Blog de terezamalcher_17966

O escritor e a magia da gaveta

terça-feira, 01 de julho de 2025

Escrever. Errar. Corrigir. Guardar o texto na gaveta. Reescrever. Assim é o processo de criação literária; o escritor vai refazendo o texto sucessivas vezes até considerá-lo pronto. Esta é a norma para quem escreve.

Escrever. Errar. Corrigir. Guardar o texto na gaveta. Reescrever. Assim é o processo de criação literária; o escritor vai refazendo o texto sucessivas vezes até considerá-lo pronto. Esta é a norma para quem escreve.

Certa vez, num curso que fiz na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, sobre produção textual e o respectivo arquivamento no computador, tive a oportunidade de ver rascunhos de escritores renomados que continham trechos assinalados, riscados e reescritos. De certa forma, o curso me acalmou, ao constatar que erros e correções fazem parte do processo criativo e garantem a qualidade do texto.

Inclusive, para esta coluna, meus textos sempre são revisados por um professor e escritor experiente, Márcio Paschoal. Mesmo depois de eu ter relativa experiência e corrigi-los diversas vezes, a revisão retorna, invariavelmente, com erros apontados e sugestões para correção.

Errar é humano! Acredito que “vivemos” para reparar nossas imperfeições. Até já pensei que este mundo é uma oficina de gente. O homem, ao buscar consertar seus defeitos, aprender e aprofundar suas virtudes, faz o mundo evoluir. Agora, a meu ver, precisará buscar novos modos de ser e fazer a fim de resgatar a humanização que vem se perdendo em detrimento do pensamento imediatista e supérfluo. Vivemos, amigos, para acertar amarras e aparar pontas desalinhadas.

Quando comecei a escrever, há 25 anos, participei de oficinas literárias. Logo nas primeiras aulas escutei de diferentes formas que o escritor precisa ter humildade para aceitar críticas e reconhecer seus erros. Bravo! Foi um importante ensinamento que recebi. Não podemos nos acomodar ante as dificuldades, nem pensar que somos perfeitos.

Aprendi com a experiência diária que um texto dificilmente fica pronto sem antes sofrer várias correções e revisões de outros escritores e, principalmente, de leitores. Um texto que conquista a qualidade literária é resultado de um trabalho intenso do escritor e beneficiado pela avaliação de outros. O ponto de vista de cada olhar enriquece a narrativa. Além do que as questões relacionadas à gramática, ortografia e harmonia do emprego das palavras oferecem dignidade e beleza ao texto. Não é agradável ao leitor, durante a leitura, se deparar com erros de concordância e pontuação, por exemplo.

Escrever é, além de ser arte, uma forma do sujeito se expressar através de vários estilos literários, como também caminhar por pontos de vista diferentes. Quanto mais ele desenvolve a capacidade de produzir textos, mais engrandece seus modos de refletir sobre a vida, participar de grupos e interagir com a coletividade. Não se escreve sem refletir a respeito de ideias diferentes, avaliar momentos históricos e culturais diversos, situar informações em contextos específicos. Enfim, o gostar de escrever é uma maneira do escritor extravasar suas emoções e ideias pessoais; ao transformá-las em palavras, libera as energias que não cabem dentro de si.  Quem escreve é um turista nos fatos presentes e passados. É um intrometido, na verdade. Mas não pode ser falastrão.

O escritor escreve para alguém ler. Quem escreve e esquece o texto em gavetas nada contribui para a evolução do viver. É egoísta por não querer compartilhar suas ideias e inseguro por não acreditar no que pensa. Para compartilhar seus escritos é preciso tornar o texto interessante ao leitor, que, por sua vez, busca o prazer de abrir o texto e se degustar com as ideias do autor.

E a gaveta? Ah, ali tem uma magia inexplicável. Escrever um texto e guardá-lo por algum tempo garante ao escritor uma nova percepção a respeito do que escreveu. Tem uma fada, uma bruxa ou sei lá quem naquele espaço escuro e silencioso que faz milagres. É só experimentando para se ter uma ideia do poder que a magia da gaveta tem.

Enfim, quem se propõe a aprender a escrever vai trabalhar carregando as palavras do dicionário e os livros da biblioteca no lombo. Apenas garanto que será uma pessoa um pouco mais feliz!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A nossa língua, nosso bem maior

terça-feira, 24 de junho de 2025

E a gente acorda, vai falando porta afora e escutando o blá-blá-blá quotidiano, vai trabalhando, estudando e discursando, vai lendo e escrevendo, fazendo declarações de amor e tanto mais, sem pensar que estamos inseridos na vida através da língua, o nosso português. Que não é somente falado no Brasil, mas em mais outros países, como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Até na China, na Região Administrativa de Macau.

