poesia será suave, tampouco se traduzirá somente em drama. Quando pensa em poesia, o que lhe vem?  

Talvez a primavera seja como ano novo. Nova primavera, mais uma primavera... O sabor que vem dos cheiros, a esperança que advém do nosso fascínio em ressurgir, renascer, recomeçar. E, podemos! É necessário nos reconstruir de tempos em tempos. Na primavera? Mesmo sem força, mas com coragem. Mesmo sem motivação, mas com inspiração. Mesmo sem sol, mas com girassóis na janela que nos abre o mundo. 

Herdaremos a Terra pela história que construímos e a deixaremos para os que virão. Por isso, cuidar dela é a mais empática das missões. Acumular não faz sentido e explorar para acumular menos ainda. 

Para que servem as flores de plástico? Para burlar a nossa finitude? Autoengano. Não tão breves como as flores, mas pouco resistentes como elas é cada um de nós. Nossas peles virarão pó, como as pétalas das flores se desprenderão ao vento. É o destino — nosso e das flores — enfeitar com certa brevidade os dias. É preciso ter consciência para fazer boas escolhas. Erraremos e isso faz parte. O que não erra é o tempo: somos reféns dele, como a própria primavera que tem seu início, meio e fim.       

Assim, felicidade é conhecer e reconhecer seu íntimo. A melhor amizade que se pode fazer é com a própria consciência. Ser fiel a ela, mas sem punitivismos. O cotidiano já tem muitos juízes para você ser mais um consigo mesmo. 

Deixa desabrochar. Deixa perfumar. Escolhe bem teus verbos. Despertar. Que a primavera desperte seus mais belos sonhos e que se estenda a sua primavera para as outras estações.   

 

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