As biografias

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 29 de julho de 2025

De um modo geral, a biografia é um gênero literário não ficcional que narra a vida de alguém, mostrando sua história, os acontecimentos importantes decorrentes de conquistas, desafios e polêmicas. Abrange também suas opiniões, valores, crenças e atitudes. Enfim, é um gênero que contém registros a respeito dos modos como o biografado colaborou e participou da sua época. Aborda pessoas notáveis na arte, na política, nos esportes e na comunidade. Ou não. Certa vez, fui a Teresópolis e, conversando com um secretário da prefeitura, ele me falou que gostaria de escrever biografias de pessoas do povo, posto que possuíam vidas interessantes e colaboraram para o desenvolvimento da cidade, porém nunca foram notadas.

As biografias narram a vida não somente de indivíduos, mas de produtos como o Biscoito Globo, “Ó, o Globo!”, escrita por Ana Beatriz Manier (Editora Valentina, 2017). Também de instituições, como a da Fundação Getúlio Vargas, que começou a ser escrita por Luiz Simões Lopes, há 75 anos.

A própria pessoa pode escrever sobre sua trajetória existencial ao compor uma autobiografia, geralmente escrita em primeira pessoa. De um modo geral, contextualizam o biografado no momento social, político e cultural em que vive, o que oferece ao leitor um cenário amplo da vida, possibilitando maior compreensão das realizações, reações e impactos.

O biógrafo é um grande pesquisador na medida em que precisa narrar fatos com veracidade, cujos dados são obtidos de fontes diversas, como entrevistas, pesquisas em jornais, vídeos, documentários, livros e em outros âmbitos que possam oferecer informações válidas. Mesmo sendo críticas, escritas com humor ou lirismo, até romanceadas, as biografias são verdadeiros documentos que preservam a memória de um tempo histórico de pessoas, produtos e instituições. Inclusive, se faltar com a verdade, o escritor pode sofrer consequências desagradáveis e até jurídicas, como tanto se vê na mídia. 

Uma biografia instigante e atraente exige vocação literária e investigativa. É desejável que o escritor esteja envolvido afetivamente com o trabalho a fim de poder realizar uma abordagem cuidadosa sobre a vida do biografado. Também disposto a ir além das informações aparentes e perceber a pessoa na intimidade. E, principalmente, ser imparcial de modo que seu ponto de vista não interfira no texto narrativo.

O gênero biográfico surgiu no século I d.C., com Plutarco, historiador, ensaísta, biógrafo e filósofo grego. As sementes do gênero podem ser encontradas no Egito, onde há vestígios do registro biográfico de Faraós, sacerdotes e outras figuras. Como também no Antigo Testamento e com os heróis épicos das antigas sagas, germânicas e célticas.

Enfim, ao longo da história da civilização, o homem sentiu necessidade de registrar a vida de personalidades, seja por admiração e respeito ou pela vontade de assinalar suas realizações. Penso que escrever sobre a vida de pessoas significativas é um modo de guardar os heróis que ajudam a construir identidades.

Gosto de biografias porque sempre me encanto com os biografados e nunca deles me esqueço. Aliás, suas vidas são verdadeiras aventuras, causam no leitor um impacto até mais contundente do que as ficções. Como “Longo caminho para a liberdade: uma autobiografia”, por Nelson Mandela; “Leonardo Da Vinci”, por Walter Isaacson; e “Catarina, a grande: retrato de uma mulher”, por Robert K. Massie; e ainda as autobiografias de Rita Lee e Woody Allen, mais do que interessantes.

Agora mesmo estão ao meu lado duas biografias de Márcio Paschoal — “O cadafalso do sucesso: a história dos compositores e cantores Claymara e Heurico”, que narra a trajetória da dupla que fez sucesso, cantando o amor de diversas formas e estilos musicais. A segunda é uma biografia romanceada e bem-humorada “João Antônio e os Bee Gees” que conta os últimos anos de vida do escritor e jornalista (1927-1996), um dos grandes contistas brasileiros, ganhador de prêmios como o Jabuti e traduzido em diversos idiomas.

Enfim, vale a pena conhecer a trajetória de pessoas que realizaram a vida com emoção, criatividade e destemor. Além do mais, são leituras que podem atiçar nossos sonhos e amanhãs!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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