E a gente acorda, vai falando porta afora e escutando o blá-blá-blá quotidiano, vai trabalhando, estudando e discursando, vai lendo e escrevendo, fazendo declarações de amor e tanto mais, sem pensar que estamos inseridos na vida através da língua, o nosso português. Que não é somente falado no Brasil, mas em mais outros países, como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Até na China, na Região Administrativa de Macau.

Sim. No Brasil, o português é o nosso bem maior. “Quem não se comunica, se trumbica”, ditado popular que expressa: quem não domina a sua língua tem dificuldades de interagir e está cercado de limitações.

Mas quem sabe sobre a nossa língua? Ora, pois sim, o português veio de longe, veio além-mar, que se originou no latim vulgar, falado pelas classes populares do antigo Império Romano. O latim foi a base para a formação de vários idiomas, como o português, o espanhol, o italiano, o francês e o romeno, que em seu conjunto são chamados de romance ou romanço. Também pertencem a esse grupo o catalão, o galego, o sardo e o romanche (falado na Suíça).

Conversando com uma amiga e poetisa a respeito, constatei que falar bem o português é uma dignidade para o brasileiro. A comunicação, verbal e escrita, é o nosso maior patrimônio pessoal e cultural. Perde-se a noção de tempo ao escutar uma pessoa falando bem o português como Mia Couto, cujo conhecimento da língua e fluência são tão profundos, que ele fala com simplicidade, possibilitando a compreensão daqueles que o ouvem.

O domínio da língua pátria é uma das mais complexas capacidades cognitivas que construímos ao longo de toda uma vida, começando na convivência com a família, amigos e com uma infinidade de pessoas com quem trocamos afetos, ideias e informações, com os processos de aprendizagem e com a leitura, que seja em livros, revistas, jornais, filmes etc. Quem chega aos cem anos, de certo, ainda vai aprender o português. Que seja, ao menos, uma gíria, um modo de construir frases e de se expressar com mais clareza.

A comunicação é a maior prioridade que temos para sobreviver no quotidiano, expandir capacidades, inclusive, dominar áreas do conhecimento exato, como, por exemplo, a física e a matemática.

Soube que Guimarães Rosa valorizava o estudo de línguas, como português, alemão, francês, espanhol, italiano, russo, sueco, holandês, latim e grego porque, através das quais, ele poderia conhecer melhor a própria língua, a portuguesa. Foi tal domínio que o permitiu escrever “Grande Sertão: Veredas”, repletos de palavras criadas por ele, os famosos neologismos, como “ensimesmudo”, descreviver, velhouco.

O universo virtual reverte os valores da língua. Hoje, tem-se a utilizado com tantas abreviações e substituições por imagens que reúnem múltiplos sentidos, que sua riqueza e beleza têm sido prejudicadas. O pior, a qualidade da comunicação e de expressão estão se apequenando. O emprego do “OK” guarda significados valiosos que ficam nas esferas subliminares, às vezes, pouco percebidas.  

Nossa língua é tão linda... Deveria ser admirada como uma estrela guia.

Cada vez mais, usa-se o português de qualquer forma e modo descuidado. De certo, é uma língua que exige conhecimentos aprofundados por quem a escreve, lê, fala e ouve decorrentes da sua ortografia, morfologia, gramática, sintática e semântica. Não é por menos que a grade curricular prevê o ensino da Língua Portuguesa em, pelo menos, 12 anos da escolaridade. 

Habitamos na língua materna, a casa que nos faz humanos e ser o que somos: brasileiros!

“Natureza é divina, e ela não é divina...

Se falo dela como um ente

É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens

Que dá personalidade às cousas,

E impõe nome às cousas.”

Fernando Pessoa

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Como estamos lidando com nossas formigas?

terça-feira, 17 de junho de 2025

Entre uma leitura e outra, já que tenho o hábito de ler dois livros ao mesmo tempo, percebo, a cada vez que recomeço a ler, as diferenças nos modos de pensar, na cultura em que os autores estão inseridos. É enriquecedor notar como as ideias mudam no tempo, no espaço e na individualidade de cada escritor. De fato, a leitura de Dostoiévski tem me feito respirar um tempo maior.  

Entre uma leitura e outra, já que tenho o hábito de ler dois livros ao mesmo tempo, percebo, a cada vez que recomeço a ler, as diferenças nos modos de pensar, na cultura em que os autores estão inseridos. É enriquecedor notar como as ideias mudam no tempo, no espaço e na individualidade de cada escritor. De fato, a leitura de Dostoiévski tem me feito respirar um tempo maior.  

Estou lendo “Não conte para as formigas”, escrito por uma amiga muito querida, Mônica Alvarenga, recentemente lançado pela editora 7 Letras. Me deparo com a voz do inconsciente do personagem, um texto denso, que começa com o enfrentamento do medo de escrever um diário. É o seu primeiro livro, em que desbrava os caminhos do fazer literário.

