Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

19/08/2023

Quando os dias estão depressa demais, desacelere os passos para acelerar o coração. Escolha uma poltrona ao centro e se satisfaça — plateia. Observe, vislumbre, imagine. Sinta a realidade, sem vesti-la. Suspire o que inspira o palco. O artista é de carne e osso. Mas sua alma flutua. Para além do corpo e dos pensamentos — sentimento. Afeta. Deixe-se afetar. De repente, mobilizado permita-se fazer parte de atmosfera até então desconhecida e que só você, no seu singular jeito de ser, poderá descrever. Se é que pode ser descrita. 

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05/08/2023

Viver é acumular pequenos feitos, que nos filmes nem são considerados feitos, mas valem mais do que troféus. Muitas vezes, somos obrigados a diplomas que apenas servem para enfeitar paredes. Noutras, somos instigados a ter, obter, reter riquezas que são valiosas apenas para cofres que apodrecem. Pesam os ombros. Aumentam a cifose no corpo e criam calos na alma.

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08/07/2023

Tem dias que eu acordo e o máximo que consigo é acordar. E, por que não estaria tudo bem com isso? A gente não tem que estar disposto todos os dias, todos os momentos. Deve ser muito chato ser feliz todos os dias, ou melhor, ter que se mostrar contente a todo instante, como se a vida fosse aquilo que se posta no Instagram. No TikTok, então, tudo se resume a quinze míseros segundos. 

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01/07/2023

Do que se embriaga? Que aquilo que bebe não seja apenas para limpar a garganta, as vísceras, as angústias, espante a ansiedade ou devasse seus medos. Que não seja o vinho, a crença ou a pólvora que ateiem seus pensamentos de coragem. Mas que seja conforme a sua fé. 

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24/06/2023

Os seis graus que fazem lá fora podem ser menos intensos do que o frio que faz dentro de um coração vazio.  Coração vazio pesa. Como sala cheia também pode ser muito vazia. Porque não é o espaço ocupado ou quantas pessoas estão ali, mas como preenchemos e somos preenchidos por olhares e compreensões. Como nos conectamos uns aos outros e como esse laço invisível nos traz para perto, junto, parte. Não nascemos para sermos sozinhos. 

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17/06/2023

E se esse for o dia mais feliz da sua vida? Se você viver assim, vai querer fazê-lo mais feliz ainda pelo simples saber. Talvez essa perspectiva seja melhor do que pensar que pode ser esse seu último dia, seu último instante. Seu único instante. 

A felicidade… Que dia feliz o de nascer. Apesar do susto de sair de bolsa tão confortável, ver a luz (ainda que apenas por silhuetas e sombras) é de uma beleza inigualável. 

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10/06/2023

Procuro por você e não me canso de querer te encontrar. Te encanto em canções, enquanto vasculho sua presença em lugares cheios de gente e até nos vazios de alma. Suspeito ter te visto virando a esquina. Convencido de que sei seu nome, até corri pela avenida te chamando: “meu amor, meu amor”. Prefiro me apegar à crença de que você não ouviu ao invés de afirmar que não era você.

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03/06/2023

Minha prece não é para santo, ainda que confie em São Jorge — Ogum. Não peço a Deus todos os dias, porque em algumas segundas, percebo Deus tão diferente ou mesmo ausente que questiono o por quê de tanta maldade no mundo. Talvez faça oração por minha própria procissão de fé, para minha corrida pelas horas, para minha inquietude diante do caos e do silêncio que faço para o mesmo caos. 

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20/05/2023

Repetidas vezes, tenho dito para mim mesmo, não por sabedoria sobrenatural ou fé, mas por vivência: o amor é composto por muitos ingredientes, alguns até exclusivos de cada relacionamento, mas todos os amores são sustentados por companheirismo, intimidade e admiração. 

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13/05/2023

Certa vez, um professor me disse que felicidade é mais ou menos isso: uma experiência, que de tão boa, você vai fazer de tudo para poder repeti-la. Eu repeti muitas, sem ter a exata noção do porquê queria de novo. 

Quero repetir tantas outras, algumas que, inclusive, não posso mais. Há ainda aquelas que imagino que depois da primeira, vou querer uma segunda, terceira e tantas quanto puder, até se esgotarem.

Dentre as que imagino, há algumas que, infelizmente, são impossíveis, pelo menos nesse espaço-tempo, tal qual conhecemos.

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