Volta pra casa...

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 25 de janeiro de 2020

É estranho que já tenha acontecido outras vezes. Mas agora parece tudo tão diferente. Talvez não seja essa percepção de você estar ou não em casa. O que me chama a atenção é que meu coração te envia convite, porém você recusa. Mas também não é a recusa em si de um jogo de desafios inexistentes.

Deixei você ir, sem querer que você fosse. Podia ter dito, mas não disse. Podia ter sido sincero para além da sinceridade que boia na superfície. Paralisado, falei seu nome para dentro sem que som algum pudesse reproduzir o sentimento em mim.   

Sei que errei (todos nós erramos), tanto quanto sei que não posso prometer que não errarei de novo. Talvez eu erre e não é porque queira errar. Sabe, sou meio imaturo e estou aprendendo. Engraçado que nunca precisei aprender a te amar. Agora, estou precisando aprender os caminhos para te encontrar, me reencontrar.

É besteira a exatidão de prever que terminaremos juntos ou não no fim. O que é o fim? Não quero que o fim seja essa tristeza que experimento agora. Falta sentido. Na autoterapia que faço, descubro que quero cuidar de você e que quero que cuide de mim. Não apenas nos dias chatos de gripe ou de cansaço do trabalho, mas que nos cuidemos um do outro nos dias de sol feliz e sorriso. Como seu sorriso poderia me fazer chorar? É a falta dele! Porque lembranças em retratos desbotam.     

Perdido pelo silêncio dos insetos lá de fora, o sono vem, mas não consigo dormir. Embriagado pela sobriedade, me arrependo de ter-me permitido embrutecer. Fiz muralha para as minhas fragilidades e as ocultando me feri por dentro. Machuquei você. Fiz ponte para os meus desejos e acabei afogado rio abaixo. Entorpeci você.

É estranha essa ausência. Já tive a sua falta pela distância de cidades, mas nunca senti essa distância entre ruas que parecem planetas. Fiquei na Via-Láctea, enquanto você é exoplaneta. Esqueci-me do que eu mesmo cultivei.

Enquanto te quero feliz, preciso te chamar para ser feliz comigo. Sinto a minha arrogância em ser como o filho da puta da música do Cazuza e tenho vontade de abandonar o palco e deixar de fazer show. Ser simples como café na mesa e não todo dia na cama. Ser real, como a intimidade que só nós dois temos.

É isso: minha intimidade está lacrada de novo e sinto imensamente por tê-la interditado. Só você tem a chave para quebrar essas correntes. Você é a festa, mas é tudo o que não é música também. Você é a calmaria, mas todo tumulto percebido e não percebido também. Você é tudo o que veio e que não pode ir com você, porque em verdade tudo de você ficou. 

A grande cama já não é mais necessária. Vou dormir no chão. Pelo menos até você voltar para casa, seja jogando online um com o outro à distância, seja na quietude de um olhando para o outro, frente a frente, antes de dormir.   

Afinal, amor pra sempre se faz é no dia a dia. Até que dia?

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