Tão logo começo a ler, me reporto a Leopold Blomm, personagem de Ulisses, livro clássico de James Joyce, quando ele caminha pela areia de uma praia em Dublin, capital da República da Irlanda do Sul, e pensa. James Joyce consegue mostrar o turbilhão de ideias, expondo o movimento do pensamento do personagem através de ideias soltas, contraditórias, repartidas e energizadas por sentimentos conflitantes em busca de sentidos e da catarse de sensações fortes.

Depois de ler quase todo o livro, retornei à primeira página, e constato, como a própria Mônica fala, que o livro é um grito. Aquele grito que sai do fundo das emoções, das mais remotas lembranças, que, em um determinado momento da vida, precisamos dar. Gritar para recomeçar e dar novos rumos à vida. Gritar para acenar ao passado, não para esquecê-lo ou perdê-lo posto que está encruado em cada uma de nossas células. As lembranças andam por nós como formigas, fazendo caminhos certos. Como vamos tratá-las? Será que vamos escutar, ao longo da vida e na mesma entonação, a melodia que nos cantam?

Ah!, é um texto desafiador. A vida é bela e guarda em caixas de papelão e madrepérola as nossas histórias, construídas através de tantos encontros e desencontros. As formigas as protegem e apontam para as verdades presentes, mesmo que camufladas, nas decisões que balançam entre lados opostos: um sempre querendo permanecer e se aquietar; o outro decidindo ir além, dar um passo avante e ousado.

Amigo, leitor, vivemos no meio desse pêndulo escutando nossas formigas que nos dizem palavras. Que não nos basta ouvi-las; é preciso vê-las, abraçá-las para festejar a pessoa que somos. Para conseguir decifrar a beleza no que é feio e a feiura que existe no belo, mesmo sem querer notá-la por ser desagradável e indigesto. Na verdade, a beleza plena é um sonho distante.

As formigas são como os fungos da nossa existência, que habitam em nossas raízes, que desenham a realidade. Muito diferente do mundo virtual em que tudo o que se pretende expor é perfeito. Não há fragilidades. Diferentemente de nossos corpos, tão reais e efêmeros, sempre tem braços imensos que podem nos abraçar e nos fazer apaixonar por nós mesmos. O grande trunfo da humanidade.

Ufa, que leitura, uma verdadeira sessão de terapia!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Salve Nova Friburgo - a Cidade da Trova

terça-feira, 10 de junho de 2025

Na madrugada de 30 de maio de 2025, os ventos sopraram sobre a cidade, bateram, com delicadeza, nas janelas dos trovadores que amanheceram festejando a trova, uma tradição poética e literária que nasceu na Idade Média, em Portugal. Assim começou a LXVI edição dos Jogos Florais de Nova Friburgo que realizou atividades diversas, como a recitação dos versos, premiação e encontros acalorados. Foram três dias de júbilo, em que os trovadores, vindos de vários lugares do Brasil, se confraternizaram, fazendo a cidade vibrar.

Na madrugada de 30 de maio de 2025, os ventos sopraram sobre a cidade, bateram, com delicadeza, nas janelas dos trovadores que amanheceram festejando a trova, uma tradição poética e literária que nasceu na Idade Média, em Portugal. Assim começou a LXVI edição dos Jogos Florais de Nova Friburgo que realizou atividades diversas, como a recitação dos versos, premiação e encontros acalorados. Foram três dias de júbilo, em que os trovadores, vindos de vários lugares do Brasil, se confraternizaram, fazendo a cidade vibrar.

Organizado pela União Brasileira de Trovadores, fundada em 1966, por Luiz Otávio, no Rio de Janeiro, a UBT é uma associação civil, cultural e recreativa, de âmbito nacional, que possui o objetivo de promover concursos de poesias no gênero trova, realizar encontros de trovadores, pesquisas e congressos. Nova Friburgo guarda com cuidados especiais uma de suas raízes, tendo Elisabeth Souza Cruz como presidente.

 Os Jogos Florais atuais fazem renascer a homenagem à Flora, deusa da primavera, da fertilidade e das flores. É a vida saltitante e colorida que pulsa nos versos do poeta que deseja ser livre para compor trovas e feliz para recitá-las a quem queira receber o seu calor.

O trovador é um doador de esperança, que não nega sequer um sorriso, que abre seus braços para acolher cada ouvinte e leitor apenas para celebrar sua alegria, mostrar seu espanto e, até mesmo, expressar sua dor. Em tantas chegadas e partidas há bons motivos para que trovas sejam compostas só para alguém ter o que recitar baixinho nos ouvidos dos que chegam ou partem.

A trova é a mais ousada arte das palavras: quer rima e métrica, inspiração e inteligência. Rapaz, não é para qualquer um!  Requer tempo para aprender a ser um poeta de verdade: para ler e reler trovas, escrever e reescrever incessantemente os versos. Insistir e não desistir até poder enaltecer a vitória de ver, escrita no papel os frutos da imaginação de um tímido trovador.

