A fragilidade humana diante da mídia, do sucesso e do poder econômico

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 08 de agosto de 2022

Em função do sucesso do filme sobre o cantor Elvis Presley, estou lendo
sua biografia, escrita por Peter Guralnick, “Elvis: o último trem para Memphis”,
e fiquei tocada ao perceber, mais uma vez, a fragilidade humana diante da
força da mídia, do poder econômico e da vaidade que permeia o sucesso.
Somos a interseção entre uma infinidade de mundos que nos cerca e com
a qual interagimos. A dinâmica é tão forte que não é por menos que nos
perguntamos com frequência quem somos e em que mundo estamos vivendo.
São perguntas que nos fazem fortalecer as raízes de nossa identidade
individual.
Ao longo da leitura, a cada parte da narrativa, aprofundo a ideia de que
Elvis Presley foi sugado pelas condições que o sucesso lhe impôs. Quem
estava ao lado dele pelos seus belos olhos? Sim, o “Rei do Rock and Roll” não
foi um mito. Foi um homem bonito, atraente, superdotado de dons musicais e
artísticos, de compleição física maleável à dança e ao gingado sensual. Ao
longo de sua carreira tornou-se um dos símbolos culturais mais significativos
do século XX.
Qual a pessoa que estava guardada por trás da figura carismática e
monumental? Ele teria sido feliz se não fosse um cantor de sucesso em muitos
gêneros, que se manteve no topo das paradas musicais, além de ator capaz de
seduzir plateias? Penso que, para atender as demandas dos diversos setores
que alimentavam seu estrelato, ele abusou de medicamentos que
comprometeram sua saúde e levaram-no à morte. Ele tinha de ser
continuamente o “Astro Elvis”, capaz de eletrizar o imenso público de
admiradores.
Durante a leitura da biografia bem elaborada, detalhista e reveladora da
vida de um artista que marcou a minha geração e a dos meus pais, fui
constatando que seus admiradores não conseguiram conhecer a pessoa do
Elvis Presley. E, agora, a cada página, vou desvelando um homem tímido,
afetivo, sensível e educado. Como eu queria tê-lo visto, enquanto vivo, além

das aparências, que mascararam o ser humano que existia por detrás de um
aparato fosforescente, capaz de fazê-lo brilhar na multidão de pessoas
comuns, como cada um de nós.
Sua biografia me fez perceber, também, que estamos cercados de tantos
mundos diferentes de nós, com os quais interagimos. Cada pessoa, entidade
ou tendência ao nosso redor é um universo complexo que nos completa e
desafia, enriquece e aniquila. Como é importante para a nossa homeostase
compreendermos que somos não mais do que uma interseção, que irradiamos
energias e somos receptores de outras tão ou mais fortes que a nossa.
Elvis foi sucumbido. Seria possível não ter sido? E, caso não fosse, tenho
certeza de que nós poderíamos aproveitar os seus talentos ainda por muitos
anos.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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