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A Rosa de Hiroshima

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
A criatividade acontece. É reativa. Brota. Sai da pessoa como uma catarse, uma explosão natural da vontade de fazer ou dizer algo diferente, do ímpeto de buscar formas avançadas para estabelecer relações entre as coisas. A vida nos cutuca a ir além, a mostrar o que sentimos e pensamos através da palavra ou das expressões artísticas, como a literatura, a música, a pintura e tantas outras. O mundo é movimento puro e veloz, faz-se e refaz-se todos os dias através da natureza e das capacidades criativas dos seus habitantes. Vivemos em um planeta mutante.
Quem não é criativo? A criatividade desponta e evolui de acordo com as vontades pessoais e as experiências. Nasce do impulso decorrente da rebeldia, da tragédia e do prazer. Da curiosidade, sempre teimosa e insistente pelas necessidades, como a de resolver problemas. De certo, o criativo não é um acomodado, nem preconceituoso, mas é uma pessoa corajosa capaz de tentar, tal qual fez Thomas Edson quando realizou mais de mil experimentos para criar a luz artificial. Ah, meu amigo, quem cria erra! Erra porque a inovação é um processo que precisa da liberdade para descortinar o inédito, adentrar caminhos desconhecidos e tentar mais uma vez.
O processo criativo está presente nas diferentes áreas da vida; na família, na comunidade, na ciência, no trabalho, na política, nos esportes e, especialmente, nas artes. É a performance mais autêntica que alguém pode ter, já que é um modo de pessoa dizer não! De reafirmar “eu sou”, “eu sinto”, “eu mostro” de maneira única e ímpar.
Está no mais profundo eu o ponto de partida da imaginação criativa, instância em que as ideias são gestadas. A seguir, amadurecidas pelo pensamento, essas ideias irão viabilizar os modos de realizá-las. A criatividade ganha sentido no princípio de realidade, a maior desafiadora da inteligência.
Tenho sido tomada pela vontade de falar sobre a criatividade, até para entender como ela eclode e expressa a genialidade. Nada de receitas. Nada de rituais. Nada certo ou errado. Tudo verdadeiro. É a expressividade autêntica de quem a utiliza para externar a própria intuição.
E aí, encontro uma imensidão de temas a tratar. A começar pela criação do poema “A rosa de Hiroshima”, composta por Vinicius de Moraes, em 1954, quando ele trabalhava como diplomata na França, simbolizando o protesto às explosões da bomba atômica, que devastou as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, resultando na morte de mais de duzentas mil pessoas.
A bomba atômica é a síntese da maldade humana!
A seguir, vinte anos depois, aproximadamente, Gerson Conrad compôs a música. E “Secos e Molhados”, com magnífica interpretação de Ney Matogrosso, a cantaram. Genialidade em cadeia, unindo a literatura, a música, a dança, o figurino, que resultou em mais do que um sucesso nacional, foi num grito que ecoa até hoje contra a guerra e suas terríveis consequências nas pessoas, animais, na natureza, nas questões econômicas e sociais.
A bomba de Hiroshima foi lançada há 80 anos, no dia 06 de agosto de 1945. Abaixo a poesia de Vinícius de Moraes, a “Rosa de Hiroshima”.
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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