Mas há uma tristeza sem par. Nas esquinas da cidade, nas curvas da estrada e nos sacos de pão não há ao menos uma trova, um patrimônio cultural, muitas vezes esquecido, pelo povo friburguense.

Por nossa rosa a vibrar,

Vamos na estrada sorrindo

E quem nos venha ajudar

Há de ser muito bem-vindo!

Rodolpho Abbud

Mestre e guia dos trovadores de Nova Friburgo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O homem e a natureza

terça-feira, 03 de junho de 2025

Ao passar na Genipapo Livraria, conversei com a livreira, Maria Fernanda, sobre ecologia, e ela me indicou o livro “Maneiras de Ser: Animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, escrito pelo jornalista inglês James Bridle. O tema imediatamente me interessou porque somos partes integrantes da natureza, tanto quanto uma árvore, uma pedra e um tigre.

Ao passar na Genipapo Livraria, conversei com a livreira, Maria Fernanda, sobre ecologia, e ela me indicou o livro “Maneiras de Ser: Animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, escrito pelo jornalista inglês James Bridle. O tema imediatamente me interessou porque somos partes integrantes da natureza, tanto quanto uma árvore, uma pedra e um tigre.

Já no primeiro parágrafo fiquei tocada com a frase: (...) “aqui está se desenrolando um dos maiores conflitos da nossa era – entre a agência humana e a inteligência das máquinas, entre a ilusão da superioridade humana e a sobrevivência do planeta.” Talvez eu nem precise comentá-la posto que é bem explícita e nos induz a questionar: aonde a inteligência está nos levando? A mesma inteligência que criou as vacinas, a cirurgia, a engenharia genética, o telescópio espacial, é responsável pelo desenvolvimento da inteligência humana e produção das artificiais, que poderão fugir ao nosso controle, nos trazer consequências impensáveis e causar tantos desajustes. A racionalidade humana não pode esquecer de que há uma interconexão entre tudo o que existe neste planeta. O Efeito Borboleta é uma metáfora que exemplifica o caos decorrente das relações entre a causa e o efeito da desordem dos fatos e seus subsequentes e infinitos desdobramentos. Estamos mergulhados em resultados e impactos decorrentes dos esforços para dominar a natureza e usá-la para nosso favor, o que tem favorecido a qualidade de vida. Contudo, ao mesmo tempo, colocado em risco a nossa segurança, bem-estar e sobrevivência.  

Vamos tentar usar um exemplo para entender as conexões e correlações de ações tomadas aleatoriamente. Numa partida de futebol, André chutou uma bola, que correu para uma movimentada estrada. Naquele exato momento, um carro que passava freou e desviou da bola. Então, o motorista do caminhão que vinha atrás se assustou e perdeu o controle do veículo, que tombou. A carga líquida e concentrada de produtos químicos se espalhou pelo local e escorreu até um riacho. Com a água contaminada, a fauna e a flora foram afetadas, bem como criações de tilápias que utilizavam da água do riacho. Sem peixes para comercializar, os criadores tiveram perdas econômicas, o que repercutiu na vida financeira dos empregados e no comércio da localidade.

Agora, me vêm à lembrança programas de televisão sobre a construção de casas por arquitetos talentosos, que mostram com orgulho as grandes janelas projetadas e seus vidros imensos. Lindo de ver e desejar. Entretanto ninguém pensa na quantidade incontável de passarinhos que morrem ao bater nos vidros. Nos filhotes que ficam aguardando pelos pais nos ninhos. Os pássaros são grandes semeadores da natureza, sendo responsáveis pela manutenção das matas. As construções precisam protegê-los e não os sacrificar.

Segundo Bridle, há uma cisão entre o humano e o não humano. A ilusão de superioridade através da tecnologia se contrapõe a uma parceria saudável entre o homem e suas necessidades com a natureza. É importante ressaltar que a inteligência da natureza tem simplicidade, pureza e espontaneidade. Sem tecnologias, logísticas e redes de comunicação, os animais são capazes de se proteger. Como uma lagarta pode viver por meses, sobrevivendo aos incontáveis desafios que o ambiente lhe apresenta?

O homem ainda tem muito o que aprender com a natureza e com a dignidade com que os animais enfrentam as dificuldades diárias, como os ursos polares. Mas ainda não conseguiram se defender do homem...

E, agora, me digam, o que a natureza precisa aprender com os homens?

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O faz de conta e a formação do leitor

terça-feira, 27 de maio de 2025

O faz de conta é uma brincadeira importante na infância porque a criança, ao recriar o mundo através da imitação de pessoas e personagens em seus papéis e funções, começa a entender as relações inter-humanas e as atividades realizadas na vida coletiva. As histórias na literatura infantil também recriam os fatos e possuem atualidade, mesmo as que são contextualizadas em tempos mais antigos.

