Adeus, Loni!

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Ontem minha mãe perdeu um amigo e companheiro, o Loni, seu cão, que a acompanhou ao longo de mais de dezoito anos. Foi um momento de delicadeza emocional, em que a tristeza se misturou com lembranças de um tempo de felicidade, durante o qual, de modo recíproco, eles participaram e deram alegria à vida um do outro.

Quando a Vênus partiu, minha cadela a quem dediquei amor profundo, ganhei de uma vizinha o livro, já em sua 11ª. edição, “Todos os Animais Merecem o Céu”, de Marcel Benedeti (1962-2010), editado por Mundo Maior Editora, da Fundação Espírita André Luiz.  O autor era médico veterinário, que escreveu vários livros sobre a vida espiritual dos animais, sendo esta obra ganhadora do prêmio João Castardelli, em 2003. Li com emoção o livro, principalmente as lições que me ofereceu em termos de humildade, paciência, resiliência e fidelidade. Os animais têm funções para como os humanos, da mesma forma que nós para com eles. “O que os animais adquirem como aprendizado permanecem com eles durante a eternidade, e o que foi aprendido sempre será útil, posteriormente, em vidas futuras”. (Benedetti, Marcel, in Todos os Animais Merecem um Céu) 

Não sou espírita, mas por tudo o que aprendi a respeito dos animais, o que vivi com aqueles que são e foram meus, e com que os que apenas conheci, tenho concluído que eles têm um engrandecimento transcendental. Tenho percebido isso quando chego ou volto para casa, quando me fazem sentir vontade de estar com eles, seja pelo prazer e pelo afeto, pela troca de amor. Os animais amam incondicionalmente! Ao ler “Angel Dogs: Anjos de Quatro Patas”, de Allen e Linda Anderson, editado pela Giz Editorial,  tive o conhecimento que os animais são anjos que vêm para apoiar a nossa trajetória existencial cheia de alegrias e afetos, de perdas e conquistas, de tragédias e desafios. Depois de ler a obra, constatei que todos os animais que tive vieram em épocas especiais, em que eventos de forte significação aconteceram na minha vida, como nascimentos e mortes, mudanças e amadurecimentos. Antes de meus filhos nascerem, quis ter um cachorro e tivemos o Zeus. Ele foi nosso companheiro durante quase treze anos. Quando Beto e Gabi entraram na adolescência, ele partiu. Tempos depois tive a Vênus, que acompanhou nossa família em vários momentos especiais, quando tive câncer, meu marido enfartou, minha filha foi morar fora do país e, por fim, meu filho faleceu. Depois Vênus partiu. Tivemos também a Hyra que ficou conosco o tempo suficiente para nos acompanhar nos momentos de perda e luto. Assim que nos recompusemos ela se foi. 

Depois dos conhecimentos que adquiri a respeito, constato que tenho a função de fazê-los evoluir como seres animais. Todos nós, os animais e as pessoas da minha família, nos transformamos, aprendemos a cuidar, a ter paciência e a respeitar as diferenças.

Assim foi o Loni. Acompanhou mamãe no envelhecimento dela, no divórcio, na mudança de moradia. E ela o melhorou como animal não adestrado. Ah, como era levado e tinha vontade própria imponente!

Nos momentos de partida nós os acompanhamos com amor. Acredito que o modo como nos despedimos deles, oferece-lhes tranquilidade para retornarem ao mundo do qual vieram. “Se Ele permite que passemos por situações como essas, é porque é importante para nós e para nossa existência”. (Benedetti, Marcel, in Todos os Animais Merecem um Céu) 

Enfim, amar os animais é um grande aprendizado. Um dos mais humanos que a vida pode nos oferecer. Eles nos ensinam com o olhar, com atitudes e afeto. São grandes mestres.  

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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