O faz de conta é uma brincadeira importante na infância porque a criança, ao recriar o mundo através da imitação de pessoas e personagens em seus papéis e funções, começa a entender as relações inter-humanas e as atividades realizadas na vida coletiva. As histórias na literatura infantil também recriam os fatos e possuem atualidade, mesmo as que são contextualizadas em tempos mais antigos.

As imitações criadas pelo imaginário infantil são essencialmente individuais na medida em que estão referendadas à percepção pessoal, possuindo conteúdo afetivo relevante. A criança recria o que sente e pensa, ou seja, todo sentimento produz pensamentos que, por sua vez, induzem às ações. O faz de conta corresponde à dialética de perceber, sentir, pensar, imaginar e brincar; é um jogo de ressignificações em que é possível extravasar emoções.

Ser pai, mãe, avós, médico, cozinheiro, cuidador de animais ou construtor podem ser motivos que inspirem a criança a brincar. Os personagens Batman, João ou Maria, Príncipe ou Bela Adormecida, Tarzan ou Jane, mágicos ou fadas, dentre tantos outros personagens são imitados na infância. O fato é que através do faz de conta a criança adentra seu imaginário, fertiliza sua criatividade e descobre-se. Conhece-se. Diferencia-se de outras pessoas. É uma brincadeira de enorme riqueza para a construção da identidade individual, através da qual ela vai amadurecendo sob o ponto de vista emocional, social, físico e intelectual.

Sob o ponto de vista intelectual, a criança, ao criar enredos, recriar pessoas e personagens aprofunda seus entendimentos sobre as situações, reflete sobre as características pessoais e observa elementos ambientais. São brincadeiras livres que envolvem habilidades cognitivas, como observação, percepção de semelhanças e diferenças, classificação, interpretação, crítica, levantamento de suposições, aplicação de fatos e princípios a novas situações, planejamento, tomada de decisões dentre outras. Enfim, é uma brincadeira em que a criança tem a experiência de pensar. Além do que os modos de brincar acompanham a evolução do pensamento decorrente da mudança dos centros de interesse em virtude das vivências e do próprio desenvolvimento.

Ao brincar de faz de conta, a criança desenvolve a linguagem, utilizando-a de forma natural e criativa, criando os próprios diálogos; a capacidade de simbolização ao representar objetos e ideias; o entendimento da escrita ao perceber que ela pode representar palavras, histórias e personagens; a imaginação ao sentir prazer em criar situações e personagens; a atenção ao demandar concentração durante o desenvolvimento da história; o entendimento da sequência da história com relação ao começo, meio e fim.

A criança transfere a sensação de prazer ao brincar de faz de conta para a leitura. A formação do leitor é um processo que se estende por toda a vida posto que a cada época a pessoa tem acesso a diferentes estilos de leituras através dos níveis de aprendizagem, atividades profissionais, convivência e centros de interesses. Os leitores mais hábeis decodificam e interpretam textos em outras línguas, inclusive.

O que estou insistindo em demonstrar é que sem o sentimento do prazer preservado em seus afetos, o processo de evolução da leitura pode se tornar enfadonho, o que provavelmente venha a prejudicar várias áreas de atuação do adulto, inclusive a profissional.

A formação do leitor é um processo fundamental para o conhecimento e a compreensão da vida. Segundo Freud, a leitura é uma experiência de linguagem significativa para a compreensão da própria linguagem e da linguagem do inconsciente. Através da leitura, o leitor experimenta emoções como rir, chorar, sentir raiva, amor e identificar-se. O livro é um objeto feito de palavras em que todos podem ser e tudo pode acontecer.

Já Piaget descreve a leitura como um processo que faz parte da formação humana. Por intermédio da interação entre o sujeito e o texto, o leitor constrói significados, interpreta e compreende fatos e informações.

Enfim, a criança precisa brincar, apenas brincar, para conquistar o mundo!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A importância da família na formação do leitor

terça-feira, 20 de maio de 2025

A formação do leitor é de responsabilidade da família, da escola e do Estado. Começa desde a mais tenra idade através da escuta de histórias contadas e lidas, do manuseio dos livros e visualização das suas imagens e pelo prazer de brincar.

A formação do leitor é de responsabilidade da família, da escola e do Estado. Começa desde a mais tenra idade através da escuta de histórias contadas e lidas, do manuseio dos livros e visualização das suas imagens e pelo prazer de brincar.

Na família, os pontos de partida da formação do leitor são o amor à criança e o gosto pela leitura. O ambiente familiar é construído através de elos afetivos e narrativas; cada família tem as suas, que passam, inclusive, de geração a geração. A criança nasce mergulhada em histórias que são contadas e recontadas, hábito com o qual vai se acostumando, assimilando, fazendo com que as recrie, quando experimenta uma gama de emoções ao imitar os familiares, seus modos de agir, papéis e funções. Através do encantamento e da fantasia com as histórias do universo da literatura infantil que lhes são contadas, a criança adentra o imaginário e convive com o universo lúdico, que possibilita que ela mesma crie narrativas através dos processos de identificação com os personagens da história. Assim sendo, o faz de conta é uma brincadeira simbólica fundamental.

A formação do leitor é um processo complexo que tem por objetivo último o domínio da leitura e a espontânea vontade de ler. A partir da convivência com familiares leitores, ela, certamente, vai receber estímulos para buscar o livro, abri-lo e absorver o texto. Do ser estimulada ao tornar-se leitor é um caminho desafiador. O primeiro deles é aprender a ler que envolve a decodificação de palavras, apreensão de sentidos e interpretação.

O familiar, ao ler para a criança, valoriza o contato com o livro.  Ao conversar a respeito do texto, compartilhar sua interpretação e cuidar do livro, enaltece as riquezas contidas em cada leitura.

As oportunidades variadas de leitura permitem que o leitor infantojuvenil defina seus gostos por assuntos. Nem todos os leitores são versáteis e, de um modo geral, possuem uma tendência particular. Há leitores que apreciam esportes e outros assuntos médicos, os que gostam de romances e poesias. Mas há também aqueles que preferem assuntos relacionados à sua formação profissional. São tendências que vão se construindo ao longo da vida e podem mudar de acordo com centros de interesse.  As histórias em quadrinhos, por exemplo, são oportunidades de leitura que não podem ser negligenciadas, até porque há textos clássicos adaptados aos quadrinhos. A linguagem empregada pelo texto deve estar adequada à faixa etária para manter o leitor se infantil ou se juvenil interessado na leitura, como também o assunto abordado e sua forma.

Enfim, criança, em processo de formação, precisa se sentir livre para escolher seus temas. Para tal as oportunidades de leitura são fundamentais. Vale a pena observar, no entanto, que a maioria da população infantojuvenil tem dificuldades para acessar o livro. O hábito de frequentar bibliotecas escolares e públicas, pegar livros para serem lidos em casa pode ser positivo. Não podemos negligenciar a leitura em livros virtuais, especialmente para os jovens, opção que vem crescendo e facilita o seu encontro com a literatura.

Os leitores infantis apreciam as ilustrações, imagens que recontam o texto e permitem a imaginação. Ler e imaginar favorece que o leitor sinta prazer em manusear o livro. Quando a criança gosta da atividade de ler — posto que é uma das atividades dentre outras várias que poderia realizar, como assistir a desenhos animados, jogar e brincar — ela vai encontrar momentos para ler. Ou seja, é uma atividade prazerosa e pode ser incentivada. E, caso seja, obrigatória, os professores e familiares devem mostrar o valor da leitura para a vida.  

Para finalizar, deixo uma frase do psicanalista e educador Rubem Alves: “O livro é um brinquedo feito de letras. Ler é brincar”.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A Inteligência Artificial e a leitura

terça-feira, 13 de maio de 2025

Stephen Hawking, astrofísico teórico britânico e escritor, um dos mais renomados cientistas, há 30 anos previu que em 2025 o mundo entraria em uma nova era tecnológica devido à disseminação dos computadores, ao avanço da robótica em várias áreas de produção e atividade humana, o desenvolvimento da Inteligência Artificial, dentre outras.

Stephen Hawking, astrofísico teórico britânico e escritor, um dos mais renomados cientistas, há 30 anos previu que em 2025 o mundo entraria em uma nova era tecnológica devido à disseminação dos computadores, ao avanço da robótica em várias áreas de produção e atividade humana, o desenvolvimento da Inteligência Artificial, dentre outras.

Com relação à Inteligência Artificial, Hawking anteviu que esta superaria a capacidade humana até 2025. E alertou que poderia se aprimorar em velocidade exponencial sem que nós, os humanos, fôssemos capazes de entender ou reagir. Inclusive, de agir contra a ética, na medida em que poderíamos atribuir a ela a solução de todos os problemas. Além do mais, poderá se tornar perigosa na medida em que for definida por objetivos mal-intencionados.

O momento em que estamos vivendo tem me causado grandes preocupações, especialmente com relação à criança e ao adolescente, que estão chegando a um mundo cercado de robôs e inteligências que vão limitar o saudável e natural desenvolvimento das suas capacidades físicas e intelectuais; que irão criar referenciais não humanos para construção dos valores éticos, sociabilidade, autopercepção, cidadania e afetividade.

Sou pedagoga de formação e guardo o ser humano como o bem maior do planeta. A natureza e nós somos a maior, melhor e mais bela expressão da vida no universo que conhecemos. Com toda a pesquisa espacial, ainda não temos ciência de um mundo com existências tão aperfeiçoadas como as nossas. Mas, enfim, o desenvolvimento tecnológico está aí, tal como chegaram o avião, a geladeira e o computador, que se estabeleceram pelos quatro cantos do mundo, passaram a fazer parte da nossa vida e nos trouxeram tantos benefícios. A Inteligência Artificial está enraizada em nós como os celulares, do qual estamos dependentes.

Hoje é tão fácil fazer uma pesquisa com a Inteligência Artificial. É só chegar no site, digitar uma questão e clicar. E, eis que, num passe de mágica, em segundos, surge um conteúdo estruturado e bem escrito. Tendo eu, inclusive, a possibilidade de pedir que aprofunde as ideias e torne o texto mais poético. Esse avanço tecnológico vem acontecendo há uns setenta anos aproximadamente, pouco tempo para alavancar tantas possibilidades!

Ressalto que independentemente de todo o avanço tecnológico, é importante aprimorar a escrita cursiva, caligrafia, a compreender o que se lê e o que se escreve porque são ações que desenvolvem habilidades cognitivas importantes.

A escola está certíssima em impedir o uso de celulares. O aluno tem de estudar por ele mesmo, de experimentar os erros e os acertos. Tem de ter dúvidas e chegar a conclusões. Crescer é desafiador, sofrido e difícil. Mas é o meio pelo qual a criança e adolescente têm para se tornar adultos livres, produtivos e responsáveis.

O desenvolvimento de hábitos de leitura deve fazer parte do processo educacional da criança e do jovem, que se constitui em um grande desafio para a família, escola e governos.

Enfim, oferecer tudo pronto e facilitado é limitar o potencial criativo de gerações, predestinar a criança e o jovem a ser dependentes da tecnologia, a incapacitá-los a pensar com originalidade. O pior, de torná-los exímios plagiadores.

Nos primórdios da Inteligência Artificial, a literatura ainda tem condições de preservar o humano em todos os leitores. Salve os livros!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A mãe de Chapeuzinho Vermelho

terça-feira, 06 de maio de 2025

Hoje, pensando no que ia escrever às vésperas do Dia das Mães, um dia divino em que se comemora a vida, o começo e a transformação, me deparei com a mãe da Chapeuzinho Vermelho, personagem silenciosa, de quem pouco se sabe e se conhece na literatura, mas que guarda um significado profundo.

Hoje, pensando no que ia escrever às vésperas do Dia das Mães, um dia divino em que se comemora a vida, o começo e a transformação, me deparei com a mãe da Chapeuzinho Vermelho, personagem silenciosa, de quem pouco se sabe e se conhece na literatura, mas que guarda um significado profundo.

Uma personagem que ocupa o lugar entre duas gerações que dependem de atenções e cuidados. A sua invisibilidade na história representa as funções especiais que a mulher ocupa em relação aos filhos e aos pais, no sentido de acompanhá-los e encaminhá-los. Quanto aos filhos tem a responsabilidade de permitir que eles transcendam da posição de dependência para a de produtividade e independência, capazes de construir a própria vida, bem como participar da construção das de outras. Quanto aos pais, tem a função de apoiá-los nos processos de envelhecimento de modo a oferecer-lhes presença, alegrias e assistência. Se bem que, hoje, os avós dão um suporte significativo aos filhos e netos.

 É uma mulher que trilha os caminhos do meio e, para tal, precisa se adaptar às transformações que seus filhos e pais vivem, ocupando posições cheias de desafios que são absorvidos através da experiência existencial deles. Tanto a infância e a adolescência, como a velhice, correspondem a épocas de vida em que a criança, o adolescente e o velho sofrem mudanças intensas, diárias, que requerem assistência de quem ocupa a geração do meio. Sim, assistir no sentido de estar atento aos acontecimentos, ter prontidão para socorrer quando necessário e trocar afetividade. É ter uma postura efetivamente amorosa. Talvez seja o momento da vida em que a mulher, ao lidar com lados opostos, exigentes e contrastantes, vivencia diversas faces do amor, como acompanhá-los ao pediatra e geriatra, administrar medicamentos, colocar as velas nos bolos de aniversário e escolher fraldas mais confortáveis.

A mãe da geração do meio tem um olhar que gira trezentos e sessenta graus diversas vezes por dia, tendo pouco tempo para se ver. Está mais com seus pais e filhos do que consigo. Está entre o revolucionário e o conservador, interagindo com culturas distintas que trazem princípios muitas vezes diferentes dos que construiu ao longo da sua vida, tendo que transitar com desenvoltura em contextos familiares e sociais com características próprias. Como seu mundo se mistura com o dos pais e dos filhos, é a fase da vida em que a mulher experimenta profundo compartilhamento. É como se vivesse num caleidoscópio, a cada movimento tudo se configura de forma diferente.

Além de tudo, é uma pessoa humana, que possui imperfeições. É aí que reside a grande sabedoria de ser mãe e ser filha: estar pronta para aprender com os próprios erros, de saber olhar e lidar com o diferente, de gostar do outro tanto quanto gosta de si mesma.

A mãe da Chapeuzinho Vermelho tem o trunfo de possuir uma visão mais amadurecida da vida diante do filho e o vigor da juventude diante dos pais. Mas ela não é, nem pode ser, um cabide de sustentação ante as fragilidades dos pais e dos filhos, até porque ela tem as próprias. Mas a partir das suas possibilidades é uma pessoa que aprende dia a dia a acolher; a dizer o sim e o não; a chorar junto; a compartilhar o riso; a experimentar o nascimento e a morte; a ser gestada e a parir. A dar as mãos.

A partir da invisibilidade da mãe da Chapeuzinho Vermelho, entrego um cesto carregado de queijos e beijos a todas as mulheres que escolheram ser mães.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Inteligência Artificial: os papeis da família, da escola e da literatura

terça-feira, 29 de abril de 2025

Nova Friburgo participou do Dia Mundial da Criatividade e Inovação (World Criativity Day), um evento global promovido pela ONU, durante os dias 21, 22 e 23 de abril, quando realizou diversas atividades gratuitas com a finalidade de promover o desenvolvimento humano com a participação de educadores, artistas, empreendedores, pesquisadores e demais agentes de mudança.

Nova Friburgo participou do Dia Mundial da Criatividade e Inovação (World Criativity Day), um evento global promovido pela ONU, durante os dias 21, 22 e 23 de abril, quando realizou diversas atividades gratuitas com a finalidade de promover o desenvolvimento humano com a participação de educadores, artistas, empreendedores, pesquisadores e demais agentes de mudança.

Assisti à palestra “Exame vocacional por Inteligência Artificial”, e o professor Felipe Oliveira fez uma explanação criativa e objetiva sobre a Inteligência Artificial. Enquanto ele apresentava o tema, várias questões começaram a pulular na minha mente, sendo iluminadas por algumas perguntas: será que a IA nos percebe como humanos? Como pode nos perceber se não tem uma história de vida construída com experiências e amadurecimentos, afetos e processos de aprendizagens múltiplas? Será que percebe os humanos como robôs? Qual o nível de responsabilidade dos programadores para os princípios éticos que sustentam a dignidade humana? Sabemos que seu objetivo é estar sempre disponível para atender às demandas daqueles que solicitam suas respostas e soluções.

A palestra foi marcada por debates a respeito dessas questões. Em relação à Orientação Vocacional, foi evidenciado se tratar de um processo de amadurecimento de experiências, autoconhecimento e pesquisas do mercado de trabalho. Um questionário produzido pela Inteligência Artificial, penso eu, deve apenas ser um instrumento que compõe o processo de definição vocacional.

Ao sair da palestra pensei sobre os papeis da família e da escola hoje, mergulhados em uma realidade em que a Inteligência Artificial pode favorecer o não pensar, o não aprender e o desaprender, posto que oferece respostas com imediatez. A família precisa estar presente, atenta e atuante na vida dos filhos desde a mais tenra idade e não pode transferir à escola suas responsabilidades. Amar é demonstrar afetividade nos olhos e nas mais simples atitudes; conviver sem pressas e conversar sem celulares; saber quando é preciso dizer o sim e o não com firmeza. Os filhos, ao saberem que podem contar com os pais e as mães, mesmo que estejam separados e tenham outras famílias, sentem-se fortalecidos ante um mundo cheio de incertezas e inseguranças.

A escola se faz através de pessoas, os seus educadores: professores, pedagogos, psicólogos e funcionários de um modo geral. Quem trabalha em um ambiente escolar está participando da construção de seres humanos. E de não robôs. Ser educador é assumir um desafio complexo e surpreendente. É, antes de mais nada, educar a si mesmo, conhecer-se. Descobrir-se junto ao outro e superar-se a cada dia.

As crianças e os jovens necessitam, ainda mais nos dias atuais, da presença dos pais e professores para utilizar os benefícios da Inteligência Artificial que são muitos, se, somente se, houver respeito ao desenvolvimento de individualidades criativas, responsáveis e participantes.

Ah, estou sendo bem determinante, atitude que não gosto de ter. Mas com relação a esse tema não sou sustentada pela necessidade de saber mais, de investigar e refletir como sempre acontece quando produzo textos desta coluna.

A literatura, como sempre, pode nos apresentar respostas mais inteligentes, sensíveis e objetivas que a Inteligência Artificial. Vou me sustentar no slogan “Quem lê, sabe mais” para declarar que os seus programadores precisam ser estudiosos e leitores para desenvolver programas que possam responder aos usuários com inteligência, afetividade e ética. E os seus usuários, da mesma forma, possam ter uma relação crítica com as informações que recebem. Especialmente, as crianças e os jovens não podem fazer uso da Inteligência Artificial com postura passiva e receptiva às informações. É aí que reside o grande perigo: processos de interação em que robôs superam humanos.

Não estamos no final de uma encruzilhada. Mas iniciando novos caminhos com desafios até então impensados e não podemos negá-los de forma alguma, mas aprender continuamente a utilizá-los com ética e da melhor forma possível. Da tecnologia à humanidade, somos nós que vamos trilhá-los e dominá-los.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.